MEC ignora bom desempenho das escolas federais no Pisa

 

Jornal GGN – O Ministério da Educação (MEC), após “esquecer” dos institutos federais na divulgação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), agora minimiza o desempenho destas escolas no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

No geral, o país ficou no 63º lugar entre 72 países na avaliação internacional, que mede a qualidade do ensino em Ciência, Leitura e Matemática. Entretanto, os alunos das escolas federais ficaram acima da média da OCDE, melhor até que a Coreia do Sul, tido como exemplo.

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Do Intercept Brasil

ESTUDANTES FEDERAIS TÊM DESEMPENHO COREANO EM CIÊNCIAS, MAS MEC IGNORA

Helena Borges

ALGUÉM ESTÁ PRECISANDO de aulas de matemática – e não estamos falando dos alunos da rede de ensino federal. Depois de “equivocadamente” deixar os institutos federais de fora da divulgação de resultados do Enem, agora, o Ministério da Educação minimiza o bom desempenho das escolas públicas federais em outra avaliação: o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em que o Brasil ficou em 63º lugar entre 72 países.

O exame avalia jovens de 15 anos, independentemente do ano escolar em que se encontrem, e compara a qualidade de ensino em diferentes países em três áreas: Ciência, Leitura e Matemática. A nota reúne os resultados de escolas públicas e particulares. Assim como em outros anos, o Brasil ficou abaixo da média internacional. Em meio ao lamentável resultado, no entanto, escolas federais obtiveram ótimos índices.

Se a rede federal de ensino fosse um país, em ciências — a matéria escolhida como foco da análise desta edição — o “país das federais” ficaria em 11º lugar no ranking internacional, um ponto acima da tida como exemplar Coreia do Sul, que teve uma média de 516 pontos. Apesar disso, o ministro Mendonça Filho (Educação) só conseguiu discursar sobre o “fracasso retumbante” da educação brasileira, passando ao largo — pela segunda vez — dos bons índices apresentados pelas federais.

O mesmo não se pode falar da rede particular de ensino, que ficou abaixo da média da OCDE. Escolas particulares obtiveram 487 pontos em Ciências, enquanto a média da OCDE, índice usado como nota de corte da avaliação, foi de 493. Porém, para o INEP, “o desempenho da rede federal supera a média nacional, embora não seja estatisticamente diferente do desempenho médio dos estudantes da rede particular.”

Versões similares dessa mesma frase precisaram ser repetidas três vezes no relatório que o Ministério da Educação fez sobre as redes de ensino. É que, em todas as três matérias avaliadas, a rede federal ficou bem acima da média das particulares e, ou se manteve pareada, ou superou a média dos países desenvolvidos. No ranking, a diferença que o Inep considerou “estatisticamente irrelevante” significaria uma distância de dez posições entre particulares e federais.

“Nos colégios federais, como os militares, de aplicação, antigas Cefets e o Colégio Pedro II (no Rio de Janeiro), os professores são mais valorizados. Lá, eles são tratados de forma parecida a professores de faculdade e isso se reflete nos resultados”, explica César Camacho, ex-diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e principal nome por trás da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas.

A valorização da carreira dos profissionais de ensino é também apontada como uma razão para o bom desempenho dos alunos pelo presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal (Conif)Marcelo Bender Machado: “Temos um plano de carreira para os professores, mais da metade deles têm mestrado e mais de 25% têm doutorado. Incentivamos o fazer científico entre os professores e entre os alunos, nos laboratórios e no vínculo com a academia”.

DESIGUALDADE SOCIOECONÔMICA ATRAPALHA DESEMPENHO

A rede educacional brasileira é complexa e precisa ser analisada a fundo para ser compreendida. A OCDE aponta um alto percentual de alunos em “camadas desfavorecidas” no Brasil: 43% dos estudantes estão entre os 20% da população considerada “desfavorecida” na escala internacional de níveis sócio-econômicos do exame.

A desigualdade se reflete no desempenho. Em Ciências, por exemplo, a nota de um aluno brasileiro rico é 27 pontos acima da média dos alunos de “nível sócio-econômico menor”, segundo a OCDE. A diferença de pontuação é tamanha que, segundo o relatório, “equivale ao conteúdo de um ano letivo inteiro”. É como se, no fim do curso, os alunos mais ricos estivessem estudando um ano a mais que o os mais pobres. Por isso, não é possível encarar o alunado brasileiro como uma massa única e homogênea. Torna-se necessário avaliar o desempenho de cada uma das redes de ensino separadamente.

