#OcupaCantareira discute soluções para a crise da água no estado

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Namu

União para salvar o Cantareira

por Rogério Guimarães

 
Formada por ambientalistas e mídias independentes, #OcupaCantareira discute soluções para a crise da água em SP

Nathalia Kamura
O chão rachado da represa de Atibainha, em Nazaré Paulista, em SP, é o resultado da falta de investimentos

No mesmo dia em que cerca de 10 mil pessoas foram às ruas cobrar ações do governo estadual para resolver a crise da água em São Paulo, ONGs, coletivos e entidades de mídia independente estavam reunidos à beira da represa de Atibainha, em Nazaré Paulista. Eles querem buscar soluções imediatas e de longo prazo para a questão hídrica.

O #OcupaCantareira convocou ambientalistas, jornalistas de mídia independente e artistas, entre eles, o cantor e compositor Chico César, o letrista Carlos Rennó e os integrantes do grupo Metá Metá para discutir e mudar esse cenário. A ideia da ação é unir as propostas das entidades e gerar conteúdos que mostrem como a crise da água tem sido diminuída pelo governo e pela grande mídia. Chico César foi enfático ao relatar o panorama da crise: “Aqui em São Paulo, apesar de ser a terra da garoa, a má gestão hídrica gerou uma seca não apenas de água, mas de oportunidades”.

Chico César e Luiz de Campos

Luis de Campos (Rios e Ruas), Lizandra Mayra (Instituto IPÊ) e o cantor Chico César discutem soluções para a crise

Para ilustrar de forma clara a situação, o #Ocupa Cantareira escolheu a paisagem desértica da represa de Atibainha, em Nazaré Paulista. Bem diferente de sua condição normal, ela era o retrato de como o descaso do governo pode colocar em risco o meio ambiente e o abastecimento de água. O reservatório, que faz parte do conjunto de mais quatro represas do sistema Cantareira, entre elas Jaguari, Cachoeira, Paiva Castro e Águas Claras, está com 22% de seu volume útil de água de acordo com os dados da Sabesp. Apesar disso, as imagens do solo rachado não condizem com as alegações da concessionária de que a situação está sob controle e que não há racionamento.

Sabesp

A crise da água também é uma crise de informação. Os dados fornecidos pela Sabesp e pelos órgãos do Governo de São Paulo geralmente são incompletos ou aé mesmo errados. Para Adriano Sampaio, do Existe água em SP, “aSabesp tem de mostrar as informações para a população. O racionamento já era para estar acontecendo há mais de um ano, porque em fevereiro do ano passado a Cantareira ainda tinha água. Os dados fornecidos pela concessionária informam que há 10% de água. Já esgotamos quase dois reservatórios e hoje o nível está menor que 18%. É necessário maior clareza do poder público.

O músico Kiko Dinucci, do grupo Metá Metá, acredita que a Sabesp não é transparente em suas ações: “Não adianta falarem para a população economizar água quando eles mesmos desperdiçam em um sistema de distribuição totalmente ultrapassado. Como cidadão, eu gostaria de cobrar da Sabesp que ela seja honesta com a população.”

Enquanto o abastecimento de água por parte da Sabesp na cidade de São Paulo entra em colapso, um gigantesco potencial de rios e riachos ocultos que poderiam ajudar na crise é desperdiçado. O geógrafo Luiz de Campos, do coletivo Rios e Ruas, afirma que “a cidade de São Paulo possui mais de 300 cursos da água em total de 3.000 km que poderiam ser aproveitados para o abastecimento. Esses números são oficiais, mas acreditamos serem maiores por já termos encontrado mais rios e nascentes do que aqueles listados pela Prefeitura”.

Aqui em São Paulo, apesar de ser a terra da garoa, a má gestão hídrica gerou uma seca não apenas de água, mas de oportunidades.

Esse contraste só não é maior do que a visão de curto prazo para resolver o problema. O governo tem acenado com propostas caras e inviáveis para o momento atual. Uma delas é a construção de um sistema de transposição de água do Rio Paraíba do Sul, na região do Vale do Paraíba, em São Paulo, para a represa Atibainha. A proposta, que tenta reduzir o estresse hídrico da Grande São Paulo e está orçada em R$ 800 milhões, entrou de forma emergencial no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2) do governo federal. Outra ação para contornar a crise é a ampliação do sistema produtor de água São Lourenço, obra iniciada em abril de 2014 para retirar água da Represa Cachoeira do França, em Ibiúna, e enviá-la para a Região Metropolitana de São Paulo. A obra, orçada até o momento em R$ 2,2 bilhões é conduzida pelo modelo de parceria público-privada.

Segundo os ativistas, o problema dessas ações, que poderiam ser significativas para a infraestrutura de distribuição de água em longo prazo, é que elas não amenizam crise nesse momento mais crítico. São, na verdade, uma resposta burocrática e onerosa a um problema que se arrasta há anos em razão do mal planejamento e ação dos órgãos governamentais. Enquanto se discute apenas a falta de chuva e a redução do consumo por parte da população, temas importantes como o desmatamento e ocupação irregular nas regiões produtoras de águas, são vistos apenas como questões pontuais. De acordo com Mauro Rufato, engenheiro agrônomo do Instituto IPÊ, “o desmatamento está ligado diretamente com a falta de água. As matas têm uma espécie de efeito esponja, que é a retenção da água pelas raízes. A mata não produz mais água, ela, na verdade, a retém para períodos maiores, como os de seca.”

Em colaboração com Marina Fontanelli e Vanessa Cancian

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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