O Pimp my carroça e a morte do catador Negão, por Mara Gama

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto Universo Jatobá

Jornal GGN – O catador de recicláveis Ricardo Silva Nascimento, de 39 anos, foi assassinado em São Paulo por cinco policiais militares. Eles foram afastados de suas funções nas ruas, mas estão fazendo serviços administrativos, disse a Secretaria de Segurança Pública. Ricardo foi recolhido ao IML, sem mais atividades e sem vida.

O policial que atirou disse que Ricardo ameaçou sua vida com um pedaço de pau. As testemunhas dizem que a ação do catador não representava ameaça à vida do policial. Ricardo levou dois tiros.

Mara Gama, colunista da Folha, traça um perfil do catador assassinado e desenha o universo dos catadores de São Paulo e do belíssimo programa Pimp my Carroça.  O Pimp pintou de branco a carroça de Negão, como Ricardo era conhecido, e a deixou na região em que o assassinato aconteceu, lembrando a presença do catador como fazem os ciclistas com suas perdas.

Leia o artigo a seguir.

na Folha

Pimp my Carroça: cinco anos de rua com os catadores

por Mara Gama

A morte do catador de recicláveis Ricardo, pela Polícia Militar, na quarta-feira, 12 de julho, chocou o bairro de Pinheiros, em São Paulo. Pela internet, vídeos e fotos da comoção causada pela morte se espalharam.

Foi ato de extrema violência, com cara de execução, pelos tiros seguidos depois que ele havia caído no chão, segundo relatos de testemunhas, e da manipulação no local do crime pelos policiais, já apontada pela Ouvidoria da PM.

A Secretaria da Segurança Pública de SP afirmou que afastou esses policiais “do trabalho nas ruas” e que foi instaurado inquérito com acompanhamento pela Corregedoria da Polícia.

Ricardo Teixeira Santos, Ricardo Silva Nascimento, Ricardo Oliveira Santos. O nome dele aparece de três formas no noticiário.

Na noite desta quinta, 13, um grupo de manifestantes fez uma caminhada pelas ruas da região, em protesto pela morte.

A carroça de Ricardo, Negão, como era conhecido no bairro, foi pintada de branco, decorada com fotos e flores, e colocada na esquina da rua Morato Coelho com a rua Navarro de Andrade. A ideia foi inspirada no ritual que os ciclistas têm adotado quando um deles é morto por atropelamento na cidade. Pintam de branco e pregam a bike como cruz no local da morte.

O ato de protesto e a “pimpagem” da carroça foram organizados pelo Pimp My Carroça, um grupo liderado pelo artista e ativista Mundano e que completa cinco anos no próximo sábado, 15 de julho.

São cinco anos de ativismo para tirar das sombras, garantir o mínimo de segurança e conseguir respeito e remuneração adequada aos catadores, que trabalham dia e noite. Nas ruas. Recolhendo embalagens usadas por todo mundo. Para ganhar muito pouco. Os cálculos variam segundo as fontes: há entre 800 mil e 1 milhão de catadores em atividade no Brasil.

O Pimp começou atuando só em São Paulo, concebendo e organizando eventos em que as carroças são reformadas, têm suas estruturas reforçadas, ganham retrovisores, faixas que brilham, em trabalhos feitos por voluntários arregimentados por eles, e depois são pintadas e pichadas com desenhos de artistas convidados.

Enquanto têm as carroças “pimpadas”, os catadores recebem serviços de saúde, assistência e alimentação. Ganham uniformes também com faixas reflexivas e luvas. Hoje, cinco anos após o primeiro evento, que foi no Vale do Anhangabaú, em 2012, o Pimp My Carroça contabiliza atendimento a 845 catadores, em 42 cidades de 12 países. Foi ajudado por 769 artistas e 1.613 voluntários. Nos próximos meses, vai reunir catadores em Salvador e em Recife.

