Piñera credita crise no Chile ao ‘mal-estar do sucesso’ e à intervenção de ‘governos externos’

‘Recebi informações de que houve intervenção de governos externos', disse presidente chinelo afirmando que onda de violência se deve à participação do 'crime tradicional, tráfico de drogas e anarquistas’

Jornal GGN – Em entrevista ao El País da Espanha, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, disse que leu a avaliação de vários analistas políticos, “alguns com teorias muito contraditórias entre si” para entender as razões da onda de protestos que dominam as ruas no Chile há pouco menos de um mês, chegando à uma “hipótese própria: o mal-estar do sucesso.”

Os protestos eclodiram na capital Santiago tendo como estopim o aumento das passagens do metrô. A população reivindica melhores condições de vida e queda do presidente. Oficialmente, cerca de 20 pessoas foram mortas durante os confrontos entre os manifestantes e agentes da segurança pública.

Segundo Piñera, nos últimos anos, sua gestão, reduziu “desigualdade, surgiu uma forte classe média, tudo isso foi uma grande conquista, mas não foi suficiente. Deveríamos ter entendido que tínhamos que distribuir melhor os frutos dessa prosperidade. Essa é a lição que aprendemos agora”, arrematou.

“Não podíamos entender que havia um clamor clandestino de cidadania para alcançar uma sociedade mais justa e mais igualitária, com mais mobilidade social, mais oportunidades iguais, menos abuso. Nessas semanas, vimos esse clamor estourar, e também vimos uma onda de violência e destruição causada por grupos criminosos organizados”, prosseguiu.

“Nesta onda de violência, participam grupos muito organizados que não conhecíamos no Chile antes, aos quais se somam o crime tradicional, o tráfico de drogas, os anarquistas e muitos outros. Eles mostraram vontade de destruir tudo, sem respeitar nada ou ninguém (…). Vamos identificar esses grupos, levá-los à justiça e eles responderão por seus crimes”, completou.

O presidente chileno disse ainda que a crise no seu país se deve uma “intervenção de governos estrangeiros”, sem dar detalhes de quem são e por quais meios obteve tais informações.

“[Os danos causados ao metrô de Santiago] não são algo espontâneo ou casual. É o trabalho de grupos criminosos organizados, mas investigar naturalmente essa situação e levá-los à justiça e puni-los corresponde à polícia, ao Ministério Público e ao Judiciário (…)”, disse. “Eu não descarto nada. Recebi muitas informações, algumas delas de fontes externas, que afirmam que houve intervenção de governos estrangeiros aqui. Mas quero ser cauteloso, entregamos essas informações ao Ministério Público, que é aquele que, por mandato da lei, deve investigar crimes no Chile”, completou.

Sobre a acusação de violação de direitos humanos do seu governo contra os manifestantes, resultado na morte de dezenas, além de centenas de feridos, Piñera afirmou ser “uma acusação totalmente infundada”.

“Eu tentei o meu melhor para proteger meus compatriotas da violência. Se não o tivesse feito [nada] e continuasse a [deixar] queimar, não apenas estações de metrô, mas hospitais ou aeroportos, teria violado meu dever. Posso garantir que tomamos todas as medidas e precauções para garantir o respeito pelos direitos humanos. Agora, é claro que essas semanas de violência podem ter sido abusivas. E eles [responsáveis] terão que ser investigados e julgados”, respondeu.

Contra os cabildos

As manifestações em massa no Chile geraram um movimento em favor de uma nova Constituição, obrigando o próprio Piñero a pautar a discussão. Na entrevista ao El País ele disse achar “necessário modernizar e aperfeiçoar” a Carta Magna chilena e que seu governo está disposto “a discutir essa questão dentro dos canais da democracia”.

“O que digo é que discutimos todas as reformas e, se isso terminar em uma modernização da Constituição atual ou de uma nova Constituição, fará parte do jogo democrático. Onde isso deveria acontecer? Dentro da estrutura que a própria democracia estabeleceu para esse debate, que é o Congresso Nacional, o poder constituinte de nosso país. Mas primeiro vamos discutir quais mudanças queremos e procurar maneiras de entender. Aqueles que querem pular instituições democráticas e estabelecer suas próprias regras do jogo estão minando a democracia”, afirmou.

Nessa declaração, ao defender incisivamente que a proposta sobre a modernização Constitucional seja feita dentro do Congresso, Piñera parece se posicionar contra os chamados “cabildos”, as Assembleias populares para decisão comunitária que se alastraram pelo país nas últimas semanas.

“Nosso programa propõe que, quando o Congresso chegar a um acordo de uma nova Constituição ou de uma Constituição modernizada, esse acordo seja ratificado pelos cidadãos por meio de um plebiscito”, salientou.

“Eu tenho um projeto de reforma constitucional, posso entregá-lo agora, mas onde devemos discuti-lo? Se somos democráticos, temos que discuti-lo dentro das regras da democracia e no Congresso”, completou Piñera.

*Clique aqui para ler a entrevista na íntegra, no El País

Redação

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Vixi no Chile ( a Suíça do Quedes, cravada na Ámerica ) não existe um coisa chamada estatísticas não.. Lá parece não haver IBGE , como o cara fala uma coida destas.. ““Não podíamos entender que havia um clamor clandestino de cidadania para alcançar uma sociedade mais justa e mais igualitária, com mais mobilidade social, mais oportunidades iguais, menos abuso. Nessas semanas, vimos esse clamor estourar..”

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador