Os voos Brasília-Rio realizados e cancelados pela Gol no dia da morte de Marielle Franco, por Hugo Souza

O “controle cidadão” do site da Câmara dos Deputados mostra a emissão no dia 14 de março de 2018 de uma passagem da Gol para o trecho “BSB/SDU” (Brasília-Santos Dumont) em nome do “passageiro Jair Bolsonaro”, sob o código de bilhete aéreo WQ2GUH.

Fonte: Anac.

do Come Ananás

Os voos Brasília-Rio realizados e cancelados pela Gol no dia da morte de Marielle Franco

por Hugo Souza

No dia do duplo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, dois voos da Gol saíram de Brasília e chegaram ao Rio de Janeiro “a tempo” de seus passageiros eventualmente atenderem interfones na Barra da Tijuca por volta das 17h00: o voo GLO 2065, que saiu de Brasília às 12h15 e aterrissou no aeroporto Santos Dumont às 14h00, e o voo GLO 2037, que saiu de Brasília às 9h30 e chegou ao aeroporto internacional do Galeão às 11h15. Outros três que também teriam chegado “providencialmente” foram cancelados: os voos GLO 2021 e GLO 2061 (Brasília-Santos Dumont), e o GLO 2039 (Brasília-Galeão).

Um vídeo da Câmara dos Deputados amplamente divulgado nesta quarta-feria, 13, porém, mostra claramente o possível passageiro que importa, Jair Bolsonaro, participando de uma sessão na Câmara por volta das 20h00 daquele dia. A não ser que se trate de deepfake, é possível cravar que Bolsonaro não estava no Rio, mas em Brasília, em 14 de março de 2018, de modo que só mesmo um sistema de interfone que conecte a portaria a celulares poderia manter de pé, na íntegra, a versão do porteiro que disse ter sido “Seu Jair” quem autorizou a entrada de um dos assassinos de Marielle e Anderson no Vivendas da Barra por volta das 17h00 do dia do crime.

Não significa, porém, que Jair Bolsonaro não tivesse de fato intenção de viajar para o Rio no dia do assassinato de Marielle Franco, uma quarta-feira. Ao contrário: ao que tudo indica, tinha, mas por algum motivo desistiu.

Pela ordem:

Veio à tona também quarta-feira, 13, antes do vídeo da Câmara, um tuíte postado naquele 14 de março de 2018 pela jornalista Thais Bilenky, que na época trabalhava na Folha de S.Paulo, informando que “Bolsonaro teve uma intoxicação alimentar, passou mal e, nos últimos dois dias, precisou reduzir bem o ritmo da agenda. Até voltou mais cedo (hoje) pro Rio. Disse a sua assessoria”.

Thais Bilenky

@thais_bilenky

Bolsonaro teve uma intoxicação alimentar, passou mal e, nos últimos dois dias, precisou reduzir bem o ritmo da agenda. Até voltou mais cedo (hoje) pro Rio. Disse a sua assessoria.

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O tuíte é das 12h28.

No dia seguinte, 15 de março, matéria assinada pela mesma Thais Bilenky e publicada na edição impressa da Folha informava que, “procurada pela reportagem, sua assessoria [de Bolsonaro] disse que ele está com intoxicação alimentar e não poderia falar. Segundo o assessor, sua opinião seria polêmica demais”.

O “controle cidadão” do site da Câmara dos Deputados mostra a emissão no dia 14 de março de 2018 de uma passagem da Gol para o trecho “BSB/SDU” (Brasília-Santos Dumont) em nome do “passageiro Jair Bolsonaro”, sob o código de bilhete aéreo WQ2GUH.

O código WQ2GUH aparece uma segunda vez na lista de despesas com bilhetes aéreos de Bolsonaro em março de 2018, no dia seguinte, 15 de março, agora como “bilhete de compensação”.

