O Globo e o petróleo ou o primevo parente do Parente, por Marco Aurélio Barroso

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O Globo e o petróleo ou o primevo parente do Parente.

por Marco Aurélio Barroso

Se o Sr. Pedro Parente pensa que sai de cena levando na bagagem vários crimes de lesa-pátria e com o título de o maior traíra do povo brasileiro, ele se engana.

As normalmente belas folhas da natureza levam-nas o vento, mas existem outras, no entanto, que mesmo ressequidas pelo tempo, volta e meia voltam à tona e nos elucidam fatos passados e… esquecidos, são as jornalísticas.

A disciplina adotada pelo O Globo, com a chegada à sua chefia editorial do Sr. Roberto Marinho, sempre foi a favor dos Estados Unidos da América do Norte e, ipso facto, anti-nacional. Provavelmente na imprensa brasileira, nenhum outro órgão dispute com ele essa triste hegemonia. Falaremos hoje, a voo de pássaro, de seu nefasto e nocivo procedimento relacionado ao petróleo e aproveitaremos para enquadrar o Sr. Parente aos seus devidos termos.

O Pedro Parente dos anos 30 chamava-se Odilon Braga. Ambos entreguistas, ambos criminosos e traidores da pátria. Ambos arduamente elogiados pelo O Globo.

Nos anos 30, muitos desbravadores -Oscar Cordeiro, Edson Carvalho, José Bach, Monteiro Lobato, entre outros – a expensas próprias, perambulavam pelo interior do Brasil à procura do “ouro negro”. Todo nosso combustível, em lata, vinha dos Estados Unidos, fato que desde já mostra a proeminência incomensurável dos yankees sobre nosso destino.   

O que se dava é que, ocasionalmente, esses desbravadores chegavam à capital federal com pequenas amostras de material recolhido que espelhavam ostensivamente aviabilidade de jazida de petróleo na região. Esse fato aconteceu muitas e muitas vezes.

Aí entra O Globo! Enaltecendo ou glorificando o feito desses mártires nacionais? Não! Mas, manipulando a realidade para atrasar, procrastinar e desqualificar a descoberta. Odilon Braga, como Ministro da Agricultura, era o responsável pela prospecção do petróleo e era a ele que O Globo procurava para tal política.

A coisa era sutil, mas facilmente detectável. Vejamos alguns excertos publicados pelo O Globo em 1926: (negrito e itálico do autor)

Está no programa das discussões um contrato feito pelo governo espirito-santense, para exploração de jazidas petrolíferas no território de sua competência. Sem fazer parte do cancan, que os debates geraram, em torno da legitimidade do contrato, vale a pena observar o progresso que vai alcançando este novo gênero de indústria nacional, que é a exploração do petróleo. Em toda parte, hoje, se encontram indícios de petróleo…

Alagoas, Santa Catarina, Rio Grande, Espírito Santo, Bahia, todos os Estados, em suma, estão a pique de se tornarem fornecedores de combustível. Logo nos inícios dos trabalhos parlamentares, o ministério da Agricultura pediu ao congresso um crédito de 2 mil contos (apenas…), para custear as pesquisas das minas de petróleo! Isto tudo nos leva a crer que o petróleo constitui, hoje, em dia, um problema nacional… resta que S Paulo descubra indícios em seu território, para que outra mina de petróleo se instale na capital daquele Estado, completando assim, essa obra prima de astúcia, que tende a enriquecer subitamente as fontes inesgotáveis, que aponta o regime como modelo aos povos, que ainda perdem tempo em extrair petróleo das entranhas da terra. As minas de petróleo nacional são magníficas, rendosas enquanto não abasteçam o mercado… abastecem os felizardos, o que não é pouco…

Para O Globo – fica-nos patente – ser uma questão de astúcia e perda de tempo descobrir-se petróleo no Brasil. É que à época, não nos esqueçamos, a oferta era muito maior do que a procura e era fundamental para os americanos que não se descobrisse petróleo em parte alguma do planeta. E, se descoberto, como conta Monteiro Lobato, teria de ser de propriedade dos yankees. Vários brasileiros foram assassinados por enfrentarem e resistirem à essa política, nos informa o grande escritor brasileiro. José Bach foi o primeiro.

