PT fez interpretação errada sobre protestos de 2013, diz Duvivier

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O humorista Gregório Duvivier afirmou em entrevista ao Estadão que lideranças do PT, como Fernando Haddad, e até mesmo intelectuais como Jessé Souza, fizeram uma leitura equivocada dos protestos que marcaram junho de 2013. Desde que Dilma Rousseff foi deposta com ajuda de grupos que mobilizaram as ruas, setores petistas passaram a considerar 2013 como o embrião do golpe. 

“Jessé Souza e Fernando Haddad, gosto deles, mas tenho discordâncias quanto à visão deles sobre 2013. Eles lêem 2013 como um protesto burguês, germe do impeachment. Como se 2015 tivesse nascido de 2013. Quer dizer, nasceu. Mas a pauta era tarifa zero, contra Cabral, não estava em pauta o fora PT, muito menos a volta da ditadura. O PT não soube dialogar, dialogou com porrada em São Paulo, e perdeu as ruas, a juventude, perdeu tudo, porque não soube dialogar”, afirmou Duvivier.

“A pauta era de melhores serviços públicos. A pauta não era o pato da Fiesp. Só foi instrumentalizado depois, a meu ver. Esta minha única discordância do Jessé. De resto, concordo com ele quando escreve sobre o mito do jeitinho brasileiro e como ele serve para manter as péssimas condições do serviço público. Se o brasileiro é assim, vamos fazer a lei da selva, essa é a ideia”, acrescentou.

Questionado sobre as saídas para a crise, Duvivier disse duvidar que “um candidato progressista seja eleito ano que vem. Precisa de muito tempo. Acho que a gente está entrando sim num ciclo conservador. A classe média enriquece e vira conservadora.”

“Tenho 31. Sou de uma geração que cresceu já na democracia, Nova República, então acho que não há polarização a favor da ditadura ou a favor de um governo popular e justo. Isso não funciona. Me dou a liberdade de criticar o PT. Fugir da polarização, de seu discurso redutor, a ideia de que quem criticou foi tachado de traidor. Esse é um recorte geracional, não me sinto obrigado a ser de lado nenhum, é uma característica geracional, a desobrigação.”

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

19 Comentários

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  1.   Duvivier – de quem muito

      Duvivier – de quem muito gosto – não tem obrigação de nada, mas deveria saber que a Polícia Militar, a responsável por “dialogar com porrada”, era e é subordinada ao sr. GERALDO ALCKMIN (PSDB-SP), no cargo desde 01.01.2011, sendo o PSDB o mesmo partido no poder paulista desde 01.01.1995.

      É a mesma coisa que eu atribuir ao Duvivier a autoria dos filmes pornô-gay do Alexandre Frota.

  2. O PT APODRECEU!

    No momento em que apoiou a impunidade, devendo influir no voto dos juízes do STF a ele ligados, para que ACABASSEM COM O SISTEMA DE FREIOS E CONTRAPESOS, o PT mostrou aos brasileiros o que é, e porque a roubalheira tomou conta do país durante seus governos.

    Não gostou?

    Aceite o desafio, e tente ao menos contestar:
     

    https://democraciadiretanobrasil.blogspot.com.br/2017/09/o-pt-apodrece-defende-aecio-e-impunidade.html

  3. Há um paralelismo entre junho

    Há um paralelismo entre junho de 2013 no Brasil e o que se chamou de primavera árabe e o que se seguiu a ela.

    A primavera árabe começou como um movimento espontâneo, em países tradicionais aliados dos EUA: Tunísia e Egito. É claro que o império não ficaria de braços cruzados assistindo seu dispositivo na região ser colocado em xeque.

    A primavera era vista com simpatia em todo o mundo. Decidiu-se, então, aplicar um recurso das artes marciais, qual seja: utilizar o impulso do adversário para derrubá-lo. Foi assim que irrompeu a revolta na Líbia. Só que dessa vez, os “manifestantes” não ocuparam praças, mas campos de petróleo. Com o pretexto de proteger os “manifestantes”, atacou-se o regime de Khadaffi. 

