Panamá Papers, a Globo e a corrupção tucana Alstom

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A relação entre a Rede Globo e o escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca, criadora de offshores para lavagem de dinheiro, foi exposta por reportagens no início do ano, com a revelação da documentação do triplex da família Marinho, em ilha de Paraty. Afora a coincidência de carregar mesmo sobrenome, o ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo, Robson Marinho, acusado de receber propina em esquema de corrupção da Alstom em governos tucanos, teria usado o suborno para investir em uma ilha em Paraty. A Panamá Papers deve esclarecer até que ponto essas histórias são obras do acaso, ou se complementam.
 
Investigado até hoje por suspeita de receber propina da Alstom de quase R$ 70 milhões, em valores atuais, por ajudar a empresa em um contrato de subestações elétricas em 1998 – um primeiro esboço do que se repetiu posteriormente no chamado “trensalão tucano”, com bilionário cartel de trens e metrôs – o conselheiro afastado do TCE, apadrinhado de Mário Covas e um dos fundadores do PSDB, Robson Marinho tem seu caso recuperado no Panamá Papers.
 
Naquele ano, a compra das subestações da Alstom foi feita por duas estatais do governo paulista, a Eletropaulo (privatizada em 1998) e a EPTE (Empresa Paulista de Transmissão Elétrica). Um ano antes, Marinho completava sua assessoria no governo tucano de Mário Covas, chefiando a Casa Civil, de 1995 até 1997, deixando o cargo para se tornar conselheiro do Tribunal, sob indicação do próprio então governador.
 
Vinte anos antes, o conselheiro também foi deputado estadual pelo MDB, de 1975 a 1983, antes de seguir para o partido de Covas, posteriormente, como deputado federal pelo PSDB, entre 1987 e 1991. 
 
Os indícios foram levantados quando o Ministério Público Suíço, investigando o recebimento do banco Tempus de recursos de traficantes de drogas, encontrou provas de que o mesmo banco lavava dinheiro para a Alstom pagar propinas. Entre os arquivos, as iniciais RM apareceram em documentos da multinacional francesa. Em um dos trechos, RM – que os investigadores entenderam como uma referência a Robson Marinho – é apontado como “ex secretaire du governeur” (ex-secretário do governador). Nos arquivos, também havia anotação de que o dinheiro foi usado para fazer pagamentos a “le tribunal de comptes” (tribunal de contas). 
 
Logo no início das apurações, em 2008, quando o MP Suíço bloqueou a conta de Marinho naqueles país – pela qual passaram 3 milhões de dólares -, o ex-conselheiro foi questionado e, em resposta, gargalhou. “Estou sendo incriminado por um bilhete anônimo que diz que RM arrecadou R$ 7 milhões para distribuir para políticos que garantiriam contratos para a Alstom. Essas iniciais são as minhas, mas não assumo que seja eu no documento. Quem acusa tem de provar”, disse. Marinho disse que a suspeita só poderia partir de quem não conhecia “o estilo Covas”: “Ele não deixava eu conversar com empresários. Só falava com prefeito, com deputado”. 
 
Á época, contudo, a investigação sobre o envolvimento corrupto da Alstom em estatais controladas por governos tucanos não mirava, de início, o setor elétrico, mas o caso que ficou conhecido como trensalão: em entrevista, afirmou que repudiava a ideia de que beneficiou a Alstom e defendeu o fato de um contrato de três anos do Metrô paulista com a multinacional francesa passar para dez anos a mais. “Durou tudo isso porque a tecnologia mudou”, justificou.
 
Pela forma como as provas foram colhidas pelos investigadores suíços, a defesa do ex-conselheiro tentou anular, alegando-as ilícitas. O advogado argumentava que os arquivos foram considerados ilícitos pelo país, obtidos pelos agentes infiltrados, o que contaminaria os indícios aqui no Brasil.
 
Arquivos da Alstom na França, enviados também pelo Ministério Público daquele país, traziam dados de “remuneração para o poder político da situação” e que “[a suposta propina] é negociada via uma secretaria do governador (RM)”. 
 
Desde agosto de 2014, Marinho foi afastado do Tribunal de Contas por ordem da Justiça. Ainda que com os bens congelados pela Suíça, a Justiça brasileira decidiu bloquear a quantia de R$ 282 milhões da Alstom e de Marinho, apenas em fevereiro de 2015. Entre os bens, estão duas casas no valor de R$ 14 milhões, o valor retido pela Suíça e uma ilha “no litoral norte de São Paulo”, publicou a Folha, no último ano, sem mais detalhes. As provas detonam que esses bens foram adquiridos com a propina da Alstom. O processo ainda está paralisado, com recurso do advogado do tucano, após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) o indiciar por crime de corrupção passiva. 
 
