Samarco sabia dos riscos de rompimento de barragem desde 2013, diz MPF

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Do MPF

A subprocuradora-geral da República Sandra Cureau afirmou que a mineradora Samarco sabia dos riscos a que os moradores e moradoras do distrito de Bento Rodrigues estavam expostos/as, pelo menos desde 2013. Por essa razão, deve responder por todos os danos causados pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Minas Gerais. A subprocuradora fez a afirmação ao representar o Ministério Público Federal (MPF) em audiência pública na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira, 18 de novembro, que discutiu as ações de reparação ao meio ambiente e às vítimas da tragédia em Minas.

No inicio de novembro, a barragem da mineradora se rompeu e levou uma onda de lama com rejeitos de mineração a invadir o distrito de Bento Rodrigues e diversas comunidades próximas. Além disso, os rejeitos penetraram na bacia do Rio Doce. Dali, a corrente hídrica seguiu até o estado do Espírito Santo, em direção ao mar. Os peixes, que serviam de sustento para as populações ribeirinhas, estão mortos. A flora e a fauna foram duramente afetadas.

Para a subprocuradora, se a Samarco tivesse um plano de contingencia contra desastres como esse, os danos poderiam ter sido evitados, ou, pelo menos mitigados. “E a Samarco sabia que tinha que elaborar o plano, porque foram feitas recomendações pelo MPF neste sentido. Mas constatou-se que a empresa não tinha nenhum”, disse. 

Entre as providências recomendadas à Samarco e que não foram seguidas, estava a instalação de uma sirene ou alarme para alertar as comunidades em caso de rompimento. “Não havia nada. No rompimento, a empresa acabou não avisando ninguém”, completou. Pelo fato da empresa conhecer os riscos a que os moradores da região estavam expostos, Sandra Cureu defendeu que a Samarco seja responsabilizada, civil e criminalmente, pelos danos ocasionados ao meio ambiente e às vítimas do desastre e indenize moradores/as e famílias atingidas pelo rompimento.

Também as famílias das vítimas têm direito à indenização pela perda de seus entes queridos.

Garantias – O Ministério Público Federal já está atuando no sentido de que a empresa recupere o meio ambiente e para que as pessoas atingidas não fiquem desamparadas. O órgão montou uma força tarefa, que reúne MPs Federal e Estaduais de Minas Gerais e do Espirito Santo. Essa atuação conjunta já resultou em um acordo com a Samarco de R$ 1 bilhão, que deve garantir, provisoriamente, a recuperação inicial dos danos ambientais. 

No entanto, a subprocuradora alertou que, mesmo a empresa tendo assinado o acordo, não significa que o MPF abrirá mão de valores maiores que venham a ser apurados no desastre. “Não dá para dizer neste momento quanto vão pagar, ou deixar de pagar, porque não temos como avaliar ainda todos os danos causados. Os rejeitos continuam seguindo pelo rio Doce até o mar e atingindo as regiões vizinhas”, avaliou.

Acrescentou que, por se tratar de direitos e interesses indisponíveis, o MPF deve buscar a condenação da Samarco na reparação de todos os danos e, se não for possível, sua compensação.

Emergencial – O general Adriano Pereira Júnior, do Ministério da Integração Nacional, detalhou o plano emergencial para garantir, de forma imediata, apoio às famílias que perderam suas casas. Em Bento Rodrigues, o general explicou que as famílias, inicialmente, foram alojadas em um ginásio de Mariana. Logo após, foram para hotéis e pousadas da região. “E já está em curso a transferência das pessoas para casas alugadas pela Samarco”, explicou.

Sobre o abastecimento de água, vários municípios de Minas foram afetados pela onda de lama da barragem. O caso mais crítico foi o de Governador Valadares, que ficou sem água em seus reservatórios por alguns dias. Segundo Adriano Pereira, inicialalmente, a única forma de garantir o abastecimento do município foi por meio de carros pipa. “No entanto, notamos posteriormente que essa medida não seria suficiente para garantir água à população. Tínhamos capacidade para transportar apenas 700 mil litros de água e a população consome, diariamente, 15 milhões de litros”. 

A partir daí, estudos foram feitos para analisar se a estação de tratamento local teria capacidade para tratar a água do Rio Doce, mesmo nas condições em que se encontrava, com alto grau de turbidez. Segundo disse, após a coleta de dados, os resultados mostraram que o rio já estava mais “limpo” e, desde sábado, a companhia de tratamento local voltou a receber água do manancial. “Com isso, as residências da cidade, desde segunda-feira, voltaram a receber normalmente a água tratada do Rio Doce”, concluiu.

Ouça aqui mais informações:

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

9 Comentários

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  1. Caso esta informação seja

    Caso esta informação seja verdadeira, os diretores da Samarco terão que responder por multiplos homicídios dolosos.

  2. Índices de mercúrio…

    Caro Nassif

    Já se perguntou, porque a lama da Vale – Samarco, que poluiu o Rio Doce, tem altos índices de mercúrio, que eu saiba, para extrair minério de ferro, não precisa de mercúrio, substância muito utilizada na exploração de OURO, fica a pergunta…..

  3. E o MPF, sabia?

    Se o MPF sabia desde 2013 que havia riscos, porque naquele ano não determinou a prisão de um ou dois diretores,, pelo menos prá dar um susto na Samarco e fazer com que as providências fossem efetivadas?

    1. Pra pegar carona mediatica no

      Pra pegar carona mediatica no acidente que estava certo de acontecer, como essa venenosa ODIOSA “mulher” (nao vou dizer nem o nome) esta fazendo agora.b  Eh tudo pose.  A propria Samarco ja esta manipulando TUDO em Minas, como eh de se esperar de estados de merda.

  4. Ja fiz simulação de

    Ja fiz simulação de rompimento de barragem

    como escrevi outro dia, um estudo de simulação de rompimento de barragem é teoricamente simples e deveria ser obrigatorio pra qualquer barragem no Brasil. Um estudo destes em mão pode-se verificar quanto tempo leva esta onda até chegar no aglomerado mais proximo, quais casas afetadas, intensidade de impacto entre outros.

    coloquei aqui um link de uma simulação. Ainda vou colocar outros.

    https://www.youtube.com/watch?v=iKsbT3pt2yA

    Deveria ser obrigatorio no Brasil um estudo destes. Depois os resultados deveriam ser publicados via video num portal aberto, de forma bastante transparente com acesso pra qualquer cicadão.

  5. Alteamento da barragem estava sendo executado disse o engenheiro

    Apareceu nas reportagens um engenheiro da Samarco que declarou que eles estavam executando um alteamento da barragem, o que acarreta um aumento da pressão da lama na represa de rejeitos, se foi constatado risco, em 2013, deveria haver paralização da mineração, imediata.

  6. Tem acionista lá fora
    Tem acionista lá fora querendo processar a Petrobras por supostos prejuizos causados pela corrupção. Quero ver se vão processar a Vale do Rio Doce, já que vão ter que pagar pelo estrago em Mariana e etc…

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