Governo e economistas cavam o fundo do poço, por Fernando Rugistsky

Jornal GGN – Em análise publicada pela Folha de S. Paulo, Fernando Rugitsky professor da USP, aponta que a crise econômica pode se aprofundar mais antes de começar a sua recuperação. Para ele, o sistema político está “girando em falso” e as medidas anunciadas, como as metas de crescimento dos gastos públicos e da reforma da Previdência, acabam enfraquecendo “as travas à derrocada econômica”. “Ávidos por trazer um mistificado liberalismo econômico, economistas convencionais e os membros do governo que foram convencidos por eles defendem políticas que aceleram a trajetória explosiva”, afirma, concluindo que tanto economistas quanto o governo estão  “cavando ativamente o fundo do poço”. Leia mais abaixo:

Da Folha

Economistas e governo cavam ativamente o fundo do poço
 
FERNANDO RUGITSKY

Demanda fraca nos mercados externo e interno, desconfiança de consumidores e de investidores, alto nível de endividamento das famílias e das empresas, dúvidas sobre a situação fiscal do país, incertezas no cenário político, erros na condução da política econômica…

São muitas as razões que levam especialistas a acreditar que a crise pode se aprofundar ainda mais antes de a economia iniciar uma retomada, não vislumbrada para os próximos meses. Para Carlos Kawall Leal Ferreira, economista-chefe do Banco Safra, a demanda fraca não sugere uma recuperação do país nos próximos meses.

Leia, abaixo, a análise de Fernando Rugitsky, professor da FEA/USP e doutor em economia pela New School for Social Research (EUA).

*

Os brasileiros estão à procura de um fundo do poço, da esperança de que a economia está prestes a se recuperar da assombrosa queda que atravessa. Poderão os economistas oferecer esse consolo? Ou será mais plausível concluir que estamos a cavar o nosso próprio poço?

É verdade que a dinâmica de uma crise pode criar por si alguns impulsos para a recuperação. A desvalorização cambial, por exemplo, torna as exportações mais competitivas, enquanto a produção nacional ganha espaço no mercado interno, estimulando o aumento da produção.

Para que tais efeitos sejam significativos, contudo, é necessário que os mercados absorvam tal produção. Uma economia internacional desacelerando e um mercado doméstico encolhendo rapidamente tendem a enfraquecer esse impulso positivo.

Outro potencial impulso criado pela dinâmica da crise está relacionado ao investimento. A queda dos salários pode recuperar as margens das empresas e levar, consequentemente, à recuperação do investimento.

Esse argumento costuma subestimar o desincentivo dos elevados estoques e da ociosidade que acompanham as crises. Um resultado empírico robusto é que o investimento reage muito mais a variações na demanda do que na sua rentabilidade.

A aposta em tais impulsos para que as crises se revertam está relacionada à ideia de que os mercados tendem automaticamente a se equilibrar. Há, porém, compreensões alternativas da dinâmica econômica. Uma delas, formulada pelo economista sueco Gunnar Myrdal, indica que as economias tendem a descrever trajetórias explosivas.

Um processo de crescimento, uma vez iniciado, tende a acelerar continuamente, enquanto uma recessão tende apenas a se aprofundar. O aumento no desemprego leva à queda no consumo, que, por sua vez, derruba o investimento. Segue-se outra onda de demissões que reduz ainda mais o consumo e o investimento. Segundo essa lógica, não há nada que possa criar um fundo do poço.

Alguém poderia argumentar que não se observam historicamente trajetórias explosivas. Isso é verdade. O equívoco é atribuir a relativa estabilidade aos mercados.

Diante da crise de 1929, a maior parte dos países construiu travas institucionais que lograram colocar freios às oscilações econômicas. Quando tais freios não foram suficientes, a política econômica foi mobilizada para impedir o desemprego em massa.

O problema atual do Brasil é que não apenas o sistema político está girando em falso como as iniciativas anunciadas enfraquecem as travas à derrocada econômica. São os caso das metas de crescimento dos gastos públicos e da reforma da Previdência.

Ávidos por trazer ao Brasil um mistificado liberalismo econômico, economistas convencionais e os membros do governo que foram convencidos por eles defendem políticas que aceleram a trajetória explosiva, em vez de se contrapor a ela. Estão cavando ativamente o fundo do poço.

FERNANDO RUGITSKy é professor da FEA/USP e doutor em economia pela New School for Social Research (EUA).

 

Redação

5 Comentários

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  1. A economia do Tatu versus Cada Macaco no seu galho.

    Concordando e discordando do autor do texto. Eis as minhas razões:

    Primeiro, a concordância:

    Concordo que a sensação que se tem é a de que  esta-se cavando ativamente o fundo do poço.

    E por ser “ativamente” pode-se notar um certo ” desejo” em realizar tal escavação profunda.  Há,portanto, uma vontade de cavar para além do fundo de um poço imaginário.

    Se essa vontade existe, sobretudo diante dos “fundamentos” da “ciência econômica” então é bastante razoável supor que os detentores dessa “vontade” tenham total consciência dela. Portanto, há uma vontade ativa e consciente de buscar algo  que se encontra além do fundo do poço.

    Indaga-se:

    Seria um tesouro perdido?

    Se sim, quem ficaria com esse tesouro?

