O apagão de São Paulo, por Luciano Martins Costa

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Observatório da Imprensa

CRISE HÍDRICA

O apagão de São Paulo, por Luciano Martins Costa

A gestão da comunicação em torno da crise de abastecimento de água na região metropolitana de São Paulo está sendo feita por um gabinete junto ao governador Geraldo Alckmin. A equipe de assessores da Sabesp ficou encarregada apenas de ações defensivas e pontuais, como o encaminhamento de declarações e dados para os consumidores e para jornais e emissoras cujo noticiário se desvia eventualmente do padrão estabelecido por praticamente toda a imprensa: a prioridade é preservar o governo paulista e criminalizar os cidadãos que ainda não aderiram ao racionamento dissimulado.

Na comunicação direta com o contribuinte, a Sabesp tem trabalhado com textos ambíguos até mesmo para informar cortes no fornecimento de água ou redução na pressão do bombeamento. Por exemplo, ao anunciar a suspensão do serviço na região da Avenida Paulista, no último fim de semana, a empresa informava que a medida era necessária “devido a falta de energia que afeta o abastecimento”. Ou seja: a culpa da falta de água agora é da Eletropaulo.

A principal preocupação do gabinete de crise não é apenas conscientizar o consumidor, mas evitar que a opinião pública faça associações que levem ao ponto de origem do problema: a incúria do governo do estado, que vem sendo prevenido há mais de uma década sobre a redução da oferta de água no sistema que abastece a capital paulista e as cidades vizinhas.

A mensagem da Sabesp tenta diluir as responsabilidades, criando outro foco na própria máquina do Estado – a empresa de energia – dentro da estratégia central, que consiste em manter o governador longe da cena, nem que para isso seja preciso, por exemplo, fomentar conflitos entre vizinhos.

A mídia tradicional, principalmente os grandes jornais paulistas, funciona como extensão do Palácio dos Bandeirantes: embora o noticiário registre diariamente a redução do nível dos mananciais que abastecem a maior concentração urbana do país, os jornalistas se contentam com as frases de efeito e as platitudes produzidas pelo governador. Omite-se o fato de que não apenas o sistema hídrico já entrou em colapso, mas esconde-se o quadro geral, que mostra a deterioração da infraestrutura de saneamento, energia, segurança e educação do estado nos últimos vinte anos.

Infraestrutura sucateada

Quando a Sabesp afirma, em comunicado oficial, que vai faltar água por problemas na rede de distribuição de energia, o cidadão atento enxerga o emaranhado de fios que pende perigosamente sobre as cabeças dos transeuntes. Os constantes cortes no fornecimento de eletricidade, que se tornaram rotina, são noticiados burocraticamente, sem referência ao contexto mais importante, que é o sucateamento do sistema em toda a região metropolitana. Comentaristas de emissoras de rádio tratam de misturar o assunto com as quedas de árvores, e muitos ouvintes ficam com a impressão de que a culpa é do prefeito petista da capital, Fernando Haddad.

Observe-se que nunca houve tanta oferta de financiamento para obras públicas como nas duas últimas décadas. Eventualmente, especialistas citam medidas que nunca foram tomadas, embora tenha havido dinheiro disponível, por falta de projetos executivos.

Há muito sinais de negligência na ação dos governantes que se sucederam nos últimos anos à frente do Executivo paulista, suficientes para autorizar pelo menos uma investigação sobre prevaricação. O antecedente criado pelo escândalo dos contratos para obras no metrô e no sistema de trens metropolitanos deveria suscitar ao menos a curiosidade dos jornalistas.

Nos meses que antecederam a Copa do Mundo, problemas pontuais em dois ou três aeroportos motivaram a imprensa a anunciar o apocalipse e a prever o “apagão” geral do país. “Imagine na Copa” – era a senha dos profetas do caos.

Nove entre dez consultores de comunicação, assim como administradores de empresas e políticos, são adeptos dos ensinamentos do general chinês Sun-Tzu, personagem improvável que teria vivido entre os séculos 6 e 5 antes da era cristã. Mas o noticiário sobre o problema hídrico de São Paulo ignora um dos principais aforismas atribuídos ao suposto estrategista: “Aquele que se empenha em resolver as dificuldades resolve-as antes que elas surjam”.

Especialistas afirmam que, se nada mudar, São Paulo vai conhecer uma crise social sem precedentes a partir de março, ou seja, daqui a dois meses, quando 6 milhões de pessoas poderão ficar sem água.

