Imóveis da Santa Casa foram vendidos por até R$ 3 mil a funcionários

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Sindicância em transações feitas na gestão do ex-provedor Kalil Rocha Abdalla apontou que a Santa Casa de São Paulo chegou a vender, por valores muito abaixo do mercado, imóveis para funcionários em cargos de chefia no hospital.

Edição da Folha deste domingo (10) traz o caso da venda, por cerca de R$ 10 mil, de três quitinetes no litoral paulista que foram doados à Santa Casa e, portanto, não poderiam ser transferidos em nenhuma hipótese. Cada uma saiu por cerca de R$ 3 mil, embora custassem aproximadamente R$ 80 mil.

Outro funcionário da Santa Casa também adquiriu imóvel, estimado em R$ 500 mil, na rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros (zona oeste de São Paulo), por R$ 30 mil. Ele disse ao jornal que apenas aproveitou uma oportunidade.

Santa Casa de São Paulo vendeu imóvel por R$ 3.400 a funcionária

Da Folha

Estava no testamento. Quando morresse, José Sampaio Corrêa Pacheco queria que suas três quitinetes no litoral paulista, em frente à praia, ficassem de herança para a Santa Casa de São Paulo. Sua única exigência era que os imóveis nunca fossem vendidos ou doados.

A vontade de Pacheco, morto em 1984, foi descumprida em 2011. A direção do hospital não só vendeu os apartamentos como os entregou por um valor quase simbólico: R$ 10.200 pelos três –R$ 3.400 por unidade, cada uma com valor de mercado estimado em R$ 80 mil.

No mês passado, essa e outras transações imobiliárias feitas na gestão do ex-provedor Kalil Rocha Abdalla tornaram-se alvo de uma sindicância interna da instituição. As negociações investigadas têm três características em comum: 1) envolvem bens doados (a maioria dos imóveis do hospital vem de herança); 2) foram feitas a preços muito abaixo do valor de mercado; 3) quem comprou foram funcionários com cargos de chefia no hospital.

Ao menos dez imóveis são alvo da apuração, que pode resultar em demissões de servidores e ações judiciais cíveis (para recuperação dos bens) e criminais (se houver indícios de esquema fraudulento). Procurado desde a última quarta-feira (6), Abdalla não respondeu aos recados deixados pela reportagem (leia abaixo).

O ex-provedor renunciou ao cargo em abril de 2015, menos de um ano após ter fechado o pronto-socorro central alegando dificuldades financeiras. As dívidas chegavam a quase R$ 800 milhões. Em seu lugar assumiu o pediatra José Luiz Setúbal, 58. Sob seu comando, uma equipe analisa as transações realizadas na gestão Abdalla, que estava à frente da instituição e da administração dos imóveis havia cerca de 20 anos.

Atualmente, de acordo com levantamento da nova gestão, a Santa Casa tem cerca de 278 imóveis em seu nome. Há cerca de dois anos, essa carteira era estimada em cerca de mil escrituras. A sindicância vai apurar como isso ocorreu.

FUNCIONÁRIOS

As três quitinetes no litoral paulista deixadas em testamento para a Santa Casa e vendidas por R$ 10.200 ficam em frente à praia de Itararé, em São Vicente (SP), e foram adquiridas pela então gestora de radiologia do hospital, Verônica Ramos dos Santos, posteriormente demitida.

O contrato de compra e venda entre a ex-funcionária e a Santa Casa tem, entre as assinaturas das testemunhas, a da gerente da Procuradoria Jurídica Helena Piva. Piva, por sua vez, têm dois imóveis investigados na sindicância.

Um deles é um sobrado em Campos Elíseos, na região central de São Paulo, adquirido pela própria Santa Casa em 2010. Segundo a escritura, ela pagou R$ 135 mil pelo imóvel, que tem três pavimentos -um deles ponto de comércio- e valor venal de R$ 1 milhão. Usado como referência para a cobrança de tributos, esse valor costuma ser bem menor que o de mercado.

Outro imóvel cuja compra é investigada é um apartamento em Higienópolis (centro de SP) adquirido pela advogada em 2015 por cerca de R$ 700 mil, ante uma estimativa de R$ 1,4 milhão. A unidade fica em um prédio construído numa área que pertencia à Santa Casa e foi vendida em 2009 à Seisa Mester, empreiteira que construiu o edifício.

Outro funcionário que também tem imóvel como alvo da sindicância é gerente do patrimônio da Santa Casa, Jaime Dias de Araújo. Em 2006, ele comprou do hospital um imóvel na rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros (zona oeste de São Paulo), por R$ 30 mil. O valor venal hoje é de R$ 500 mil.

