Por quem as panelas não batem?, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por quem as panelas não batem?

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Em 2015 a tradicional classe média e a classe alta bateram suas panelas contra a suposta corrupção de Dilma Rousseff. Eles não estavam com fome, mas extremamente incomodados porque as panelas dos pobres estavam cheias.

Em seu livro A Elite do Atraso (Casa da Palavra, Rio de Janeiro, 2017) Jessé de Souza pergunta por que as panelas não estão sendo batidas contra a corrupção institucionalizada de  Michel Temer, que além de comprar deputados e senadores perdoou dívidas fiscais bilionários de bancos e empresas de comunicação. Isto para não mencionar a renúncia a bilhões de reais que poderiam ser auferidos com a exploração do petróleo no nosso litoral. 
A resposta que ele deu no livro para o silêncio das panelas – a corrupção estrutural representada por Michel Temer está no DNA do mercado que capturou o Estado e a corrupção governamental é um problema menor que foi transformado em arma política contra esquerda – é plausível. Todavia, ela não explica o silêncio das panelas dos desempregados e trabalhadores que perderam direitos sociais, trabalhistas e políticos em decorrência do golpe de 2016. 

Jessé de Souza credita este silêncio das panelas vazias à naturalização da exclusão social construída durante o período escravocrata, transmitida pela educação familiar e consolidada pela violência policial nos dias de hoje. Esta também é uma explicação plausível, mas há outra explicação que pode ser dada.

Os brasileiros são cordiais, mas não da maneira que foi imaginada por Sérgio Buarque de Holanda (tese, aliás, criticada de forma adequada por Jessé de Souza). Eles são cordiais porque gostam de sofrer. E este gosto pelo sofrimento foi incutido nos brasileiros pelo catolicismo.

Todavia, na fase atual as lideranças católicas condenam o golpe e a martirização dos brasileiros. Quem sustenta o golpe são justamente as lideranças evangélicas que pregam uma doutrina da graça, do sucesso econômico e da ostentação material que supostamente libertaria os fiéis da pobreza em que eles estão sendo programaticamente lançados  em razão da revogação de direitos, renúncia fiscal e entrega da riqueza petrolífera aos estrangeiros.

Católicos e evangélicos obviamente não renunciaram às suas religiões. O que eles fizeram foi utilizá-las como armamento pesado dentro do campo político. Ao fazer isto, ambos os grupos se sujeitaram às vicissitudes daquele campo, dentre os quais se destaca a existência relacional referida por Pierre Bourdieu:

“…a oposição entre ‘direita’ e ‘esquerda’ se pode manter numa estrutura transformada mediante uma permita parcial dos papéis entre os que ocupam estas posições em dois momentos diferentes (ou em dois lugares diferentes): o racionalismo, a fé no progresso e na ciência que, entre as duas guerras, em França como na Alemanha, constituíram o ideário de esquerda enquanto que a direita nacionalista e conservadora se dava mais ao irracionalismo e ao culto da natureza, tornaram-se hoje, nestes dois países, no coração do novo credo conservador, fundamentado na confiança no progresso, na técnica e na tecnocracia, enquanto que a esquerda se vê recambiada para temas ideológicos ou práticas que pertenciam exclusivamente ao pólo oposto, como o culto (ecológico) da natureza, o regionalismo e um certo nacionalismo, a denúncia do mito do progresso absoluto, a defesa da ‘pessoa’, tudo isto banhado de irracionalismo.” (O poder simbólico, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 2007)

Os católicos tem condições de mobilizar muito mais gente do que os líderes evangélicos que apoiaram o golpe. Se forem para as ruas eles facilmente irão derrotar o novo regime e revogar todas as maldades neoliberais aprovadas por Michel Temer. Eles conseguiriam até mesmo o impensável: meter a ferros os principais líderes do golpismo e do entreguismo dentro e fora do Judiciário. 

A politização dos católicos desembocou no golpe de 1964.  A politização dos evangélicos resultou no golpe de 2016. Neste momento a radicalização destes dois grupos religiosos tem tudo para produzir uma guerra civil diferente de todas aquelas que ocorreram em nosso país no século XX.  Caso isto realmente ocorra ricos e pobres finalmente terão a oportunidade histórica de se juntar para bater panelas vazias. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

19 Comentários

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  1. FHC pegou varios e varios

    FHC pegou varios e varios milhoes do governo ha pouco tempo pela lei Rouanet.

