Lá vem o Brasil, descendo a ladeira, por Fábio de Oliveira Ribeiro

 

Lá vem o Brasil, descendo a ladeira, por Fábio de Oliveira Ribeiro

As crenças que alimentam o regime Bolsonaro são risíveis. Entretanto, elas escondem o verdadeiro monstro que vai devorar o Brasil: a inexistência de segurança jurídica.

Um dos filhos dele quer reescrever os livros de história para ensinar que a Ditadura foi uma Democracia e que o golpe de 1964 foi um movimento cívico.

O problema é evidente. No contexto da CF/88, nenhum professor de história pode ser obrigado a utilizar de maneira acrítica livros escritos para doutrinar os alunos politicamente. Os novos livros desejados pelo clã Bolsonaro podem ser simplesmente ignorados ou, o que seria melhor, utilizados para demonstrar como a democracia brasileira está sendo destruída pelo governo. 

Bolsonaro disse que não vai repassar verbas para o nordeste. Em São Paulo, Doria Jr. imita o presidente e se recusa a fazer repasses para os prefeitos que não apoiaram a candidatura dele. Ambos podem deveriam perder seus cargos. Bolsonaro porque atenta contra a unidade da federação. Doria Jr. porque deixa de respeitar a autonomia dos municípios.

A que ponto chegamos. Nenhum dos dois deveria sequer imaginar que o dinheiro público pode ser utilizado para comprar vassalagem pessoal.

O processo de decomposição do sistema constitucional brasileiro começou no exato momento em que Luiz Fux condenou José Dirceu porque o réu não provou sua inocência subvertendo a literalidade do texto da CF/88. Desde então, tudo tem piorado. Dilma Rousseff foi deposta com base numa fraude não coibida pelo STF. Nos últimos 2 anos a constituição foi substituída pelo seu simulacro, a aparência de legalidade tomou o lugar da legalidade.

Juízes fazem política partidária ao proferir sentenças. A imprensa julga, condena e exige vassalagem do Judiciário (algo que ela geralmente consegue quando se trata de Lula). Em São Paulo, por exemplo, nem o MP nem o TJSP são capazes de desafiar o governador, pois ele passou a ser adorado como se fosse uma divindade em razão de garantir os salários acima do teto e os penduricalhos imorais dos juízes e procuradores.

Na fase atual nem mesmo uma aparência de legalidade poderá ser mantida. Tanto que Bolsonaro já cogita vender poços de petróleo sem fazer licitação. Ninguém mais no Brasil (exceto aqueles que pertencem ao 1% da população que pode recrutar e pagar milícias privadas) pode estar seguro de que tem direitos e de que eles serão respeitados pelo Estado juiz. As instituições judiciárias não estão funcionando como deveriam. Pior, é nesse contexto de absoluta insegurança que o presidente quer liberar o porte de armas de fogo. O resultado será trágico.

O guru do presidente é um astrólogo autodidata que se diz filósofo, que acredita que a terra é plana e desdenha a teoria da relatividade. Bolsonaro está sob influência política de um pastor que ganha a vida vomitando ódio na internet e que depois da eleição passou dar lições de ciência aos cientistas pelo Twitter. Nem mesmo o vazamento de um filme pornô amador foi capaz de impedir a vitória de Doria Jr. em São Paulo.

Descemos a ladeira. E continuaremos a desce-la, sem dúvida. Em breve veremos prefeitos se organizando para mandar matar governadores e presidentes sofrendo atentados por causa do seu terrorismo financeiro. Se Bolsonaro conseguir destruir o sistema educacional como ele pretende, daqui a 10 anos veremos homens bombas evangélicos explodindo seus corpos dentro dos Tribunais em represália contra decisões judiciais desautorizadas por pastores terroristas.