“Combatemos qualquer tipo de análise que culpabiliza ou marginaliza a educação pública. O Pisa serve para que façamos análises em busca de soluções, e não depreciação”, defende Maria Rehder, coordenadora da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Ela reforça ainda que existem estudantes em realidades muito diferentes para serem comparados: “o fator socioeconômico interfere, por exemplo, na perda do desempenho em casos de alunos que sofrem com a violência no dia a dia, ou os que têm de trabalhar enquanto estudam”.

A média nacional, por exemplo, foi puxada para baixo principalmente pelas redes municipais. Isso é compreensível, porque a responsabilidade constitucional das redes municipais é com ensino fundamental e o teste do Pisa é feito por alunos entre 15 e 16 anos, idade em que o ideal seria estar concluindo o primeiro ano do ensino médio.

O próprio relatório aponta um dos motivos dessa questão federativa: 36% dos jovens brasileiros de 15 anos repetiram de ano pelo menos uma vez. Ou seja, no final, eles  ainda estão na etapa do ensino sob a alçada municipal. Entre os países latino-americanos, só a Colômbia possui uma taxa de repetência maior que a brasileira. Para os especialistas da OCDE, também o alto número de repetentes brasileiros é associado a níveis elevados de desigualdade social e de abandono escolar.

Apesar do alto índice de repetência, há uma notícia positiva: dos jovens brasileiros que fizeram a prova, 71% cursam do oitavo ano em diante; um avanço em relação a 2013, quando eram 56%. O relatório aponta a melhora como “uma ampliação notável de escolarização”. Também é elogiado o fato de o Brasil “ter expandido o acesso escolar a novas parcelas da população de jovens sem declínios no desempenho médio dos alunos” como “um desenvolvimento bastante positivo”.

COMPARAÇÕES COM PAÍSES DESENVOLVIDOS SÃO INJUSTAS

O sistema educacional não é algo que se muda da noite para o dia. Entre os 72 países que participaram do exame, o Brasil tem a segunda menor proporção de pais com nível superior: 15%. Perde apenas para a Indonésia, onde menos de 9% dos adultos nesta faixa etária alcançaram esse nível de escolaridade. Para realizar suas reformas, os países que hoje são tidos como vitrine levaram décadas. Outra razão lógica pela qual o Brasil levaria muito mais tempo para se formar: a rede pública finlandesa tem um total de aproximadamente 540 mil alunos, enquanto a brasileira tem 38 milhõesapenas nas escolas municipais e estaduais.

No Brasil, o Plano Nacional de Educação (PNE) deveria ter sido colocado em prática no meio deste ano, mas seu desenrolar foi cortado pelo impeachment. O documento, que chegou a ser elogiado pela ONU, aponta diretrizes políticas organizadas em um calendário de dez anos para reestruturação da educação brasileira. Entre elas, está a definição do valor de investimento mínimo necessário por aluno como base de cálculo para o orçamento da educação — e não o contrário, como é hoje.

Porém, com a subida do presidente Michel Temer ao poder, estabeleceu-se uma agenda que estrangulou o processo, impedindo a reforma que estava se desenvolvendo por medidas como a PEC do teto de gastos.

Em 2015, ano da realização do teste, o Ministério da Educação definiu o custo anual por aluno em R$ 2.545,31 – valor equivalente a apenas uma mensalidade em diversos colégios particulares. Na Finlândia e na Coreia do Sul, países costumeiramente apontados como exemplos de sistemas educacionais excelentes, o valor investido por aluno é quatro vezes maior e o salário inicial de um professor de ensino fundamental é em torno de R$ 7.800.

É por isso que comparações da rede brasileira com países desenvolvidos são injustas, porque se tratam de situações completamente diferentes. “Nossas demandas e desafios são muito maiores, não faz sentido querer comparar o quanto é investido lá e aqui”, critica Rehder.

No relatório específico sobre o Brasil, a equipe do Pisa ressaltou que o PIB brasileiro equivale a aproximadamente 40% da média na OCDE. O valor bruto investido em cada aluno brasileiro também equivale aproximadamente a 40% do que é investido em média nos países desenvolvidos. E ainda tem gente defendendo que “o problema da educação não é falta de dinheiro”.

Redação

6 Comentários

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  1. bom lembrar q essas escolas,

    bom lembrar q essas escolas, as melhores do brasil, são aquelas q efeagá quiz fechar lá nos anos 90…..mas derrubamos com muita manifestação e o gov federal continuou investindo no ens. médio de escolas federais – hj são as melhroes.

    parebéns povo brasileiro!

    parabens PT!

    parabéns Lula!

