Em editoral, Le Monde diz que Brasil está à beira da ruptura

Jornal GGN – Em editorial publicado um dia depois da aprovação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, o jornal francês Le Monde afirmou que o Brasil entrou em uma fase de “incerteza de alto risco”. dizendo que os políticos brasileiros precisam deixar de lado seus interesses pessoais para se dedicar ao da população.

O Le Monde relebram do processo de impeachment contra o ex-presidente Fernando Collor de Mello, dizendo que, se confirmado o afastamento de Dilma no Senado, é “muito para uma jovem democracia de 31 anos”. 

Enviado por Henrique O

Da RFI

Le Monde: O Brasil está à beira da ruptura

No dia seguinte à aprovação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff pela Câmara dos Deputados, o jornal francês Le Monde analisa a crise política nacional em um editorial marcado pelo pessimismo, sem deixar de mandar um recado para os políticos brasileiros.

“O Brasil entrou em uma fase de incerteza de alto risco. É preciso desejar que seus políticos se controlem e compreendam a urgência de ultrapassar seus interesses pessoais para se dedicar aos de uma população que havia confiado neles.”

Esta é a conclusão do editorial do jornal Le Monde desta segunda-feira (18), para o qual o voto em favor da destituição da presidente Dilma Rousseff é uma má notícia para o Brasil. O jornal lembra que se o Senado confirmar o processo, Dilma será a primeira chefe de Estado demitido de suas funções. Fernando Collor de Mello, que enfrentou um processo de impeachment em 1992, renunciou antes da votação no Senado.

“Para uma jovem democracia de 31 anos é muito”, constata o editorial, lembrando que se a corrupção está no centro das duas revoltas políticas, Dilma não é suspeita de enriquecimento pessoal; no entanto, ela espelha todo um sistema que os brasileiros questionam, uma espiral que ela não soube controlar: a gigantesca corrupção da Petrobras, que serviu de” vaca leiteira” ao PT no poder e a seus aliados.

Le Monde constata que a decisão desesperada da presidente de nomear Lula no governo para salvá-lo das investigações em um outro escândalo de corrupção apenas agravou a sua situação.

Reviravolta econômica

O texto põe o dedo na ferida ao falar da reviravolta espetacular da economia brasileira, que de gigante emergente da América Latina, líder do BRICS, que tirou milhões de pessoas da pobreza, esteja hoje marcado pela recessão e pelo desemprego, a ponto dos economistas projetarem para 2016 uma queda de 3,5% do PIB pelo segundo ano consecutivo.

Nesse contexto, o jornal francês não é otimista em relação ao futuro, escrevendo que se a oposição acenou aos mercados a liberalização da economia com a saída de Dilma,  vários fatores podem congelar essa esperança, a começar pela situação do próprio vice-presidente Michel Temer, também alvo de processo por corrupção, seguido por Eduardo Cunha e suas contas na Suíça. Sem falar que o PT e Lula ainda contam com um forte apoio popular, como demonstraram as manifestações por todo o Brasil.

Triste conclusão: o clima político vai endurecer nos próximos dias e os dirigentes da oposição, na primeira fila da destituição, não são os melhores para lavar o desgosto que os brasileiros estão sentindo pela classe política. Daí os votos do Le Monde de que, um dia, os políticos pensem mais no povo do que nos seus bolsos.

Le Monde também traz em sua manchete a foto dos deputados brasileiros da oposição com os cartazes “Tchau, querida”, comemorando a vitória em um ambiente quase histérico: “Dilma Rousseff na tormenta, o Brasil em crise”, é o título do artigo de duas páginas que mostram grandes fotos dos manifestantes pró-impeachment torcendo, sofrendo e chorando.

O jornal também se interessou pelo “muro de Brasília”, símbolo de dois Brasis de costas um para o outro: o artigo descreve os vermelhos de um lado, os verde-amarelos do outro e, entre eles, o muro na esplanada dos Ministérios. Entrevistando diversos pró e contra PT, Le Monde constata a decepção de um lado e a veneração de outro. E observa que a herança do ex-presidente Lula, que tirou milhões de pessoas da probreza, não é mais unanimidade entre o povo brasileiro.

