Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Meirelles poderá se tornar homem mais forte do Brasil, por André Araújo

Meirelles construiu sua fama em um período de bonança, com o boom das commodities do primeiro governo Lula,  estava no lugar certo na hora certa

A NOVA EQUIPE ECONÔMICA – Segundo as informações que circulam pelos meios econômicos, o novo Ministro da Fazenda Henrique Meirelles condicionou sua aceitação no cargo à prerrogativa de indicar todos os postos chave do Ministério da Fazenda mas também os dirigentes do Banco Central, do Banco do Brasil, do BNDES, da Caixa Econômica Federal, do Banco do Nordeste e do Banco da Amazônia. 

É um arranjo que dá ao novo Ministro um grande poder que pode servir para muita coisa no campo da política pura à margem da função de gerir a economia, inclusive a construção de uma base de capital político pessoal que permitirá ao titular da Fazenda ser o candidato mais forte à Presidência da Republica em 2018.

Contando os cargos no Ministério e no bancos serão mais de 70 pessoas a nomear, todas para cargos altos de grande poder e relevância. Nem Delfim Neto no auge de seu mandarinato teve tal poder concentrado. As indicações delfinianas tinham que passar pelo crivo militar e Delfim não indicava diretores do BNDES, o mais poderoso dos bancos públicos em termos de força politica.

Curiosamente no Governo Vargas de 1950 essa montagem foi colocada na mesa do Presidente Getúlio pelo então nomeado Ministro da Fazenda Oswaldo Aranha, que tinha ambição longamente conhecida de ser candidato à presidência na sucessão de Getulio. Na época não havia Banco Central e o grande instrumento de poder era o Banco do Brasil. 

Aranha insistiu em ter a prerrogativa de indicar o presidente do BB, mas Getúlio sentiu o cheiro de queimado, então entrou na conversa, nomeou para o Banco do Brasil o General Anapio Gomes, inimigo de Oswaldo Aranha e amigo pessoal de Vargas.  

Anapio Gomes conta essa história em seu livro de memorias “Radiografia do Brasil”. Getúlio antes já fizera coisa semelhante. 

No BNDE (hoje BNDES), que estava sendo criado, Aranha indicou Roberto Campos, mas Vargas cercou-o, indicando J. Maciel Filho, de sua estrita confiança, para Superintendente.

Nomeado Ministro da Fazenda Horácio Lafer, o homem da FIESP, Vargas colocou no Banco do Brasil Ricardo Jafet, inimigo de Lafer.  

Ministério da Fazenda mais bancos públicos fará de Meirelles o homem mais poderoso do Brasil e candidato inafastável à Presidência. Valerá o preço?  Meirelles construiu sua fama em um período de bonança, com o boom das commodities do primeiro governo Lula,  estava no lugar certo na hora certa, não se conhece todavia sua capacidade de formulador de politica econômica fora da cartilha do catecismo ortodoxo do mercado financeiro.

O ajuste fiscal é necessário, o governo desperdiça muito em gastos correntes, além dos l05 mil cargos comissionados, há imensa quantidade de contratos de terceirização de mão de obra e um descontrolado sistema de aluguel de prédios, que não tem uma central de gerenciamento.

Os ministérios podem alugar prédios desproporcionais às suas necessidades e em lugares caríssimos. Na curta gestão George Hilton no Ministério do Esporte alugou-se suntuoso prédio quando o anterior mais modesto estava perfeitamente adequado. Há uma obsessão na administração pública por prédios suntuosos, tanto de construção própria como alugados, tendo a União muito espaço disponível e de graça, tudo sem um banco de espaços e um centro de monitoramento para evitar desperdícios evidentes.

Mas o cortes de despesas, por mais necessário que seja, não vai parar a recessão. Será preciso ao mesmo tempo um programa rápido de investimentos publicos para puxar a economia, não há pressão de demanda de maneira que o investimento publico não será inflacionário.

Por que os juros SELIC que são a referencia dos títulos federais precisam ser altos? Por que se não forem o aplicador não compra? É falso. Os títulos públicos são o ÚNICO lastro para a aplicação dos depósitos à vista dos bancos, não há nenhum outro tipo de aplicação disponível no volume e liquidez dos títulos federais. Os bancos, fundos, seguradoras e tesourarias de grandes empresas comprarão os títulos federais com qualquer taxa de juros, assim é no mundo inteiro, não é uma aplicação voluntaria, é necessária, não há outra igual. 

