Mercadante sai em defesa da Educação e da Democracia

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – O ex-ministro da Educação Aloizio Mercadante soltou nota em resposta às declarações e tweets do ministro atual Mendonça Filho. Mendoncinha, como se sabe, resolveu partir como um trator para cima da Universidade de Brasília (UnB) e seu professor Luis Felipe Miguel. Ameaçou, com todas as armas da República, retaliar um e outro pela disciplina que se propunha a analisar o país pós-golpe de 2016. Função da Universidade e de seus professores, trazer para o corpo discente a luz sobre o debate.
 
A nota vem rebater certas afirmações feitas por Mendoncinha, que atacou a presidente eleita, e deposta por meio de golpe, Dilma Rousseff. Aloizio lembra a Mendoncinha que censura nunca foi o forte dos governos Dilma ou Lula. Pelo contrário. Nesses períodos novos mecanismos foram criados para que todos pudessem ter acesso ao ensino superior, e mais. Todas as políticas voltadas para educação foram desmontadas uma a uma após o golpe de 2016.

 
Por fim, Aloizio Mercadante se solidariza com Luis Felipe Miguel e com os professores da Unicamp, que decidiram oferecer cursos semelhantes aos seus estudantes. E lembra ele que é a história quem mostrará o quão certos eles estão. E é isso que lhes assegura a democracia.
 
Leia a nota a seguir.

Nota Pública

1- Em seu persistente devaneio autoritário, o ministro da educação do governo golpista resolveu criticar a ex-presidenta, Dilma Rousseff, por defender o princípio constitucional da autonomia universitária e o direito à livre manifestação de opinião e pensamento, a propósito do curso da UnB sobre o golpe de 2016, que ele resolveu tentar censurar.

2- Segundo o ministro do governo golpista, a “ex-presidenta Dilma e o PT têm de entender que as universidades públicas pertencem ao povo” e que “o PT não pode usar recursos públicos e a estrutura da UnB para propagar mentiras, manipular fatos e formar militância”.

3- Em primeiro lugar, devemos assinalar que o PT sempre entendeu muito bem que as universidades “pertencem ao povo”. Tanto é assim que, ao longo da gestão petista, mais que duplicamos o número de vagas no ensino superior, permitimos que alunos carentes pudessem ingressar em universidades privadas, com o ProUni e o Fies, e abrimos as portas das universidades para os pobres, os negros, os índios e todos aqueles que antes estavam excluídos desse ensino,outrora privilégio de uma pequena elite. Como se diz popularmente, com o PT o filho do pedreiro pode virar doutor. Fizemos tudo isso, agregue-se: com a oposição ferrenha do partido do ministro do golpe (DEM), que chegou ao cúmulo de tentar impedir a política de cotas com uma ação no STF.

4- O governo do ministro autoritário, com certeza, não gostou dessa política, que permitiu que as universidades pudessem, de fato, “pertencer ao povo”, pois promulgou a Emenda Constitucional nº 95, que está reduzindo os investimentos em educação pública e abrindo caminho para uma progressiva privatização do ensino superior. Com isso, as universidades deixarão de “pertencer ao povo”.  Essa agressão à educação pública se dá em todos os níveis e já se manifesta na extinção de programas como Pronatec e o Ciência Sem Fronteiras e na maneira autoritária com que o ministro quis impor uma reforma do ensino médio, que provocou uma verdadeira rebelião em todo o Brasil.

5- Quanto à afirmação estapafúrdia de que, de alguma forma, Dilma Rousseff e o PT estariam usando a UnB, manifestamos que o PT não tem, obviamente, o menor controle sobre a UnB e quaisquer outras universidades, públicas ou privadas. Quem demonstra ter esse desejo totalitário é o ministro do golpe, que quer censurar cursos e tolher a liberdade acadêmica.

6- No que se refere à indagação do ministro, que pergunta se a ex-presidenta “defenderia a criação de uma disciplina intitulada ‘O PT, o petrolão e o colapso econômico do Brasil’?”, respondemos que não caberia a qualquer pessoa, ainda que fosse presidente da república ou ministro da educação, se intrometer na vida acadêmica e atacar o direito à livre manifestação de pensamento e de opinião. Nos reservaríamos apenas o direito de dizer que, durante os governos do PT, fizemos avanços substantivos na luta contra a corrupção, como os relativos à Lei de Acesso à Informação, ao aumento exponencial das operações da Polícia Federal e à plena liberdade atuação dos procuradores, e que quem provocou o colapso econômico do Brasil foi justamente o golpe de Estado apoiado pelo ministro e pela “turma da sangria”, que queria estancar as investigações sobre corrupção.

7- Por último, manifestamos nossa total solidariedade ao professor Luis Felipe Miguel (UnB) e aos professores de Ciência Política da Unicamp (IFCH), que decidiram oferecer cursos semelhantes aos seus estudantes.

8- A História, e não o lamentável ministro, mostrará o quão certos eles estão. A democracia, por certo, lhes assegura esse direito.

Aloizio Mercadante, ex-ministro da Educação

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. A solidariedade aos

    A solidariedade aos professores que ousam pensar e nomear o que pensam se espalhará pelo país. Além das universidades os jovens do Ensino Médio também poderão encontrar muitas salas de aula onde o silêncio será quebrado com reflexão, com liberdade. Cala a boca já morreu!

  2. Golpe de 2016 em ação nas universidades agora quer censurar

    Depois de causar a demissão de um reitor, provocar o suicídio de outro, acusar um pesquisador de apologia ao crime por causa de sua pesquisa de várias décadas e de um reconhecimento como referência internacional e, por fim, cortar verbas indispensáveis ao desenvolvimento harmônico das instituições, agora chegou a vez de agentes do golpe de estado de 2016 peitar a universidade pública por estar cumprindo sua obrigação constitucional, qual seja, a de estudar cientificamente a vida nacional, especialmente através da história da política.

    Este senhor que ocupa o cargo de ministro da educação não tem condições de participar de um debate no nível do que está proposto pela disciplina do Prof. Luís Felipe Miguel da UnB e, para atrair holofotes antes da sua saída do ministério, diz que vai fazer e acontecer em termos de censura, usando as instituições republicanas para seu intento. 

    Os golpistas passarão! Já!  

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