Já em 33, em sua página 2, lia-se:

Noticia-se que foi encontrada uma grande jazida de petróleo na Bahia. A notícia impressiona porque malgrado todas as alvíssaras análogas, nunca se constatou a existência real de petróleo, em nenhuma região do país. O que se tem visto não passa de rebates falsos…

A descoberta de veios petrolíferos alteraria profundamente a vida nacional. Em regra a nossa economia luta contra a míngua dos combustíveis. Em regra, os países que não têm combustíveis se tornam subsidiários dos países que os exportam. O carvão, o petróleo e a gasolina constituem verdadeiros drenadores das nossas energias econômicas. O Ministério da Agricultura mantém, há muitos anos, um serviço técnico de pesquisa. Todos os esforços gastos, porém, até agora, não produziram resultados sensíveis. Em nenhum ponto do país apareceram indícios claros, incontestáveis, da existência de jazidas de petróleo. Por isso é que a notícia da Bahia impressiona. Pode ser…

A descoberta de petróleo entre nós revolucionaria todo o nosso sistema econômico. Oxalá isso venha a acontecer.

Nesse longevo artigo de 33, tem-se o x da questão. Esse Ministro da Agricultura aqui citado é o famigerado Odilon Braga, aquele mesmo que entrou para história como o único ministro de Getúlio Vargas a se recusar apor sua assinatura na polaca, mas jamais citado por essa mesma história como um dos maiores entreguistas que o Brasil já experimentou.

Por desdenhar de todos esses desbravadores, O Globo estava sempre a procurar Odilon para materializar o que o ministro explicava.

Perceba-se que a última linha do artigo que assume ser o petróleo a grande riqueza que revolucionaria todo nosso sistema econômico vem numa segunda página e não como título do jornal…

Cada vez mais chegavam à capital amostras de petróleo, cada vez mais O Globo procurava Odilon.

Aqui, no caso, seria de muito bom alvitre se indagar como que Getúlio Vargas, tido e havido como o mais nacionalista dos presidentes, facultou a esse traíra degenerado permanecer como ministro de julho de 34 a novembro de 37?

A função de Odilon era protelar tudo relacionado à descoberta do petróleo e prejudicar o progresso de nosso país.

Nesses árduos anos da descoberta do petróleo, formou-se uma grande confusão, ou melhor dizendo, um grande problema pois, no Brasil, as soluções, normalmente, transformam-se em problema, e para resolvê-lo foi formada uma comissão pelo Ministro da Agricultura, cuja função principal era atrapalhar e postergar o avanço das prospecções. Monteiro Lobato esbravejava dizendo que os sabotadores estavam dentro do próprio ministério. Mas, vamos ao Globo de 1936:

O min. Odilon Braga declara ao Globo que o governo tudo esclarecerá em grande inquérito. Fui obrigado, diz o Min da Agric. Odilon Braga, retardar por alguns dias a conclusão da “Exposição” que estou fazendo ao Pres. Getúlio V., sobre o palpitante problema do petróleo, porque os dados colhidos pelos técnicos do Min. da Agric., recém chegados da missão de estudo para que forem enviados à nossa fronteira com o Peru, modificaram o primitivo plano que para ela eu havia organizado.

O governo tem o máximo empenho em que tais investigações se estendam a todos os aspectos do problema, inclusive os da própria orientação doutrinária dos nossos órgãos técnicos. [???] Devo dizer que estou acompanhando com o maior interesse a ação desenvolvida pela imprensa, no sentido de focalizar o problema, considerando digna de todos os louvores a intensidade com que ela se desenvolve.

