Urariano Mota
Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".
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O Estado policial no Brasil, por Urariano Mota

O Estado policial no Brasil

por Urariano Mota

As mais recentes notícias de quebra do sigilo telefônico da presidência da república, feitas a partir da direita em Curitiba, Sérgio Moro e polícia federal, causam espanto e indignação. Não bem pelo teor divulgado em primeiríssimo lugar pela Globo, a mídia de preferência da República de Curitiba. Ou seja: :

“- Dilma: Alô

Lula: Alô

Dilma: Lula, deixa eu te falar uma coisa.

Lula: Fala, querida. Ahn

Dilma: Seguinte, eu tô mandando o ‘Bessias’ junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!

Lula:  Uhum. Tá bom, tá bom.

Dilma: Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.

Lula: Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando.

Dilma: Tá?!

Lula: Tá bom.

Dilma: Tchau.

Lula: Tchau, querida. “

Não por isso. O escândalo, que os comentaristas da mídia passam por cima, escondem e sequer mencionam, é a maior ilegalidade: a quebra de sigilo de um presidente da república,  a exposição pública de telefonemas da presidenta Dilma Roussef.  O que é isso?

Já antes, quando houve a quebra ilegal do sigilo de José Dirceu, já se havia visto. A partir da análise geográfica da longitude e latitude das áreas abrangidas pela quebra de sigilo, constatou-se que numa das coordenadas estava o Palácio do Planalto – o que representou  violação ao direito de privacidade da sede do Poder Executivo.  Na ocasião, o cientista político Luís Cláudio Guimarães alertou:  

“O caso grave é que em função de uma investigação se pediu, de forma atabalhoada e sem critério, a quebra de sigilo de telefones que estavam funcionando dentro do Palácio do Planalto e isso representa uma invasão dentro do Poder Executivo”.

Já ali, penetrava-se na sede do governo brasileiro, da mais alta autoridade do país. E não houve a grita e clamor necessários, na quebra do sigilo das comunicações do governo. Hoje, diante do escândalo abusado, pornográfico, que os comentaristas da chamada grade mídia não veem, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da Repúblcia destaca em nota:

“4 – Assim, em que pese o teor republicano da conversa, repudia com veemência sua divulgação que afronta direitos e garantias da Presidência da República.

5  – Todas as medidas judiciais e administrativas cabíveis serão adotadas para a reparação da flagrante violação da lei e da Constituição da República,  cometida pelo juiz autor do vazamento. “

Ao que acrescento: a polícia federal, auxiliar do ditador de Curitiba, tudo pode. Espionar, prender, coagir, chantagear, iludir e escarrnecer. Mas ganhou, além da ilegalidade de um Estado Policial, o papel de novo oráculo da imprensa. Além de espionar qualquer um, inclusive a presidência, a polícia  interpreta à sua maneira o que grava. Isto é, conforme o objetivo de derrubar Dilma, cercar e prender o ex-presidente Lula.

Onde chegaremos? Pior, onde foi que chegamos? É hora de um vigoroso movimento da opinião democrática e civilizada, de todos os cidadãos, povo, intelectuais e artistas, para que não se caia de vez no fascismo, que deixou de ser uma ameaça no Brasil. O fascismo é presente nos despachos e decisões  do juiz Sérgio Moro, ações da polícia federal, avanço da direita no congresso e na grande imprensa. Ou nos movemos agora ou não teremos quem nos lamente ou proteste quando chegar a nossa hora. Se espionam a presidência da república e ninguém se escandaliza, ninguém mais está a salvo. Todos democratas somos ou seremos criminosos, se o juiz Sérgio Moro achar. Aguardaremos passivos a nossa prisão?

Urariano Mota

Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".

5 Comentários

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  1. O que fazer?

    Uraniano, subscrevo seu artigo palavra por palavra. Muito obrigada! A grande imprensa se escuda atrás de uma “liberdade” que já não é mais nem libertinagem, mas algo muito pior. A primeira página da Folha de hoje, além de mentirosa, é de extrema leviandade ao colocar mais lenha na fogueira e jogar gasolina em cima. A mídia está incendiando o Brasil. Tenho divulgado o quanto posso via e-mail artigos que leio nos “blogs sujos” – a única forma de comunicação ainda limpa do nosso país. Mas a impotência está me sufocando. Aos setenta e dois anos pensava haver visto de tudo em termos de banditagem. O que virá a seguir? O que? pessoas como eu poderiam fazer? Indignar-se é muito pouco!

  2. Moro ou protótipo de Moro.

    Pensando neste sentido, até as nossas postagens podem ser comprometedoras.

    Mas, é o mínimo preço a pagar para manter a sanidade nestes tempos de delírio coletivo que atinge até familiares dos mais chegados.

    É uma avalanche devoradora.

    Vamos ter que reconstruir sobre o que sobrar.

    Agora é madrugada e está tudo escuro, mas logo, logo,  amanhace……

  3. CONSCIENTIZAÇÃO DA SOCIEDADE

    Há tempos alguns observadores da conjuntura política têm alertado para o crescente avanço do fascismo e para a urgente necessidade de conscientizar a sociedade em defesa do Estado Democrático de Direito. Os recentes desdobramentos da crise promovida pela direita golpista reforçam as evidências da gravidade dos riscos potenciais. Todavia, é indispensável agir com prudência, através da articulação de amplas iniciativas voltadas para a mobilização das instituições democráticas representativas da sociedade civil.

  4. Impotência
    Conversando com parentes e amigos é fácil entender como chegamos a esta situação: a voz que se houve é uma só, a dos grupos de mídia, e a mensagem clara: “estamos defendendo os probos e idôneos. Todo o resto não presta.” Todo o resto não presta e não tem voz – cassada pelos meios de comunicação de massa – portanto, nao ha contraditório nem espaço para ideias e posturas diferentes. Quem não está conosco deve ser silenciado ou exterminado.
    As pessoas ouvem, se assustam, se convencem e as vozes dissonantes são caladas ou caçadas, como no caso de Lula, para dar o exemplo mais significativo.
    Faltou pulso para coibir os abusos.
    Assustador.

  5. é isso, mota…
    ou nos

    é isso, mota…

    ou nos movemos ou estamos ferrados…

    pra quem passou pela violencia de 64 como  eu,

    mais uma vez  é abominável…

    hoje me manifesto pela nossa sobrevivencia….

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