Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Golpe à parte, um “Hasta Siempre” ao Comandante, por Armando Coelho Neto

Golpe à parte, um “Hasta Siempre” ao Comandante

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Aconteceu no filme Cidade de Deus. Um delinquente fica indignado quando vê o crime praticado por ele ser atribuído a outro marginal. Nas entrelinhas, a vaidade, o orgulho pelo ato criminoso. Na marginalidade é assim, e quanto mais for escrachado pela imprensa, quanto mais for repudiado pela sociedade, mais feliz se sente o criminoso. E, não adianta os Rezendes e Datena da vida alardearem: mostra aí, mostra! Mostra a cara do bandido. Os bandidos ficam indiferentes e até sorriem para as câmaras.

Os bandidos exibidos pelo jornalismo policialesco, tão logo chegam aos seus destinos usuais – casa, maloca ou mansão, comemoram aquilo que tomaram à mão armada, na dita mão grande. No topo do morro ou lugar qualquer exibem a vitória da conquista torpe, assim como muitos o fazem agora, quando protagonizam cenas de comemorações no que diz respeito ao golpe que levou Fora Temer a usar a Faixa Presidencial sem votos.

Não quero me perder nos insólitos tripúdios, tantos que os foram. No do momento, vomitam o resultado eleitoral recente como suposta aprovação popular. Mas, se diante da propaganda maciça do coronelismo eletrônico, se entre programas “Bom Dia Lula, Boa Tarde Lula, Lula Esporte, Jornal Nacional do Lula, Boa Noite Lula” – todos mentindo sobre Lula, tripudiando o PT e, mesmo assim o povo votasse no PT, aí sim o Brasil estaria pior do que está.

Os votos do PT, com raras exceções, não migraram para a direita. A consciência crítica residual, ainda que manipulada, sinaliza que o eleitor anseia por decência. Votos brancos, nulos, abstenções foram os grandes vencedores. O modelo eleitoral podre, criado pela elite branca – de Moros, Marinhos, Malafaias, Mesquistas e maçons não lhe serve sequer para ganhar eleições. É preciso fraude. É preciso prova ilegal. É preciso apoio popular para dar suporte à convicções sem provas. É preciso uma TV Globo para capitanear o papel sujo.

A Globo é a prova de que a sutileza da fraude eleitoral não está necessariamente nas urnas.  Modelo eleitoral rejeitado, o povo foi cegamente à procura do novo, ainda que o novo seja tão velho como João Dória. Foi atrás dos ricos, como São Carlos/SP elegeu o prefeito mais rico do Brasil, como americanos elegeram o ricaço Trump. Há nítido sinal de que a elite branca não se elege via modelo podre eleitoral criado por ela. É preciso fraude e para manter as aparências não se pode por as urnas em dúvida.

O programa do impostor Temer não foi julgado. Sem espaço para defesa, o PT não pôde em poucos minutos diários defender-se das 15 mil horas de acusações. Se serve de consolo, o PT não foi julgado, mas sim o fantasma do PT imposto pela mídia. Mas, preto no branco o PT está fora da gestão nacional, forçado pela mentira do golpe, pela campanha de ataques. A verdadeira campanha eleitoral foi a paralela – Sérgio Moro aparecendo em fotos com candidatos.

A verdadeira campanha eleitoral foi aquela patrocinada diuturnamente até em programas de culinárias, cheios de lacinhos, gravatinhas, panos de mesa e guardanapos em verde-amarelo.

Esse registro vem a propósito das muitas mensagens que recebo. Mal informadas, mesmo bem intencionadas, dizem que estou perdendo tempo nessa trincheira, pois o povo apoiou o golpe e a prova está nas urnas. Mas, 360 bandidos, que com o aval da ex-suprema corte judicial atestam que Fora Temer é presidente, continuam lá.

O congresso bandido nada deu ao povo, mas aprovou reajuste de seus próprios salários, os dos do juízes e, cinicamente, colocou em regime de máxima urgência o reajuste salarial da Polícia Federal, em votação simbólica.