E já que estamos falando de terrorismo. Centenas de hospitais estão sendo fechados por falta de médicos. Se existissem grupos terroristas no Brasil, as capsulas de Césio dos aparelhos de Raio X existentes nesses hospitais já teriam sido roubadas. Dezenas de “Bombas Sujas” podem ser construídas em razão a omissão do desgoverno Bolsonaro. Nada mal para quem começou a carreira como terrorista.

Somente duas coisas são capazes de manter a paz, a coesão social e a civilização: o respeito à constituição (inclusive e principalmente pelos juízes) e; a responsabilização dos administradores públicos que ousem conspirar contra a sua aplicação. Caso contrário, a barbárie começará a produzir vítimas e os mais fortes não sofrerão menos.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

7 Comentários

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  1. Vejam só, em menos de dias

    Vejam só, em menos de dias dias o mito dos medíocres recuou o país para a idade média.  Ao final de seu governo, quem sobreviver estará lutando com paus e pedras no fundo das cavernas.

  2. Chamá-lo de Ubaldo é uma

    Chamá-lo de Ubaldo é uma covardia.

    Paranóicos são os que acham que está tudo bem,

    pois perdidos já estamos e falta muito pouco

    para tornamo-nos irrecuperáveis.

  3. “Somente duas coisas “

    Uma:….LULA LIVRE.

    Parece que isso não acontecerá.

    Todo resto que o sr. ameaça se tornará realidade.

    O povo sofrerá. Os pobres, mais.

    Talvez um dia a gente aprenda.

  4. é um governo

    é um governo paradoxal….

    mas o maior paradoxo, que revela o grau de infamia a que chegamos,

    é o da questão da segurança…

    talvez a direita tenha ganho por defender maior segurança,

    mas o que primordialmenbte faz é cassar a lei, acentuar o estado de exceção…

    óbvio que isto aumenta o caos…;

  5. “Mas pelo menos tiramos o PT!”

    Como diz o grande Bemvindo Siqueira, “descendo a ladeira no meu carrinho de rolimã”

    O Brasil na minha opinião não é mais um caso para reflexões puramente políticas e socia-econômicas. É um caso para psiquiatra. Com certeza este não teria dúvida, trata-se de transtorno bipolar.

    Este país que se encontra no fundo poço, poço de esgoto, ou seja afogado na merda, que brota todos os dias das bocarras infectas do clã Bozo e seu séquito de puxa-sacos, até ontem era a grande promessa de potência democrática, exemplo de tolerância etnica e justiça social, num momento de falência das sociais democracias européias.

    Estudiosos europeus vinham aqui para verificar qual era o segredo do sucesso desta promessa de paraíso. Onde judeus e árabes convivem numa boa. Negros estão começando a dividir com os brancos as vagas nas universidades, filhos de pedreiros estão virando médicos, engenheiros e advogados. Saiu do mapa da fome e alcançou o pleno emprego

    Tudo isso sendo uma democracia, com liberdade de imprensa e expressão, ao contrário da China e da Rússia. O país entre os Brics, que apresentava equilibrio entre crescimento econômico, justiça social e liberdade civis. 

    Tudo isso já era. Saímos dos Brics porque viramos capachos dos EUA. Já despencamos de sexta economia para a décima, por aí. Voltamos para o mapa da fome, desemprego triplicou. Negros são perseguidos por neonazistas nas universidades. Pedreiros não tem mais prédios para construir, seus filhos vão para a rua pedir esmola ou assaltar. E last but not least, queremos entrar na lista de alvos do terrorismo islâmico.

    Claro que falta a parte da misoginia, perseguição aos LGBTs e preconceito contra nordestinos, índios e demais “vagabundos”. Éramos referência em combate a AIDS, a lei Maria da Penha era um exemplo e os quilombolas um experimento de utopia social.

    Tudo isso jogado fora. E estamos a passos largos para ser o pior país do mundo. A barbárie, numa disputa frenética pelo trofeu da bizarrice anti-civilizatória. Mas pelo menos “tiramos o PT!”

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