Incapacidade governamental de Temer pode levar à ‘racha’ na base

Nos bastidores, parlamentares da base aliada divergem da gestão provisória em matérias fundamentais para a governabilidade 
 
Nos bastidores, parlamentares da base aliada divergem da gestão provisória em matérias fundamentais para a governabilidade. Foto: Agência Brasil
 
Jornal GGN – A movimentação politica no primeiro dia da sessão no Senado para o julgamento da presidente democraticamente eleita com 54,5 milhões de votos, Dilma Rousseff, aponta que a governabilidade na gestão interina de Temer não será fácil, caso o impeachment da presidente se consuma. 
 
Na reportagem a seguir, de Hylda Cavalcanti para a RBA, parlamentares da base aliada do peemedebista confirmam divergências com o governo Temer especialmente em dois pontos: o aumento salarial de servidores e à Proposta de Emenda a Constituição (PEC) 241, que limita o teto dos gastos públicos. Muito provavelmente a votação dessas matérias legislativas exigirá do governo provisório uma nova reforma ministerial e repactuação na concessão de novos cargos. 
 
Na madrugada dessa quinta-feira (25), Temer jantou com vários senadores na tentativa de definir os primeiros passos da sessão de julgamento do impeachment. Nos bastidores, senadores criticam a falta de sensibilidade do presidente interino por se considerar seguro no Planalto e menosprezar a força de outras legendas, como PSDB e DEM, além de alas do próprio PMDB, não simpáticas à sua gestão. 
 
Rede Brasil Atual
 
Nos bastidores, senadores falam em ‘racha’ na base e falta de governabilidade
 
Conversas reservadas são de que, apesar de pacto para discutir questões polêmicas só posteriormente, DEM, PSDB e parte do PMDB não estão afinados com Temer
 
por Hylda Cavalcanti
 
Brasília – Enganam-se os que acham que entre os senadores pró-impeachment o ambiente desta quinta-feira (25), no plenário do Senado, tem sido apenas de defesa do processo do clima de “já ganhou”. Comentários do dia passaram por uma espécie de “pacto” entre os grupos que compõem a base do governo provisório até o fim da votação do processo. Mas, por outro lado, eles têm mantido posições firmes que mostram que não existe consenso sobre o teor das matérias legislativas encaminhadas nos últimos 100 dias ao Congresso – referentes ao ajuste fiscal.
 
“Como é que eles podem trabalhar para aprovar o impeachment se têm um presidente cujas propostas não apoiam?”, provocou o líder das minorias no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), diante do semblante fechado do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), que tinha tentado se esquivar do assunto poucos minutos antes, quando indagado por jornalistas.
 
As supostas divergências são comentadas há dias: o PSDB já se pronunciou por meio do líder do governo, Aloysio Nunes (SP), que não votará as medidas de ajuste se Michel Temer insistir em aprovar aumentos salariais para servidores. “Estamos tentando tirar uma presidenta por ter cometido atos irresponsáveis no trato das contas públicas e não podemos apoiar um governo que quer seguir no mesmo caminho”, teria dito Nunes a colegas.
 
O DEM, por meio do líder Ronaldo Caiado (GO), foi outro a dizer que precisa sentar, antes, para verificar vários itens dos textos que estão em tramitação, principalmente em relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que limita o teto dos gastos públicos. No início da semana, o presidente em exercício resolveu pedir aos líderes que o apoiam a suspensão da votação do texto referente ao reajuste do salário de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para amenizar o clima conturbado.
 
Pacto
Na madrugada desta quinta-feira, Temer participou de um jantar com vários parlamentares. O objetivo foi não apenas dar orientações sobre a sessão que teve início hoje, como também pedir apoio e traçar uma espécie de acordo, para que todas estas questões sejam pautadas somente após a votação final do impeachment.
 
Mas articulações sobre indicações de cargos, nova reforma ministerial e apreciação desses textos legislativos não deixaram de ser comentadas ao lado das cadeiras onde se encontram os senadores, no plenário. “Imagine o nível de governabilidade desse homem”, criticou um deputado do PSB contrário ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff.
 
Entre os integrantes da base de apoio de Temer, mesmo peemedebistas, a justificativa é de que, passado o processo de votação, seja qual for o resultado, será virada uma página no país. “E aí temos de ser pragmáticos: ou volta tudo a ser como estava no governo do PT ou o PMDB tem de assumir as rédeas da situação e ver o que é preciso para ter a coligação definitiva das outras legendas da base”, disse em caráter reservado outro senador, que foi ministro de Dilma e deixou o cargo para seguir com o vice-presidente.
 