E a imprensa continua tratando como estadista um governador anódino, anestesiado, incapaz de enfrentar publicamente sua responsabilidade.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

19 Comentários

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  1. está mal…

    São Paulo está mal.

    Um governador que não governa,

    Uma mídia que não noticia,

    Empresas de abastecimento que não abastecem,

    E quem paga  o pato é São Pedro.

  2. Belo texto!

    Sintetiza bem o conluio entre o PSDB, a mídia e o Judiciário paulistas que estão pra nos levar ao caos. Como paulista, conto só com Dilma pra nos livrar do pior.

  3. Caos

    O caos para mim já está instalado. Falta apenas o golpe de misericórdia que ocorrerá dentro de poucos meses. O governo federal através de sua secretaria de comunicação não se pronuncia quando atacado e responsabilizado pela situação no estado. Simplesmente uma burrice no meu ponto de vista.

    A SECOM que funciona são as redes sociais onde partidários do PT divulgam o absurdo promovido e orquestrado pela podridão que governa São Paulo.

    Para quem se identifica com o governo do PT, o cenário é muito ruim!

  4. Agora vamos as ações.

    Pronto, agora que o governo psbdista de são paulo já criou a sua comiissão de despistamento, coisa até inútil porque a folha, o globo, o estadão, a revistinha do esgoto, as tvs e as rádios já fazem o mesmo, provocando até uma duplicidade de ações, e é o que ele, alkimim, vai fazer, como sempre, vamos às ações concretas. Pronto.

    Convoque-se o pig para resolver o problema que criou. Que criem uma comissão de alto nível com as mirians, sadembergs, reinaldos azevedos, jabours, etc (desculpem os não citados) com a ajuda dos pensantes das direções dos jornalões, para resolver o problema que criaram ao esconder o problema por mais de dois anos e assim proteger sp destes terríveis petistas. Espera-se um plano de emergência eficiente para esta crisezinha boba. Um feliz guia para o caos.

    Manisfesto desde já minha confiança de que eles saberão resolver o problema do caos da sede em sp. É sobejamente conhecido que eles ensinam todo dia a Dilma a governar o país ( ela insiste em não atende-los). Sabemos que eles sabem  tudo a respeito de tudo, de apagão elétrico que não aconteceu à inflação que a dez anos não estoura a meta ( absurdo!), preço da gozolina, etc. Poderão agora assumir o poder em s paulo já que a comunicação será tudo na solução do problema.

    O povo de são paulo está com eles, e suas instruções serão prontamente compridas e o problema, uma  sedizinha aqui, outra ali, uma ou outra industria parada, coisinha pequena, será valorosamente vencido. Ao pig o que é dele.  A comunicação global mostrará seu valor. O jn comandará as ações.

    O pig mostrará seu valor. E vocês dos blogs sujos, vão tomar um banho!

  5. É bom lembrar que:

    Geraldo,o enxuto,foi eleito em primeiro turno,dos mais de 600 municípios Paulistas Geraldo o enxuto só perdeu em UM deles,ainda assim por pequena margem.O povo de São Paulo conhece muito bem esse CANALHA,muito melhor do que esse cabeça chata que muito mal,vos escreve.Portanto a culpa dessa situação não e do Geraldo o enxuto e sim,da maioria dos paulistas que o elegeram.

  6. Engracadinho mesmo eh a

    Engracadinho mesmo eh a reportagem tautista da rede golpe em outro link de hoje.  Eles estao tirando o corpo fora e fingindo que NAO deram todo apoio mediatico aa palhacada de Alckmin…

    Entao ta.

  7. Eu gostei do titulo dado ao

    Eu gostei do titulo dado ao governador, Geraldo o Enxuto, mas na verdade ele sera sempre lembrado como,

    Geraldo o Mudo.

  8. Eu gostei do titulo dado ao

    Eu gostei do titulo dado ao governador, Geraldo o Enxuto, mas na verdade ele sera sempre lembrado como,

    Geraldo o Mudo.

  9. A Sabesp joga a culpa na

    A Sabesp joga a culpa na EletroPaulo, que verdade seja dita, é cheia de culpa também. Só que como esta última também é uma obra da tucanagem, a privataria, a tal culpa é repassada, aí sim, para o detentor exclusivo de todas as culpas, o administrador petista, o “poste do Lula”. Claro não se pode deixar de incluir o pestista-mor nessa jogada.

