Jean Wyllys desiste de mandato e deixa o Brasil: “Quero me manter vivo”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Agência Brasil
 
Jornal GGN – O deputado federal Jean Wyllys (PSOL) anunciou nesta quinta (24) que abrirá mão do mandato e deixará o País por tempo indeterminado. Ativista da causa LGBT, Wyllys vinha sofrendo ameaças que se intensificaram nos últimos tempos. Ele disse, em entrevista exclusiva à Folha, que teme por ataques homofóbicos ou tentativas de assassinato por causa de sua militância – como ocorreu, fatalmente, com a vereadora Marielle Franco – além de ter em vista um componente novo, que surgiu de maneira mais saliente após a eleição de Jair Bolsonaro: o fanatismo religioso impulsionado por fake news e difamações nas redes sociais.
 
“Eu já vinha pensando em abrir mão da vida pública desde que passei a viver sob escolta, quando aconteceu a execução da Marielle. Foi quando ele teve ‘noção da gravidade'”, disse ele.
 
Wyllys afirmou que “não foi a eleição dele [Bolsonaro] em si [que motivou sua decisão]. Foi o nível de violência que aumentou após a eleição dele. Para se ter uma ideia, uma travesti teve o coração arrancado agora há pouco. E o cara [o assassino] botou uma imagem de uma santa no lugar”, lembrou.
 
O deputado eleito também disse que “me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário [ex-PM suspeito de chefiar milícia que é investigada no caso Marielle]. O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim.”
 
acho que a saída para as esquerdas é a união. Mas, sinceramente, eu não quero mais opinar sobre isso porque estou abrindo mão do mandato justamente para não ter mais que opinar neste momento sobre essa questão. Quero cuidar de mim e me manter vivo. 
 
Wyllys disse que sua prioridade é cuidar de si e manter-se vivo. Ele afirmou que foi este o conselho que recebeu do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, quando este soube que o parlamentar é ameaçado por grupos extremistas. Pepe teria dito que ele deveria tomar cuidado, porque “mártires não são heróis”.
 
O socialista afirmou que pretende voltar a lutar pela causa LGBT, mas para isso precisa estar vivo. “Eu não quero ser mártir. Eu quero viver. Acho que essa violência política que se instalou no nosso país vai passar. Pode ser que no futuro eu retome isso, mas eu nem penso em retomar porque há tantas maneiras de lutar por essa causa que não passam pelo espaço da institucionalidade.”
 
“Quando eu estiver refeito, quando eu achar que é a hora, eu volto, não necessariamente para esse lugar da representação política parlamentar, mas para a defesa da causa — isso eu nunca vou deixar de fazer”, afirmou.
 
Ele também disse que recebeu os lamentos do PSOL, mas que a legenda reconheceu o risco das ameaças e apoiou a decisão. Wyllys também comentou que pesou em sua decisão o fato de que a OEA comunicou o Estado brasileiro a respeito da gravidade da situação do parlamentar e pediu providências mais robustas, e a resposta das autoridades foi “absurda”: alegaram que o Brasil não tem problemas com homofobia.
 
Wyllys ainda lembrou das difamações e ataques que sofre na internet, destacando o episódio da desembargadora do Rio de Janeiro, que desejou a ele pena de morte. Ele também citou o caso de Alexandre Frota, que associou ele à pedofilia, e de Bolsonaro, que fez a fake news do kit gay respingar no socialista por anos.
 
Questionado sobre o balanço dos 8 anos de mandato, ele disse que não se arrepende de nada, e destacou a vitória na conquista do casamento civil igualitário. “Durante esses oito anos, enfrentei tudo isso com muita dignidade. Mas sou humano e cheguei ao meu limite.”
 
Por motivos de segurança, ele não informou qual será seu destino. Disse apenas que pretende reconstruir a vida dedicando-se à academia, e nega interesse em voltar à vida pública por meio do Legislativo novamente.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

16 Comentários

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      1. Respeito e honro a memória

        Respeito e honro a memória dos que não fugiram do Brasil durante a ditadura militar e que a combateram e morreram, muitas centenas sob tortura. HONRAS E GLÓRIAS À MEMÓRIA DESTES VALENTES QUE NÃO FUGIRAM.

        1. Respeito sanguinário

          Vá gostar de sangue assim lá longe, hein, colega!

          Desde que não seja o seu, é bem legal honrar o sangue derramado pelos outros em seu benefício, pois não?

          Gosta de sangue, vá derramar o seu.

          Gosta de tortura, ponha a mão na porta e feche.

          Só não feche a porta de saída para os que querem viver e lutar à distância.

          Meu honroso Afff! para você.

          Mártires para a sua galeria de honra e respeito

           

  1. Boa sorte, Wyllys!  Voce esta

    Boa sorte, Wyllys!  Voce esta certissimo.  Tambem ja vi a bondade coff coff que “a humanidade” me reservou, eh por isso que eu a quero morta.

    O Brasil que va enterrar seus mortos se depender de trabalho escravo meu, meu, ou de qualquer um.

  2. Há muito tempo que o
    Há muito tempo que o parlamento foi dominado por bandidos…..

    Desde a apreensão do helipóptero isso ficou escancarado…..

    Todos os poderes estão com o rabo preso…..

    Como vamos sair disso? Sinceramente……nunca mais……

  3. Estamos dormindo?

    Esta retirada de Jean Willys, forçada pela violência, é um fato gravíssimo. Representa um salto qualitativo na inviabilização da vida política no Brasil. Não é mais preciso fazer farsas jurídicas, conseguir delações por ameaças ou promessas de recompensa. É agir pela violência, como a SA. 