Segundo a base de dados Voo Regular Ativo, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), composta pelo histórico das informações de voos de empresas de transporte aéreo que operam no Brasil – com horários de partidas e chegadas dos voos e aqueles voos que foram cancelados – três voos da Gol fizeram o trecho Brasília-Santos Dumont no dia 14 de março de 2018: o GLO 2065, já mencionado; o GLO 2069, que saiu de Brasília às 19h10 e chegou ao Rio às 20h55; e o GLO 2071, que decolou às 20h40 e aterrissou às 22h20.

Ainda de acordo com a base de dados da Anac, outros três voos da Gol previstos para o trecho Brasília-Santos Dumont naquele dia foram cancelados: o GLO 2021, das 07h05; o GLO 2061, marcado para sair às 09h20; e o GLO 2067, que teria decolado de Brasília às 15h10.

Veja abaixo os dados dos voos da Gol Brasília-Santos Dumont do dia 14 de março de 2018 como eles aparecem no histórico da Anac. GLO é a sigla OACI (Organização Internacional da Aviação Civil) da Gol; SBBR é a sigla OACI do aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília; e SBRJ é a sigla OACI do aeroporto Santos Dumont:

GLO;2021;0;R;SBBR;SBRJ;14/03/2018 07:05;;14/03/2018 08:45;;CANCELADO;XB

GLO;2061;0;R;SBBR;SBRJ;14/03/2018 09:20;;14/03/2018 11:00;;CANCELADO;XB

GLO;2065;0;R;SBBR;SBRJ;14/03/2018 12:15;14/03/2018 12:15;14/03/2018 14:00;14/03/2018 14:00;REALIZADO;

GLO;2067;0;R;SBBR;SBRJ;14/03/2018 15:10;;14/03/2018 16:55;;CANCELADO;XB

GLO;2069;0;N;SBBR;SBRJ;14/03/2018 19:10;14/03/2018 19:10;14/03/2018 20:55;14/03/2018 20:55;REALIZADO;

GLO;2071;0;N;SBBR;SBRJ;14/03/2018 20:40;14/03/2018 20:40;14/03/2018 22:20;14/03/2018 22:20;REALIZADO;

Os voos para o Galeão

Consta ainda na relação de despesas com bilhetes aéreos do então deputado Jair Bolsonaro outra passagem para o Rio emitida pela Gol no dia 14 de março de 2018, também para o “passageiro Jair Bolsonaro”, esta para desembarque no aeroporto internacional do Galeão. O código do bilhete é o YG3JQI.

A base de dados Voo Regular Ativo da Anac mostra quatro voos da Gol de Brasília para o Galeão naquele dia, sendo que um deles, que sairia às 13h40 e chegaria às 15h20, foi cancelado. Os que foram realizados saíram de Brasília às 9h30, 19h18 e 20h35, chegando ao Rio, respectivamente, às 11h15, 22h08 e 22h15.

Veja abaixo os dados dos voos da Gol Brasília-Galeão do dia 14 de março de 2018 como eles aparecem no histórico da Anac. SBGL é a sigla OACI do aeroporto internacional Antonio Carlos Jobim (Galeão).

GLO;2037;0;N;SBBR;SBGL;14/03/2018 09:30;14/03/2018 09:30;14/03/2018 11:15;14/03/2018 11:15;REALIZADO;

GLO;2039;0;R;SBBR;SBGL;14/03/2018 13:40;;14/03/2018 15:20;;CANCELADO;XN

GLO;1461;4;N;SBBR;SBGL;14/03/2018 19:18;14/03/2018 19:18;14/03/2018 22:08;14/03/2018 22:08;REALIZADO;

GLO;2041;0;N;SBBR;SBGL;14/03/2018 20:35;14/03/2018 20:35;14/03/2018 22:15;14/03/2018 22:15;REALIZADO;

Smiles

Quem primeiro deu a informação sobre os dois bilhetes aéreos Brasília-Rio emitidos para Bolsonaro no dia do duplo assassinato de Marielle e Anderson foi o site Tijolaço, do jornalista Fernando Brito, no dia 30 de outubro. Naquele artigo, disse assim Fernando Brito:

“O nosso ‘capitão-presidente’ pode, facilmente, provar que não viajou para o Rio em horário compatível com o de ter sido identificado pelo porteiro como o “seu Jair” que deu ordem de entrada ao motorista do assassinato. Basta pegar um extrato do seu cartão de fidelidade com o número do voo em que pontuou”.

