Governo Bolsonaro volta atrás e cancela suspensão da reforma agrária

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O secretário especial da Regulação Fundiária do Ministério da Agricultura, Nabhan Garcia, foi protagonista no embate com o MST na década de 1990 (Foto: Agência Brasil)

 

do Repórter Brasil

Governo Bolsonaro volta atrás e cancela suspensão da reforma agrária

Por Daniel Camargos e Diego Junqueira

Após Repórter Brasil revelar documentos internos determinando a suspensão, Incra muda de ideia e cancela os memorandos. Servidores avaliam que governo está perdido

Cinco dias após suspender a política de reforma agrária no país, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) voltou atrás e cancelou a paralisação, que prejudicava a criação de assentamentos rurais e a titulação de territórios quilombolas em todo o país. 

Em memorando enviado ontem (8) às 22h13 para as 30 superintendências regionais do Incra, o presidente substituto do órgão, Francisco José Nascimento, esclarece que “não há determinação do Governo Federal de suspender as ações das políticas de reforma agrária e de ordenamento fundiário”. O documento também revoga dois memorandos que haviam sido enviados no dia 3 de janeiro e que suspendiam todos os processos de compra e obtenção de terras para a criação de assentamentos rurais. A paralisação da reforma agrária foi revelada na manhã de ontem (8) pela Repórter Brasil.

A justificativa para a paralisação era aguardar a definição da nova estrutura do Incra, que no governo do presidente Jair Bolsonaro deixou a Casa Civil e passou para o Ministério da Agricultura.

Entre os servidores do Incra, a sensação é a de que o governo está “perdido”. A Repórter Brasil conversou hoje (9) com três funcionários, que pediram para não serem identificados. Eles avaliam que a decisão inicial de suspender a reforma agrária e a posterior decisão de revogação da medida deixaram os funcionários atônitos. 

Na segunda-feira (7), um dos superintendentes do órgão solicitou a Cletho Muniz de Brito, diretor de Ordenamento da Estrutura Fundiária do Incra, mais detalhes sobre o memorando que paralisou as ações da diretoria. “Necessitamos esclarecimentos sobre quais processos estão efetivamente sobrestados e quais ações efetivamente suspensas, uma vez que a Fundiária envolve várias ações: cadastro rural, cartografia, certificação de imóveis rurais, regularização fundiária e regularização de territórios quilombolas”, escreveu o superintendente em circular interna.

Uma possível suspensão da reforma agrária afetaria de forma imediata 250 processos de aquisição de terras para assentamentos rurais e mais de 1.700 processos de demarcação de quilombos. Para o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), uma suspensão da reforma agrária aprofundaria a violência no campo, segundo avaliação do dirigente nacional, Alexandre Conceição.

Apesar de ter voltado atrás, o Incra manteve a determinação de que as superintendências enviem, até hoje, um levantamento detalhado sobre todos os imóveis que podem ser destinados para a reforma agrária. 

Os servidores do Incra atribuem a ordem de suspender a reforma agrária ao secretário especial de Regulação Fundiária do Ministério da Agricultura, Luiz Antônio Nabhan Garcia. O secretário chegou a ser cotado para o posto de ministro, mas a frente ruralista do Congresso preferiu indicar o nome da ex-presidente da bancada, a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS).

Nabhan Garcia assessorou Bolsonaro durante a campanha eleitoral, principalmente nos contatos com o agronegócio. Garcia foi protagonista no embate com o MST durante a década de 1990 nas disputas por terras no Pontal do Paranapanema, em São Paulo. À época, ele foi acusado por um fazendeiro de organizar milícias privadas na região e chegou a ser convocado a prestar esclarecimentos à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Terra. A Repórter Brasilpediu uma entrevista como Nabhan Garcia para a assessoria de imprensa do Ministério da Agricultura, mas não obteve retorno. 

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

1 Comentário

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  1. “Bebo porque é líquido”.

    “Bebo porque é líquido”. Certa feita, um político trocista disse que as “forças ocultas” que fizeram Jânio Quadros renunciar tinham o mesmo nome que três marcas famosas de cachaça.

    O vaivém de B (vai ter base dos EUA, não vai ter; a Embaixada vai para Jerusalém, não vai mais; não vai ter reforma agrária, vai ter; etc…) também é movido a álcool? Quais são os nomes das “forças ocultas” que o capitão vagabundo tem consumido?

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