    Se não estamos dormindo, precisamos fazer protestos em todos os meios. E preparar a resistência. Não vai ser a pantomima de pomba do Sou da Paz que nos vai garantir a vida. Com proto-homens como os que tomaram o governo, a resistência passiva só leva a risadas e mais violência.

  4. Que porrada que o Jean deu na

    Que porrada que o Jean deu na justiça brasileira!

    Agindo assim, ele demonstrou que para as minorias, da quais ele faz parte, na existe justiça. Veja o caso da sua colega Mariele? Seis meses e prisões pela metade. E ninguém se manifensta  na justiça. Os falastrões do mp estão em silêncio. Como fingir que tudo está em certo, quando ve-se a justiça seletiva e totalmente desigual para os gurpos sociais?Permanecer no brasil e esperar igualdade de tratamento é burrice, porque se legitimaria o discurso dos poderosos dos meios de comunicação e da “justiça” de que as instituições estão funcionando perfeitamente. Veja o caso Lula? Se fazem estas barberagens jurídicas-midiáticas com o melhor presidente da história, o que nã se pode fazer a outros?

  5. DOIS SENTIMENTOS QUANTO AO JEAN…

    O PRIMEIRO, MUITO ORGULHO DO HOMEM COMBATIVO QUE VOCÊ FOI, HONRANDO O PAPEL DE PESSOAS QUE MILITAM NA ESQUERDA….MESMO GAY ASSUMIDO, VOCÊ É MAIS MACHO QUE ESSAS MERDAS QUE AGORA O AMEAÇAM DE MORTE E QUE NO FUNDO GOSTARIAM DE TER TUA CORAGEM DE SER O QUE É E COMO É.

    O SEGUNDO SENTIMENTO É UMA BAITA DE UMA INVEJA POR NÃO TER TIDO A CHANCE DE FAZER O QUE VOCÊ FEZ NA CARA DO BOÇAL…NARO…..SÓ COM UMA PEQUENA MODIFICAÇÃO: SE PUDESSE EU JOGARIA É MERDA MESMO NA CARA DAQUELE IMBECIL HOMOFÓBICO.

    E INVEJA TAMBÉM DE VOCÊ PORQUE EU SIM, SE PUDESSE, ME MUDARIA PARA CUBA…..MAS NÃO POSSO, SEJA PELA MINHA IDADE JÁ AVANÇADA, SEJA PELA UTILIDADE QUE AINDA TENHO AQUI AJUDANDO MILHARES DE PESSOAS QUE PRECISAM DO MEU TRABALHO PARA RECEBEREM MEDICAMENTOS DE ALTO CUSTO……MAS SE UM DIA EU ME APOSENTAR (POIS JÁ PODERIA TER FEITO ISSO FAZ MUITO TEMPO), AINDA VOU PARA CUBA…onde quero ficar mais perto para ver desmoronar o império dos cafajestes como Trumph e cia……

    SIGA EM PAZ, JEAN. VOCÊ MERECE…

  6. ?
    É um gesto pessoal. Aliás, personalíssimo e que deve ser respeitado.

    Mas até gestos pessoais têm enorme carga política.

    Partido não de um movimento orgânico tradicional, mas como um outsider de encomenda naquela latrina reality da rede plim plim, o deputado é talvez o primeiro exemplo do deslocamento da política para as esferas da guerra híbrida.

    Essa guerra agora transpôs a fronteira da TV para a rede mundial e suas plataformas, e deixou o deputado ultrapassado como “novidade” na selva de celebridades obsoletas.

    O moço então chegou ao limite de personagens desse tipo.

    Restou apenas a última performance.

    Se pensar direito poderá ver que o mandato trazia mais exposição, sim, mas ao mesmo tempo permitia certa proteção pela institucionalidade.

    Agora terá que exilar-se de si mesmo, porque imagino que não vá renunciar a sua opção de gênero.

    Eu diria, politicamente, já vai tarde.

    Será que vai morar em Israel?

    Xi, a julgar pelos afagos de bibi no coiso, ele vai ter que se contentar com Miami.

    1. Liberdade de expressão

      Uau!!!

      O que seria “renúncia de opção de gênero”

      O comentarista deve saber disso muito bem, eis que renuncia a sua opção pelo gênero humano, preferindo aliar-se ao gênero reptiliano puro.

  7. Nos dias de hoje é bom que se proteja
    Cartomante
    Ivan Lins

    Nos dias de hoje
    é bom que se proteja
    Ofereça a face
    pra quem quer que seja

    Nos dias de hoje
    esteja tranquilo
    Haja o que houver
    pense nos teus filhos

    Não ande nos bares
    esqueça os amigos
    Não pare nas praças
    não corra perigo
    Não fale do medo
    que temos da vida
    Não ponha o dedo
    na nossa ferida

    Nos dias de hoje
    não lhes dê motivo
    Porque na verdade
    eu te quero vivo

    Tenha paciencia
    Deus está contigo
    Deus está conosco
    até o pescoço

    Já está escrito
    já está previsto
    Por todas as videntes
    pelas cartomantes
    Tá tudo nas cartas
    em toda as estrelas
    No jogo dos búzios e
    nas profecias

    Cai o rei de espadas
    Cai o rei de ouros
    Cai o rei de paus
    Cai não fica nada

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