    Respostas possíveis:

    Creio que o tal tesouro não seria para todos. O “tesouro perdido” que vamos apelidar de Estado mínimo , cheio de reformas liberalizantes, certamente não deve atender a todos, sobretudo, aos que não têm “méritos” acumulados no mercado( isto é, grande “forças econômicas que compram e vendem “sonhos” dos  consumidores idiotas, explorados, desassistidos e desinformados que habitam as terras brasileiras)

    Se os homens são “racionais” então a escavação é fruto desse “racionalismo”.

    Um tatu, por exemplo, cava profundo e não é racional. Curiosamente, no entanto, ele sabe quando deve parar de cavar.

    Portanto, estou concordando que há uma “sensação” de que estamos num processo econômico “entatusado”

    Agora a discordância:

    A imagem apresentada acima, com placas de Aluga, Alugo, pode nos passar uma ideia “econômica” boa. Ora, se há mais oferta de aluguel os preços devem baixar. Logo, estamos numa época boa para alugar um imóvel. Fazer um contrato que garanta o preço baixo por um certo tempo.

    Além disso, poderíamos especular com aqueles tipos de bens econômicos “substitutos”. Então, é de se supor que o preço dos imóveis também possam estar sofrendo um “ajuste” econômico”. Uma redução das “gorduras” acumuladas nos últimos tempos de farra. 

    Talvez, essa seja um boa hora para comprar um imóvel.

    Portanto, esse processo econômico do tatu pode favorecer os compradores de imóveis, sobretudo aqui no Brasil da “concetração de terras” ( e de propriedade de todos os tipos, inclusive, de imóveis!)

    Por fim, o problema do país não é o apontado pelo economista  a partir deste trecho:(…)O problema atual do Brasil é que não apenas o sistema político está girando em falso como as iniciativas anunciadas enfraquecem as travas à derrocada econômica…)

    O problema do país, de fato e de direito(a),  é o processo insistente na irracionalidade  do TATU social, econômico, “cordial”, amantes do “oscar” da submissão, com requintes de complexo de vira lata de lixo e tudo mais.

    O negócio aqui é, ao contrário do tatu animal que sabe quando parar, é continuar cavando para além do buraco do tatu.

    E o macaco fica só observando para em seguida, dizer para o Tatu:

    — Ei Tatu  faça a sua parte, mas não se esqueça de que cada macaco fica no seu galho.

     

    Saudações 

     

  2. O que é curioso é que esses

    O que é curioso é que esses economistas são justamente aqueles especialistas escolhidos pela imprensa tradicional para defender os ideais e as mentiras do neoliberalismo e do “capitalismo” selvagem!

  3. cada um cava o seu poço. 

    cada um cava o seu poço.  este artigo cava o poço

    que pretende ainda ainda mais afundar o país,

    espalhar péssimismo,

    muito oestranho…

    com os msmos dados, poderia dar uma solução melhor.,

    mas não, prefere olhar o fundo do poço…

    ora, para  um governo popular que defendeu por tanto tempo o emprego e

    a distribuição    de renda e a inclusão social, é prematuro esse tipo

    de análise que nos leva  cada vez mais -aí sim – ao fundo do poço….

    lamentável.

    parece revelar mais uma vez o mito de  que todo uspiano tem um vezo tucano

     

  4. Ocupar os espaços

    Estive em São Paulo na última sexta-feira.

    Transitando pela avenidas Rebouças, Brasil até a ALESP fiquei impressionado com o número de imóveis a venda ou alugando.

    Em outra ocasião no ano passado estive no centro, viaduto do Chá, teatro municipal e arredores.

    Também tive a sensação de abandono,

    Áreas circunvizinhas tomada por desocupados, pequenos traficantes. Praça fedendo urina. Impressionante. Tudo a luz do dia.

    Fiquei imaginando o que será que ocorre durante a noite.

    O governo federal perde oportunidades em tudo. Não ocupa espaço no noticiário, principalmente pela aposta depositada em Nelson Barbosa.

    Não vejo nada a respeito das suas ações. Todos estão encolhidos, parecendo ter medo de se expor.

    Sobre a votação no Senado da semana passada, foi um desastre patrocinada pela própria presidência ao se aliar a Serra e Renan, contrariando toda a bacada do PT e partidos fieis da base, como o PC do B.

    Governo insiste na CPMF, reforma da previdência, verdadeiras bombas nas quais se opõem a própria base aliada, os movimentos populares como CUT e MST.

    O governo cambaleia, bastando apenas um empurrãozinho para cair, e continua dando cordas para a oposição consumar o ato.

    Quanto mais o governo apanha, mais parece convencido a ceder em direção ao inimigo.

    Porque não vira a pauta econômica em 360 graus e se alia de corpo e alma aos milhões de brasileiros que a elegeram?

    Será que 40 bi da CPMF vai resolver o problema do país?

    A reforma da previdência é tão urgente que não possa ser adiada quando o clima pró governo estiver melhor?

    O próprio governo insiste em colocar mais lenha na fogueira, obrigando Lula (já estava na hora) a “radicalizar” nos seus pronunciamentos, a partir do inflamado discurso nas comemorações dos 36 anos do PT.

    Oposição batendo cabeça, saindo nos tapas entre os próprios militantes como ocorrido nas prévias dos tucanos em São Paulo. Verdadeira aula de civilização democrática.

    E o campo fica cada vez mais aberto para Moro, MP, PF e Gilmar Mendes e o PIG dando cordas.

    Esses são os verdadeiros governantes do país.

    Uma lástima.

    ACORDA DILMA!!!

    SAIA DA TOCA. 

    TÔ DE SACO CHEIO. 

    PÔ!!!

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