    Nao vi ninguem o chamando de “ladrao” ainda…

  2. As panelas não batem porque o

    As panelas não batem porque o sistema GAFE (Globo, Abril, Folha, Estadão) não enviou ordem aos cérebros dos zumbis paneleiros para que batam panelas. Os movimentos “patrióticos e apartidários” (inclusive o ex-ator pornô que ingressou na política pela extrema direita em busca de uma nova carreira, já que não cumore mais todos os requisitos necessários para continuar na antiga) agora estão mais preocupados com moral e bons costumes, então eles ordenam aos seus zumbis que façam baderna em frente a museus e outros locais onde artistas e “bruxas” se encontram. Simples assim. Os zumbis fazem aquilo que seus mestres comandam.

  3. Caro Fabio
    Não batem por que

    Caro Fabio

    Não batem por que eles conseguiram o que queriam, tirar Dilma, o PT e o projeto nacionalista e  de inclusão em andamento.

    No Brasil, o povo é proibido de ser cidadão, parece que há uma divisão, povo é povo, e movimentos sociais, é uma parcela do povo, que é maioria.

    Saudações  

     

  4. Um dos motivos para o silêncio dessas panelas.

    Não é possível exagerar o grau de estupidez dessa gente. Não pretendo me referir à estupidez  como

    uma ofensa más, como um diagnóstico. Vai daí que ao perceberem a estupidez dos seus atos, os

    paneleiros ficaram na moita, envergonhados  e na defensiva. É como se tivessem caído no conto da

    compra do bilhete premiado ou de uma máquina de fazer dinheiro, e por conta disso fogem do ridículo.

    É melhor não se queixar, nada de procurar a polícia nem falar, se possível, nem para a família ou amigos.

    Estão com seus rabos no meio das pernas receosos dos esculachos e das broncas.

     

  5. Certo, porém…

    … pareceu-me que o autor do artigo faz tábula rasa do catolicismo (avisando que não sou sou católico) e deixa de lado parcelas importantes da religião, de caráter progressista, oriundas das Comunidades de Base, da Teologia da Libertação e do catolicismo leigo e ecumênico. Aliás, combatidos por João Paulo e Ratzinger.

    Cuidado com o andor, pois aqui não se parece historicizar, mas naturalizar, está no limite.

  6.  
    Que porcaria de post.
    Quer

     

    Que porcaria de post.

    Quer dizer que a classe média bateu panela porque as panelas dos pobres estavam cheias. MAS QUE CONCLUSÃO FANTÁSTICA!

    Com a LAVA-JATO mostrando as viceras da corrupção, com o país sendo entregue ao Banco Bradesco, com a crise economica chegando, com a insatisfação de como o pais estava sendo governado, agencias de risco rebaixando o Brasil, tarifaços e aperto fiscal quando poucos meses antes foram negados,  a classe média bateu panela porque ficou incomodada com as panelas dos pobres cheias.

    É um espanto! Um espanto!

    Só não explicou porque essa mesma classe média não bateu panela em 2010, 2011, 2012, 2013, 2014

    1. Os católicos apoiaram o golpe

      Os católicos apoiaram o golpe de 1964.

      A teologia da libertação nunca foi dominante entre os católicos.

      Que porcaria de comentário. Você toma a exceção pela regra e rejeita a história para fazer um ataque pessoal rasteiro.

      1. A maioria católica do Brasil,

        A maioria católica do Brasil, em 1964 não apoiou o golpe.

        Ela exigiu, saiu às ruas pedindo a intervenção militar para evitar que o brasil se tornasse uma CUBA, que teve a revolução poucos anos antes.

        E em 2015bateu panela e saiu às ruas para evitar que o Brasil se tornasse uma nova Venezuela.

        1. li de brusque

          Esta velha historia justificar o golpe com a desculpa de evitar transformar o Brasil em uma Cuba ou Venezuela me parece  uma piada de mau gosto. Mas o que esperar de alguem que se intitula ” li de bruçus” . Cérebro de minhoca realmente.

          O troll PSDBista! Volta pra suas hostes, esta em terreno que não lhe pertece. Vai pra sua turma.

    2. Diga isso ao Jessé de Souza,

      Diga isso ao Jessé de Souza, cuja principal tese é justamente a de que a classe média odeia os pobres e aderiu ao golpe por que não suportou ver a ascensão deles durante oa governos petistas. Eu apenas me apropriei da tese dele, que aliás me parece muito plausível.

