Segundo Bebianno, Guedes chamou Moro para ministério antes do 2º turno

Ex-presidente do PSL disse que havia sido convidado por Bolsonaro para assumir o posto que, mais tarde, acabou sendo ocupado pelo ex-juiz da Lava Jato

Foto: Marcos Corrêa / Presidência da República

Jornal GGN – Em entrevista para o jornalista Fabio Pannunzio, concedida no final de semana, o ex-presidente do PSL e ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, contou que o então juiz responsável por julgar os casos da Lava Jato no Paraná, Sergio Moro, foi sondado para assumir o ministério da Justiça e Segurança Pública antes do segundo turno das eleições presidenciais de 2018.

Bebianno disse que o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, foi o responsável por intermediar o diálogo com Moro. O ex-presidente do PSL disse ainda que antes de o ex-juiz ser cotado, Bolsonaro havia feito convite para que ele assumisse o ministério da Justiça.

“Entre o primeiro e o segundo turnos, um dia eu chego à casa do Paulo Marinho [empresário filiado ao PSL], onde foi montada a estrutura, estúdios, inclusive para a gravação dos programas eleitorais. Naquele dia, o Jair tinha chegado um pouco mais cedo (…), ele disse para mim o seguinte, exatamente com essas palavras: ‘Gustavo, você está isso aqui [aproxima o polegar e o dedo médio, indicando proximidade] para ser o próximo ministro da Justiça”, relatou Bebianno.

Segundo ele, Bolsonaro havia alegado que estava preocupado com seu “pavio muito curto”. Bebianno disse ter respondido ao então candidato que isso seria resolvido, e os dois se deram um abraço como que selando o acordo para que ele assumisse o Ministério da Justiça.

O ex-presidente do PSL conta, entretanto, que no dia do segundo turno foi comunicado que o futuro governo convidaria Sergio Moro para o posto. Quem estava responsável por esse diálogo com o ex-juiz era Paulo Guedes.

“O tempo passou e aí veio o dia do segundo turno, domingo, na casa do Jair. A gente chegou lá à tarde, umas 17h, 17h30, o Paulo Guedes estava na sala, me puxa, me chama e diz: ‘Bebianno, quero conversar com você um negócio importante’. Foi a primeira vez que o Paulo Guedes mencionou que estava conversando com o Sergio Moro. Ele me contou que já tinha tido cinco ou seis conversas com o Sergio Moro e que ele estaria disposto a abandonar a magistratura e aceitar esse desafio como ministro da Justiça”, contou Bebianno.

O ex-ministro disse que elogiou a preferência por Moro, considerando a “notoriedade” e o fato de ter “uma história” mais relevante que a dele, “no sentido público”. Depois, Bebianno foi convidado para assumir a Secretaria-Geral da Presidência, cargo que ocupou até fevereiro, quando foi exonerado do cargo após entrar em um embate com Carlos Bolsonaro, responsável pela comunicação do pai. Mais tarde, outro filho do presidente, Eduardo Bolsonaro confirmou que Bebianno foi demitido “pois seria o vazador oficial da presidência p seus amigos da imprensa”.

Dias antes de ser exonerado, o então ministro havia agendado um encontro com o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet.

Leia também: Bebianno responde Eduardo Bolsonaro: “jamais abri a boca para contar o que sei”

 

Papel de Moro na prisão de Lula

Ao ser questionado por Fabio Pannunzio se Moro teve contato com Jair Bolsonaro durante as eleições para discutir cargos, Bebiano respondeu que houve “zero” contato. “Inclusive houve ainda uma cena pública, em um aeroporto, em que o Jair se aproxima do Moro, cumprimenta, bate continência, e o Moro retribui de forma muito sóbria, constrangido e tal. O que eu posso afiançar é que: só se eu desconheço, mas de tudo que eu conheço, e eu estava vivendo ali, nunca houve nenhum contato prévio entre o Moro e o Jair. O que houve foram algumas conversas entre o Paulo Guedes e o Sergio Moro, iniciativa do Paulo Guedes, sondando o Moro para a função”, concluiu.

Moro foi responsável pela primeira condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cogitava concorrer às eleições presidenciais no ano passado. O petista foi preso em 7 de abril de 2018, após sofrer condenação na segunda instância. Ele foi solto no dia 8 de novembro deste ano, após decisão do Supremo Tribunal Federal contra a prisão após condenação em segunda instância.

Em agosto de 2018, mesmo preso, Lula liderava as intenções de voto no país com uma diferença de quase dez pontos percentuais em relação ao segundo colocado, Jair Bolsonaro, conforme pesquisa Datafolha feita na época.

Naquele mês, o Comitê de Direitos Humanos da ONU solicitou ao Brasil para que os direitos políticos de Lula, incluindo participação nas eleições, acesso aos membros de seu partido e entrevistas à imprensa, fossem garantidos, mas Poder Judiciário não acatou.

Além disso, a tramitação do julgamento contra o petista no caso triplex foi considerado célere em relação a casos semelhantes, suscitando acusações por parte de sua defesa de que seu julgamento e prisão foram políticos, justamente para evitar que ele participasse das eleições.

A partir de junho deste ano, o vazamento de conversas, realizadas através do aplicativo Telegram, entre o ex-juiz Sergio Moro e o promotor Deltan Dallagnol, entre outros integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato, mostrou que Moro orientou a promotoria, sugerindo modificação nas fases de operação, cobrou agilidade novas operações, deu conselhos estratégicos e antecipou decisões.

O material, obtido por uma fonte anônima e divulgado pelo site The Intercept Brasil, mostra ainda que a promotoria tinha receio da fragilidade das acusações feitas contra o ex-presidente Lula e buscou combinar previamente elementos do caso.

Moro também pediu à acusação que incluísse provas em processos que chegariam depois às suas mãos, mandou acelerar ou retardar operações e fez pressão para que determinadas delações não andassem.

Redação

5 Comentários

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  1. Mais uma faceta da operação Condor 2.0. Enquanto existir a famigerada agenda geopolítica do império norte-americano, as elites fascistas regionais e o eterno gado teleguiado vamos continuar a assistir estas práticas.

  2. Mas qual candidato vai para o segundo turno sem já sondar seus possíveis futuros ministros?

    E a revelação de que Bolsonaro só o procurou às vésperas do segundo turno derruba qualquer fantasia de que havia um acordo prévio entre eles e Moro condenou Lula para virar ministro. Digo fantasia porque na época da condenação ninguém dava nada pelo Bolsonaro, o próprio Lula achava melhor não atacá-lo no primeiro turno porque seria fácil batê-lo no segundo.

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