Escândalo da Petroquímica de Suape, a ‘Pasadena’ de Temer, por Mauro Santayana

Foto: Divulgação

Da Rede Brasil Atual

Comprar empresa fora – expandindo nossa influência no mundo – é escândalo. Repassar aos gringos empresa brasileira moderna, ao preço de cinco dias de faturamento, é a coisa mais normal do mundo
por Mauro Santayana, para Revista do Brasil

Após a derrota de sindicatos – que deveriam ter insistido, em todo o país, com novas ações – o Judiciário acabou autorizando a escandalosa venda da Petroquímica Suape e da Citepe, de Pernambuco, a mexicanos pelo equivalente ao valor de pouco mais de cinco dias de seu faturamento.  

Na Petroquímica Suape foram investidos R$ 9 bilhões pela Petrobras. No final de 2015, a dívida da empresa era menos de R$ 2 bilhões, o equivalente, portanto, a apenas dois anos de sua vendas, sua receita líquida cresceu em 19% naquele ano e o seu prejuízo caiu em 35% frente a 2014. Para que vender?

As razões daquele prejuízo, aliás, devem ser procuradas no próprio México. Por meio de um acordo de preferências tarifárias, a empresa que está comprando a refinaria, a Alpek, vende milhares de toneladas de PET ao Brasil sem pagar um centavo de imposto, e é o principal concorrente, em nosso próprio país, da mesma Companhia Petroquímica Suape, obrigando-a a trabalhar com um baixo nível de ocupação de apenas 65% de sua capacidade instalada.

Há perguntas que não querem calar. Por que – se tocar a petroquímica é um mau negócio – nossos hermanitos mexicanos estão comprando a empresa, que, aliás, poderia ter sido negociada com compradores que têm potencial para pagar muito mais, como os chineses, por exemplo? Ou por que não se colocou, a esse preço de ocasião, a empresa para ser vendida em bolsa, diluindo o seu capital e beneficiando, com esse negócio de pai para filho, milhares de acionistas brasileiros?

A primeira e mais óbvia razão para a compra pelos mexicanos é que ela está sendo vendida a preço de banana, por acionistas da Petrobras – como fundos de investimento, por exemplo – que podem comprar ações da Alpek na Bolsa de Valores do México antes, ou logo depois da concretização do negócio, lucrando, junto com os donos da Alpek, uma fortuna de bilhões de dólares na compra da refinaria por pouco mais de 10% do que foi investido no negócio. Vendendo barato, com uma mão, e comprando com a outra, fora do país, um patrimônio que foi levantado com dinheiro de todos os brasileiros e que pertence majoritariamente a toda a população brasileira.

A segunda é que a Alpek e o seu controlador, o Grupo Alfa, não passam, exatamente, por um bom momento – por isso suas ações estão ainda mais “baratas” do que o normal – e precisam produzir boas notícias.

O fundador do grupo Alfa, Armando Garza, morreu na semana passada, e as ações da Alpek já tiveram uma queda de 16% no primeiro trimestre de 2017, com uma baixa de valor de mercado de mais de 5 bilhões de pesos mexicanos.

Os investidores mexicanos estavam preocupados com o futuro das ações devido à debilidade do relatório trimestral da empresa, justamente na área em que pretende se consolidar no Brasil, a de poliéster e de polipropileno, na qual suas vendas retrocederam em 3%, fazendo com que o seu Ebtida (sigla em inglês para Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization; ou “Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização”) tenha diminuído em 2016 em 7% com relação ao último trimestre de 2015.

Por tudo isso, a imprensa mexicana comemora ruidosamente em suas manchetes a compra da petroquímica de Suape pela Alpek.

A aquisição aumentará, potencialmente, a produção de ácido PTA pela Alpek em 33% e a de PET em 25% – pagando-se uma mixaria, a metade do valor que era esperado no início pelos observadores.

Calculava-se, na Cidade do México, que a compra poderia sair por um valor mínimo de US$ 600 milhões – só os ativos de Suape valem várias vezes isso. Mas o preço final acabou ficando por pouco menos de US$ 400 milhões, o equivalente a aproximadamente cinco dias de faturamento da Petrobras – por um patrimônio no qual foram investidos, voltemos a lembrar, R$ 9 bilhões, que embute, na prática, o virtual controle do mercado brasileiro de um dos insumos mais usados em nossa economia.

A terceira razão do negócio, e a mais importante para os mexicanos, é – independentemente da situação da Alpek e da Petrobras, que, com crescimento constante de sua produção neste ano, e um aumento no valor de suas ações de 200% nos últimos 12 meses, é muitíssimo melhor do que a do grupo mexicano – é de interesse nacional, por sua natureza geopolítica e estratégica.

