O Brasil está morto, longa vida ao Brasil!, por Fábio de Oliveira Ribeiro

O Brasil está morto, longa vida ao Brasil!

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Luis Nassif iniciou sua última sobre o golpe com a seguinte frase:

O ponto central da estratégia consiste em destruir a principal peça do xadrez adversário: o mito Lula.” 

A estratégia dos golpistas foi destruir o tabuleiro de xadrez retirando de cena a soberania popular como fundamento do poder político. O impedimento mediante fraude, porém, não impossibilita a realização de eleições presidenciais.

Para completar a tarefa, o golpe teria dois caminhos: cancelar as eleições ou garantir um resultado eleitoral a qualquer custo. Lula não é apenas um candidato, ele é o símbolo da soberania popular que os golpistas precisam desesperadamente manter fora do jogo, pois não me parece provável que eles consigam apoio militar para cancelar as eleições.

O espaço para o consenso das elites foi destruído porque o golpe não conseguiu destruir o PT. Mesmo que Lula seja impedido de disputar a eleição o resultado dela é incerto. Esse pequeno detalhe é o que mais desespera os golpistas e analistas e avalistas políticos do golpe.

O general Etchegoyen obedece o usurpador, mas ele não é obedecido pelos outros generais. Há militares que fazem de conta que obedecem Michel Temer. Alguns demonstram claramente sua insubordinação. O dispositivo militar de Michel Temer é tão ou mais frágil do que o de João Goulart. O espaço para um consenso militar também não existe. 

À deriva, o golpe vê seu tempo se esgotar sem que um candidato viável entre em cena. Aguilhoado pelo medo de responder pelos crimes antigos e recentes, Michel Temer colocou seus cabos eleitorais fardados nas ruas. Mas políticos influentes que apoiaram o golpe já começaram a se afastar do usurpador. Isso ficou evidente durante o enterro da reforma previdenciária. As chances eleitorais do usurpador são quase nulas e serão definitivamente anuladas se Eduardo Cunha cumprir sua promessa de implodir a república.

O golpe de 1964 produziu unidade. O golpe de 2016 apenas acirrou as divisões que haviam entre os golpistas. Os interesses deles são conflitantes demais para serem coordenados de maneira a estabilizar o novo regime. O vácuo deixado pelo golpe poderia ser preenchido por Jair Bolsonaro, mas ele ainda não foi capaz de demonstrar competência suficiente para ampliar sua base eleitoral. Além disso, Bolsonaro encontrará forte resistência nos meios militares.

Há pouco mais de um ano disse aqui mesmo no GGN que a patifaria de 2016 tinha tudo para destruir a ideologia do direito ao golpe de estado. O sucesso na Alemanha do documentário que foi feito sobre o golpe e a criação de disciplinas universitárias sobre o que ocorreu indicam que minha análise estava correta.

Ao fim do seu texto, Nassif demonstrou preocupação

“Esse momento exigirá bons estrategistas do lado do governo: como reagir, sem alimentar a tese do contragolpe. E exigirá também um material escasso no jogo político-midiático atual: moderadores, mediadores, na mídia, no Judiciário, no Congresso e no Executivo, que impeçam que se jogue mais gasolina na fogueira.”

Creio que o retorno da democracia é mais provável do que a eleição de Bolsonaro. Mas concordo com Luis Nassif. Agora só uma “novidade explosiva” conseguiria abalar o país e colocá-lo num curso diferente daquele que é indesejado pelos golpistas, mas eu não estou me referindo a prisão de Lula. Preso ou solto, candidato ou não, Lula influenciará o resultado das eleições de maneira positiva. A escuridão, porém, espreita.

“As forças políticas que garantiam a coesão do Brasil foram destruídas. A fragmentação territorial será inevitável. Enfraquecido o Exército não conseguirá nem mesmo movimentar tropas para defender nossa unidade. Em algum momento, porém, as empresas de comunicação também começarão a colher o que plantaram. A ganância pelo poder resulta sempre em húbris.”

