Janio de Freitas: “Temos que conter esta marcha sinistra”

“A ameaça que paira sobre o Brasil é aguda. Mas não é assim apenas pelo ataque das forças antidemocráticas. A ameaça é facilitada e engrandecida pela falta de resposta dos democratas ao ataque. O país está inerte, como se tomado pelo pasmo ou pelo receio.”

da ABI – Associação Brasileira de Imprensa

Janio de Freitas: “Temos que conter esta marcha sinistra”

“A ameaça que paira sobre o Brasil é aguda. Mas não é assim apenas pelo ataque das forças antidemocráticas. A ameaça é facilitada e engrandecida pela falta de resposta dos democratas ao ataque. O país está inerte, como se tomado pelo pasmo ou pelo receio.”

O alerta acima foi feito pelo jornalista Jânio de Freitas em carta encaminhada ao ato “Ditadura Nunca Mais”, que na terça-feira (03/09) reuniu mais de 500 participantes na Associação Brasileira de Imprensa – ABI, em um movimento que tem por objetivo preservar o Estado Democrático de Direito e se opor aos retrocessos que estão sendo impostos à sociedade pelos atuais governantes.

Freitas foi escolhido por unanimidade pelos organizadores do ato como o representante dos jornalistas na mesa do ato Ditadura Nunca Mais!, por simbolizar, independentemente da figura do presidente da ABI, Paulo Jeronimo, o Pagê, a categoria dos jornalistas.

Colunista da Folha de S. Paulo há mais de 30 anos informa, ele reflete e se posiciona sobre o momento político do País, de forma lúcida e independente.

Natural de Niterói, 87 anos, Jânio começou a carreira como desenhista e diagramador do Diário Carioca no início da década de 1950, foi repórter, repórter fotográfico e redator-chefe da revista Manchete, em 1959 migrou para o Jornal do Brasil, onde se tornou editor-chefe e um dos responsáveis pela reforma editorial e gráfica do JB, ao lado do artista plástico Amílcar de Castro. Depois assumiu cargos de direção no Correio da Manhã e na Última Hora. 

Em 2002, recebeu a Medalha Chico Mendes de Resistência, concedida pela ong Tortura Nunca Mais, a quem se destaca pela defesa dos direitos humanos e por uma sociedade justa e menos desigual.

Por estar adoentado, Jânio de Freitas não pôde estar presente à solenidade em defesa da democracia e da liberdade, nunca tão ameaçada quanto nos tempos atuais. Agradeceu o convite, lamentou a ausência imposta por seu médico, mas fez questão de escrever uma carta sobre o momento político brasileiro, que foi lida publicamente durante o evento, pelo seu amigo pessoal, o jornalista e professor, João Batista de Abreu, recém eleito para o Conselho Deliberativo da ABI que lembra: “Antes de se tornar jornalista, Jânio queria ser aviador, mas um acidente frustrou seu desejo. A vida mostrou que no jornalismo seus voos foram mais altos!.

Eis a carta:

Prezados democratas,

Se eu pudesse estar aqui, diria que a ameaça à democracia é permanente, como a Europa em vão nos mostra outra vez. A ameaça que paira sobre o Brasil é aguda. Mas não é assim apenas pelo ataque das forças antidemocráticas. A ameaça é facilitada e engrandecida pela falta de resposta dos democratas ao ataque. O país está inerte, como se tomado pelo pasmo ou pelo receio. É triste e necessário notar que a reação à Amazônia em fogo precisou vir de fora, para estar à altura da tragédia provocada.

Se eu pudesse estar aqui, diria que é preciso e urgente nos dirigirmos às consciências embotadas, uma a uma, em toda parte, para alertá-las sobre o que se passa a cada dia. Sobre a importância destrutiva dessa marcha sinistra sobre as suas vidas, sobre o futuro em que viverão seus filhos e netos. É preciso despertar o sentimento democrático hoje refugiado na perplexidade ou no desânimo.

Se eu pudesse estar aqui, lembraria que todo avanço da civilização foi fruto de inconformismo. A liberdade, os direitos humanos, a cultura, onde existam e nas doses a que aí chegaram, foram obras, todos, dos inconformados de todos os tempos.