A taxa pode ser metade da atual, economiza-se ai 300 bilhões de Reais, o BC deve cessar a intervenção no mercado de câmbio que custou em 2015 a absurda quantia de 125 bilhões de Reais em prejuízos nos swaps cambiais. Tudo para manter o dólar baixo, quando para a economia é melhor a desvalorização do Real.

Investimentos públicos tem desembolsos parcelados ao longo do tempo, não se gasta tudo à vista, há amplo espaço para manejar esse programa. Pode-se criar um papel especial para pagar as empreiteiras, Juscelino Kubitschek fez isso (Obrigações do Reaparelhamento Econômico). É preciso criatividade, investimento não é despesa, é criação de ativos.

As concessões e as PPP (parcerias público-privadas) vão também ajudar a criar empregos, mas não serão suficientes. Será preciso investimento público direto em saneamento básico, moradias, policiamento de fronteiras, aeroportos regionais, mobilidade urbana, manutenção e reforma de rodovias que não serão concessionadas, reforma de hospitais e escolas em deterioração.

A equipe típica de Meirelles será exclusivamente vinculada ao mercado financeiro, sem qualquer olhar para o desenvolvimento, é uma escola monotrilho, precisamos escolas combinadas que pensam em dois trilhos.

Dado a ele o controle da Fazenda, da Previdência, do Banco Central, do BNDES, da Caixa Econômica, do Banco do Brasil, o Presidente Temer cedeu 60% do Governo à ele, um personagem por demais ligado aos EUA em sua biografia, algo um tanto complicado para um potencial candidato a Presidência. 

A  ver o desenrolar desse enredo.

 

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

25 Comentários

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  1. A equipe típica de Meirelles

    A equipe típica de Meirelles será exclusivamente vinculada ao mercado financeiro, sem qualquer olhar para o desenvolvimento, é uma escola monotrilho, precisamos escolas combinadas que pensam em dois trilhos.

    Tivemos essa experiência no passado e os resultados são bem conhecidos. O Interino me parece vacilante (para não dizer frouxo mesmo). Agora, o pmdb abrir mão das boquinhas que tem nos bancos estatais, acho um tanto duvidoso.

  2. Conspiração

    CONSPIROU contra o governo Dilma. Investiu pesado na votação do impeachment da Camara, fazendo uso do poder economico junto aos deputados juntamente com Sreinbruch da Fueso segundo a revista Carta Capital.

    Mas aí sabe MPF faz cara de paisagem. 

    Quando ainda era presidente o Conselho de Administração da J&F, dona do Banco Original, JBS, Vigor, entre outras empresas. É também membro do Conselho de Administração da Azul Linhas Aéreas. 

    Se sabe quem são os golpistas.

    Mais um americanófilo. 

    Temer é informante ou foi dos EUA.

     

     

     

  3. Bons pontos levantados pelo André…

    André, creio que a questão de aluguel de prédios suntuosos tem mais a ver com arranjos políticos do que simplesmente uma questão de vaidade do político de ocasião. Pode ser que o fator “luxo” influencie na escolha, mas é um elemento lateral, ao meu ver.

    Tem total razão quando aponta a ausênciea de critério e de um sistema de gerenciamento do patrimônio público. Não há integração entre os bancos de dados dos diferentes Ministérios, Autarquias e empresas públicas, para fins de melhor adequar a alocação. Existem casos extremos nas duas pontas – órgãos sem espaço para alocação de novos servidores e outros com grande disponibilidade física e estrutural, inclusive com dezenas de imóveis vazios.

    O mesmo raciocínio se aplica em casos de contratos de terceirização: a grande maioria atende a arranjos políticos, seja pelo valor praticado, seja pelos quantitativos. É comum ver repartições com excesso de terceirizados e outras com número muito aquém do necessário. Locações de impressoras e máquinário a preços e quantidades estratosféricos para alguns órgãos e outros sem tinta/tonner e papel para impressão. 

    Um simples corte ou readequação nesses contratos, considerando que são, em regra anuais e se prorrogam por até 5 anos, seria suficiente para execução de obras que poderiam gerar empregos, divisas, tributos e retorno financeiro do valor gasto, inclusive e especialmente no âmbito dos Estados e municípios maiores.