Há dois dias sonhei que a Embaixada dos EUA foi reduzida a cinzas por uma grande explosão. Portanto, não ficarei surpreso se os desesperados serviçais do usurpador (ou, quem sabe, os inimigos de Michel Temer que querem se livrar tanto do PT quanto desse governo impotente, corrupto e fraco que destruiu a economia do país e sua credibilidade externa) realizarem uma típica false flag operation. No Brasil, porém, nada é tão simples. Nosso pesadelo político é permanente; um fator estruturante da realidade brasileira. Ele impede a realização de alguns sonhos e raramente nos permite ver o que se passa nos bastidores onde todos as esperanças e angústias são cozidas no fogo brando.

O brasileiro não é cordial como disse Sérgio Buarque de Holanda. Ele também não é um adepto ou um fruto da miscigenação como sugeriram Gilberto de Mello Freyre e Darcy Ribeiro. O brasileiro é bunda-mole e essa talvez seja a sua maior virtude. Somos vis, toleramos o intolerável, suportamos o insuportável não porque somos fortes, mas porque sabemos que somos fracos. A pátria é grande, mas a praia ensolarada é maior.  

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

11 Comentários

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  1. Há alguns dias, postei um
    Há alguns dias, postei um comentário em que dizia, mais ou menos, que as coisas estavam chegando a um ponto em que seria necessário voltar ao satanizado Frantz Fanon, para entender que o nosso problema era sair do estágio colonial, do qual só aparentemente nos havíamos libertado. Por algum motivo, o comentário não apareceu.
    Mantenho a opinião. E, ao contrário do que havia recomendado antes, aos mais fracos e melindrosos, não parem ao final do prefácio de Sartre.
    O Brasil não morreu. Sofreu aborto, em 54, outro em 64, foi um natimorto em 89.
    E, em 2016, finalmente ligaram as trompas.

  2. Eu acho que o brasileiro é

    Eu acho que o brasileiro é meio perdido, sem rumo. Gosso modo: para começar nos não temos uma educação escolar de peso. O Brasileiro não lê. Isso é tragico. Eu envio artigos, indico livros e dou livros e em geral não tenho retorno. Um povo assim, crédulo, supersticioso, é de facil manipulação e então esse buda-molismo do qual afirma Fabio Oliveira entre outros problemas.

  3. O Brasil….

    “O brasileiro é bunda-mole e essa talvez seja a sua maior virtude. Somos vis, toleramos o intolerável, suportamos o insuportável não porque somos fortes, mas porque sabemos que somos fracos. A pátria é grande, mas a praia ensolarada é maior.” Você está descrevendo a Elite Esquerdopata. Esta é a frustração desta Elite Parasitária que não se enxerga Elite. Em 2013, assim como o Coronelato a quem sempre deu apoio, ficou assombrada com os Brasileiros na rua. E não foi a 1.a, nem 2.a, nem 3.a vez , como demonstrou uma matéria, há alguns dias, neste mesmo veículo. Só que de outras vezes, o Povo Brasileiro se deixou enganar por promessas de Dons Sebastiões, Pai dos Pobres, Salvadores da Patria. Algum Caudilho, inventado por factóides da Imprensa Ideologizada. Esta Elite Esquerdopata se aliou a um Ditador para derrubar através de golpe, nos anos de 1930, um Governo Eleito Democraticamente. Assasinou Estudantes desarmados, mas mesmo assim sua aurea de Pai dos Poibres foi mantido. Extensas territórios dentro do Orçamento Público foram transformados em Feudos. Um Novo Estado ou Estado Novo, que perdura até hoje. Não é à toa que mesma Elite, que em outro golpe contra a Nação, transformou o Líder do Regime Militar, no 1.o Presidente Civil da Redemocracia. E a partir daí, seu principal General. É muito fácil porque impuseram Eleições Obrigatórias, uma excrecência quintomundista. E não alteram esta Ditadura, nem quando destituidos do Poder. Sabem que seus Feudos dentro do Estado continuarão garantidos. O conluio e cumplicidade já dura quase 1 século. O discurso acabou. A máscara caiu. O desepero é grande. 1964 está chegando ao fim. Ou será 1930? Ou 2018? Passar por vitimas se aliando a um novo Ditador, não colará mais.   