Em 2015, a ideia deu cria no Pimp Nossa Cooperativa. Com a mesma proposta. Levar voluntários e artistas para pimpar carroças e o espaço onde os cooperados trabalham na separação e armazenagem de materiais, em eventos que têm também oficinas e outras atividades. Só este ano, estão programadas mais oito. A próxima será no dia 21 de julho, na Cooper Viver Bem, em São Paulo.

Nos últimos três anos, o Pimp se dedicou a construir um aplicativo, o Cataki, que listará os catadores e permitirá que eles seja acionados e possam atender quem tem material em casa, de acordo com a proximidade do local. É, segundo o Pimp, uma nova alternativa de reciclar para além do serviço municipal, valorizando o trabalho do catador como agente ambiental na sociedade.

O Cataki será lançado neste sábado (15), e já pode ser baixado. O Pimp faz uma campanha de cadastramento colaborativo, por meio do site www.cataki.org, como forma de facilitar o mapeamento dos catadores. Quem cadastrar catadores ganha recompensas como adesivos, camisetas, gravuras e sprays. Só entram os que têm telefone, para que possam ser acionados.

No mesmo dia, no Auditório do Ibirapuera, haverá uma exposição de 205 miniaturas feitas pelo marceneiro Francimar Vale, o França, a partir de tacos retirados da reforma do escritório do Pimp My Carroça, e pintadas por mais de 150 artistas, entre eles Mundano, Iaco e o rapper Emicida. Os preços variam de R$ 100 a mais de R$ 5 mil. A renda das vendas será usada nas melhorias do aplicativo Cataki.

“Tenho ideias para uns três anos de desenvolvimento no Cataki. Implantar em várias cidades, mapeando os catadores e estabelecendo a conexão deles com as pessoas que precisam do trabalho, para que possam combinar horários e possíveis remunerações”, diz Mundano.

Uma homenagem ao Negão foi incluída na programação do sábado, 15.

Evento: 5 anos do Pimp My Carroça

Quando: dia 15, sábado, das 18h30 às 22h

Onde: auditório do Ibirapuera, av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, Parque Ibirapuera, São Paulo

Mais informações www.pimpmycarroca.com

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. Chame o ladrão!

    Ontem ainda comentava a violência da policia federal na fronteira, hoje, amanhã, depois de amanhã, ano que vem, estaremos aqui ou alhures comentando e sentindo que casos como esse, como o homem que mataram no final de ano no metrô/SP, continuem acontecendo. Até quando manterão a policia violenta como ela é? 

  2. Na verdade, …

    … a Folha de São Paulo, deveria traçar o perfil dos ASSASSINOS, … jagunços uniformizados, contratados pelo PSDB,  não para proteger o povão, … foram contratados para que a tucanagem, SE PROTEJA , do povão.

    andei lendo alguma coisa a respeito da estrutura moral e da doutrinação que esses pobres coitados sofrem,  e é de ficar horrorizado…

    Quando do massacre dos professores no Paraná, … um imbecil tucano, de alta plumagem, … disparou essa pérola:

    “… pm não pode estudar, … pm que estuda não obedece ordens ” ….

     

    e nós, …. o povo estamos nas mãos desses caras, ….. chame um ladrão !!!

  3. Mataram 3 Ricardos

    E matarão todos os Ricardos que sobrarem catando material reciclável.

    Se o crime  aparecer muito, lega-se com grande alarde uma pensão a um dos dependentes, como fizeram com o vendedor de balas assassinado da estação do metrô.

    Tanto faz quem os mate, o que não pode é ficar atrapalhando o trânsito ou enfeiando a paisagem.

    Quanto maior a pobreza, menor a cidadania, que em breve desaparecerá para, quem sabe, o pobre desapareça junto.

    Ah! como sofre a elite com essa falta de estética da pobreza.

  4. Triste e cruel.
    A elite usa a

    Triste e cruel.

    A elite usa a classe social inferior para se auto destruirem

    Não existe diferença nenhuma entre o assassino e o assassinado, para a elite ambos são a mesma merda.

    Os policiais ainda não perceberam como são usado e manipulados para maltratarem seus iguais.

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