De acordo com a comunicação que dirigiu ao governador de Alagoas, em Ofício de ontem, divulgado pelo O Globo, o Min. das Agric. determinou que uma Comissão de Geofísicos composta exclusivamente de técnicos brasileiros do seu ministério, recomece, naquele Estado, partindo da fronteira com Pernambuco, os estudos e pesquisas sobre petróleo naquela região.

Toda essa investigação vai dar em nada. Nenhuma delas deu em algo. A estratégia é a da procrastinação. Abaixo, alguns poucos exemplos de O Globo procurando Odilon para explicar o inexplicável, isto é, a satisfação em atrasar o progresso do Brasil.

O min. Odilon Braga declara ao Globo que o governo tudo esclarecerá em grande inquérito. Rigoroso inquérito sobre o petróleo no Brasil. Até as companhias criadas para exploração do precioso combustível será examinada. Como falou ao Globo sobre o momentoso assunto o ministro da Agricultura.

Fevereiro de 36:

Fui obrigado diz o Min da Agric. Odilon Braga, retardar por alguns dias a conclusão da “Exposição” que estou fazendo ao Pres. Getúlio V., sobre o palpitante problema do petróleo, porque os dados colhidos pelos técnicos do Min. da Agric., recém chegados da missão de estudo para que forem enviados à nossa fronteira com o Peru, modificaram o primitivo plano que para ela eu havia organizado

Maio de 36:

O Min. da Agricultura continua inquirindo. O inquérito sobre o caso do petróleo promete ir longe ainda. Enquanto isso acontece, as perfurações e pesquisas permanecem em atraso…

Setembro de 36:

O Sr. Odilon Braga fala ao Globo sobre petróleo e demais problemas subordinados ao seu departamento…

[…]Sobre esse assunto procuramos ouvir o titular da Pasta da Agricultura. O Sr. Odilon Braga que estivera quase 1 semana em Minas Gerias onde assistiu ao Congresso Eucarístico regressando a essa capital tras-anteontem, à noite…

Fevereiro de 37:

Em torno desse assunto, o Sr Odilon Braga forneceu-nos uma ampla entrevista fornecendo-nos seu ponto-de-vista, que coincide inteiramente com o trabalho da Constituinte na defesa dos interesses coletivos

– Levados para a Venezuela documentos secretos do Ministério da Agricultura? – O deputado Café Filho formulará novo requerimento à Câmara.

A questão das pesquisas para a descoberta do petróleo no Brasil tem ocasionado um série interminável de denúncias e acusações contra o Departamento Nacional de Produção Nacional e os técnicos encarregados desse serviço, alguns estrangeiros, contratados pelo Ministério da Agricultura. As denúncias e acusações se referem, de um modo geral, à cabotagem que estariam sendo levadas a efeito pelos referidos técnicos no sentido de evitarem a descoberta do ouro negro em território nacional.

Na mesma reportagem:

[…] procuramos ouvir o Ministro Odilon Braga a respeito.

O Ministro da Agricultura nos informou que há certa precipitação em torno do assunto. A fim de elucidar completamente o caso relativo ao Estado de Alagoas, o ministro declarou que estão ainda na fase inicial as negociações do ministério com o governo daquele Estado.

Maio de 37:

Com o ofício, que abaixo publicamos, dirigido ao Sr. Odilon Braga, titular da Agricultura, pelo Sr. Pires do Rio, Pres. da Comissão de Inquérito sobre o Petróleo, começa surgir o que de verdade existe no caso do petróleo nacional e que tanto ruído vem causando na imprensa do país.

Ao que informa o presidente da Comissão que investigou o assunto do ponto de vista técnico como de seu ponto de vista moral, colhe-se que o incidente se limita a uma campanha publicatória, cujas acusações não puderam ser provadas no transcurso do inquérito.

Em agosto de 37, O Globo entrevista Odilon, mas nem toca no assunto petróleo.