O vídeo difundido nesta quarta que mostra Bolsonaro na Câmara, porém, a princípio dispensa o ex-deputado, atual presidente da República, de apresentar seu histórico de pontos no Smiles. Não está, porém, a Câmara dos Deputados dispensada de apresentar as informações completas sobre os dois bilhetes aéreos Brasília-Rio emitidos com verba de gabinete para Jair Bolsonaro no dia 14 de março de 2018, a fim de esclarecer definitivamente essa história, ou pelo menos uma parte dessa história.

Redação

6 Comentários

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  1. Apesar de estar liberto por um tempo do álcool, ontem fui a um bar, no qual um vendedor de abacaxi estaciona sua caminhonete carregada da referida fruta, passa o dia bebendo cerveja e vendendo suas frutas. Do lado do bar há um material de construção. A dona do estabelecimento também estava no bar, esperando a condução. A dona do estabelecimento e o vendedor de abacaxis não são muito conhecidos um do outro. Eu, entretanto, conheço os dois. Ao Bolsominion vendedor de abacaxi, que me chama de bruxo, eu disse: “Viu, tiraram o Lula da cadeia”.

    Ele começou a babar de ódio, afirmando que Lula não devia ter saído da cadeia, porque junto com ele vão sair muitos bandidos; que Bolsonaro é o melhor Presidente que o Brasil já teve; que a economia tá melhorando mas Lula saiu da cadeia para atrapalhar a recuperação da economia que o próprio PT arruinou; que Bolsonaro e família são honestos, e não são pessoas metidas com o mundo do crime, como o Lula e Filhos, etc.

    Nisso a dona do material de construção, diz ao vendedor de abacaxi que o Bolsonaro é o pior Presidente que o Brasil já teve, que a economia não está melhorando sensivelmente, que esse pequeno aquecimento da economia acontece todos os anos em razão do Natal e do Reveillon, que Bolsonaro e filhos são metidos com o sub-mundo do crime, com milícias e que ele inclusive é suspeito de ser cúmplice do assassinato da Marielle.

    Nisso o Vendedor de abacaxi pergunta:

    – Quem é Marielle, aquela que defendia traficantes e homossexuais?

    A Dona do material de construção diz: “Independentemente do que Marielle defendesse, ela era um ser humana”.

    O Vendedor de abacaxi afirma que o Lula também mandou matar o Celso Daniel e ninguém disse nada.

    A Dona do material de construção perguntou se existiam provas de que o Lula é o responsável pelo assassinato do Celso Daniel. O Vendedor de abacaxi disse que não, que não tem provas, mas ninguém também tem provas de que o Bolsonaro é cúmplice do assassinato da Marielle.

    Eu tive que ir embora no calor das discussões.

    Quem matou Odete Roitmann?

  2. Ei, Júlio César, vê se não vai ao $enado, já sabem do teu plano para controlar o Estado
    Ei, Marielle, dá no pé, desapareça, pois eles vem de Brasilia exibir tua cabeça.

    Por falar em Raul, cadê o Paulo Coelho?

  3. E se o tal capitão-por-reforma-casuística-acovardada do tribunal militar já na época tenha, enfim, voltado do rio para bsb ainda naquele dia, chegando a tempo de estar no plenário após as 20 horas? E se ele tivesse voltado em voo comercial com passagem comprada do (im)próprio bolso? Foi, acertou o “negócio” e voltou correndo pra sair na foto…

  4. Agora que se sabe que a portaria do condomínio do bozonazis, se conecta com o imóvel do morador pelo celular, é irrelevante a presença dele em Brasília ou não. Se a central da portaria for periciada é possível verificar se houve ou não contato com a casa 58. Ou adulteração nas gravações.

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