    3. Que porcaria de

      Que porcaria de comentário.

      Bateram panelas exclusivamente por ódio aos avanços sociais, a melhoria de vida dos pobres, pobreandando de avião, pobres em restaurantes que antes eram só deles, pobres comprnado carro, pobre comprando iphone, pobre comprando calçados mais caros, etc etc etc

      NUNCA foi contra a corrupção porque a grande maioria dos que bateram panelas são corruptos. 

      1. òdio contra os pobres?

        òdio contra os pobres? Piadista, você.

        E em 2013. Quem saiu às ruas foram aqueles que tinham ódio contra os pobres né?

        Os Blacks Blocs incendiavam favelas, ao invez de bancos né.

        Muda o disco, mané.

    4. A mais fantástica das conclusões!

      Fantástica! fantástica, é a forma de mostrar as tripas da corrupção, justamente protegendo e ajudando

      a corrupção tomar posse do poder, enquanto procura chifres em cabeça de cavalo. Pedalinhos, tiques de

      pedágio, barquinhos de lata, táblets de crianças, todos os triplexes do litoral que a vítima não consegue

      “provar” que não possue. Fantástico é que nem os registros de móveis também não o conseguem, mesmo

      que  só estes tipos de bobagens venham ao caso. Um espanto! Um espanto mesmo, que um bobo,  ou qualquer

      eventual cabrão, ainda consegue acreditar que existe na lava jato a intenção de combater a corrupção e não a

      de sabotar o país em proveito…proveito…de quem mesmo?  Arrisco sugerir é para livrar justamente os que

      deveriam estar afastados do convívio da sociedade.  Em tempo,  não é a classe média que bateu panela,

      más só os mais estúpidos das diversas classes.

      1. Em 2015 não havia pedalinhos,

        Em 2015 não havia pedalinhos, nem sítio, nem triplex.

        Só havia a visão estarrecedora da corrupção mega estatal na Petrobrás.

        O Brasil estava vendo o que estava bem escondido por detrás da propaganda eleitoral da Dilma, e não gostou do que viu.

  7. Objetivo e comando

    Tinham um objetivo comum: derrubar Dilma; e um comando único: a rede Globo, com direito a imagens, entrevistas, online e por 24 horas

    Hoje, o 97% que rejeita Temer não sai nas ruas pois há bandeiras demais e comando de menos. A rede Globo se encarrega de dividir e gerar o efeito Torre de Babel. Temer, com 3% de apoio, consegue emplacar o que quer, enquanto aqui nas ruas não sabemos se iremos marchar contra Temer, contra as reformas, em defesa da mulher, do sexo dos anjos ou da Eletrobras.

    O Brizola teria trazido esse povo de volta para as ruas, para recuperar a autonomia da nação brasileira. Evangêlicos, LGBTs, pretos, brancos, ricos e pobres estariam juntos, marchando por isso, por um objetivo comum.

  8. Por isso que eu digo: não se
    Por isso que eu digo: não se faz impeachment na Câmara e no Senado, ele acontece na sociedade. Quando uma coalizão político-partidária ampla e a opinião pública e a maioria da sociedade se convence que o presidente da República está diretamente associado… No caso brasileiro…

  9. Boas ideias e apresentadas de modo não excludente

     

    Fábio de Oliveira Ribeiro,

    Gostei muito do seu texto. Não concordo com algumas considerações apresentadas, mas louvo você ter levantando algumas ideias próprias e de outros para explicar o comportamento das pessoas nas manifestações contra o PT, contra a Dilma e contra a Corrupção. E vi ainda maior mérito ter apresentando as suas ideias de modo complementar às ideias dos outros.

    Acho fácil aqueles que atribuem a múltiplos fatores, por exemplo, a queda da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff  sem, entretanto, dar destaque aos motivos que seriam os mais relevantes. Tudo que ocorre no mundo é fruto de múltiplos fatores. Dizer só isso é um truísmo tautológico. É preciso destacar o ou os mais importantes.

    No caso do impeachment da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff eu dou relevância a três fatores. Primeiro o impeachment decorreu do fato da economia brasileira ser espacialmente má distribuída e concentrar-se em torno de São Paulo o poder econômico e financeiro e portanto a partir de São Paulo tornou-se mais fácil a direita comandar a política brasileira e assim ficar em antagonismo com a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff que é de esquerda.

