Richa aproveita morte de aluno em escola para pedir que pais ajudem na desocupação

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O governador do Paraná Beto Richa (PSDB) usou a morte do estudante Lucas Eduardo de Araújo Mota, 16, para pedir que os pais auxiliem o Estado na desocupação das escolas públicas por outros alunos, que acontece desde o último dia 6. Os jovens estão em mais de 800 unidades, em protesto à reforma do ensino médio e à PEC 241, que congela os investimentos em educação pelos próximos 20 anos. Ambos as propostas foram encaminhadas pelo governo Michel Temer (PMDB) sem discussão com a sociedade.

Em nota à imprensa, Richa disse que a morte de Lucas “é uma tragédia chocante, que merece uma profunda reflexão de toda a sociedade. É ainda gravíssimo e lamentável, porque aconteceu no interior de uma escola ocupada, que deveria estar cumprindo a sua missão de irradiar a luz do conhecimento e a formação da cidadania”, disse. “Renovo o meu apelo para que os pais redobrem o cuidado com seus filhos. Peço ainda, mais uma vez, que os estudantes encerrem esse movimento”, acrescentou.

O secretário de Segurança Pública do governo Richa, Wagner Mesquita, disse à imprensa que Lucas foi vítima de facadas no pescoço e no peito, desferidas por um “amigo de infância” que participava da ocupação com ele. Ambos teriam feito uso de drogas, afirmou o titular. “Segundo relato do menor autor do crime, eles dividiram uma droga que chamam de ‘balinha’. Foram então até o alojamento, onde tiveram uma discussão.” A Polícia Civil disse que foi um crime isolado.

O movimento Advogados e Advogadas pela Democracia emitiu uma nota aos pais dos alunos, alertando para o clima de violência fomentado por um grupo de alunos e outros pais contrários às ocupações, apoiados por militantes do MBL (Movimento Brasil Livre).

“Diante da tensão provocada nas redes sociais, em especial promovida pelo grupo MBL, contrário às ocupações, e que vem difamando os alunos nas redes sociais, o risco de haver confrontos violentos entre alunos é iminente, podendo o local se tornar uma praça de guerra; circunstância perfeitamente previsível por qualquer pessoa de inteligência mediana!”

Em um vídeo postado na página oficial dos Advogados, adultos são vistos arrombando o portão de uma escola e forçando a entrada.

De acordo com os Advogados, quem tentar remover alunos das ocupações à força pode ser responsabilizado criminalmente. “As ocupações são questões a serem resolvidas EXCLUSIVAMENTE PELA VIA JUDICIAL nas ações de reintegração de posse já em trâmite; Estando a escola ocupada pelos alunos, ninguém, repetimos, ninguém poderá adentrar no local sem autorização dos manifestantes ou ordem judicial, seja oficial de Justiça, Conselho Tutelar ou Polícia, sendo crime se isto ocorrer. (…) Diante disto, sendo V. Sa. maior, capaz, estando ciente das consequências dessa barbárie, solicitamos a se ABSTER IMEDIATAMENTE DE QUALQUER ATO DIRECIONADO À ESCOLA. (…) Caso insista, por EXPOR CONSCIENTEMENTE ADOLESCENTES À SITUAÇÃO DE RISCO E VIOLÊNCIA, vimos por meio desta, para resguardar direitos e prevenir responsabilidades, NOTIFICÁ-LO de que, por incitar este ato evidentemente hostil, Vossa Senhoria será devidamente RESPONSABILIZADO CRIMINALMENTE.”

Em nota, a UNE (União Nacional dos Estudantes), UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) e ANPG (Associação Nacional dos Pós-graduandos) lamentaram a morte do jovem Lucas. “Acompanhamos as investigações e vamos exigir das autoridades competentes todo a atenção e cuidado para que o esclarecimento deste caso seja feito com urgência. As entidades lamentam, ainda, a tentativa de utilizar tal acontecimento trágico como forma de criminalização dos movimentos sociais.”

Na noite de segunda (24), a UBES informou que já são 1.072 ocupações por todo o país. Desse número, 995 são escolas e institutos federais (IFs), 73 são universidades e 03 são Núcleos Regionais de Educação (NRE). Só no Paraná, são 847 escolas.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

8 Comentários

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  1. Pq o Richa não apelou para que a elite pare o trâmite da PEC241?
    O governo Richa foi parcial. Porque ele não deixa os alunos exercerem sua cidadania?
    Porque não apelou para que a elite truculenta finde a tramitação legislativa da PEC 241 e para que o MBL pare de provocar os estudantes?
    Coração de estudante, há que se cuidar da vida, há que se cuidar do mundo, tomar conta da amizade. Alegria e muito sonho espalhados no caminho…
    É o recado do Velho Milton Nascimento aos heróicos e combatentes estudantes

  2. Lamento o ocorrido. Mas
    Lamento o ocorrido. Mas ressalto que os adolescentes envolvidos não foram estimulados pelo movimento de ocupação a usarem drogas ilícitas. Pessoas usam drogas, da direita e da esquerda. Não deixemos que o fato criminalize o movimento que é mais do que legítimo. Penso que devemos , os que pensam de maneira semelhante a mim, ir para o face porque a batalha vai ser travada nele.

  3. Um outro olhar
    Fanatismo, rancor e cálculo: como a morte de um menino virou arma política

    A morte de um adolescente é uma tragédia em si. Um homicídio de um menino de 16 anos poderia gerar uma única atitude decente: dor e consternação. Tristeza. Luto. Não foi o que aconteceu nesta segunda, em Curitiba.

