Sabesp quer reajuste maior para contas pois teve prejuízo com crise hídrica

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – O negócio funciona da seguinte forma: anos e anos sem fazer investimentos na infraestrutura, anos distribuindo dividendos aos acionistas, e uma seca coloca tudo a perder. Nem pensar. A Sabesp não quer deixar de ser rentável aos acionistas e vai jogar, de novo, para o consumidor. A empresa de saneamento estuda pedir uma revisão tarifária extraordinária além do reajuste, para fazer frente ao caos instaurado. Mas o alegado é “o aumento do custo de energia elétrica”, que a empresa diz que não estava previsto em seu plano de negócios de 2014.

A medida é boa… para a Sabesp. O consumidor vai continuar pagando por uma água que não consumiu, por um investimento que foi prometido e não cumprido. Enfim, depois da economia toda que a população fez, além de não ser agraciado com água de qualidade, ainda lhe dão um aumento na tarifa.

A Sabesp alega dívida em dólar, endividamento preocupante pois a economia dos consumidores levou á diminuição de receita, além de afirmar que o bônus dado para os que economizam pesou no bolso da empresa. Daí pode não conseguir honrar as cláusulas dos contratos efetuados para esses aportes. Um dado preocupante é que, para fazer frente à crise, a Sabesp cortou R$ 1,1 bilhão em despesas. Um leitor atento pediria que a empresa explicasse mais este item, pois que dá certo receio de que o corte tenha sido feito exatamente nos pontos em que atinge diretamente a população, tal como equipe de manutenção ou tratamento de água. Leia a matéria da Folha. 

Enviado por MCN

População paulista economiza R$ 1,5 bi com racionamento de água em 2014 e abre rombo nas contas da concessionária.

da Folha

Sabesp estuda pedir reajuste acima da inflação para equilibrar contas

ÉRICA FRAGA – DE SÃO PAULO

A Sabesp, empresa de saneamento paulista, estuda propor uma revisão tarifária extraordinária além do reajuste pela inflação previsto para abril, a fim de tentar mitigar a forte deterioração de sua situação financeira.

A revisão extraordinária teria de ser aprovada pela Arsesp, autoridade regulatória do setor. O principal argumento para o reajuste acima do previsto é o aumento do custo de energia elétrica que não estava previsto no plano de negócios da empresa, aprovado em 2014.

  Zanone Fraissat/Folhapress  
Obras para captação de água do volume morto do sistema Cantareira, em Joanópolis (SP)
Obras para captação de água do volume morto do sistema Cantareira, em Joanópolis (SP)

Se efetuado, o pedido fará parte de um arsenal de medidas que a Sabesp tem adotado para tentar manter seu equilíbrio financeiro em meio a choques negativos que incluem, além da crise hídrica, o aumento de sua dívida em dólar, que não conta com proteção contra desvalorização cambial (hedge).

“Claramente, a Sabesp está sob uma situação de estresse financeiro. Estamos reagindo com unhas e dentes para manter a situação financeira sustentável”, disse à Folha Rui Affonso, diretor financeiro e de relações com investidores da empresa.

A crise hídrica afeta as contas da empresa por dois canais principais.

Por um lado, tem levado a forte redução da receita em consequência da diminuição do consumo de água e do desconto concedido a clientes que conseguem economizar.

Por outro, tem obrigado a Sabesp a fazer investimentos emergenciais para tentar garantir o fornecimento de água.

FALTA DE PROTEÇÃO

Além disso, quase 40% da dívida da empresa –que somava R$ 9,6 bilhões no terceiro trimestre de 2014– é denominada em moeda estrangeira, principalmente dólar. Mas a Sabesp não conta com instrumento financeiro que protegeria esse tipo de endividamento de uma desvalorização cambial (hedge). Isso significa que a depreciação recente do real tem feito o valor da dívida aumentar.

Como a maior parte do endividamento externo da empresa é de longo prazo e contraída a juros baixos em instituições multilaterais, seu aumento tem pouco impacto no caixa da empresa, pois não implica amortizações substancialmente maiores.