    Na Síria aconteceu algo parecido. O objetivo foi o de derrubar um regime que estava atravessado na garganta do império desde que o Hezbollah, apoiado por Síria e Irã, impôs uma derrota a Israel em 2006.

    2013 também cresceu espontaneamente depois que a polícia reprimiu violentamente o movimento por passe livre, ferindo inclusive jornalistas gravemente. A esquerda não entendeu o que estava acontecendo, e diante do vácuo de liderança, a direita manobrou rapidamente –  os episódios envolvendo jabor e datena foram hilários – e passou a direcioná-lo.   

  4. O item nao faz a mais infima

    O item nao faz a mais infima gota de sentido.  Entre outras:

    “PT não soube dialogar, dialogou com porrada em São Paulo, e perdeu as ruas”

    Eu nao tenho a menor ideia do que isso quer dizer, e MUITO MENOS envolvendo o PARTIDO DOS TRABALHADORES distribuindo “porradas” nesse estadinho filho da puta.

    Se alguem quizer me linkar a noticias dessa epoca que dao apoio a essa afirmacao, eu agradeceria muito.

    “PT nao soube dialogar” e “dialogou com porrada” nesse puto estado filho da puta uma porra de um carralho, ok?

    Nas minhas costas…  nao.

    Desde o comecinho a porra de “manifestacao” tava infiltrada de agentes de extrema direita, inclusive os que causaram as manifestacoes no pais inteiro, mas agora…  subitamente, caiu a culpa NO PARTIDO DOS TRABALHADORES!

    Puta que pariu!

  5. Duvivier o politicológo.
    O comentarista político é, como comentarista, um excelente comediante.
    Seu ponto de vista parte do pressuposto de que a responsabilidade por transporte público municipal recairia sobre o governo federal. Ainda, que o PT respondeu com porradas às reivindicações ( uma usurpação e um escamoteamento dos responsáveis de fato), pois as ditas “porradas”, partiram de governos tucanos,interessados em causar uma sensação de caos e descontrole.
    Sem falar nos Blackblocs, que surgiam e desapareciam, sem que as autoridades locais os identificasse e os fizesse responder pelos seus atos heterodoxos.
    Tal como a princesa do conto de fadas, o inteligente ator esteve hibernando nesta quadra histórica. Talvez o príncipe Frias o tenha convencido a reescrever a fábula de acordo com seu ideário.

  6. Menos, Duvivier, muito menos!

    Duvivier, vocês está querendo tirar o seu PiÇol da reta, companheiro? Realmente, os R$ 0,20 foram o embrião do golpe! Aquele movimento foi uma orquestração dos banqueiros e amplificado pela Rede Globo (emissora que vocês do PiÇol tanto gostam de aparecer nela). Desde quando o PT mandava na “puliça” militar de São Paulo, companheiro? Vocês se deixaram usar pela direita golpista como se fossem o braço esquerdo dela e agora quer tirar da seringa? Nãnaninanão! Os R$ 0,20 estão saindo caríssimos hoje. O prejú foi multiplicado por milhões de vezes. Você, de fato, é um grande humorista… Agora conta uma do papagaio, conta!

  7. Movimento espontâneo?

    Ora, me poupem?…Gregório Duvivier tá certo, mas essa ideologia do recorte geracional é idiota, nada a ver!…Que quê idade tem a ver com  miolo?….Merda nenhuma!….Essa turma mais nova, por conforto, vai nessa onda…..

  8. Isentão

    Mais um comentário “isentão” do Duvivier. Como assim “o PT dialogou com porrada”? Ao que eu saiba a PM é controlada pelo Governo Estadual. A Dilma tentou várias ações. Em uma delas veio o “Mais Médicos”. Conseguiu evitar o Golpe? Não. A manifestações já estavam claramente instrumentalizadas pela Direita umas duas semanas após o seu início. Se as manifestações eram espontâneas e a favor de melhores serviços, por que não há manifestações agora, no momento que já estamos numa situação abaixo da crítica?

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  9. Fala Sério, Duvivier!

    Duvivier pode pensar e concluir o que quiser, é da democracia, só não pode distorcer fatos, como de hábito faz o inimigo.