Mas um detalhe foi pouco explorado pelos meios de comunicação. A “ilha no litoral norte de São Paulo” de Robson Marinho é, na verdade no litoral sul do Rio de Janeiro, mais especificamente, em Paraty, região onde a família dos donos da Rede Globo também tem uma mansão. 
 
O caso do ex-conselheiro voltou à tona porque, entre os recentes arquivos do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca, conhecida por criar offshores para lavagem de dinheiro, estão os que incriminam Robson Marinho.
 
Há, por exemplo, documentos que reforçam a ligação do ex-conselheiro com a offshore Higgns Finance, que teria sido usada por ele para receber a quantia de propina da Alstom. Não são poucos os materiais: 289 arquivos mencionando a offshore, e 152 e-mails envolvendo a empresa e Robson Marinho.
 
Sediada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas (BVI), a Higgins Finance foi criada em 1998. A empresa foi desabilitada em 2010 por falta de pagamento de taxas em dívidas. Depois de uma sequência de tratativas, Marinho conseguiu regularizar a offshore, em junho de 2012. Mas quando a Mossack descobriu os processos contra o ex-conselheiro, a panamenha renunciou à própria offshore e a Marinho.
 
Além dos indícios de que Marinho recebeu propinas da Alstom por meio da empresa e, como forma de dissimular o montante, investiu na compra de uma ilha em Paraty, há também provas de que a própria família dona da Rede Globo tem uma mansão no local em nome de offshore da mesma lavadora de dinheiro panamenha. E a ilha está bloqueada pela Justiça brasileira.
 
Os casos se cruzam e podem revelar, com o desdobramento dos dados da Panamá Papers, novos indícios contra o tucano Robson Marinho e contra os proprietários da TV Globo e, mais importante, até que ponto o uso de offshores da Mossack e os investimentos em Paraty são meras coincidências ou possuem nebulosas relações. Ainda, como essa suposta relação poderia trazer novas revelações sobre o caso de corrupção da Alstom durante os governos tucanos.
 
A distância aproximada entre a mansão da família de Roberto Marinho e a Ilha de Araçatiba, particular de Robson Marinho
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

17 Comentários

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  1. Marinhos adoram o ar marinho

    Marinhos adoram o ar marinho por isso não resistem a tentação de comprar ilhas ou triplex na praia, porém apesar dessa paixão pelo mar inexplicavelmente eles odeiam Lula.

  2. Organizaçőes Globo e outras grandes mídias.
    Alguém ainda tem dúvidas que as organizações globo, é um dos principais males do Brasil?

  3. 70 milhões? Imagina a propina

    70 milhões? Imagina a propina movimentada pelos tucanos no FHSBC Suiço, Ilhas Virgens, Caiman e Liechtenstein? Dá pra sustentar o apoio do pig por mais 100 anos. Quem precisa de voto?

    1. de repente é mais do que apoio, é amor verdadeiro, histórico…

      verdadeiro e histórico porque, além de já ter ter mostrado ser o mais lucrativo de toda a nossa história política recente, assim como também da literatura condenatória aplicada por alguns do MPF e do STF, nunca deixará de ser o amor que deixa o outro ser o que realmente ele  é. Podendo até escolher entre ser ladrão, corrupto, sonegador, enganador ou golpista

      1. que saibam me perdoar os que realmente se amam…

        os que se nutrem, em trocas, do amor verdadeiro

        por eu ter relacionado o amor verdadeiro com algo tão nojento, globo e tucanos

  4. Faz sentido…

    Agora entendi o motivo do Moro ter enviado o processo para o STF.

    Os marinhos têm foro Privilegiado…

    Por que se tivesse algum politico do PT envolvido, ele enviava para o Jornal nacional…

    Julga do mesmo jeito, só que muito mais rápido e sempre a favor dos marinhos…

    Justiça a jato…

    1. É mas cachorro picado por cobra tem medo de

      Marcos,

      Esse pessoal, PIG + Janot + Moro vivem de chantagens (aquele ex-PGR antes do Janot “é(ra)”  um craque, um gordinho sinistro). O que o meu pessoal anda comentando é que o Moro percebeu uns ventos norte, isto é, após a tentativa (?) frustrada de prisão do L. Ignácio a repercussão no meio jurídico sobre as gravações com a Presidenta o negócio pegou muito mal, com repercussões internacionais no meio jurídico e mediático  e em reunião do alto comando alguém apontou dar uma “gelada” na república das araucárias e estava forçando uma virada naquele tribunal que sofre da síndrome de Pilatos.