No entanto, a depreciação do real afeta o balanço da Sabesp, piorando seus indicadores financeiros. Contribui, por exemplo, para um aumento da relação entre o valor da dívida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

Importante indicador de saúde financeira de uma empresa, essa relação, que já tinha subido de 2,3 para 2,9 entre o primeiro e o terceiro trimestres de 2014, piorou.

O risco que a empresa tenta evitar é que a deterioração dos indicadores financeiros a leve a descumprir cláusulas contratuais com credores (chamadas “covenants”) que visam protegê-los do risco de insolvência.

Segundo Affonso, a empresa tem conseguido manter os indicadores ainda longe dos níveis que levariam à quebra dessas cláusulas.

“Precisamos evitar isso de toda forma porque prejudicaria o acesso da empresa a crédito, que é fundamental para garantir os investimentos da empresa”, afirma Affonso.

Em 2014, a Sabesp cortou R$ 1,1 bilhão em despesas para compensar a deterioração das suas finanças.

“Tudo o que podíamos cortar cortamos. Despesas que não atendiam a prioridade absoluta de manter a população abastecida foram postergadas.” Em 2015, segundo o diretor financeiro da Sabesp, os cortes serão aprofundados.

Os investimentos emergenciais serão cobertos pelo caixa da empresa e pela antecipação de desembolsos de dívida que ocorreriam à frente.

REAJUSTES ANTERIORES

É nesse contexto de administração espartana das contas que a empresa estuda pedir outra revisão tarifária extraordinária em 2015.

Um reajuste desse tipo já havia ocorrido no ano passado, parte de revisões feitas a cada quatro anos para garantir o equilíbrio financeiro das concessionárias.

O reajuste deveria ter sido aplicado em abril de 2014, mas foi postergado para dezembro e ficou em 6,49%.

Para abril deste ano, está previsto, com autorização da Arsesp, um reajuste apenas para repor a inflação. O mercado estima um aumento da tarifa de cerca de 5,5%.

Mas a Sabesp considera solicitar uma revisão extraordinária, que pode ser concedida quando custos imprevistos no plano de negócios ameaçam as contas.

O argumento estudado pela empresa é que o reajuste da energia elétrica –custo importante na operação de abastecimento de água– não era previsto na magnitude em que tem ocorrido.

Segundo Affonso, a Sabesp esperava que o custo de energia estivesse cerca de 15% abaixo do atual. Além disso, pondera, aumentará mais.

“Manter a estabilidade financeira da empresa também é uma das funções da agência reguladora”, afirma.

FAZENDO ÁGUA

R$ 1,5 bi
Foi a perda de receita da Sabesp em 2014 com o programa de bônus na conta

R$ 1,1 bi
Foi o corte de gastos feito pela empresa para compensar despesas imprevistas

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

28 Comentários

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  1. O texto bem como o cerne da

    O texto bem como o cerne da questão está equivocado.

    Nâo é a Sabesp que tem que arcar com o problema e sim o Governo do estado de SP.  Ele é quem deveria ter pensado estratégicamente os investimentos necessários e demandado a quem quer que seja, executá-los (Sabesp ou outra empresa, ou adm direta). Se for o caso ele deve capitalizar a Sabesp.

    Nâo é uma empresa, que não é só de um estado, que tem que arcar com problemas de planejamento desta mesmo estado.

    1. O problema não é bem assim!

      Daniel, a Sabesp não vende sapatos nem roupas femininas! Parece ridícula a afirmação, mas vamos aos fatos.

      A Sabesp tem um MONOPÓLIO que inclusive é utilizado para evitar que o consumidor procure outras fontes de água, ou seja, há toda uma normatização que impede, por exemplo, o uso de poços. Além disto o produto da Sabesp é um produto que não pode ter uma demanda elástica nem pode ser substituído por outro. Além disto a Sabesp utiliza como insumo a água que não é comprada, mas sim deve ser armazenada e neste ponto que a mesma falhou no seu planejamento.

