El País: Mais de 50% dos deputados brasileiros tem contas pendentes com a justiça

Muitos parlamentares são acusados de corrupção, mas também de tortura e roubo
 
 
El país
 
Mais de 50% dos deputados brasileiros tem contas pendentes com a justiça
 
Muitos parlamentares são acusados de corrupção, mas também de tortura e roubo
 
Por Antonio Jiménez Barca
 
Ao veterano deputado brasileiro, Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo e ex-governador do Estado de São Paulo, se atribui a frase: ‘rouba, mas faz’. Quer dizer, se aproveita do cargo mas se dedica (também) aos que o elegeram. Maluf, na política desde os anos 60, assegura que nunca disse essa frase, que foi inventada pelos seus inimigos oposicionistas. 
 
De quem é essa frase é o de menos: o deputado Maluf, condenado a três anos de prisão por lavagem de dinheiro na França, perseguido pela Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) pelo mesmo delito, sem poder sair do país por medo de acabar em uma cadeia estrangeira, foi um dos parlamentares que votou no domingo (17) a favor do processo de destituição do mandato de Dilma Rousseff. 
 
Mas para além do sentido do seu voto, Maluf, do Partido Progressista (PP), de centro direita, personifica o mal que corrói o Parlamento brasileiro: a escassa estatura moral de muitos de seus integrantes. Dos 513 deputados da Câmara dos Deputados que representam os brasileiros, 53,7% tem ou já teve contas pendentes com a justiça, segundo a organização Transparência Brasil, que se encarrega de fazer um enforme detalhado e atual deste assunto. Portanto, 273 parlamentares. 
 
Nem todos são acusados de roubar, ou respondem processos apenas por roubos. O deputado Alberto Fraga, do Partido Democratas (DEM), de centro direita, entre outras denúncias, foi condenado por porte ilegal de arma de fogo. O parlamentar Éder Mauro, do Partido Social Democrático (PSD), está sendo acusado pelo Supremo Tribunal Federal de extorsão e tortura, desde 2009, época em que exercia o comando da polícia do Estado do Pará. Mauro, segundo o tribunal, ameaçou executar um tiro contra um pai e seus dois filhos pequenos, causando, segundo reza a denúncia, “um violento sofrimento físico e mental”. Contudo, foi o deputado mais votado do estado do Pará. Na segunda, depois de apoiar o processo de impeachment de Rousseff, foi recebido por 50 pessoas com cartazes e gritos a seu favor no aeroporto de Belém. 
 
O pastor evangélico Hidekazu Tamayama, deputado do Partido Social Cristão (PSC), tem contra si aberto um processo em seu estado, Pará, que inclui desvio de dinheiro, pagamentos ilegais na Assembleia legislativa do Estado e a contratação de funcionários fantasmas; Nilson Leitão, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), de centro direita, está sendo processado por atentado contra a população indígena e por tentar, de forma fraudulenta, tomar para si essas terras indígenas no estado de Mato Grosso. Simples assim. 
 
O personagem político mais detestado pelos brasileiros não é a presidente Dilma Rousseff. É, precisamente, o presidente desse Congresso, o aparentemente piedoso e polêmico Eduardo Cunha. Cerca de 94% dos apoiadores de Rousseff estão contra ele, e 84% dos que querem que a presidenta saia, também. Cunha, religioso evangélico, é acusado de manter contas milionárias na Suíça, engordadas a base de subornos da Petrobras. 
 
Um relatório do Ministério Público, divulgado há alguns meses, mostrava os gastos obscenos (6 mil dólares por uma noite em um hotel de Dubai, entre outras coisas) do parlamentar e sua família durante umas férias de Natal. Nas redes sociais do Brasil voa agora, com toda sua carga de ironia e de amargura, a frase com que Cunha deu início à histórica sessão de votação de impeachment no domingo: “Que Deus tenha misericórdia desse país”. 
 
O Senado brasileiro, que, a julgar pelos votos que já foram aventados pela imprensa, confirmará a abertura do processo em maio, mantem a mesma impactante taxa de políticos envolvidos em casos judiciais: 55,6%. Talvez o mais famoso dentre eles seja Delcídio do Amaral, ex-porta-voz do Partido dos Trabalhadores (PT), nos governos Dilma e Lula, atualmente processado no caso Petrobras. E mesmo o presidente do Senado, Renan Calheiros, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), está sendo investigado em outra peça, desdobrada do mesmo caso da Petrobras. 
 