    Ao escrever que, “o PT não soube dialogar, dialogou com porrada em São Paulo…”, iguala-se em número, gênero e grau, as práticas utilizadas pela classe dominante através da mídia da desinformação, pois não é admissível que não saiba sobre responsabilidades relativas a “porrada em São Paulo”, aí então, só resta responder-lhe com bordões:

    “FALA SÉRIO!”

    “ASSIM NÃO DÁ! ASSIM NÃO PODE!”

    Duvivier.  

  10. PT fez interpretação errada sobre protestos de 2013

    Apontar erros havidos não significa traição.

    Isso faz parte de qualquer processo que se pretende saudável.  As correções de rumo em ações fora do ordenamento administrativo e objetivos traçados são corriqueiras.  Fazem parte dos procedimentos regulares.

    Assim ocorre também na política. 

    E aí deveria ser bem mais atuante face aos choques naturais da atividade.

    As administrações petistas erraram sim.

    Nada demais no reconhecer.

    Pior seria esconder sob falsos argumentos que levariam a erros iguais no futuro.

    A omissão no comando de instituições básicas do Executivo – BC, PF, MPF entre outras – políticas econômicas neoliberais, abandono de diálogo e não esclarecimento do embate político ao povo, o financiamento de empresas tradicional e visivelmente empenhadas no ataque sistemático e mentiroso ao governo e, acima de tudo, o não enfrentamento firme dos adversários.

    Não se dorme com o inimigo.

    Não se abre mão do comando.

    Governar é comandar com os seus visando entregar o prometido no processo eleitoral.  Para isso temos eleições periódicas.

    Como já foi dito – “fomos ingênuos”.

  11. Tarifa zero?

    Tarifa zero? Quaquaquá!

    Juventude? Qual? A classe média “progressista” e da pauta magra?

    Na real, retomar essa discussão com base na pauta magra, como se fosse uma “pureza de real intenção e princípio”, é ótimo para aliviar a responsabilidade.

    Quem desceu o cacete foi a polícia militar de qual governo, perguntam embasbacados meus botões.

    O “direito à cidade”, Lefebvre emburacado à condição de clichê, foi varrido com a chegada de Doria. A classe média da pauta magra não preferiu bater no Haddad; só poderia bater no Haddad, pois da direita, apanha até sangrar (perdeu a noção, mas não a vergonha, né, playboy?)

    Se fosse realmente algo sério, teria continuado. Mas não.

    Nenhuma cabecinha iluminada e arrogante do Movimento Passe Livre, se sente responsável pela ditadura branca que aqui se instalou.

    Mas talvez haja algum motivo. Calma. Estou ligado. O mestrado e o doutorado são mais importantes, nénão?

     

     

  12. Falta a energia de ativação

    Penso que neste momento a apatia da sociedade é uma falsa aparência:

    ” Nem tudo que reluz é ouro

    Nem tudo que balança cai.

    Nem todo franzino é fraco

    Nem todo forte é valente

    Nem todo veneno mata

    Nem toda cobra é serpente. “

  13. Obviamente que são dois

    Obviamente que são dois movimentos diferentes, de 2013 e 2016. O primeiro, tinha presença mais diversificada, de parcela da esquerda, inclusive, da juventude das periferias; o outro, já era um movimento claramente de direita, da classe média, teleguiada pela Globo e pela Fiesp. O PT de fato, no terceiro mandato, sofreu natural desgaste, com agravantes: a) Dilma sempre teve muita dificuldade de um diálago direto com outras forças e com os movimentos sociais, b) Lula desapareceu do mapa, deixando um vazio preenchido pela Globo e pelas forças da direita, c) a direita conseguiu destruir ou isolar boa parte de outras lideranças do PT, como José Dirceu e José Genoino.

    Em 2013 havia uma disputa inicial no interior daquele movimento, e não apenas conflito geracional. A esquerda como um todo – e o PT principalmente – falhou em não disputar este movimento. Lembro-me que em BH, onde participei de algumas caminhadas com milhares de pessoas, havia uma forte presença de uma classe média conservadora, moralista, que puxava palavras de ordem, mas não conseguiu dar hegemonia ao movimento. Onde e quando os militantes de esquerda apareciam com palavras de ordem de enfrentamento ideológico ao moralismo desse setor da classe média, notava-se a adesão de muita gente. A presença dos black blocs e de outros grupos que desejavam radicalizar assustou os setores mais conservadores que deixaram de participar de outras manifestações.