      Se a fiscalização foi frouxa não é motivo de alegação de descompromisso da empresa em termos de planejamento, pois quem possui todos os dados para projetar o futuro é a empresa. Se a responsabilidade do planejamento fosse totalmente do Estado então não teria nenhum motivo para haver a empresa, pois para fazer um planejamento isto envolve custos de projetos e pesquisas, que deveriam estar no próprio orçamento da empresa.

      Mesmo em estados e municípios onde o fornecimento da águam é público, as empresas de saneamento possuem orçamentos desvinculados do erário público e a maior pare da responsabilidade pelos investimentos é retirado tanto do orçamento das empresas e de empréstimos retirados pelas mesmas.

      O planejamento de uma empresa de saneamento não pode conceber uma situação de desabastecimento total, pois como coloquei desde o início, não são sapatos que faltando no mercado as pessoas podem adiar as suas compras ou trocar por tamancos.

      A água para abastecimento público é colocada tanto na legislação nacional quanto na internacional como um bem público e se uma empresa não recebe apoio legal do estado para cumprir os seu papel ela deve denunciar o fato e não escondê-lo.

  2. Não é novidade

    Mas qual é a novidade nisso? Na época do apagão do (des)governo FHC, toda a população sofreu com o racionamento e depois ainda teve que pagar a mais para compensar o “prejuízo” das distribuidoras.

    Este é o modus operandi tucano. O ferro na população é sempre dobrado, tudo para garantir os bons rendimentos para os que o (des)governo realmente serve.

  3. Borboletas no Mar da China

    Mas… e os 2 bilhões de dividendos distribuídos aos acionistas dalucrativa operação da “empresa privada” no último exercício?

    Isso expõe com clareza o objetivo dos tucanos: fazer do público o privado para aferir lucros, sem prestar os serviços que seriam o fulcro das atividades da empresa.

    Depois, quando ocorrem problemas, recorre-se, mais uma vez, aos bolsos dos consumidores e, também, aos cofres públicos.

    Por fim, exercício apurado, distribuem-se novos dividendos aos acionistas.

    O mundo perfeito do negocista tucano: trabalhar mal, lucrar muito e contar com a mídia para atribuir as responsabilidades ao clima, às adversidades do camada de ozônio, às borboletas que batem suas asas no Mar da China…

  4. É “lindo” demais ler os

    É “lindo” demais ler os indicadores da Sabesp. Há um desconto para quem economizar água, quem nem recebe todo dia, e agora querem um reajuste para compensar as perdas ficanceiras.

    O dólar está alto? Mas eles gostam tanto do dólar alto. Eles criaram o problema, e nós pagamos duas vezes. Sem água e com aumento da tarifa. 

  5. Crise só para quem paga a conta….a Sabesp conta a grana…

    Confesso que estava com muita raiva dos tucanos, despejando uma dose absurda de sofrimento na população do estado de São Paulo, pela incompetência no gerenciamento dos recursos hídricos que são propriedade do povo…. Mas analisando o perfil dos acionistas da Sabesp ( que recebem dividendos na bolsa de NY ), …. fiquei é apavorado….. A verdade é que não houve falha no gerenciamento da água, …. o que os caras queriam é isso mesmo ! a falta d’água vai é valorizar o investimento deles, que vão cobrar 10 vezes mais pelo m3 de água vendido para a população indefesa… Poucos dias atras, … o presidente da Nestle afirmou para quem quiser ouvir, ….” a água não é um direito do povo,….é um produto como qualquer outro, … tem dono e deve ser vendida a quem pode pagar “….

     

     

     

  6. Sabem de uma coisa?  O

    Sabem de uma coisa?  O sistema governamental brasileiro eh bem canalhinha, viu?

    As empreiteiras, todas no verde, condenadas aa morte por algum DA qualquer enquanto a Sabesp aumenta precos ao consumidor!

    Que nacaozinha mais canalhinha!