OUTRO LADO

O gerente de imóveis da Santa Casa de São Paulo, Jaime Dias de Araújo, um dos funcionários que adquiram imóveis da própria instituição, disse que pagou um preço justo pelo apartamento em Pinheiros (R$ 30 mil). “Foi uma oportunidade que eu aproveitei”, disse.

Segundo ele, o imóvel herdado estava todo danificado e, por isso, não valia a pena para a Santa Casa reformá-lo. “Aí, fiz a proposta. Mas não foi vendido de graça porque era para mim, não. Foi vendido pelo valor da época.” Araújo foi o único servidor do hospital localizado pela Folha ao longo da semana.

Desde quarta (6), a reportagem procurou o ex-provedor da Santa Casa Kalil Rocha Abdalla, mas ele não atendeu aos telefonemas nem respondeu aos recados deixados. Kalil foi eleito provedor em abril de 2008. Desde então, reelegeu-se duas vezes, a última em abril de 2014, mas renunciou em abril de 2015, em meio a grave crise financeira.

Desde 1993, porém, era responsável pelos imóveis do complexo hospitalar. “Eu agia como provedor de fato havia praticamente 20 anos, mas só em 2008 passei a ser provedor de direito, trabalhando com mais liberdade para a instituição”, disse Kalil em 2010, em entrevista para um livro.

Em 2014, auditoria apontou que os aluguéis dos imóveis rendiam R$ 24 milhões ao hospital, mas poderiam gerar cerca de R$ 84 milhões. Nessa época, o hospital informava ter 759 imóveis. Ainda em dezembro de 2014, em entrevista à Folha, ao falar da auditoria, ele negou qualquer irregularidade. “Estou desafiando você, ou qualquer pessoa, a trazer algum ponto que possa me desmoralizar”, disse época.

A reportagem não conseguiu contato com Helena Piva, advogada da Santa Casa. Ela não atendeu as ligações em seu celular, nem respondeu aos recados deixados. Também não foi localizada em seu local de trabalho.
Verônica Ramos dos Santos também não foi localizada. Ela foi demitida do hospital.

A Folha tentou, sem sucesso, falar com ela em telefones em seu nome e no do marido, sócio na compra dos imóveis.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. e quem é que vai pagar por isso ?

     

     

    Cadê o omisso e aparelhado judiciário paulista ? ….  cadê a grana que foi desviada ? ….  na nossa corrupta mídia ninguém fala nada ….

     

     

  2. Nem mesmo o testamento de um

    Nem mesmo o testamento de um doador já morto foi devidamente respeitado. Por isso, tantas pessoas recuam antes de fazerem doações. Se duvidar, os únicos a serem ´punidos, se o forem, serão os funcionários que adquiriram os imóveis, quando os maiores responsáveis são os grandes e poderosos, e impiedosos, afinal trata-se de uma instituição das mais importantes para a saúde da população. 

  3. A arte de esconder do PIG!

    Vejam como é EMPUTECEDOR as REPUBLICANAS atitudes do PIG ( Globo, Estadão, Folha, Veja, IstoÉ……..)! Quando as notícias são contra o PMDB, PP, PT e outros da base aliada, as noticias dadas nas manchetes são com destaque aos NOMES das PESSOAS envolvidas ( Wagner, Aldo ……). Quando são para o pessoalzinho da DIREITA ( PSDB e agregados ) as notícias são assim: “Procuradoria suspeita que ministro do TCU atuava em empresa investigada”. Onde está o nome do ministro? Qual é a empresa investigada? Só lá no meio do texto, quem se habilitar a LER, é que estão explicitados os nomes! Neste Caso os Nomes são: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/01/1727811-procuradoria-suspeita-que-ministro-do-tcu-atuava-em-empresa-investigada.shtml.

    Quando é Notícia do LULA ( Maior presidente do Brasil até a presente data ): “Amigo do LULA recebeu propina….”; etc, etc…..

    Na manchete só aparece o nome do LULA pra denegrir e desconstruir o nosso presidente!

    Quando é para PHODHER  o  GOVERNO de esquerda, as notícias nominam – exemplo real: “Mensagens sugerem ação de Wagner por empreiteiras em fundos” (Folha de São Paulo). Quem é que não sabe quem é o Wagner?

    Perceberam a diferença? Resta saber se o FDP é o dono do jornal, o Jornalista, ambos ou tem um terceiro ou até um quarto na jogada!!!!!!

    EMPUTECEDOR ou Não este REPUBLICANISMO de MERDA?

     

  4. Culpados

    Quem comprou imóvel deve ser enquadrado como Receptador.

    Não tem essa de bancar os inocentes, ainda mais sendo funcionários. Não tem santo nessa história não…

    Difícil será, algum dia reaver os imóveis, tendo em vista a responsabilidade politica de quem administrava e o passo de cágado da “justissa” paulista.

    Imaginem a “alegria” de quem doou de bom coração…

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