    Em BH, pelo menos, o movimento perdeu força e os últimos moicanos foram os anarquistas e grupos autônomos da periferia que se reuniam na Praça da Estação. E que chegaram a ocupar a Câmara dos Vereadores de BH, conseguiram uma inédita audiência com o então governador Anastasia, que jamais recebia lideranças do movimento social e naquele momento tremia de medo de haver uma rebelião popular contra o governo dele. No Rio de Janeiro todos nós acompanhamos pela Internet a movimentação de grupos autônomos. E em SP, ao que parece, havia realidades próprias, como de resto em todo o Brasil.

    Portanto, não considero também que 2013 tenha sido o início do golpe de 2016. Acho até que 2013 mostrou para as elites dominantes que, apesar de toda a manipiulação da Rede Globo e demais mídias de direita, dificilmente os governos do PT seriam derrubados nas ruas. Por isso, montaram esse esquema golpista envolvendo a Operação Lava Jato, os deputados e senadores comprados e grupos da PF, do MPF, além do STF e da calsse média eterna analfabeta política, todos eles pautados pela agenda das elites internacionais e seus associados locais.

    O PT, infelizmente conseguiu a proeza de se isolar, mesmo tendo vencido as eleições de 2014, adotando o mini pacote neoliberal do segundo mandato de Dilma – foi isso, principalmente, que afastou a base social que a elegeu -, além da total incopetência dos ministros de Dilma, como Zé Cardozo e outros, que assistiram em silêncio à conspiração golpista que se preparou nas barbas do governo, e que ele foi incapaz de desmontar esse nó, mesmo tendo a caneta, o Diário Oficial e uma base social que poderia ser reconstruída caso houvesse diálogo aberto e medidas (como Medidas Provisórias) de proteção social, sobretudo contra o desemprego. Política é para profissionais, no melhor sentido, e a liderança do PT e seus aliados naquele crucial momento foi amadora, apostando num republicanismo de atores já totalmente dominados pelo ódio e pelos próprios e mesquinhos interesses.

  14. Insatisfação e mobilização jovem

    Temos aí um debate que precisamos nos aprofundar.

    Na minha opinião, as jornadas de junho de 2013, assim como outros eventos do tipo (Primavera Árabe, por exemplo), o movimento da juventude de esquerda teve a liderança, sim, mas facilitada por uma máquina invisível movida por interesses conservadores da elite, que só mais à frente mostrou sua verdadeira face (com o MPL – quem se lembra??? – cedendo espaço para o MBL, etc.).

    Não fosse isso, as ruas estariam apinhadas de jovens, pois o desemprego juvenil atingiu, em 2017, níveis recordes devido à política econômica praticada por Meireles, do governo Temer. Vejam o gráfico abaixo: a taxa de desemprego de jovens de 16 a 24 atingia um dos menores níveis no ano de 2013. O desemprego juvenil era enorme no governo FHC e agora chegou ao píncaro. Por que não tivemos movimentos tão vistosos como os de 2013 nesses dois períodos de maior mal-estar social entre os jovens? Minha interpretação disso foi que a articulação conservadora que insuflou as ruas em 2013 foi a mesma que sabotou manifestações de esquerda em governos de agenda de direita.

    https://www.dropbox.com/s/0kwlavw9ppo2t1h/Captura%20de%20tela%202017-10-05%2015.23.08.png?dl=0

     

     

     

  15. Sejamos coerentes:

    Concordo com o Gregorio, temos que abrir a mente para a realidade de tudo que aconteceu e não repetir os mesmos erros.

    Só porque sou PeTista não quer dizer que não posso aceitar as criticas, somos brasileiros antes de tudo. Acho que o trauma de tudo é culpá do PT ja passou.

    Na atual conjutunra politica o concervadorismo me leva ao Lula ou a Dilma, o que temos hoje são falsos progracistas ou criminosos mesmo.