    Um segundo fator a pressionar pelo impeachment da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff foi a má distribuição social da renda no Brasil que permite que a direita possa se fazer representar com mais facilidade no Congresso Nacional e assim ficar em relação à esquerda com uma super-representação.

    Um congresso majoritariamente de direita e pressionado, quando não manipulado, pelas forças econômicas financeiras articuladas em São Paulo com interesses basicamente de direita percebeu-se com forças suficientes para fazer o impedimento de uma liderança de esquerda. E é bom que se diga que a superrepresentação da direita não ocorre só no Congresso Nacional. Em quase todas as instituições brasileiras a direita predomina.

    E o terceiro fator a influir sobremaneira de modo desfavorável à ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff foi a crise econômica. O efeito da crise econômica foi ainda mais relevante porque a crise esteve associada com os escândalos de corrupção.

    A crise econômica teve causas que precisariam ser mais estudadas. Aqui, entretanto, eu não vejo o dedo da direita. Também sou contrário a ideia da direita de que a crise foi causada pela corrupção. Em nenhum lugar do mundo crise econômica é causada pela corrupção. Escândalos de corrupção e não a corrupção em si geram antipatia popular. A crise econômica também gera antipatia popular relativamente ao governante. Quando os dois estão juntos a revolta popular é mais forte.

    A esquerda coloca como causa da crise econômica a operação Lava Jato e a participação da Rede Globo. Como eu disse, a nossa última crise econômica precisa ser mais bem estudada, mas de antemão eu lembro que o que paralisou a economia no setor da petroquímica foi o endividamento da Petrobras que aumentou assustadoramente com a desvalorização do real.

    E em relação a Rede Globo eu costumo dizer que em nenhum país do mundo incluindo o Brasil pode-se mostrar dados que comprovem que uma rede de televisão como a Rede Globo tenha sido capaz de influir na economia favorecendo o crescimento econômico ou levando uma economia a recessão.

    Voltando ao seu texto, eu relembro que afirmei que gostei da sua tentativa de encontrar motivos para que a classe média não esteja a bater panelas. Aliás, gostei de você ter apresentado os seus motivos, mas não só mencionando as considerações de Jessé de  Souza como não as descartando.

    Para Jessé de Souza o silêncio das panelas da classe média no governo do presidente antes provisório e agora definitivo às custas do golpe, Michel Temer é que a direita fora insuflada pelo mercado a se revoltar contra o governo da esquerda, mesmo sabendo que a corrupção é um problema menor. Não achei muito bem construída essa explicação de Jessé de Souza. Considero mais bem elaborada a explicação que ele dá ao silêncio da classe trabalhadora diante da perda dos seus direitos trabalhistas, qual seja um passado escravista que se acomoda com essa pilhagem.

    Você faz um acréscimo nessa avaliação de Jessé de Souza. Para você o silêncio da classe trabalhadora decorre de gostarmos de sofrer, gosto este nos incutido pelo catolicismo.

    Bem, eu não dei muita importância ao bater das panelas. Nem ao silêncio da classe trabalhadora. E no entendimento das duas situações distintas, há que levar em conta que bater panela em aglomerados periféricos horizontalizados não tem a mesma repercussão, a mesma ressonância do bater panela em janelas de edifícios verticalizados, enfileirados, localizados em regiões centrais e com a área livre e larga das ruas a ajudar a ecoar o panelaço da classe média.

    E creio que as manifestações de rua em 2015, principalmente, e em 2016 foram muito mais relevantes para mostrar a força da oposição ao governo da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff. São elas que devem ser tomadas como parâmetro de comparação. Eles manifestaram contra o governo da ex-presidenta Dilma Rousseff mas não manifestaram contra o governo do presidente antes provisório agora definitivo às custas do golpe Michel Temer. Perto das manifestações de 2015 e 2016 da classe média nas ruas, o panelaço foi um capricho.

    Porque a classe média manifestou lá e não manifestou agora e porque a classe trabalhadora não manifesta agora contra o governo é que são as duas questões relevantes a serem postas. Ai cabe um pouco a explicação de Jessé de Souza para justificar o silêncio da classe trabalhadora.

    Para entender o comportamento um tanto conformista da classe trabalhadora, eu trago uma justificativa diferente. A razão principal para a não manifestação da classe trabalhadora é o fato que o sábado e domingo é da classe média e a manifestação da classe trabalhadora para ocorrer no horário de trabalho precisaria que ela não fosse classe trabalhadora.