Ele argumentou que há uma reclamação dos parlamentares sobre troca de cargos no Executivo e que, a seu ver, “o governo está engessado”.
 
Siglas menosprezadas
“Estão contando como certo um fato que ainda não aconteceu, e menosprezando o poder de fogo de legendas como o PSDB e o DEM e, pior ainda, a característica do próprio PMDB, que possui alas fortes sem afinidade com Temer, como é o caso do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)”, avaliou o cientista político Alexandre Ramalho.
 
Ramalho se refere a notícias divulgadas hoje de que, até a tarde de ontem, parlamentares do PSDB e do DEM ameaçaram deixar a base aliada do governo Temer e passar a ter postura de “partidos independentes”.
 
Entre os parlamentares do PT, os comentários sobre o assunto são feitos, em tom de ironia, no sentido de que o interino e sua base agem como “noivos”. Mas, se o casamento vier a ser consolidado, não se sabe como será o destino deste relacionamento. Embora saiam vez por outra do plenário, os senadores favoráveis ao impeachment (principalmente do PSDB e do DEM) tentam se esquivar e até rir das ironias dos petistas. Mas têm evitado dar novas declarações a respeito.
 
Redação

6 Comentários

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  1. O problema é que emtudo é que

    O problema é que emtudo é que contra o povo e os trabalhadores eles estão fechados.

    DEpois do impeachment passado, não dianta mais eles brigarem entre si. Pelo contrário, pode acabar Temer sendo trocado por alguém pior e com mais legitimidade (As eleições indiretas são previstas se ele for cassado ano que vem, ainda que uma legitimidade torta, o futuro presidente terá mais que Temer, que não tem legitimidade direita nem torta.

    A propósito, eu votei para Temer e Dilma para serem presidente e vice, não para serem capitão e imediato de uma ave de rapina Klingon, na qual o imediato mata o capitão se ele estiver comandando mal….

    No pós-Impeachment, o Fora Temer deve ser trocado por uma defesa intransigente aos direitos. Fora Temer é dar respaldo a um eventual golpe dentro do golpe, que não será dado em benefício dos trabalhadores !!!

     

    1. Ou, podemos olhar de outra

      Ou, podemos olhar de outra forma:

      Se você tem um pedaço de uma nota de R$ 20,00, digamos 30% dela, e precisa pagar uma conta nesse valor, não é exatamente o mesmo que ter nota nenhuma?

  2. Um título falso fruto, se sem maldade, de ingenuidade

     

    Hydra Cavalcanti,

    Ia escrever este comentário para Jornal GGN para censurar o título, mas percebi que o título segue o título que você deu para o seu artigo. O título deste post “Incapacidade governamental de Temer pode levar à ‘racha’ na base” de sexta-feira, 26/08/2016 às 10:33, é falso como é também falso o título do seu artigo “Nos bastidores, senadores falam em ‘racha’ na base e falta de governabilidade”. A falsidade diz respeito a expressão “falta de governabilidade”. Pode-se falar em dificuldade de governabilidade em decorrência do racha na base aliada, mas não há evidentemente falta de governabilidade.

    Falta de governabilidade não existe nas democracias modernas em que uma máquina burocrática gigantesca movimenta o orçamento quase que por inércia. A esse respeito é só lembrar o que acontecia na Itália na década de 60 e 70, quando era o país que apresentava as maiores taxas de crescimento da Europa e a maior instabilidade no parlamento com mudanças frequentes do primeiro ministro em um país parlamentarista.

    E o título ainda serve para mais pisotear na presidenta Dilma Rousseff como bem o fez o comentarista Zanchetta no comentário enviado sexta-feira, 26/08/2016 às 11:21, em que ele pergunta:

    “Perguntinha básica? Uma base rachada não é SEMPRE melhor que base nenhuma?”

    E eu disse que o Zanchetta bem fez o pisoteio na presidenta Dilma Rousseff para deixar claro que se falha há não é do Zanchetta, mas do título do seu artigo.

    E o título é ainda mais inadequado quando se avalia que a crítica da falta de governabilidade é direcionada para o presidente interino as custas do golpe, Michel Temer. Ele é que sofre a acusação. Ação que é destinada para alguém que dirige o PMDB desde 2001, e que é o condutor final do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, pois se ele não tivesse a certeza da vitória não teria tomado à frente de um empreendimento que se fracassasse o levaria para a lata de lixo e muito provavelmente, junto com ele, o PMDB.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 27/08/2016

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