Nordeste brasileiro está entre ‘territórios esquecidos e invisíveis’ da América Latina e Caribe, diz FAO

As declarações foram feitas durante ao lançamento da estratégia Os 100 Territórios Livres da Pobreza e da Fome, que visa combater a miséria e a desnutrição nos países latino-americanos e caribenhos

Sertão do Nordeste. Foto: Wikicommons/Flickr/Maria Hsu

da ONU

Nordeste brasileiro está entre ‘territórios esquecidos e invisíveis’ da América Latina e Caribe, diz FAO

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) alertou na terça-feira (23) para a persistência da fome e da pobreza em “territórios esquecidos” dentro de países da América Latina e Caribe. O Nordeste brasileiro foi citado pela agência da ONU como exemplo de região que sofre com esses problemas, apesar dos avanços econômicos e sociais do Brasil.

“Estamos falando de municípios em países como Colômbia, Peru, República Dominicana e Brasil, que fizeram progressos significativos no seu desenvolvimento, mas que ainda possuem crianças com fome, que crescem com suas vidas mutiladas por desnutrição crônica”, afirmou o representante regional da FAO, Julio Berdegué.

“Mesmo em países exitosos, há territórios que estão ficando para trás: o Brasil experimentou um avanço gigantesco, mas aí está o Nordeste. No Chile, a Araucanía. São territórios invisíveis, aos quais estamos levando soluções erradas.”

As declarações do dirigente foram feitas durante ao lançamento da estratégia Os 100 Territórios Livres da Pobreza e da Fome, que visa combater a miséria e a desnutrição em localidades críticas de países latino-americanos e caribenhos. Em sua primeira fase, a iniciativa terá Colômbia, Guatemala, Honduras, Salvador e República Dominicana como nações prioritárias para as ações de assistência.

Mas a FAO explica que já mapeou áreas de outros países. Uma pesquisa em parceria com a Comissão Econômica da ONU para a América Latina e Caribe (CEPAL) identificou, em 14 países da região, cerca de 2 mil municípios onde mais de 40 milhões de pessoas vivem em condições de extrema pobreza e insegurança alimentar.

Metade dessas pessoas (20,9 milhões) mora no campo. A outra metade está nas cidades e cidades pequenas. Quase uma em cada cinco é indígena ou afrodescendente. O levantamento também mostra que 20% dessas famílias são chefiadas por mulheres.

Dependendo do país, a população desses territórios esquecidos ​​representa de 4% a 16% da população nacional.

Para Berdegué, essas áreas são como lugares congelados no tempo. “Mesmo em países com os maiores avanços, existem áreas rurais que foram deixadas para trás, onde as pessoas vivem em condições sociais que se assemelham as que tinham 50 anos atrás”, enfatizou o representante da FAO.

A FAO e os 100 territórios

A nova estratégia da FAO vai trabalhar com governos para identificar locais que exijam as intervenções mais urgentes. A ideia é criar soluções específicas para cada contexto.

Com um horizonte de dez anos, o projeto 100 Territórios prevê o estabelecimento de uma coalizão de atores dos Estados, sociedade civil, setor privado, academia e cooperação internacional. O objetivo dessa aliança será dar reconhecimento político real para esses “lugares esquecidos”.

Com a mobilização, a FAO espera fomentar práticas inovadoras e apropriadas para ampliar as oportunidades econômicas dos moradores dessas regiões. A proposta é levar mais eficiência e transparência para as políticas públicas locais.

“Nós também queremos trazer os habitantes desses territórios para os mercados de trabalho e, acima de tudo, aumentar suas participações sociais, permitindo que a sociedade reconheça o valor dessas pessoas, que têm sido capazes de sobreviver e adaptar-se às piores condições imagináveis. Elas já são donas de uma grande resiliência e inteligência social”, explicou Berdegué.

Para identificar as áreas mais vulneráveis, a FAO não considerou apenas fatores como a pobreza e a fome, mas também fenômenos migratórios que levam milhares de famílias a fugir de suas comunidades. A agência da ONU avaliou ainda o impacto das mudanças climáticas e das economias ilegais, que agravam a pobreza, a fome e a migração.

“Milhares de camponeses migraram nas últimas décadas das montanhas de Guerrero, no México, mas isso não impediu que muitos milhares permanecessem lá, cultivando a papoula com a qual se produz a heroína”, completou Berdegué.

Redação

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