Estrelas de distantes escândalos emergem ao mesmo tempo, por Janio de Freitas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Em seu artigo de hoje na Folha, Janio de Freitas passeia pelas concorrências em torno ou completamente fora do rumo da Lava Jato, na figura de Márcio Fortes. O personagem não é único nem é exclusivo, o articulista vai no rumo de Moreira Franco com os aeroportos, no metrô do Rio, no abastecimento de água. O tema corre solto na caneta de Janio e nos jornais, diariamente. Leia a coluna a seguir e deixe o ponto final por conta do interino. 

da Folha

Estrelas em cena, por Janio de Freitas

Coincidência ou não, duas estrelas de distantes escândalos em concorrências públicas emergem ao mesmo tempo, em casos separados, da Lava Jato para o noticiário. Não por coincidência, mas pela mesma tradição, a empreiteira agora citada como uma das figuras estelares era coautora e beneficiária, entre outras, das concorrências corrompidas.

Márcio Fortes “surge nas negociações das delações premiadas das grandes empreiteiras”, como noticiou Mônica Bergamo, na condição de intermediário de ao menos um político e empresários –todos sabemos para quê. É a função que teve na montagem daquelas concorrências, o que está bem explicitado em atas de reuniões, com sua presença, escritas na empreiteira e preservadas fora dela (não era uma só a fazê-las).

Responsável no governo Dilma Rousseff pelos leilões de aeroportos para consórcios privados, Moreira Franco –noticiou “O Estado de S. Paulo”– aparece em numerosas mensagens trocadas com o então presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo. Seu assunto: a privatização do aeroporto internacional de Confins, junto a Belo Horizonte. Moreira reúne-se com dirigentes da empresa mineira na própria casa de um deles. A Andrade ficou com Confins. Como esperado, Moreira Franco nega a notícia e qualquer irregularidade no leilão.

Negou-as também, quando governou o Estado do Rio, nas numerosas licitações das obras do metrô, do grande complexo Marajoara de abastecimento de água, do Palácio da Polícia, por exemplo. Fraudes, todas, comprovadas aqui mesmo, com a publicação antecipada e camuflada de cada resultado. Houve inquéritos, inclusive na polícia estadual, mas para não chegar a resultado. Todas aquelas concorrências, porém, precisaram ser anuladas. Algumas para sempre.

Depois de longo sumiço, Moreira Franco reapareceu como ministro da Secretaria de Aviação Civil, no governo Dilma, a pedido de Michel Temer. Foi uma das nomeações mais inadmissíveis de Dilma, que não podia, de qualquer ponto de vista, desprezar o histórico implícito na indicação. No Planalto, Michel Temer confirma sua identificação com Moreira Franco: deu-lhe, em seu governo, o encargo das privatizações, das concessões e das parcerias com os interesses privados. O equivalente a certo paraíso.

O governo Moreira Franco e suas licitações estouradas deram-se na passagem dos anos 1980 para os 90. Lembrando-as há pouco no “Jornal da Band”, a propósito das empreiteiras na Lava Jato, Ricardo Boechat citou aquela fase com a fraude revelada da Ferrovia Norte-Sul, para esta conclusão: se aquelas fraudes fossem punidas, não haveria a corrupção movida pelas empreiteiras nesses anos todos, e que se mostra em parte na Lava Jato. Uma constatação que mostra a responsabilidade, também, das chamadas “autoridades competentes”, embora nem tanto.

Caso mais rumoroso, a fraude na Norte-Sul teve um inquérito da Polícia Federal acompanhado por um procurador. A PF ciscou para um lado e outro, mas o procurador, de início muito hostil ao trabalho jornalístico e ao próprio jornalista, no fim concluiu pela necessidade de denúncia criminal e processo contra autores e beneficiários da licitação fraudada. O inquérito foi mandado para o Rio. O (ex-)procurador Juarez Tavares enfurnou-o. Passado um ano, o então procurador-geral Sepúlveda Pertence despachou-o em silêncio para o arquivo morto. Foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal.

PROFUNDO

Em reunião com a Frente Parlamentar da Agropecuária, Michel Temer, diante do interesse dos presentes no problema da terras indígenas, inspirou-se para este comentário filosófico: “É uma coisa muito curiosa, essa questão das terras indígenas…”. E, de volta, informou presidencialmente: “Vamos tentar solucionar esse problema”.

Questão original? É trágica, é de sangue e morte, de crime e impunidade, de roubo e riqueza. Original? Michel Temer votou na Constituinte contra os temas sociais, trabalhistas e humanitários.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

8 Comentários

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  1. O que estamos vendo hoje é um

    O que estamos vendo hoje é um país nas mão de velhos pilantras, todos com passagens em inquéritos que nunca sairam da gaveta. Homens que enriqueceram a custa do dinheiro público com a chancela das policias, desembargadores, juízes e outros meliantes que acobertam esses crimes.

  2. Foto errada

    Vcs puseram a foto do Márcio errado, o Márcio Fortes em questão é o ex-presidente do BNDES, e não o ex-ministro. Vai por mim, de Márcio eu entendo…

    1. Com certeza!

      Merece um post acusando o engano.Marcio Fortes ( ex ministro ) é digno de elogios tanto pela sua atuação ,quanto pela formação diplomática e principalmente pela sua correção como ser humano. Que se informe esse lastimável engano. 

  3. Jânio de Freitas, irrepreensível como sempre.

    Jânio de Freitas, sua inteligência, sutileza e capacidade de síntese, aliadas ao senso crítico e memória, proporcionam aos leitores um bálsamo, um oásis, nesse deserto de miséria que os grandes veículos de mídia brasileiros se transformaram.

  4. Produtiva lavoura.

    Eh impressionante notar o quão produtiva é a lavoura em que o judiciário brasileiro cultiva essa infinidade de espécies de corruptos, há décadas. Centenas ou milhares de processos amontoados, garantem a impunidade dessa leva de corruptos que conseguem até ajudar a dar um GOLPE de Estado no país, apoiando o esforço do consórcio judiciário/mídia corrupta.

  5. erro de ilusração

    acho que há um erro nessa ilustração sobre a coluna do jânio.

    são dois márcios fortes, mas o que reaparece é o tucanão carioca, que foi braço direito do serra na derrotada campanha eleitoral.

    confirma, por favor

  6. Penso que Lula também manteve

    Penso que Lula também manteve esse Gato Angorá em seu governo, que prosseguiu com Dilma. Nunca entendi essa escolha, afinal esse sujeito sucedeu Brizola como Meu Nome É Trabalho, e o que fez foi o de sempre: não mostrar serviço, entregando o Governo em situação delicada, até mesmo por derrubar todos os programas importantes de Brizola, como o dos CIEPS, muitos deles vindo a servir a moradia de indigentes, marginalizados.

    Rodrigo Maia, ao que sei, é genro de Moreira Franco. Aguenta Brasil!

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