Já em setembro de 37

A imprensa do Pará, segundo telegramas que recebemos salientam,o interesse geral, despertado naquele Estado pela visita do Sr. Odilon Braga. Ao pisar no Pará, S. Excia foi festivamente bem recebido.  

Esses exemplos poderiam ser multiplicados à outrance para esclarecimento do leitor, mas não há necessidade. O assunto petróleo não era um dos preferidos de O Globo. O Globo só ia a ele para fingir uma solicitude que não abraçava. E sempre que ia, procurava o entreguista Odilon.

Mas, acontece que em 21 de janeiro de 39, finalmente, o petróleo, já fulo da vida contra o Governo, Odilon Braga e traidores, como uma fera colérica e enfurecida, explode da terra sujando a todos abundantemente.

Que faz O Globo? Rapidamente, coloca-se ao lado dos desbravadores, abre espaço em primeira página para seus semblantes fotográficos e joga Odilon na lata do lixo.

Edição das 17 horas do dia 25 de janeiro de 39:

Título: Lutando contra os derrotistas do Brasil – Durante sete anos foi boicotado o nosso petróleo.

Ora, ninguém o boicotou mais do que O Globo e Odilon Braga, mas como o veneno vem sempre ao rabo, que se leiam as linhas seguintes. Elas mostram de maneira contundente e definitiva o que O Globo é: (o excerto é de 1940):

É o gosto do mistério, a mania da auto-suficiência dos técnicos, que nos tem teatralmente explicado mais de um desastre da ignorância, inclusive nessa questão do petróleo. Aí está, aliás, um patrício ilustre por muitos títulos, o Sr. Odilon Braga, que teria falido no assunto do petróleo nacional pela sua ingenuidade de dar ouvidos a especialistas e fantasistas, de ocasião ou importados. Quem quer que acompanhe essa matéria não esquece a firmeza com que aquele ministro declarou em substancioso questionário não haver no Brasil nenhum indício veemente que legitimasse qualquer campanha pesquisadora do petróleo. Assim não escassearam técnicos ao Sr. Odilon Braga, porquanto o que lhe faltou foi apenas espírito de isenção e crítica diante das primeiras que já então tinham vindo de Lobato, e espírito que o levasse a indagar qual o interesse dos engenheiros nacionais em proceder a mistificações, arranjando produtos que seriam estranhos àquele cenário geológico. Aliás, que o ministro não quisesse testilhas perigosas com os seus técnicos, bem que se compreende. Mas que o próprio Serviço Geológico, custeado permanentemente pelo erário público para alimentar seus viveiros de técnicos também convencesse o ministro das fantasias das amostras de Lobato, conhecidas oficialmente desde 33, ou seja há 7 anos, é o que admira e estarrece.

Reclama do Odilon por ter dado ouvidos a não especialistas, mas era a ele que O Globo dava ouvidos!    

Quanto tempo levaremos, depois de tantos elogios, para ainda ler em O Globo críticas acerbas contra Parente? Isso já aconteceu com Jânio, com Lacerda, com Juarez, com Juscelino, com Amaral Peixoto, com Afonso Arinos, com Odilon… porque não acontecerá com ele?      

A cláusula pétrea n°1 de O Globo – não esqueça – é não ter amigos, só interesses!

Marco Aurélio Barroso é o autor de O Globo e o Brasil – uma visão crítica do jornal que se perdeu a si mesmo no país que jamais se encontrou a si próprio.  ([email protected])    

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

1 Comentário

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  1. Redundante qualquer

    Redundante qualquer explanação sobre esta organização lesa-pátria incrustada em nossa mídia.

    No entanto,se a posição da família é conhecida,não são conhecidos seus motivos,assim como de outras famílias,também incrustadas em nossa mídia.

    Seriam americanos disfarçados de brasileiros? Ou algum tipo de alienígena?

    Provavelmente são alguns emissários de Deus enviados com a missão de destruir o Brasil,ou o povo brasileiro e,assim,corrigir um erro. Será?

     

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