Para além da guerra, as batalhas na CPLP, por Túlio Muniz

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) se fraturou com os diferentes posicionamentos dos países frente à guerra na Ucrânia

Ilustração Jornal Mundo Lusíada

Para além da guerra, as batalhas na CPLP, por Túlio Muniz

A invasão da Ucrânia pela Rússia já deixa reflexos globais inesperados em blocos como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que extrapolam a OTAN e a União Europeia (EU), e cujas conclusões são imprevisíveis,.

O ‘placar’ anti-Rússia na Assembleia Geral da ONU de 02 de fevereiro fraturou a CPLP. Votaram contra a invasão da Ucrânia o Brasil (que vem tendo posições dúbias), Portugal (que é satélite da OTAN/NATO), Cabe Verde (de relações estreitas com a EU) e o Timor Leste. Os demais ou se abstiveram (Angola, Moçambique, Guiné Equatorial) ou não votou (Guiné Bissau).

Muitos dos países que se abstiveram, ou não votaram ou votaram contra sanções à Rússia ou sofrem ou já sofreram ameaça e ocupação direta ou indireta dos EUA, como no caso da Bolívia, quando o capitalista e golpista , Elon Musk, personificou o apoio norte americano ao golpe recente de olho no lítio, e no emblemático alinhamento de Irã e Iraque na ‘abstenção’ (o Afeganistão foi exceção, porque antes dos EUA, de 1979 a 1989 foi ocupado pela URSS).

Contudo, em que pese na memória história o apoio da ex-URSS (que tinha na Rússia a liderança no mesmo planto em que estão hoje os EUA para a OTAN) nas  guerras coloniais e nos movimentos de independência em África, isso não basta para compreender o apoio, ainda que velado, de países africanos da CPLP à Rússia. Há que se considerar que Angola, Moçambique e Guiné Equatorial estão em conversações com a China na Nova Rota da Seda, que investirá em infra estrutura em África, e a China é o principal aliado da Rússia hoje.

 No caso da CPLP, é aguardar para ver o que cada posicionamento influenciará em importantes discussões em curso, como, por exemplo, um protocolo de intenções assinado na última cúpula, que prevê livre trânsito de cidadãos nos espaços nacionais dos países membros.

No Brasil, há um mês a Câmara dos Deputados já aprovou a medida, que agora vai ao Senado. Em Portugal (autor da proposta no âmbito da CPLP), o governo que caiu a aprovara em Setembro, e a levaria a debate na Assembleia Nacional, o que terá de esperar porque houve um retardo por conta das eleições de Janeiro e também na posse do novo governo. À frente do mesmo estará o Partido Socialista, de António Costa, que deve manter a iniciativa. Entretanto, também haverá no Parlamento uma bancada significativa da extrema-direita, o Chega, xenófobo, e da direita, que talvez avalie que o país já cede demais na acolhida de refugiados ucranianos, afegãos e de outras guerras.

Sem dúvida, há um rearranjo da política global em curso, com alterações nos rumos de acordos em curso em outros blocos de nações.

Reprodução painel ONU, 02-03-2022.

Túlio Muniz. Historiador (com Graduação e Mestrado pela Universidade Federal do Ceará), com Doutorado na Área de Sociologia em Pós-Colonialismo e Cidadania Global pelo Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia (CES-FEUC) da Universidade de Coimbra. É Professor Adjunto na Faculdade de Educação (FACED-UFC). Também é Jornalista Profissional.

Redação

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