Um último exemplo, tão ridículo como sintomático: a deputada Raquel Muniz lembrou, no momento do seu voto no domingo, seu marido, o prefeito de Montes Claros, do Estado de Minas Gerais: “Meu voto favorável é para dizer que o Brasil tem saída e o prefeito de Montes Claros mostra isso a todos com seu trabalho”. No dia seguinte, o prefeito (e marido) foi detido pela Polícia Federal acusado de torpedear o progresso de um hospital público em detrimento de outro hospital, privado, administrado por seus parentes. 
 
Redação

10 Comentários

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  1. ´é esse  retrato corrosivo e

    ´é esse  retrato corrosivo e infame dos golpistas que se

    espraia pela rede social com o tíitulo sindicato dos ladrões…

  2. Isso não é novidade

    Que mais de 50% dos deputados que votaram pelo impeachment de Dilma tem contas a acertar com a justiça, isso é apenas uma consequência da lei das probabilidades: mais de 50% de todos os deputados têm pendências na justiça, e por certo mais de 50% dos que votaram contra o impeachment estão na mesma situação. Isso não é novidade, e só foi lembrado agora porque querem passar a mensagem de que apenas bandidos podem desejar o afastamento de Dilma.

    O único remédio para isso é aquele que já está sendo feito pela operação lava jato: prender. Sem isso a coisa não vai mudar, pois como o autor do artigo colocou, o deputado que tem mais contas na justiça foi também o mais votado em seu estado.

  3. A JUSTIÇA BRASILEIRA E 100%

    Esta informação me faz pensar que a Justiça Brasileira é 100% culpada de toda essa vergonha que aconteceu em 17 de abril, que coloca o Brasil próximo a uma conflagração entre os irmãos.

    Como já  balbuciava  meu nétinho, A OMISSÃO É O MAIOR DOS CRIMES DE RESPONSABILILDADE.

  4. Nassif;
    O stf a suprema

    Nassif;

    O stf a suprema justiça é o mais hipócrita, tendensioso, lerdo, midiático, elitista, partidário, ineficaz e C O R R U P T O de todas as instâncias do “pode” judiciário do Brasil. 

    Outra qualidade não citada acima: são covardes e parlapatões.

    Em nenhum momento da história brasileira este “supremo” se posicionou contra as forças dominantes. Grande supremo!!!!

    A História contará os interesses destes 11 “supremos”.

    A quem iremos nós??

    Resta somente um caminho.

    Genaro

  5. Gostei da referência: “Nilson

    Gostei da referência: “Nilson Leitão, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), de centro direita”.

    Eles não têm desconfiômetro: O errado é sempre o outro, e dentro de um bando, é sempre o outro bando!

  6. Sempre escrevo aqui que o STF

    Sempre escrevo aqui que o STF é uma instância inútil, pois não exerce sua principal função, que é a interpretação e garantia da Constituição. Hoje, mudo essa minha cantilena de anos para dizer que o STF é criminoso. Quem se associa ou dá guarida a criminosos passa a fazer parte da quadrilha. O STF, com todo o seu linguajar empolado e suas parlapatices, deixa crimonos como Eduardo Cunha, Aécio Neves, Michel Temer, Sérgio Moro, aquele procurador cujo nome lembra desinfetante barato, Paulinho da Força, Maluf, Geraldo Alckmin, vazadores da PF e quase todos os deputados e senadores, bandidos conhecidos, destruírem a Democracia e a Constituição que esses senhores “supremos” deveriam defender. Portanto, temos um STF criminoso por associação ao crime.

  7. No Balcão do Congresso

    “É possivel enganar a todos durante algum tempo; ou mesmo enganar alguns durante o tempo todo. Mas é impossível enganar a todos durante todo tempo” – Lincoln

     

    Nassif: o deputado Maluf, antes, era merecedor da minha atenção, até porque os comentários mais ferrenhos vinham dos suspeitíssimos donos do Estadão, que a ele dedicavam ataques somente antes das eleições, possivelmente por alguma promessa obscura não atendida depois da vitoriosa campanha.

    Depois, já processado e condenado, acompanhei seus casos o quanto pude, no Brasil e no exterior. Li, inclusive, um declaração publicada em seu nome, onde dizia que a Presidenta era honesta e não fazia parte de qualquer quadrilha ou robalheira.

    Agora, depois da denúncia que ele negociou a retirada do seu nome da lista dos bandidos da Interpol para votar a favor do impeachment tenho que revisar o conceito que dele possuia.

    Como pessoa, continuará com meu respeito, como o faço para qualquer, seja um Marcola ou Fernandinho Beira-Mar. Mas como político, de quem ele já não dispunha do voto, devo declarar-lhe o mais profundo desprezo, não pelo voto proferido, mas pela negociata em torno dele.

    E continuarei a monitorá-lo, porém por outra óptica.

     

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