    Concordo integralmente com os demais comentários. O problema é: há vontade para rearranjo na política de remuneração dos títulos públicos federais e na política monetária? Meirelles não me parece o sujeito com disposição para isso. Deve manter o elevado ganho do mercado nessas pontas e financiar novos investimentos com aumento de tributos, sob a justificativa da “desastrada gestão fiscal” Ptista e da necessidade de “sacrifícios” para retomada do crescimento. Como disse você: a se ver o desenrolar…

     

     

     

  4. Generosidade

    André,

    Você está sendo generoso com o Meirelles quando diz que “não se conhece todavia sua capacidade de formulador de politica econômica fora da cartilha do catecismo ortodoxo do mercado financeiro. Penso que não se conhece simplesmente porque ele não a tem. É apenas mais um financista, que montará um equipe de financistas, que só sabem analisar planilhas na tela do computador. O Nassif conhece bem essa turma, até já escreveu um livro sobre eles “Os Cabeças de Planilha”. Creio que é a crônica de um desastre anunciado.

  5. E desde quando essa turma

    E desde quando essa turma entrou pra melhorar o país?! É pra entregar tudo pro mercado e ponto! Santa ingenuidade…

  6. outro olhar

    Na absoluta falta de alguém com credibilidade e aplomb, o Temer pegou o deslumbrado disponível. Ao exigir carta branca evidenciou a fraqueza do Temer.

    1. Verdade!

      Pois é! O Serra queria ser o Ministro da Fazenda, mas por ora se contentou em ser o Ministro das Relações Exteriores. Eu não duvido nada de que logo, logo estará causando atritos com o Meirelles para derrubá-lo.  

  7. o nó juros x câmbio
    “Por que os juros SELIC que são a referencia dos títulos federais precisam ser altos? Por que se não forem o aplicador não compra? É falso. Os títulos públicos são o ÚNICO lastro para a aplicação dos depósitos à vista dos bancos, não há nenhum outro tipo de aplicação disponível no volume e liquidez dos títulos federais. Os bancos, fundos, seguradoras e tesourarias de grandes empresas comprarão os títulos federais com qualquer taxa de juros, assim é no mundo inteiro, não é uma aplicação voluntaria, é necessária, não há outra igual.

    A taxa pode ser metade da atual, economiza-se ai 300 bilhões de Reais, o BC deve cessar a intervenção no mercado de câmbio que custou em 2015 a absurda quantia de 125 bilhões de Reais em prejuízos nos swaps cambiais. Tudo para manter o dólar baixo, quando para a economia é melhor a desvalorização do Real.”

    A chave para entender o Brasil é esse nó juros alto e câmbio sobrevalorizado. Conforme bem explica no trecho acima destacado, é irracional termos uma taxa de juros tão alta e ao mesmo tempo termos uma política cambial de defesa de taxa de câmbio sobrevalorizada. Mas ela é irracional em termos de boa administração pensando em um país soberano, não em termos políticos. Na verdade, quando colocamos esta última variável, a equação se inverte, e aí se torna irracional termos juros equilibrados e próximos do nível internacional e câmbio competitivo ou favorável para a produção.
    O fato é que nossa elite econômica, desde o governo Collor pelo menos, fez uma escolha: querem apenas se esbaldar no consumismo fácil e supérfluo e nada querem produzir em troca. Se não nada, pelo menos querem contribuir com o mínimo possível. Como o resto do mundo não aceitaria isso tão facilmente, “acharam” um produto capaz de vender o país lá fora: a especulação com a moeda nacional. Daí é que vem a política de juros alto e câmbio sobrevalorizado, da necessidade que nossa elite econômica tem de consumir o máximo possível do que é produzido no estrangeiro sem dar sua contrapartida. Perceba que todos os períodos onde a opinião pública foi favorável ao governo desde a implantação do Plano real foi quando a taxa de câmbio estava sobrevalorizada. O juiz Catta Preta, que concedeu liminar contra a nomeação de ministro no governo de Dilma, chegou a postar que estava feliz com a saída do governo porque voltaríamos a ter dólar barato para poder viajar para Miami. Esse é o sonho da elite brasileira !
    Daí é de se supor que o governo Temer, que tem como general da área econômica um ministro que produzir a maior sobrevalorização da moeda nacional já vista, vai se esforçar ao máximo em vender as reservas que possuímos o quanto puder e não puder para que o preço do dólar caia bastante, principalmente no curto prazo. Essa para mim é que vai ser a estratégia principal do governo Temer, pelo menos até o final do ano. Depois, o quadro se altera, pois já teriam passado as eleições municipais e até mesmo sido contornado o risco de termos eleições diretas para presidente antecipadas. Mas nada garante que nessa segunda fase, a administração volte a pensar em fazer juros e câmbio convergirem para valores factíveis no longo prazo. na atual configuração política do país, isso só ocorre em momentos onde não há mais alternativas, tal como aconteceu em 1999/2004 ou 2015, quando o mercado de capitais achava muito arriscado jogar a favor da valorização desmedida do real.