    A história do menino morto é especialmente trágica. Quem o matou foi um colega. Um amigo de infância. Os dois são menores de idade. Os dois tinham a vida pela frente: agora, um está morto; o outro está e será, para sempre, marcado por um homicídio.

    A radicalização do discurso político, porém, fez com que muita gente não visse nisso uma tragédia, e sim a chance de externar ódios políticos. Parte desse ódio é rancor verdadeiro, de quem vê no outro um inimigo, o mal. Parte é ainda pior: é cálculo político-partidário.

    Imediatamente após a notícia da morte, políticos profissionais começaram a discursar sobre o caso. Ainda nem se sabia exatamente o que tinha acontecido, e deputados já estavam na tribuna. Falando sem saber – isso acontece mais vezes do que gostaríamos.

    Um disse que a culpa era do PT, por insuflar as manifestações. Outro, que a culpa é do governo do estado, por não agira de maneira adequada contra uma Medida Provisória do governo federal. Na internet, o show de horrores prosseguiu.

    Soube-se depois que a morte não tinha nenhum motivo político. Pouco tinha a ver com o fato de a escola estar ocupada, na verdade. Os dois tiveram, segundo a polícia, um confronto por causa de problemas entre eles – conflito motivado, talvez, por desequilíbrio químico, por drogas.

    Isso poderia ocorrer na escola ocupada – e fica até mais provável, num ambiente sem fiscalização – mas poderia ocorrer em qualquer outro lugar. Se o fato de não haver adultos em número suficiente colaborou para isso, deve-se discutir isso. Não mais do que isso.

    Nas redes sociais, militantes dos dois lados participaram do circo. Colocam a culpa em Richa (que jamais ordenou a desocupação de uma escola e, admita-se, ouviu os alunos e foi a Brasília levar seus pedidos). Colocam a culpa na radicalização da esquerda (numa evidente tentativa de deslegitimar todo um movimento que tem, no fundo, várias boas razões para ocorrer).

    Quem optou nessa semana pela radicalização optou por deixar morrer dentro de si um pouco de sua humanidade. Ao invés de se chocar com o que há de mais triste na experiência humana, preferiu usar isso em nome do ódio, do rancor e do cálculo.

    A política deveria ser uma parte da vida, não toda ela. A política partidária deveria ser menos importante do que a vida e a morte. Especialmente do que a vida e a morte de meninos de 16 anos. Eles viveram e morreram por questões que ainda temos de entender. A política no Brasil está morrendo por não conseguirmos entender que há mais na vida do que demonizar quem pensa diferente, ainda que a custo da dor alheia.

    http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/caixa-zero/fanatismo-rancor-e-calculo-como-a-morte-de-um-menino-virou-arma-politica/

  4. @MichelTemer incendiou o
    @MichelTemer incendiou o Brasil com a PEC-241 e a primeira vítima foi esfaqueada no Paraná. O @MPF_PGR denunciará o verdadeiro assassino?

    O @MPF_PGR acobertará o homicídio de @MichelTemer ou lavará as mãos num rio de sangue da @uneoficial e @ubesoficial?

    1. O homicida moral aqui é a
      O homicida moral aqui é a APP, que esá usando esses adolescentes como escudo humano. Um escudo humano que, tristemente, nem sabe por que está ali; não tem a menor noção do que é PEC ou medida provisória; um escudo humano que se contenta em ter aulas de parkour, de teatro, de capoeira, de artes, fora das salas, num paraíso adolescente sem obrigação, sem pais, sem qualquer adulto que os tutele. Um paraíso adolescente onde a droga corre solta e a galera fica numa viagem utópica, vivendo os sonhos de lutas de seus professores.

  5. Acho que urge que seres
    Acho que urge que seres adultos se responsabilizem pelo descalabro que esse movimento vem tomando. O que esses estudante querem? Forçar o governo federal a retirar suas PEC e medidas provisórias, numa romântica luta de Davi contra Golias? E se isso não ocorrer, vão passar o resto dos seus dias “ocupados”? E o resto dos estudantes e o direito deles? Afinal, é uma minoria que está lá dentro, prejudicando-se e prejudicando os outros. Absurdo dos absurdos: não deixam que seus pais entrem no local. Seus pais! É brincadeira? Enquanto isso, a galera das escolas que estão funcionando está estudando a pleno vapor, preparando-se para o ENEM e para ver aumentar o fosso entre eles e a galera “ocupada”, ao passarem em seus testes e deixarem esses últimos comendo poeira. Mas os professores que apoiam os ocupados estão achando linda a luta… lindas as vidas que estão sendo desperdiçadas em nome da ideologia.

    1. “lindas as vidas que estão
      “lindas as vidas que estão sendo desperdiçadas em nome da ideologia.” Da sua ideologia, inclusive. Esta que faz propaganda e proselitismo político em cima de um crime trágico envolvendo adolescentes. E que defende a PEC que certamente vai criar ainda mais crimes em 20 anos, por reduzir investimentos em educação, um quarto das vidas de várias gerações.

  6. É bem estranho. Nas escola
    É bem estranho. Nas escola ocupadas aqui em São Paulo tenho absoluta segurança para dizer que o uso de drogas e álcool estava absolutamente proibido pela comissão de alunos. É do interesse de quem que haja bagunça nas escolas ocupadas? Dos alunos é que não. Sinceramente…

    Bem, sinceramente não deu para acreditar nem no próprio ano e nem hoje, que em ’81, no Riocentro, “alguém plantou” uma bomba no automóvel do sargento e do capitão… Lamento mas não sou bobo, de novo não acredito na versão oficial.

    Não posso afirma o que houve mas não tenho como deixar de ficar em dúvida e com fortes suspeitas apontando para os golpistas. Esse é um ônus com que todo golpista tem que contar, sempre.

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