    Caramba, enganar paulista é como tirar pirulito de criança.

    “Desisdratos, sujos, fedorentos, sim. Mas antes de tudo anti-petista, afinal de contas não somos nordestinos” 

  10. prestidigitação

    O paulistano só vai tomar conhecimento da real aplitude da crise quando a mídia inclusive os blogs passarem a informar corretamente.

    Mesmo aqui no blog se comete o equivoco de afirmar que o reservatório tal tem por ex 6,x por cento da capacidade. Como se garantir isso se o marco ZERO foi atingido e ultrapassado no ano passado? Depois do marco zero o que vem são os números negativos. Isso é real!

    por ex: Hoje  estamos com dois metros ABAIXO DO NÍVEL DA CAPTAÇÃO.  Em outras palavras, Estamos chupando o que resta de lodo no fundo das represas, de canudinho. E vai acabar em 50 dias mantidas as condições atuais.

    Se de fato acabar, acabam a produção industrial, os empregos o PIB e a condição de sobreviver em São Paulo. Não haverá água para descarga no vaso sanitário, nem para o banho, menos ainda para lavar roupa! …..Caos!

    O Desgovernador de São Paulo conta só com a providência divina! É uma fé? semelhante a quem aposta na megasena. Apostamos todos, mas só R$ 2,50 e não o emprego,  a vida da família e do estado. Isso quem faz é uma cruza de chuchu com tucano piguento. 

  11. CONTRA DOR DE CORNO: AÇÕES DA PRIVATIBRÁS PAULISTA!

    Cansei de ouvir de meus conterrâneos paulistas que a iniciativa privada é remédio desde calvície até dores de corno; contudo os paulistas não viram o óbvio, portanto não previram o inevitável e continuarão a comprar gato por lebre da “mírdia” marreteira. Num oportunismo ilógico, elegem administrações que prometem eficiência para as empresas se achando entre iguais! Será que é porque assalariam uma empregada doméstica, já esfolaram um trabalhador braçal nordestino ou tem a mesma quantidade de melanina que a dos capitalistas? A mudança do paradigma administrativo estatal de tocador de obras para “cortador de onda” dos “parasitas” funcionários públicos imposta pelo FMI, iniciada durante a Ditadura e operacionalizada pelas globos, continuará sendo a maior mudança climática que produziu a seca nas torneiras e produzirá outras, como a elétrica, da educação e de transportes; tudo isso enquanto o paulista continuar parecendo a migrante boçal, recém chegada, que perde a virgindade no primeiro sono dormido num banco da Praça da Sé. São Paulo, um estado rico de preconceitos…

  12. Não está “faltando água” !

    O governador artista disse que o que a população – e não ele – está vivenciando é um período de “restrição hídrica”; é como se falta de vergonha na cara fosse restrição de honestidade ou algo assim. E como tem paulista para votar nesses impostores que, rigorosamente, só fazem agradar (e como) os acionistas da SABESP. e quem vacilar, que pague mais, sempre mais, na forma de multas e outros castigos. É o PSDB trabalhando para você.

    1. O modo PSDB de “jerar”

      Alckmin “tucanou” a falta d’agua e a vergonha na cara, tucanaram ha muito tempo. So espero que não sobre muito para o prefeito Haddad e a presidente Dilma, pois tenho certeza que estão fazendo de tudo para passar a responsabilidade aos outros. 

  13. No final a vitória do Barão

    No final a vitória do Barão de Pindamonhangaba é excelente porque aí o problema cai no colo certo.

    Qualquer um que ganhasse estarai em maus lençóis.

     

  14. A flauta e a calamidade pública

    Enquanto a mídia toca a flauta e desvia todas as atenções para a Petrobras, São Paulo, a cada dia, consolida o estado de calamidade pública que em breve não poderá mais ser acobertado. A cumplicidade politica entre a mídia e o governo do estado de São Paulo deverá caracterizar o maior ato de omissão e incompetência da história do Brasil. Incrível a passividade com que a  mídia e o governo estadual encaram a situação, e ao que tudo indica em nome de um projeto ideológico.

  15. capaz do enxuto argumentar

    capaz do enxuto argumentar que é hora de privatizar ainda mais o estado.

    o alqumisita e seus medíocres assemelhados capitalizam o caos.

    são mestres nisso, ancorados nagrande mídia.

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