    1. O golpe de 2016 garantiu

      O golpe de 2016 garantiu lucros astronômicos aos  Bancos (renúncia fiscal + taxa de juros elevada) e custou ao Brasil 12,5 milhões de desempregados, redução da arrecadação tributária e um pibizinho de 1%. É isso que você está defendendo. Se você for banqueiro, parabéns. Caso contrário você é apenas um idiota util e seu comentário é fruto de idéias passíveis de serem consideradas delirantes.

      1. Seja honesto:
        a. Final do

        Seja honesto:

        a. Final do primeiro governo Dilma (2014): 6.452.000 de desempregados ou 6,50%.

        b. Final do segundo governo Dilma (12 de maio de 2016): 11.089.000 de desempregados (março) ou 10,90%.

  4. “O brasileiro é bunda-mole e

    “O brasileiro é bunda-mole e essa talvez seja a sua maior virtude. Somos vis, toleramos o intolerável, suportamos o insuportável não porque somos fortes, mas porque sabemos que somos fracos. A pátria é grande, mas a praia ensolarada é maior. “

     

    Discordo. O Brasil é tão rico, mas tão rico em tudo que for recurso natural nesses 8,5 milhoes de Km2 que “não é possivel não rouba-lo”. Como quase disse o André Araujo, mas não disse ainda, o Brasil é uma colonia colonizada por brasileiros, e como colônia é assim explorada.

    1. Somos bundas moles sim

      Somos bundas moles sim senhor.

      Se tivéssemos sangue nas veias TODOS estes gopistas miseráveis já estariam no cemitério. Todos, sejam políticos, membros do judiciário, empresários, etc etc

  5. Algo além do bunda mole.

    Estamos assistindo agora as prleiminares da greve convocada pelo sindicato dos magistrados.. Se até quem vive e morre mamando nas tetas do estado, dando praticamente nada em troca  parte para se apossar do que resta do espólio nacional, isto é crise. .Em 2013  rede globo-mbl  atendendo desígnios estrangeiros deflagrou campanha destruidora de governo brasileiro. Nosso judiciário já perambulava nas aventuras iniciadas sob regência do barbosa destruindo nosso estado de direito . 2014 elegeu nosso mais venal legislatvo, também escorado em interesses espúrios. Os comandantes cunha e maia conhecem bem as vozes de seus donos. Uma aventura sem destino , sem lider responsável, que já destruiu muito da nossa economia e causa cizânia. nos lesa agora e no nosso futuro. Que Deus nos ajude..

  6. e o Paraguay?

    É incrível que após a fraude de Honduras, nenhum analista está prestando atenção ao Paraguay, que tem eleições marcadas para o próximo mês. Parece que só Lula e Celso Amorim conseguem olhar para a AL.

  7. Texto seminal ou sentimental?

    Que texto mais demagógico. Infantil: quer dizer que somente porque os sonhos da grande guerra  ou revolução ou antigolpe não ocorreram, se joga a toalha e o bebê juntos? Nisso está a fraqueza dessa gente letrada de centro, esquerda, nacionalista, progressista ou sei lá qual rótulo agrada ou desagrada mais. A realidade não funciona assim. Como escreveu outro autor a tal da direita, outra besteira, sabe muito bem fazer seu trabalho. Bem até demais. Não é essa a dinâmica da História. Se fosse pelo pensamento mágico, Cuba, Venezuela estariam no céu.Não se vai ao paraíso material pela vontade de um messias ou salvador. Ou por um ditador ou um ceo eficaz. A China mais pragmática entubou de vez seu próprio povo. Coisa que os EUA e UE planejam atráves dos chips. A conclusão rídicula, afirma que tudo aconteceu porque não se fez nada! Ou se fez mal. Como assim? O autor chegou de Marte recentemente? Pensando bem logo  vou fazer uma lista soviética- cristã- milenium para o partido do complexo de vira-lata nacional. Quem sabe assim somos poupados desse novo Febeapa, o inesquecíve e risível festival de besteiras que assola o pais, agora com a preciosa contribuição dessa estirpe, que como afirmou Jessé Souza em a Tolice da Inteligência brasileira adora meter as mão pelas pernas, prejudicando mais ainda nosso povo e país. Com espaço  premium reservado para autores bundas moles ou como captou Umberto Eco, apocalíptico-e/ou integrados!!!  Morou???

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