Como no filme Cidade de Deus, que importa aos bandidos Rezendes e Datenas. O importante é fama e o produto do roubo. Portanto, que importa Le Monde,  The Guardian, New York Times, El Pais ou moções de protestos no Parlamento da Alemanha. Pouco importa que sete ministros sejam ministros em condições nas quais Lula fora vetado.

Pouco importa que a corrupção continue exatamente a mesma, pouco importa que Sérgio Moro se orgulhe de ter recuperado R$ 2 bilhões de reais e tenham dado ao Brasil um prejuízo de R$ 150 bilhões, que empregos diretos e paralelos tenham sido extintos. Pouco importa que empresas brasileiras estejam sendo barateadas para serem vendidas e possam ser substituídas por empresas internacionais.

Um golpe que integra contradições nacionais e internacionais, num mundo em que Fidel Castro morre e permanece vivo, pois sua essência está nas sutilezas, na percepção dos truques, na leitura do palpável que sempre soube fazer. O bastante para que se diga, orgulhosamente, um  “Hasta siempre” Comandante!

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

7 Comentários

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  1. Mais uma preciosidade Armando Coelho Neto

    Prezada equipe do GGN, prezado Armando Coleho Neto, prezados leitores.

    E sempre uma satisfação ler artigos corajosos e contundentes, com a crítica necessária e oportuna àqueles que tentam ludibriar o povo, posando de virgens, após longa jornada no meretrício (com o devido respeito aos profissionais do sexo).

    1. Velhos hábitos que precisamos mudar: Criminalizar a Probreza

      Velhos hábitos quer precisamos mudar: Criminalizar a Probreza

      “No topo do morro ou lugar qualquer exibem a vitória da conquista torpe, assim como muitos o fazem agora, quando protagonizam cenas de comemorações no que diz respeito ao golpe que levou Fora Temer a usar a Faixa Presidencial sem votos.”

      Uma das mensagens mais profundas deste Golpe é que uma Velha Casta não morre fácil e reage com toda sua força contra a perda de privilégios. Uma das formas de manter estas Castas vivas e fortes é manter seus costumes vivos em nós, que nos colocamos contra elas.

      Desculpe por esta intervenção, mas o Senhor não acha que focar metáforas e poemas sobre a “criminologia e criminosos” nos Brasileiros mais pobres e em seus espaços não é absurdo? Injusto? Quem esta jogando o Brasil para trás, indo contra avanços por interesses mesquinhos são fámilias Ricas e Tradicioniais. Então, por favor… Não faça estas insinuações ou alusões. Os Morros talvez estejam com problemas devido ao acúmulo de NEVES “Diluvianas” trazidas de helicopteros de forma “Inter-Estadual”:

      “Quando vim de Minas! Trouxe ouro em pó, cantava o Jovem Playboy Mineiro ao Chegar ao Rio de Janeiro!” (In Neo-Roseanas: Piadas de Realismo Fantástico no Século 21)

      Aqueles que mais ganham menos aparecem no mundo do Crime…

      Sou Mineiro! Tentei ser educado e Metafórico! Espero não ter sido ofensivo! Uma boa tarde para o Senhor!

  2. O PT não está fora da gestão

    O PT não está fora da gestão nacional. Ocupa o espaço de único partido POLÍTICO BRASILEIRO fazendo OPOSIÇÃO! Oposição, em política, é tarefa altamente importante em gestões governamentais! Cabeças de planilhas, ou com outros recheios, ou não sabem disso por ignorantes que são, ou sabem mas não dizem para marginalizar e tirar a importância do adversário oposicionista PT saudações. 

  3. Basta

    Mas a tempestada vai passar e essa turma ai vai ser levada na enxurrada da historia. Desse triste interregno, espero que sobre apenas as lições do preço alto que estamos pagando por mais um golpe.

  4. PT? Presente!

    Quanta obstinação contra tão pouca conquista!

    502 anos de miséria e servidão contra 12 ou 14 anos de pequenos avanços, o suficiente para a ordem de retorno à senzala!

     

    Resultado de imagem para servidão

  5. Hasta Sempre Comandante
    Eita Armando Rodrigues Coelho Neto, vc cada vez melhor…
    Ficooo feliz pois vejo que estais atento ao que passamos pra VC inbox …
    em termos de opinião…
    Até o próximo texto, segunda- feira….

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