Se eu pudesse estar aqui, faria um pedido: sejamos inconformados. O ser humano, a justiça entre todos e o Brasil democrático precisam do nosso inconformismo.

Jornalista Jânio Sérgio de Freitas

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Redação

8 Comentários

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  1. A falta de resposta tem a ver com a constatação de que, ainda hoje, a maioria dos que elegeram Bolsonaro, e não eram por natureza simpatizantes de suas tetes, não dão o braço a torcer que erraram, e continuam aceitando o mantra que tudo é culpa do PT. Neste grupo há pessoas de todos os extratos sociais, e de todos os níveis de escolaridade. Assusta muito a existência de haver tantas pessoas com alto grau de instrução que fecharam os olhos, não souberam ou não quiseram ver o mal que o Bolsonaro representa – e que ele nunca escondeu.
    Por que fazer um esforço e correr risco ANTES de que este pessoal se mobilize para corrigir sua bagunça?
    Qualquer governo que tentou realmente reduzir a desigualdade foi sempre rejeitado por essas pessoas.
    Não seria melhor mesmo deixar chegar na barbárie pura? Assim todos aprenderiam com a dura experiência, por de só falar ninguém escuta.

  2. Janio de Freitas foi recentemente entrevistado pelos jornalistas Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena (do site TUTAMÉIA). A entrevista – depoimento histórico fundamental para os nossos tempos – pode ser vista em https://www.youtube.com/watch?v=uq4PE1LmKIE [*] e deve ser vista. No seu final, a mensagem de Janio é a mesma da carta citada na matéria, a necessidade do inconformismo para avançarmos sempre a civilização contra a barbárie. É uma pena que a entrevista não esteja sendo difundida a contento, e seria muto bom que o GGN fizesse sua parte.
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    [*] A entrevista dura perto de duas horas e meia, mas pode perfeitamente ser vista na metade deste tempo – sem perda alguma – em velocidade 2 no Youtube. Para tanto, basta clicar no icone de ‘Detalhes’ na parte de baixo e à direita do vídeo, clicar em ‘Velocidade de reprodução’ e selecionar ‘2’. De uma forma geral, a velocidade dupla pode ser usada em praticamente todos os vídeos dos sites e blogs progressistas em português, inclusive o Canal GGN, o que é uma grande vantagem para os que assistem.

  3. CHEGA DE DIAGNÓSTICOS! OU A ESQUERDA E AS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS REAGEM DE MODO RADICAL CONTRA BOLSONARO, OU A DEMOCRACIA E OS DIREITOS DO POVO NÃO VÃO SAIR MAIS DO FUNDO DO POÇO!

  4. OU A ESQUERDA E AS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS REAGEM DE MODO RADICAL CONTRA BOLSONARO, OU A DEMOCRACIA E OS DIREITOS DO POVO NÃO VÃO SAIR MAIS DO FUNDO DO POÇO!

  5. Só deveria haver, neste momento, um objetivo sendo discutido pela oposição de esquerda a esta ditadura neofascista comandada pelo miliciano-chefe, qual seja, a organização de uma resistência popular que se manifeste, de forma continuada, nas ruas, para o resgate da nossa jovem e frágil democracia derrubada em 2016. As chamadas “lideranças” dos partidos, das frentes, dos sindicatos, dos movimentos sociais e populares, das entidades estudantis, etc. deveriam estar negociando uma pauta mínima que os unisse visando manifestações públicas pela restauração do Estado Democrático de Direito em nosso país. Não imagino nada mais urgente e prioritário que isso, neste momento.

  6. Só o PT, tem mais de 2 milhões de filiados. Os outros partidos de esquerda devem ter uma boa massa de filiados, também. Isso, sem contar os milhões de simpatizantes de esquerda, que não são filiados à nenhum partido. Então eu pergunto: o que está faltando para as esquerdas colocarem milhões nas ruas, em manifestações mais constantes, mais frequentes? Como é que movimentos como “vem pra rua” e outros congêneres, liderados por figuras abjetas, insignificantes como Kim kataguire e outros do mesmo naipe, conseguiram levar multidões pras ruas e as organizações de esquerda, que tem muito mais argumentos, não consegue? O que está faltando?

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