    Agora tanto o panelaço da classe média como as manifestações de rua dessa classe média foram, em minha avaliação, insuflados por outros fatores. E dentre os fatores o que eu reputo como mais relevante é o preconceito que se tem na classe média contra os mais pobres e as classes trabalhadoras em geral.

    As pessoas com as quais eu discutia e que se manifestavam contrárias ao governo da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff estavam exaltadas e não tinham nenhuma racionalidade na argumentação. O comportamento delas era decorrente de uma cultura em que o preconceito contra pobres e trabalhadores vai se consolidando desde a mais cedo infância. Não há como direcionar esse preconceito contra o governo do presidente antes provisório agora definitivo às custas do golpe Michel Temer, pois não se trata de um representante pobre da classe trabalhadora.

    Crises econômicas enfraquecem qualquer governo. Enfraquecem mais ainda quando há escândalos de corrupção que insuflam o descontentamento da população. E o descontentamento com o governo se avoluma à medida que os índices de inflação se elevam.

    É preciso ter mais atenção para os efeitos sociais da inflação que é um fenômeno de natureza econômica. A inflação atiça a percepção equivocada da população de que há um conluio entre os governantes e os empresários. Os índices crescentes de inflação tornam evidente o conluio o que, portanto, constitui prova da corrupção e que essa atravanca o crescimento econômico. Cria-se um círculo vicioso intransponível, incontornável e inescapável.

    Deixo a seguir dois links que trazem em meu entendimento duas boas contribuições, uma para permitir obter mais fundamentos sobre a avaliação do governo da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff e outra para compreender a distinção entre corrupção e escândalos de corrupção.

    Eu levei para um longo comentário que enviei quinta-feira, 07/09/2017 às 16:26 para Junior 5 Estrelas junto ao comentário dele de quinta-feira, 31/08/2017 às 10:29 no post “Xadrez do fator é a economia, estúpido!, por Luís Nassif” de quarta-feira, 30/08/2017 às 01:32m aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele uma série de links que permitem fazer uma avaliação mais consistente do governo da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Russeff. O endereço do post “Xadrez do fator é a economia, estúpido!, por Luís Nassif” é o seguinte:

    https://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-do-fator-e-a-economia-estupido-por-luis-nassif

    Em relação a distinção entre corrupção e escândalos de corrupção a minha intenção aqui é indicar o artigo “Conflito na elite e escândalos de corrupção” de autoria de Argelina Cheibub Figueiredo e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www.valor.com.br/politica/4435512/conflito-na-elite-e-escandalos-de-corrupcao

    Fiz menção a esse artigo junto ao post “O denuncismo constrangedor do Valor” de segunda-feira, 15/02/2016 às 19:53, aqui no blog de Luis Nassif contendo matéria do Jornal GGN assinada por João Paulo Caldeira. O post “O denuncismo constrangedor do Valor” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/o-denuncismo-constrangedor-do-valor

    E o meu comentário fora enviado para o Jornal GGN segunda-feira, 15/02/2016 às 21:15. Quando enviei o comentário, a matéria do Jornal GGN que criticava a instalação de uma antena da OI perto do sítio em Atibaia não estava assinada. Assim, embora eu considerasse válida a crítica ao Valor Econômico por trazer matéria tão boba eu mencionava a falta de assinatura do texto do Jornal GGN como uma falha que precisava ser corrigida e observava que na mesma edição do jornal havia matéria de muito maior importância e que estava sendo esquecida e que era o artigo de Argelina Cheibub Figueiredo.

    E voltando para a cota dos elogios, diria que gostei muito também da transcrição que você faz de trecho de Pierre Bourdieu e que diz respeito à possibilidade de esquerda e direita permutarem parcialmente seus papeis em situações diferentes. Há muito eu venho salientando como há muitos comportamentos da esquerda que são também comuns à direita. A descrença na política é o maior exemplo disso. E a permuta aqui é frequente. Quando a direita domina a política a esquerda descrê na política. No momento seguinte quando a esquerda toma o poder é a direita que a abomina.

    De certo modo, é preciso definir com mais precisão a esquerda e a direita, sem o temor de se colocar quase todo mundo em um ou outro canto. Eu defino direita e esquerda, segundo o critério da barbárie e da civilização.

