Ideias de Bolsonaro sobre Mercosul são preocupantes, diz ex-chanceler

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Eduardo Maretti
 
Na RBA
 
Ainda é prematuro fazer previsões sobre os desdobramentos políticos e diplomáticos da eleição de Jair Bolsonaro no último domingo (28). Se são positivas algumas manifestações de instituições como do Ministério Público Federal e Supremo Tribunal Federal, que, por meio de alguns ministros, tem defendido direitos fundamentais das “minorias”, autonomia universitária e liberdade de expressão, por outro lado a democracia brasileira “foi muito ferida com a prisão do Lula e impeachment da Dilma”, além do próprio processo eleitoral. A opinião é do ex-chanceler Celso Amorim.
 
“Numa situação como essa, qualquer medida que proteja os direitos individuais, liberdade de expressão, os direitos das ‘minorias’, é positiva. Mas a própria retórica utilizada antes da eleição e durante a vida toda pelo presidente eleito acaba gerando na própria sociedade ações, impulsos muito negativos, muito violentos”, diz o ex-ministro. “Vamos ver como ele vai se posicionar em relação a isso com o tempo.”
 
Para Amorim, há motivos para preocupação, por exemplo, nas relações exteriores, área em que mais atua, e defesa. “Não há Mercosul sem o Brasil. É preocupante o que foi dito sobre o Mercosul”, diz.
 
No domingo, o provável futuro ministro da Fazenda de Bolsonaro, Paulo Guedes, afirmou que a Argentina e o Mercosul “não são prioridade” para o próximo governo, o que causou perplexidade nos meios diplomáticos do bloco.
 
Embora ressalve que no cenário haja muitas especulações, Amorim também acha preocupante a ideia de o Brasil ter “uma relação muito privilegiada com os Estados Unidos na área de defesa”, como se anuncia. “Eu não sou contra ter uma relação com os Estados Unidos, mas você não tem que colocar todos os seus ovos numa única cesta, ainda mais numa área como essa.”
 
Até mesmo no governo do general Ernesto Geisel o Brasil mantinha sua independência diplomática. “O Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer o governo do MPLA (Movimento pela Libertação de Angola), que era qualificado de marxista”, lembra.
 
Nos dois primeiros dias pós-eleição, houve manifestações importantes de ministros do STF por direitos fundamentais das “minorias” ou autonomia universitária, por exemplo, mas, por outro lado, ataque a indígenas. Como o senhor avalia esses dois primeiros dias pós-eleição?
 
Acho que é muito cedo para fazer um balanço, ainda que provisório. Essas questões de defesa da democracia são obviamente importantes. A democracia foi muito ferida com a prisão do Lula e o impeachment da Dilma. Os próprios fatos que ocorreram durante a campanha eleitoral, a utilização “sem precedentes” do WhatsApp – para usar as palavras da presidenta da missão de observadores da OEA para as eleições brasileiras (Laura Chinchilla). Houve vários atentados à democracia, na minha opinião, embora na maior parte das vezes preservando o aspecto formal da legalidade.
 
Por que formal?
 
Formal, mas mesmo assim, discutível. Mas houve julgamentos, respeitaram-se os ritos, apesar da maneira como o presidente Lula foi julgado, em que os processos foram muito acelerados.
 
Mas é importante – no momento em que temos um presidente eleito, que fez as declarações que fez ao longo da vida, e não só na campanha – que haja preocupações com aspectos como esses que você mencionou, a proteção das “minorias”. É positivo que isso ocorra – mas minorias têm que ser entendidas em termos de poder, porque algumas minorias numericamente são maioria.
 
Claro que gostaríamos que o mesmo espírito tivesse presidido outras decisões no passado. Numa situação como essa, qualquer medida que proteja os direitos individuais, liberdade de expressão, os direitos das “minorias”, é positiva. Por outro lado, a própria retórica utilizada antes da eleição e durante a vida toda pelo presidente eleito acaba gerando na própria sociedade ações, impulsos muito negativos, muito violentos. Vamos ver como ele vai se posicionar em relação a isso com o tempo.
 
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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

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  1. Li que …

    Li que Amorim queria ser candidato ao governo do Rio e teria sido detonado pelo senador Linderberg.

    Se for verdade perguntaria o que o senador tem contra o PT e o RJ…

  2. Aliar-se aos EUA vai fazer do Brasil alvo nuclear.
    Além de todo o desastre econômico, ambiental e estratégico que será a adesão incondicional do Brasil aos ditames dos EUA em um governo do “Duce” brasileiro, ainda seremos alvos nucleares dos russos e chineses pois o “Duce” vai permitir que os estadunidenses estoquem armas atômicas em Alcântara.

