Moro confirmou seu papel no golpe, por Jeferson Miola

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Moro confirmou seu papel no golpe

por Jeferson Miola

A condenação do ex-presidente Lula pelo justiceiro Sérgio Moro não surpreende. 

establishment desencadeou a Lava Jato em março de 2014 para interromper o ciclo de governos petistas e facilitar a eleição presidencial de Aécio Neves, recentemente flagrado arrecadando propina do dono da JBS para repassar ao proprietário de um helicóptero usado para transportar 450 kg de pasta base de cocaína – nesta semana, apesar disso tudo, o presidente licenciado do PSDB foi brindado com a autorização do STF para exercer o mandato e com o arquivamento do processo de cassação na Comissão de Ética do Senado.

Foram necessários poucos meses de funcionamento da Lava Jato para ficar claro que a força-tarefa da Lava Jato, dirigida por procuradores e policiais federais messiânicos [e tucanos] de Curitiba e pelo próprio Moro, pretextava o suposto combate à corrupção na Petrobrás para, na realidade, dar curso a um plano que tinha como objetivo estratégico destruir o PT e liquidar o ex-presidente Lula.

O pensador Norberto Bobbio dizia que

o fascista fala o tempo todo em corrupção. Fez isso na Itália em 1922, na Alemanha em 1933 e no Brasil em 1964. Ele acusa, insulta, agride como se fosse puro e honesto. Mas o fascista é apenas um criminoso, um sociopata que persegue carreira política. No poder, não hesita em torturar, estuprar, roubar sua carteira, sua liberdade e seus direitos. Mais que corrupção, o fascista pratica a maldade“.

A obsessão da oligarquia, de “pôr fim à raça dos petistas“, é antiga. Este desejo fascista, professado desde 2005 pelo oligarca Jorge Bornhausen durante o episódio do chamado “mensalão”, tinha por objetivo enterrar as políticas de igualdade social, de distribuição de renda, de desenvolvimento nacional e de inserção soberana, altiva e independente do Brasil no mundo.

Vítima do próprio “jacobinismo redentor” dos auto-designados expoentes da “pureza” humana, o justiceiro Sérgio Moro caiu numa armadilha e ficou sem alternativa: ou condenava ou condenava Lula. Moro criou para si mesmo a obrigação de proferir a sentença condenatória do Lula, a despeito da inexistência absoluta de provas e de fundamentos legais para condená-lo.

Caso proferisse uma sentença técnica e jurídica, Moro seria obrigado a arquivar a denúncia originada naquele power point infame, elaborado pelo não menos infameprocurador [e comerciante de palestras] Deltan Dallagnol, e neste caso seria obrigado a reconhecer a inocência do Lula e a conferir-lhe um atestado de idoneidade, o equivalente a um passaporte para a eleição presidencial de 2018.

A defesa do ex-presidente não só provou sua inocência em relação às falsas imputações, como também comprovou, no processo, a ausência de culpa do Lula, provando que o apartamento triplex, que é atribuído a ele como prova de pagamento de propina da OAS, é do domínio da Caixa Econômica Federal, e por isso não pode pertencer, ao mesmo tempo, ao Lula.

A extensa manifestação do justiceiro Sérgio Moro não é uma sentença, porque é, antes disso, uma acusação. A peça produzida por Moro demonstra que ele não atuou como juiz imparcial e justo, mas sim como advogado e promotor da acusação. Após a conclusão da leitura das 218 páginas, pretendo evidenciar esta afirmação em novo artigo.

Quando chegar à segunda instância, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, a condenação do Moro certamente será revisada, tal a insubsistência e inconsistência da sentença proferida.