    Em minha concepção, ser de esquerda significa caminhar em busca da civilização. A manutenção do status quo da barbárie caberia à direita. Definindo assim, ninguém se julga de direita. Não há importância em todo mundo querer ser de esquerda quando a definição é posta desse jeito, desde que todo o conceito de civilização seja entendido e bem aceito.

    Civilização pressupõe um ser humano mais humanizado, isso é, um ser humano mais semelhante uns aos outros e que não faça uso da violência, que não faça uso de preconceitos machistas, racistas, sociais, religiosos, etc. Muito provavelmente em uma sociedade mais humana, isso é, mais civilizada não se aceitará como ético e, portanto, legal, a possibilidade de acumulação de capital mediante o trabalho de terceiro.

    Eu gosto de exemplificar com a Guerra do Iraque a ideia de que ainda estamos muito longe da civilização. Se os Estados Unidos, um país rico e há mais de 50 anos mantendo um nível elevado de pessoas com formação superior, tivessem se adiantado e já fossem um país civilizado, George Walker Bush, o filho, não teria invadido o Iraque porque sabia que uma população civilizada não o reelegeria para presidente, pois uma população civilizada não aceitaria o uso da violência ainda mais realizada por um país poderosamente armado contra um bando de soldados maltrapilhos. Enfim, George Walker Bush, o filho, fez a Guerra do Iraque para se reeleger porque sabia que ainda vivemos na barbárie. Tal não aconteceria em um mundo civilizado.

    De todo modo, penso que o texto de Pierre Bourdieu deveria ser mais contextualizado. Desconsiderando o contexto, a possibilidade dessa permuta existe, mas é fruto como eu disse acima de uma inapropriada caracterização de esquerda e direita. Vale, entretanto, trazer o texto de Pierre Bourdieu para discussão nesse momento em que se fala muito sobre o problema do assédio sexual e do preconceito racial duas manifestações de violência e, portanto, de barbárie e que se pode constatar que estão presentes tanto em quem se toma por esquerda como em quem, se não se toma por direita, pelo menos é visto como sendo de direita.

    E por fim faço menção ao post “Para Deleuze, esquerda ou direita é uma questão de percepção” de segunda-feira, 18/04/2016 às 12:04, aqui no blog de Luis Nassif com um vídeo de Gilles Deleuze e que fora trazido por Jair Fonseca. O post “Para Deleuze, esquerda ou direita é uma questão de percepção” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/para-deleuze-esquerda-ou-direita-e-uma-questao-de-percepcao

    Tenho acompanhado o post “Para Deleuze, esquerda ou direita é uma questão de percepção” desde seu aparecimento logo quando da aprovação do impeachment na Câmara dos Deputados. Recentemente eu voltei a ele quando da leitura do comentário de Fernando J. enviado domingo, 12/11/2017 às 19:17, para Rui Daher junto do post “Dominó de Botequim, o Retorno – Capítulo 6, por Rui Daher” de domingo, 12/11/2017 às 16:38, também aqui no blog de Luis Nassif e de autoria de Rui Daher e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/blog/rui-daher/domino-de-botequim-o-retorno-capitulo-6-por-rui-daher

    Em um texto excepcional Fernando J. relembra uma alegação de Rui Daher de que não se fizera tudo para evitar o golpe. Fernando J. que à época discordara de Rui Daher dizendo que tudo fora feito, agora reconhece que faltara algo, nas palavras dele: “faltou uma última e derradeira atitude: a luta armada.”

    Eu pensei em escrever diretamente no comentário de Fenendo J., mas preferi ir até o post “Para Deleuze, esquerda ou direita é uma questão de percepção” onde fiz um comentário em que faço a seguinte observação em contradita a frase de Fernando J.:

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    “A esquerda tem um grande papel que é ajudar a construir a civilização, mas se há uma frase que a esquerda precisa tirar da direita é a frase do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon: “morrer se preciso for, matar nunca”. Disse que se trata de frase da direita porque, como homem do exército, o Marechal Rondon é um homem da direita.

    A violência ainda que ela tenha um bom agasalho na frase de Bertolt Brecht: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem”, não é forma de luta da esquerda.

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    Bem, é isso. Queria mais elogiá-lo pelo texto, mas avaliei como útil deixar também essas ideias complementares às que você trouxe para o seu post. Espero que eu tenha contribuído.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 16/11/2017

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