 

Redação

7 Comentários

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  1. Compromisso so com eles mesmos

    Pedir a esses deputados que votem acima de seus interesses pessoias é mal conhecer o nivel dos politicos brasileiros! Esses deputados votaram a favor do golpe em troca de favores, votaram porque estavam nas mãos de Cunha, votaram porque pesaram pra que lado o pêndulo estava se dirigindo e escolheram ficar do lado que lhes parece melhor hoje, com apoio da grande midia. Eles não têm compromisso com o Pais ou então nunca teria existido pautas-bombas e Eduardo Cunha ja estaria fora da presidência da Câmara ha meses. Alias, nem teria chegado la.

  2. Na guerra não há vencedores

    Se existe uma grande verdade nesses tempos é que o país foi dividido.  Cada fileira com os seus soldados prontos a seguir cegamente os seus líderes e todos com o objetivo de destruir o inimigo. A busca por essa destruição passa do aspecto ideológico e formal e toma a forma de ataques pessoais físicos ou não, mentiras e distorções morais gritantes. E dá-lhe escárnio e cinismo. Na guerra e no amor, dizem que vale tudo.

    Somos todos culpados. O governo foi e é incompetente, a oposição é irresponsável e não soube perder, nosso congresso tem um nível boçal, o judiciário e o MPF são enviesados, a mídia é golpista e a população manipulável. Estamos todos preocupados com o nosso egoísmo e vale a minha posição a qualquer custo.

    Vale curtir um deputado que elogia torturador, vale cuspir no mesmo, vale chamar um corrupto de “meu malvado favorito”, vale trair, xingar, ameaçar, conspirar, furar fila, roubar… O importante é destruir o meu inimigo. O país depois a gente reconstrói. Mas quem é o inimigo?

    No fim, somos todos boçais. O time do “quanto pior melhor” só ganha mais adeptos a cada dia. No campo das ideias, nenhuma discussão. Não se argumenta, não se busca discutir a lógica do discurso. Burro, estúpido, coxinha, vagabundo, mortadela, petralha, corrupto, imbecil, Brasil vai virar Cuba e afins cada vez mais vai demonstrando o nosso nível. Quando não se tem argumentos, parte-se para ataques pessoais. Não daremos ouvido a nosso inimigo.

    Quando nas batalhas um lado sai vencedor, há o escárnio: “Chora, não vou ligar…”

    A solução é simples: o que temos em comum? Podemos discordar no campo das ideias, podemos argumentar um contra o outro, mas temos um mesmo objetivo. Falharam nossos líderes ideológicos, falharam ao nos separar. Somos uma sociedade sem educação. E educação não é o ensino formal, é respeitar o outro, é escutar, acolher o diferente. E discordar – o que nos torna diferentes – não nos torna inimigos. Todos queremos um país melhor, e que isso não nos custe a nossa pátria.

    1. Todos queremos um país melhor

      Todos queremos um país melhor uma ova !!! Esse pessoal que quer entregar o pré-sal e é a favror da destruição dos direitos trabalhistas definitivamente não quer…

    2. Você disse uma frase

      Você disse uma frase perfeita, na guerra não há vencedores.

      Mas quando chega a paz, sim!

      E é por isso que se inicia a guerra.

      Essa guerra tem origem em uma disputa de poder. esta em jogo o projeto de pais para os próximos anos.

  3. LE Monde é conservador. Até

    LE Monde é conservador. Até agora não vi nenhum importante jornal conservador do mundo inteiro apoiar o golpe. Todos, sem exceção, do Financial Times, ao Econimist, passando pelo WallStreet Jornal, El País e chegando ao Le Monde estão se sentido impossibilitados de dar aval a essa sacanagem, mesmo que ideológicamente alinhados.

    Todos estão constrangidos, ainda mais com o espetáculo grotesco de domingo. Menos o pig claro, que tampa o nariz e vai de Bolsonaro se for o caso.

    Falando nisso, a Miriam Leitão, que foi torturada pela ditadura, criiticou o discurso do Bolsonaro ao votar. Para que? Foi xingada de tudo que é nome em seu site. O Tijolaço siintetiza a coisa: “cria cuervos que lhe comerão sus ojos” 

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