  3. POLITICAS DE ESTADO NÃO DEVERIAM SER POLITICAS DE GOVERNO

    Caro sr. Amorin, então a espetacular Politica Externa do Governo Militar, principalmente Geisel, deveria ser aplaudida, estudada e replicada. Defesa da Soberania Nacional. Nunca confundida com outros aspectos do Governo Militar que deveriam ser combatidos. Quando os EUA tentaram botar cabresto no Governo Brasileiro que era Militar, nossa Escola Militar mostrou toda sua complexidade e competência. Abriu relações com Cuba e URSS; Começou a importar Bens de Consumo, Tecnologia e Máquinas de Países Socialistas, desenvolveu extraordinária Indústria Bélica, expandindo Relações Exteriores e Exportações, desenvolveu a Indústria Nuclear, inclusive para Defesa. Outro momento extraordinário foi sob sua gestão e de Samuel Pinheiro Guimarães. Mas foi o próprio governo petista sob o comando da Presidenta Dilma, quem sabotou toda vitoriosa estratégia diplomática. Esperemos que tenha acabado esta Política de dois passos e três tropeços que demonstra estes 88 anos de quitnomundismo de Politicas de Estado Brasileiro. Os acertos do Governo Lula devem ser demonstrados para que sejam novamente aplicados, independente de brigas políticas internas. E a visão estratégica do novo governo deve ser aplaudido, se nos lvar a um novo patamar de soberania e desenvolvimento. Subserviência Jamais.    

  4. bo

    Apenas uma colaboração a Amorim; boçalnaro é incapaz de ter ideias, apenas esboça o que os generais

    enfiaram na sua cachola vazia (perdeu o contúdo pelos furos nas tripas). Porém não se tire o que lhe é inato;

    ignorãncia,apologia à tortura e à ditadura, ódios expressos e enrustidos,  racismo, misoginia, cultura da mentira.

  5. É possível tapar aqui sem descobrir ali?

    O Pó$to Ipiranga do Pó$te Bol$onaro pretende sincronizar o arregaço do mercado interno aos produtos estrangeiros com a redução da carga tributária. Segundo o futuro Ministro, não adianta a turma da Receita ir baixando os impostos devagar e a turma da Indústria abrir muito rápido. Isso tem que ser sincronizado, com uma orientação única”.

    É em razão dessa pretensão que o futuro governo fascista vai fundir o Ministério da Fazenda com o Ministério da Indústria.

    A redução da carga tributária implicará na redução da arrecadação e, portanto, na perda de receitas. Perdendo receitas, com ou sem redução das despesas, a Saúde, a Educação e os demais serviços públicos serão afetados negativamente. Sem saúde e sem educação, a produtividade do trabalhador brasileiro despencará ainda mais. Isso será mais um golpe na indústria. A infra-estrutura do país vai ficar pior e o custo Brasil se elevará ainda mais, com o aumento dos custos das empresas e a elevação dos preços dos produtos, com a piora da infra-estrutura. Entretanto, por mais que o governo tente proteger os credores internacionais, a parte do orçamento público federal destinado a tais credores não tem também como não ser afetada negativamente. Em sendo assim, tanto do ponto de vista externo quanto do ponto de vista interno, o Brasil sairá perdendo com a redução da carga tributária.

    Prá piorar ainda mais a situação, há previsão de que os gastos com previdência saltarão de 8% para 16% do PIB em pouco tempo. Segundo os experts, por mais que se faça a reforma da previdência, as contribuições previdenciárias serão insuficientes para cobrir essa elevação dos gastos previdenciárias e eles só poderão ser pagos com impostos.

    Se a exigência do mercado para que seja aprovada uma reforma da previdência, acabando de piorar a situação dos aposentados, pensionistas e trabalhadores, não for para evitar cobrir os gastos da previdência com impostos, que outra motivo justificaria essa exigência do mercado?

    Elevar ou reduzir a idade mínima de aposentadoria não vai afetar os empregadores nem positiva nem negativamente já que tanto faz eles contribuírem com a previdência em relação a um ancião quanto a um jovem de 20 anos.

    Ou poderia ser a capitalização das contribuições previdenciárias?

    1. Esqueci os efeitos negativos da abertura comercial
      Se reduzir a barreira alfandegaria de forma que as industrias estrangeiras poßam vender seus produtos, que tem baixo custo comparativo, quebrando o que restar da industria e aumentando o desemprego

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