O México resolveu controlar a produção de polietileno, um artigo que se usa aos milhares de toneladas por dia, no Brasil – que tem um mercado maior que o mexicano e é o maior da região – para afastar o Brasil como concorrente e controlar o mercado desse insumo, não apenas aqui, no Brasil, mas, em dimensão continental, na América Latina.

Com a entrega da Petroquímica de Suape à Alpek, o mercado brasileiro de PET passa a ficar nas mãos dos mexicanos, que poderão a partir de agora até mesmo fechar, no futuro, a fábrica pernambucana, ou diminuir a sua produção quando lhes der na telha.

Para isso, podem, por exemplo, aumentar as exportações de PET para o Brasil a partir de suas fábricas mexicanas, ou produzir, aqui, no Brasil, com petróleo vindo do México, beneficiando, indiretamente, a Pemex, a companhia estatal de petróleo mexicana.

E regular a oferta em nosso mercado, para aumentar o preço do insumo, estabelecendo um virtual monopólio nessa área.

Cortando a possibilidade estratégica que o Brasil tinha de alcançar a autossuficiência na produção de PET e de produzir aqui mesmo com petróleo nacional, agregando valor ao petróleo produzido pela Petrobras.

 

Tirando do Brasil a possibilidade que ele tinha, com essa refinaria, de disputar a supremacia, com o beneficiamento direto de nossa crescente produção de petróleo, com os nossos maiores concorrentes nessa área, que são – ou melhor, eram, porque praticamente saímos do negócio depois de gastar bilhões montando essa unidade petroquímica para eles – justamente nossos hermanos do país dos tacos, do Chapolin Colorado e do Speedy Gonzalez, o Ligeirinho.

Os negócios envolvendo a compra, pela Petrobras, da refinaria norte-americana de Pasadena, com um controvertido prejuízo – foram pagos US$ 7.200 por barril de capacidade de processamento, em um ano em que a média de negócios nessa área (11 vendas de refinaria em todo o mundo) foi feita com preço mais alto, de US$ 9.200 o barril) transformaram-se em uma das principais bandeiras da campanha midiota-jurídico-política que levou à derrubada de Dilma Rousseff da Presidência da República.

Não é de se estranhar que a desculpa do governo Temer, de diminuir os prejuízos da construção da Petroquímica Suape – que por maiores sejam, um belo dia se pagariam e começariam a dar lucro –, não desperte neste país cada vez mais canalha e hipócrita a mesma indignação por parte da imprensa e de milhares de carregadores de pato e de batedores de panela. Como cidadãos, na entrega de mão beijada dessa gigantesca refinaria aos mexicanos, restará a todos um prejuízo várias vezes maior do que o primeiro.

Comprar uma empresa lá fora – expandido nossa influência no mundo – é um escândalo. Repassar uma empresa brasileira, muito mais moderna, aumentando o poder de estrangeiros aqui dentro, para gringos, a preço de banana, é a coisa mais normal do mundo.

Redação

Redação

View Comments

  • O golpe foi pra isso: A SUAPE

    O golpe foi pra isso: A SUAPE sendo vendida ao preço de 5 dias de produção.

    Vendida não e sim sendo doada...

  • É revoltante! Será que

    É revoltante! Será que ninguém desses entreguistas nunca vão responder por isso? Só  é ladrão, entreguista não?

    Abaixo vou colocar um texto que escrevi sobre privatização que acho que deixa claro o prque nunca se deve privatizar.

    Balela da privatização

    Nada contra alguma coisa privatizada (nem mercadoria nem serviço). Não sou daquele que não compraria um refrigerante ou uma linha telefônica da iniciativa privada, se houvesse similar de uma empresa pública. A questão que se coloca, e que me deixa perplexo, é a tal privatização. Privatização é pegar algo que foi feito com dinheiro público, dinheiro de impostos da população, e vendido a troco mais de nada, para que um grupo privado, na maioria das vezes multinacional, comece a cobrar daqueles que se juntaram para construir aquela estrada, aquela hidrelétrica, aquele aeroporto.

    Como dizia Barbosa Lima Sobrinho, que participou ativamente da campanha 'O petróleo é nosso', se não fosse a Petrobrás jamais a iniciativa privada teria descoberto um barril de petróleo aqui no Brasil. Pois as empresas encarregadas de dar parecer sobre a reserva de petróleo no Brasil, todas norteamericanas, dizia que o Brasil não era lugar de alguém investir um cruzeiro para procurar petróleo. Foi preciso apostar com o dinheiro público e mostrar que temos sim, petróleo, e muito. Agora pegar e dar justamente para essa turma que não investiu um real?