  7. Nada melhor do que contar com a Folha como

    departamento de propaganda e marketing do governo de São Paulo, eu fiquei até com pena da sabesp ao ler o texto…

  8. Mas temos um problema: tem 20

    Mas temos um problema: tem 20 anos que parcela considerável dos paulistas assina cheques em branco para o PSDB preencher como bem entender. Como esta parcela terceirizou para a imprensa sua capacidade de pensar, analisar e tirar conlusões, não vai acontecer nada. Apesar da pouca água, os tucanos continuarão nadando de braçada nas represas secas do Tukanistão e os acionistas não terão prejuízo.

  9. mario alex

    Essa turma da UDN por onde passam, são piores que sauva e gafanhoto africano, acabam com tudo. O mesmo aconteceu na era dos iluminados com o Apagão da governo FHC, o povo pagou a incompetência deles. Mais uma vez a história se repete. A Sabesp pagou 3.8 bilhoes de dividendos ( forma licita de dar o jabá aos iluminados) e vem ao governo, socializar com o povo,a juros módicos, os investimentos na Sabesp. Essa turminha não é boba não, bobo é quem vota e vai na conversa mole deles.

  10. Se a empresa teve PREJUÍZOS

    Se a empresa teve PREJUÍZOS como pode ter distribuído LUCROS na Bolsa de New York? Ou a Sabesp está agindo de má fé neste momento ou realizou distribuição lucros em NY mediante fraudes contábeis. Em qualquer dos casos a empresa deve ser investigada. 

    1. Basta ela ter reservas de

      Basta ela ter reservas de lucros anteriores.

      De qualquer forma a Sabesb não chegou a ter prejuizos em nenhum trimestre, só se teve prejuizo em alguma operação, mas não na totalidade da empresa.

  11. método neolibelê

     criam situações que rendem muito, mas são insustentáveis, como os negócios fajutos entre bancos que levaram a crise de 2008, ou distribuir lucros aos acionistas sem fazer investimentos em captação de água, como a sabesp.

    Quando a crise chega, tratam como se  fosse algo inevitável e transferem a conta para a população.

    Tudo com o apoio da mídia,  aqui ou lá fora, não faz diferença.  

  12.  O cara consome menos e paga

     O cara consome menos e paga mais. Como no racionamento do FHnistão. Enquanto isso o prefeito aqui de BH, Marcio Lacerda, vai arrancando o couro da população numa boa. Antes aumentou o ITBI de 2 para 2.5% e agora quer passar pra 3%. No IPTU ao invés de aumentar a alíquota resolveu aumentar a avaliação dos imóveis, que acompanham os pornográficos preços de mercado. Já os serviços prestados por esse inútil é bom nem comentar. Como é bom ser tucano ou amigo de tucano.

  13. impeachment para governo

    aproveitando a bola da vez dessa velha política…

    impeachment para governo alckmin é pouco…

    a crise hídrica do estado líquido que ameaça matar de sede a população e de insalubridade fedorenta a massa passageira no busão lotado dá justa causa política pelo conjunto da obra nunca realizada, pela gestão ruim, pela improbidade administrativa, pela irresponsabilidade atroz nos negócios de governo… dá justa causa legalista para condenar o cartel da dinastia tucana paulista ao ostracismo – sem água tratada, só água da chuva… e sem face nem redes sociais – na ilha do cardoso.

  14. A Dilma tinha que ter

    A Dilma tinha que ter condicionado a ajuda financeira ao Governo de SP . Devia ter pedido uma contrapartida de investimentos da empresa a partir de uma grande fatia do seu lucro e dividendos a acionistas.

    Se os acionistas do exterior não concordassem, que se re-estatizasse a SABESP ou a colocasse em mãos de uma empresa brasileira.

    Quanto ao aumento de conta aos paulistanos e paulistas: como eu não moro em SP, que se explodam os 57% que elegeram o Alckmin em primeiro turno. É até bom que paguem mais caro pela água, assim eles deixam de gastar com energia e internet para vomitarem asneiras.

  15. A Sabesp teve prejuízo porque

    A Sabesp teve prejuízo porque estava vendendo grandes quantidades de água a preços abaixo do mercado para alguns consumidores abastados?

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