A condenação do Lula pelo Moro fecha a “quadratura do círculo” do golpe. Ela é publicada no dia seguinte à aprovação do pacto escravocrata no Senado [reforma trabalhista]; no mesmo dia da liberação de Geddel Vieira Lima da cadeia; na semana em que o Senado desiste de cassar Aécio Neves, e em que o STF libera da prisão o “mula” Rodrigo Rocha Loures, que carregou a mala de 500 mil reais de Temer; e na semana em que a Câmara inicia a discussão que poderá safar o “chefe da maior e mais perigosa quadrilha do Brasil” de ser julgado pelo STF.

A decisão do justiceiro Sérgio Moro deve ser recebida como de fato é, ou seja, como uma manifestação engajada de um militante tucano-golpista que usa o disfarce da toga para direcionar seu poder jurídico no combate a inimigos ideológicos. Moro é um ator da estratégia golpista, e busca desempenhar seu papel no golpe, de implodir a candidatura do ex-presidente na eleição de 2018.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Esperança

    Espero que você tenha razão, quando afirma que “quando chegar à segunda instância”, a flagrante injustiça seja corrigida…. Mas, nesta segunda instância tem o juiz João Pedro Gebran Neto que, se cair nas mãos dele, a injustiça será certamente reiterada….

  2. Causa espécie ver que Aécio

    Causa espécie ver que Aécio Neves e Zezé Perrela continuam no Senado, como se nada houvesse acontecido. Sem falar em Blairo Maggi e na historia muito mal contada daquele avião. Afinal, quando sera que saberemos a verdade sobre o narcotrafico no Brasil? Quantos senadores, deputados, governadores estarão envolvidos? Mas enquanto isso, condena-se Lula por… Por que mesmo?

    1. Perfeito, E ainda os membros

      Perfeito, E ainda os membros do conselho de ética da casa tem a pachola de dizer que vão processar as sras. senadoras que protestaram politicamente ocupando a mesa diretora daquela casa de marionetes do sistema!

  3. Fica claro e cristalino, até

    Fica claro e cristalino, até para leigos, que não é uma sentença é um ato de justiceiro ideológico cujo único objetivo é trabalhar orquestrado para obscurecer – ou até mesmo esconder – todas a maracutais da instâncias superiores do judiciário que liberaram os direitistas da Casa-grande é dos atos do membros da Casa-grande no senado que acabaram com os direitos dos trabalhadores. Tempo de excessão pura.

  4. MORO/GLOBO INTIMIDADOS POR LULA: “LEÃO” DE CURITIBA… MIOU!

    MORO/GLOBO INTIMIDADOS POR LULA: “LEÃO” DE CURITIBA… MIOU! – DE NOVO!

    Por Romulus

    Muitos leitores vieram me perguntar o que eu achei da condenação de Lula por Sergio Moro ontem. Queriam saber “quando eu ia publicar um artigo sobre isso”.

    Confesso que, assim que saiu a notícia, além de postagem sumária nas redes sociais, não pretendia escrever sobre isso não.

    E por quê?

    Ora, porque essa “notícia” foi uma…

    – … NÃO-notícia!

    Pior: foi uma não-notícia visando, justamente, a virar a pauta do noticiário em relação a notícias de verdade.

    Ia lá eu fazer o jogo da Globo/ Moro e ajudar a pauta fake a subir?

    Tratando dela especificamente?

    Não…

    Nada disso!

    Não que o (não) acontecimento seja irrelevante…

    Não é bem isso…

    A questão é a minha “pegada” como analista…

    Como os leitores já sabem, pensando ~estrategicamente~, meu foco costuma ser muito mais no ~subtexto~ do que nos textos disparados pelos diversos atores do jogo político.

    E em “atores do jogo político” entram, evidentemente, a Globo e Sergio Moro.

    Muito mais importante do que a condenação de Lula por Moro – per se – são:

     

    (i) a sua timidez!;

    (ii) o timing;

    (iii) as limitações técnicas; e

    (iv) os movimentos casados da Globo para tentar pautar os seus desdobramentos.

     

    Passemos, pois, à análise desse subtexto.
     

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