  8. chama a Erundina

    “Quando ainda era presidente o Conselho de Administração da J&F, dona do Banco Original, JBS, Vigor, entre outras empresas. É também membro do Conselho de Administração da Azul Linhas Aéreas.”

     Mandemos a Erundina fazer um referendo para o povo decidir (reduzir, eliminar) o salário do Ministro da Fazenda. Afinal de contas, é por esse salário que o Meirelles está lá, e não pela bufunfa recebida e a ser recebida pelo exercícios dos cargos acima citados no setor privado, em conexão com serviços prestados no setor público.

    PS: Isso acontece no mundo inteiro hoje. Estão demolindo o Estado como organização efetivamente organizada para defender o interesse público. Mas chama a Erundina que ela resolve…Ela manja de teoria dos jogos…

     

    1. Nada indica que será.

      Nada indica que será. Meirelles serviu a Lula por circunstancias e conveniencias mas nunca foi da turma de Lula, nada a ver um com outro, assim como Levy nunca foi de Dilma, são arranjos da politica.

      Não vejo nada que o ligue a Lula agora, o mundo gira, a fila anda e as peças se movem na politica.

  9. não esperem nada

    Não esperem nada dessa gente. 

    Não têm biografia! O que o Temer(ário ) tem a oferecer!

    Por favor me digam! Que eu quero conhecer! um projeto! uma ideia!

    E os seus “ministros”!!!!. Nada, Nada! Nada!

    E o Meireles! Por favor, não me façam rir que dói!

    O PIG  vai vende-los como capazes e os coxinhas vão fingir que acreditam!

    Vai ser uma fraude como muitas  outras!

     

     

  10. Será Meirelles o capataz q

    Será Meirelles o capataz q subjugará ainda mais os EMPRESÁRIOS PRODUTIVOS do País para

    q o seu Senhor (mercado financeiro) enriqueça às custas destes que pagam  juros EXTORSIVOS para

    manterem seus negócios???

    RESPOSTA; SIM,chicote no lombo do povo e empresários produtivos(indústria e comércio)

    OBS:Será mesmo, tão mal assim os sindicalistas ,que fazem o povo ganhar melhor para poderem

    comprar os produtos destes empresários? QUANTA IRRACIONALIDADE NO BRASIL!!!

  11. Se eu não interpretei errado,

    Se eu não interpretei errado, o Nassif já criticou o meirelles, dizendo que ele foi o ponto mais titubeante na hora que o bicho pegou em 2008. Bem, a verdade é que 2008 o Brasil não se ferrou porque Lula soube agir na hora – e tinha feito uma política que possibilitou que o país pudesse enfrentar 2008. Sim, ele teve a sorte das commodities estarem em alta, mas também teve virtude de ter encaminhado bem a economia até ali. 

  12. André, tens alguma postagem
    André, tens alguma postagem analisando o porquê da nossa crise? Gostaria de lê-la. Claro que com os comentários do Assis.

  13. André, tens alguma postagem
    André, tens alguma postagem analisando o porquê da nossa crise? Gostaria de lê-la. Claro que com os comentários do Assis.

  14. Mr. “First National Bank of Boston”

    Prega-se que Meirelles fora “CEO mundial” do “BankBoston”

    É preciso esclarecer: Henrique Meirelles fora Global President da instituição FleetBoston Financial, responsável pela área internacional de um banco regional norte-americano, mesmo com a fusão de duas instituição (também regionais da área de Massachusetts: FleetFinancial Group e o BankBoston). A bem da verdade, a tal operação externa desta instituição resumia-se a: Brasil, Argentina, Uruguai e Chile, e alguns representative offices mundo afora. Jamais teve o cosmopolitanismo de um Citi. A propósito, no Citibank, o executivo brasileiro Álvaro de Souza teve até mais envergadura em termos de cargo e de resposabilidade.

     

     

     

     

    1. Deputy Mr. First National Bank of Boston

      Muito bem lembrado, nada nem de longe comparável a um Citi. Além do Conosur, foi como COO também responsável por CorpBanking nos EUA após fusão com o Fleet. Meirelles reportava-se ao CEO Chad Gifford até a fusão com o Fleet, quando assumiu Terry Murray.

      Tem extensa rede de relacionamento com figuras importantes do setor político e financeiro nos EUA. Sua saída do FleetBoston é atribuída por parte do mercado à derrapada das operações na Argentina, onde a instituição havia investido pesado e sofreu imenso prejuízo quando da crise..

       

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