     

    o futuro é educação. mais e mais educaçaõ. maior salario de professor, investimento em estrutura física, mais vagas desde pré escola.

    mendoncinha vem dando seu recado ao lado de alexandre frota…cada um entende como puder……

  2. 1. O texto original contem

    1. O texto original contem tabelas que explicam claramente os conceitos postos no texto. 
    2. Este texto explica as razões da reforma do ensino médio e, principalmente, de sua pressa. O ensino médio federal tornou-se um paradigma de sucesso, com carreiras definidas para os docentes, salários mediamente adequados, menor carga horária média por docente que as privadas (eu sempre entendo que esse nome é perfeito!), infraestrutura adequada de laboratórios, apoio técnico aos docentes. Tempo integral de ensino.  

  3. Divulgação

    Recebemos a informação de que haverá interrupção de energia elétrica e fornecimento de água no edifício Lúcio Costa, antigo Banerjão, por conta das obras de modernização realizada nesse prédio, recentemente, comprada pela Alerj.

    Este procedimento teria sido comunicado ao PRODERJ por ofício expedido pela ALERJ por decisão do presidente da casa, deputado Jorge Picciani.

    Alertamos para os riscos de tais medidas:

    1. Parte dos computadores do PRODERJ (data center) estão localizados no 3º andar deste edifício. Servidores do Proderj permanecem no local trabalhando para garantir Sistemas como Pré-matrícula, Sistema de Protocolo, Sistema de Roubos e Furtos, Dívida Ativa, PROEIS, Sistema de Pagamento (SIGRH), entre outros, incluindo o tráfego de dados e conexões serão interrompidos. No dia 14 de outubro houve o desligamento da energia elétrica do edifício pela empresa de engenharia que danificou alguns dos equipamentos e interrompeu os serviços, demandando grande esforço dos técnicos para regularização.

    2. A interrupção no fornecimento de água, além de trazer problemas ao uso humano, interromperá o funcionamento de parte dos equipamentos de ar condicionado do data center que utiliza água. A refrigeração do ambiente é importante para o bom funcionamento dos equipamentos. A elevação da temperatura acima do tolerável fará com que os equipamentos se desliguem automaticamente .

    A saída do data center do PRODERJ no edifício se arrasta. Cabe à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e à direção do PRODERJ apresentar as soluções que preservem o patrimônio do PRODERJ e as informações mantidas pela autarquia. Não é possível que até este momento não tenha havido uma solução técnica para o problema e coloca em risco equipamentos e informações do Estado e dos cidadãos por uma decisão de alguém que não entende a dimensão do problema mas que detém grande poder.

    A ASCPDERJ, Associação dos Servidores do Proderj, mais uma vez , alerta que os computadores do PRODERJ e a custódia da informação estão correndo riscos devido à total falta de compromisso público por parte do Presidente da Alerj, Jorge Picciane e o Secretário de Estado de Ciência , Tecnologia e Inovação, SECTI, Gustavo Tutuca, em resolver definitivamente a saída desses equipamentos que valem 200 milhões sem semprejuízo aos cofres do estado e a população.

    Gostaria de contar com os profissionais sérios da imprensa, como você,  para divulgar esse ato irresponsável que ocorre no nosso Estado do Rio de Janeiro. Mais informações  podem entrar em contato com o Júlio César Faustino vice-presidente ASCDERJ – Tel: 980835005.  Obrigada. Denise.

  4. algumas vezes temos que esquecer o politicamente correto..
    No nosso caso, pelo rumo que tomou o Brazil nestes dois últimos anos, temos que trocar “equivocadamente” por intencionalmente. Vide o que acontece com a venda de ativos da Petrobras, com a Reforma da Previdência e por fim com o que acontece com a justiça, onde a mais alta corte julga “por critérios políticos” e não pela verdadeira intenção – a sua manutenção do status quo, bem como daqueles que os financiam.
    Estão levando a população ao nível mais baixo possível, quer economicamente e socialmente, pois um povo pobre e desinformado não tem forças para revidar. Solução para isto há, basta o povo sair à rua e reivindicar seus direitos, vide a ocupação de escolas, ao que aconteceu com a farra da merenda em SP, Os pais e familiares tem que estar junto dos seus filhos. Vamos a rua pois não temos muito o que perder, estamos perdendo o pouco que temos.

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