    Sempre votei na legenta e sempre votarei, OK que quem acompanha o partido sabe que temos algumas maçãns podres mas são um ou dois esses estão na blacklista junto com os golpistas.

  16. Certíssimo

    Duvivier acertou na mosca quando fala em corte geracional e na interpretação equivocada do PT.

    Sou da geração que passou a adolescência e parte da juventude na ditadura. Nós temos nossa “cabeça feita”. Votamos contra ou a favor da ditadura sob suas diversas formas de manifestação. Não vale a pena perder tempo conosco, cristalizados em nossas posições não mudaremos a orientação dos nossos votos seja no que for.

    Já a geração que nasceu após 1975 não cresceu sob um regime de exceção e grande parte não tinha tido, até agora, que lutar contra crises. É a geração que entrou no mercado de trabalho no pós-Plano Real. Claro que muitos vivenciaram os anos conturbados, entre 1994 e 2001,  e tiveram que aguentar o tranco do período, o que não foi fácil. Crise do México e o efeito tequila, crise da Ásia, crise da Rússia, crise da Argentina, crise das Ponto Com e a crise do dólar ou a crise do Brasil de FHC. Essa última foi emblemática porque foi a única em que o governo brasileiro não conseguiu jogar o mico no colo das causas externas. Mas, conseguiu, com a ajuda de sempre aos governos do PSDB, esconder o culpado, ao menos no nome de referência ao desastre. E, por fim, temos a crise de 2008/09.

    Toda essa sucessão de eventos tinha uma único fator de percepção em comum, especialmente, o último. Havia a certeza de que seriam superados rapidamente e que a trajetória de desenvolvimento do Pais não seria afetada ao ponto de se interromper. Ao se olhar para a frente sempre se vislumbrava um cenário melhor do que quando se olhava para trás, isto é, apesar das dificuldades não se reconheciam perdas efetivas ou, ao menos, se mantinham as espectativas de um futuro melhor.

    Essa parece ser a grande diferença de interpretação em relação à crise presente e isso afeta especialmente, como dito, a geração pós-ditadura que não sabe ou não lembra do que é viver em regime de exceção e não sabe o é que enfrentar sucessivas crises de  recessão intercaladas com períodos de estagnação. Não tem a menor idéia do que é conviver com taxas de hiperinflação, em maio de 1989 o IPCA chegou a 82,39% de variação no mês. Desde antes de 1980 se havia perdido o controle da inflação, naquele ano a variação anual do IPCA já registrava 99,7%, em 1989 batia em 1972,9% e, em 1993, alcançou inacreditáveis 2.477,15%. Nossa geração viveu durante 20 anos esperando pelo fundo do poço. É algo inimaginável para quem nasceu depois. Todos parecem ter esquecido ou não saberem que a década de 80 ficou conhecida como a década perdida, mas em termos econômicos foi um ciclo que se iniciou em 1974 e se encerrou em 1994.

    E, como já foi dito aqui, a Economia e a Política estão interligadas, amalgamadas e o sentimento sobre as perspectivas que os cenários econômicos nos dão formam nossa visão política e vice-versa. Logo, referindo-me ao corte geracional destacado pelo Duvivier, é sobre esse aspecto que o PT ou qualquer partido de esquerda que deseje vencer nas próximas eleiços deveria se ater. Tentar entender o que, de fato, motiva o voto desta geração, pessoas abaixo dos 40 anos que compõem o maior eleitorado e que irão definir a próxima eleição.

    Não adianta discursar sobre defesa à Democracia e sobre os sucessos sociais e econômicos do governo do PT para quem não viveu o contraponto, não faz sentido, não há parâmetros de comparação. Dentre os da geração pós ditadura, os mais novos encaram esse período como o normal e esperado enquanto os mais velhos enxergam uma linha contínua que se iniciou no Plano Real. A interrupção dessa linha se deu no segundo mandato da Presidenta Dilma. Esse é o ponto de ruptura e o de partida para entender e construir a argumentação que encontre eco e motive essa faixa de eleitores.

    Se isso não for obtido, tenho que concordar com o Duvivier que a esquerda e o PT serão derrotados, novamente.

     

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