      Ocorre que o Moro e sua thiurma precisava de um salvo conduto para evitar que a maionese desandasse contra ele através do outra thiurma, a do Jardim Botânico. Ora, a maneira encontrada foi invadir e “se apoderar” de documentos da franchising da Mossack Fonseca no Brasil que incrimina os seres marinhos. A salvaguarda Morística não necessitava nem que permanecesse com os representantes presos conforme foi o caso e muito menos “contaminar” coma presença desses as masmorras paranaenses com o contato que fatalmente ocorreria.

      Concluindo, o que se pensou que era para confirmar a propriedade do Luís Ignácio de um apartamento no edifício Solaris, que na realidade é uma lavanderia da Mossack e Associados, que liga o caso à mansão de Paraty, era uma fase da operação para ter um salvo conduto contra “arroubos” mediáticos da poderosa contra a thiurma do Paraná. Esse xadrez  dos empreendimentos imobiliários – as lavagens –  (vide FHC, Serra, Joaquim etc…) o Nassif ainda não escreveu.

  5. Tem gato na tuba do PSDB

                                                                                                                                         Aroeira

  6. Macri

    Acharam mais contas panamenhas em nome de familiares de Macri. Essa é a hipocrisia da elite: para o povo, estado mínimo; para eles, da elite, contas secretas.

  7. Robson Marinho do TCU, os Marinho da Globo e tucanos em cana

    Ia ser belo ver isso, muito belo. De qualquer maneira, percebem a grande diferença? Não estou reclamando do vazamento de informações, de golpe ou nada disso nos Panamá Papers. Quero vê-los em cana e ponto final. Então, apenas para não deixar de comparar um pouco: o PT foi o primeiro partido na história dessa país a levar parte da população à rua para defender políticos corruptos. É ou não é uma diferença enorme de postura?

  8. pela chamada teoria do

    pela chamada teoria do domínio odo fato sempre usada contra o pt e governo popular,

    esses senhores todos citados ai nesses escandadlos com sobrenomes

    marinho estariam todos presos, com prisoes preventivas decretadas…

    talvez na próxima encarnação o governo popular  criará robozinhos

    iguaizinhos a gilmar mendes e moro

    para viabilizar essas prisoes,  além do aperfeiçoamento de todas

    essas infamias assacadas agora contra ele.

    seria uma espécie de vcingança de monte cristo tupiniquim,,,,

  9. Enquanto na Islândia o

    Enquanto na Islândia o primeiro ministro renuncia depois de denúncias envolvendo offshores no Pananá; na Inglaterra o primeiro ministro britânico apresenta suas declarações de imposto de renda dos últimos seis anos provando que está tudo ok com as suas offshores; em outros lugares há protestos nas ruas contras aqueles cujos nomes estão nos papéis do Pananá; no Brasil os políticos e empresários denunciados desconhecem solenemente o assunto, demonstram estar acima da lei, dando bananas à Justiça, Polícia, Ministério Público, estes mais do que nunca assoberbados e seletivos nas suas ações. E quanto a mais essa frente de atos indignos, a sociedade respira e luta em busca de maior respeito com a coisa pública e a punição cabal dos implicados nos mal feitos.

    Porém, tudo no Brasil (ou seria em toda a América Latina) tudo parece ser mais complicado. A partidarização da Justiça – em todas as suas variantes – sempre foi questão dada no Brasil. Para os amigos, tudo. Para os inimigos, a Lei – é o que diz o provérbio, que captura em poucas palavras toda a extensa história de privatização do público, apropriação particular e particularista de bens comuns e de interesses coletivos. As elites brasileiras, desde sempre, instituíram entre nós a ideia e a prática de que o Estado e o governo são agentes para o enriquecimento particular. Passando por cima de tudo. Desde a Colônia até os dias de hoje. Matando milhões de índios e ocupando suas terras; escravizando milhões de africanos; instituindo regimes de exploração iníquo do Homem; e alimentando a lógica e a História em que sempre logram ser vencedores.

     

    A ética na política sempre foi bandeira de esquerda. Em todo o mundo a social democracia tornou-se partido de espécie muito parecida com os demais. Aqui também. Neste momento, a direita usa todo o manancial discursivo – mas não só discursivo – contra o petismo, pois o partido aceitou as regras do jogo tais como sempre foi jogado. Acreditou que sua entrada nos salões do poder era para sempre, pois a conciliação de classes, afinal de contas, é o melhor dos mundos para os donos do poder. Agora estamos aqui diante do gigantesco desafio de, a partir do melhor dos últimos 13 anos, articularmos as saídas para o país e para a satisfação dos reais interesses da maioria dos brasileiros. Sem apelar para salvadores da pátria, porém acreditando que a participação política das maiorias é que realmente poderá mudar o jogo.

     

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