    É o caso das telecomunicações, das estradas e dos aeroportos. Das estradas, por exemplo, alguém já viu a iniciativa privada construir um quilômetro de estrada que seja, para depois cobrar pedágio?. Porque a iniciativa privada não constrói uma estrada transamericana que saia da Patagonia ao Norte do Canadá e que cobrem a tarifa de pedágio que lhes aprouver. Agora pegar uma rodovia construída e pavimentada há anos, e só construir a gabine-móvel de pedágio e começar a cobrar a tarifa mais louca que existe, só aqui no Brasil mesmo. Há o caso de um trecho pedagiado da BR-153 que fica na cidade de Lapa no Paraná, e foi privatizado pelo governo FH o entreguista, na qual a empresa que cobra pedágio não investiu um único real antes de começar a cobrar mais de  U$4 dólares pela tarifa de pedágio num trecho de menos de 40 quilômetros. Está lá há mais de 15 anos e as vezes a empresa pinta as faixas, só. Já aconteceu de eu trafegar pelo dito cujo trecho e, como houve acidente tivemos que usar desvio rural porque a pedagiadora não tinha caminhão de reboque para guinchar os veículos envolvidos.

    Caso também das hidrelétricas, quantas usinas a iniciativa privada construiu para depois começar a distribuir e cobrar a energia? Quantas redes de transmissão a iniciativa privada já construiu? 

    Caso das teles: quantas mil quilômetros de rede elas já construíram, quanto já investiram para acompanhar o desenvolvimento mundial das telecomunicações? O mesmo caso pode-se afirmar dos aeroportos, das ferrovias. 

    Quem defende a privatização, a primeira coisa que deveria defender era a construção dos serviços com investimento privado. Se não fizer isso está usando de má fé. Pois em todos os casos só querem o investimento público para elas tirarem o couro daqueles que efetivamente construíram tudo, que são aqueles pagam imposto neste país. 

  • escândalo....

    Primeiramente nosso grande Anticapitalismo Tupiniquim. Depois, coisa nenhuma de mexicanos. Marca mexicana comandada por norte-americanos. Falta de qualquer estratégia e Politica de Estado. Muito dinheiro brasileiro gasto e "arrecadado" por nossas elites do Poder Público. O que interessava à elas já foi feito, via empreiteiras. Agora, como no caso das empresas de Eike Batista, é entregar tudo ao interesse internacional. Até para os cegos está claro a destruição de marcas e estratégia dos governos petistas, mesmo que em colapso da economia nacional. É o ressurgimento da Politica de Privataria Tucana. 30 anos desta gente no poder. Grande projeto de país?!!! 

  • Caixa 2 na veia

    Vale 9 e a gente divide ela no meio.

    Te vendo por 1, mas quero 3,5 por fora e lá fora. Vc gasta 4,5 e fica com 4,5 de gordura.

    Caixa 2 com empresa nacional dá em lava jato.

     

  • Brasil Ocupado

    O Brasil parece a França ocupada pelos nazistas. Em Paris nada parou. Havia um conformismo no ar.

    O brasileiro por falta de  cultura e capacidade cognitiva se deixa roubar, mas permite pois são ladrões estrangeiros, de valor, de escol.

    Não tenho esperanças que o brasileiro derrube Temer, pois não é isso que a Globo quer. Nada pior no Brasil que os brasileiros.

  • tenebrosas transações

    Isso é que é corrupção de verdade, pra quem vende e pra quem compra. Acontecendo ser realmente sério e nacionalista, o governo que assumir após a expulsão de Temer e Cia, eu imagino que não haverá nenhuma dificuldade de se anular escandaloso e indecente crime de lesa pátria, que é a venda da Petroquímica de Suape. Acredito que um escritório de advocacia experiente e bem preparado poderá reverter rapidamente essa incestuosa e corruptora maracutaia mexicano-brasileira.

Recent Posts

Climatempo: Nova onda de calor atinge o país até 2 de maio

Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste serão as áreas mais afetadas; no MS, MT, SP e…

7 horas ago

CNPq responde ao artigo ‘A estranha política para fomento de pesquisa’

CNPq explica alguns pontos do artigo de Fábio Neves, que critica o edital para repatriação…

7 horas ago

Não houve invasão externa em sistema do Tesouro, diz Haddad

Segundo o ministro, alguém usou o CPF e a senha do Portal Gov.br de gestores…

8 horas ago

Lula manda recado para apaziguar crise no Congresso: “Política é conviver na diversidade”

Presidente questionou ainda o porquê das críticas em relação aos gastos do governo, tema recorrente…

8 horas ago

Adriana Pivato assume chefia da PRF do Distrito Federal

Há 18 anos na Polícia Rodoviária Federal, ela é a primeira mulher selecionada para assumir…

9 horas ago

Acusado de assassinar Neurice Torres, agricultora e militante do MST, será julgado em Minaçu

Tribunal do Júri sobre o feminicídio que vitimou militante do MST será amanhã, terça-feira, dia…

10 horas ago