Senadores franceses afirmam que caem as máscaras do golpe no Brasil

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – “Estamos preocupados com o envolvimento no golpe de Estado da grande mídia brasileira pertencentes a grandes grupos financeiros, por uma campanha extremamente violenta a favor da destituição e criminalização da esquerda. Essas mesmas mídias apoiaram o golpe de Estado Militar de 1964 a partir do qual construíram verdadeiros impérios midiáticos”, afirmaram senadores franceses em editoral publicado pelo Le Monde, nesta quarta-feira (13).
 
No editorial intitulado “Dilma Rousseff, vítima de uma manobra política de baixo nível”, os parlamentares afirmaram que, aos poucos, as máscaras caem no Brasil. Além de citarem as gravações telefônicas do ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, que “revelaram as manobras” para o processo de impeachment, os políticos afirmaram que assistiram “à tomada de poder, sem legitimidade popular, por aqueles que perderam a disputa presidencial, com o intuito de colocar em prática seus programas rejeitados pelas urnas”.
 
O resultado, completaram, foi a formação de “um governo composto exclusivamente de homens, que em nada reflete a diversidade que compõe a sociedade brasileira”. “Nós, políticos franceses eleitos, afirmamos que o processo constitucional de impeachment foi instrumentalizado por uma maioria parlamentar oportunista”, alertaram.
 
Leia a íntegra do editorial publicado pelo Le Monde e traduzido pelo blog O Cafezinho:
 

Do Le Monde 

Tradução: Solange de Andrade Lima Lisboa

Dilma Rousseff, vítima de uma manobra política de baixo nível
 

No Brasil as máscaras caem. Antigas escutas telefônicas revelaram as manobras que precederam o processo de impeachment da presidenta brasileira Dilma Rousseff.  Tomou-se conhecimento que alguns parlamentares procuravam escapar da acusação de corrupção, que os ameaçavam por meio do impeachment de Dilma Rousseff, reeleita em 2014 com 54 milhões de votos (51,64%). Assistimos à tomada de poder, sem legitimidade popular, por aqueles que perderam a disputa presidencial, com o intuito de colocar em prática seus programas rejeitados pelas urnas.  Formou-se um governo composto exclusivamente de homens, que em nada reflete a diversidade que compõe a sociedade brasileira.

As primeiras decisões do governo interino, dirigido por Michel Temer, foram claras: extinção dos ministérios da Cultura, do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e o órgão independente de controle do aparelho estatal (Controladoria Geral da União). Em seguida ele anunciou o fim dos programas sociais como “Minha Casa, Minha Vida”, programa de financiamento para aquisição de moradia para população de baixa renda, “Mais Médicos”, programa que permite a vinda de médicos estrangeiros em áreas menos favorecidas, e a instauração de um plano econômico de austeridade. Trata-se de um golpe de Estado institucional visando destruir todas as reformas sociais que permitiram a mais de 40 milhões de brasileiros sair da situação de miséria, durante treze anos de governo de esquerda. Os homens deste governo interino têm pressa e não se importam com a instabilidade política, econômica e social em que eles estão mergulhando o Brasil.

Um governo que não dá para se relacionar

Nós, políticos franceses eleitos, afirmamos que o processo constitucional de impeachment foi instrumentalizado por uma maioria parlamentar oportunista. Este processo, que se aplica apenas para crimes ou graves infrações, foi instaurado devido aos decretos retificadores do orçamento de 2015, adotados pelo governo de Dilma Rousseff.  Foi aberto no meio de dezembro de 2015 antes mesmo do fim do ano orçamentário e antes mesmo do exame de validação do orçamento pela Controladoria das Contas do Estado e pelas duas Câmaras.  Nós frisamos que a presidenta afastada não foi citada em nenhum dos inúmeros casos de corrupção que atingem a classe política, notadamente o escândalo da Petrobras. Não é o caso dos sete dos ministros do governo Temer. Um dentre eles, Romero Jucá, ministro do Planejamento, está envolvido no caso das escutas reveladoras da realidade do processo de impeachment e já foi forçado a se demitir.  Da mesma forma, alguns dias mais tarde, Fabiano Silveira, ministro da “Transparência”, que também está envolvido nas escutas. Até o presidente interino foi declarado inelegível por oito anos pela justiça de São Paulo por fraudes nas contas de sua campanha.

Outro traço relevante e significativo deste governo: o ministro da Justiça (equivalente ao ministério do interior francês) Alexandre de Morais foi advogado da organização criminosa PCC (Primeiro Comando Capital). Estamos também preocupados com o envolvimento no golpe de Estado da grande mídia brasileira pertencentes a grandes grupos financeiros, por uma campanha extremamente violenta a favor da destituição e criminalização da esquerda. Essas mesmas mídias apoiaram o golpe de Estado Militar de 1964 a partir do qual construíram verdadeiros impérios midiáticos. Ficamos chocados pelas justificativas dos votos dos deputados em favor do impeachment, invocando Deus, suas famílias e um deles chegando mesmo a enaltecer o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador de Dilma Rousseff, hoje falecido.

Milhões de brasileiros se mobilizam hoje em todo pais para defender a democracia, exigindo a saída deste governo ilegítimo e o retorno da presidenta eleita democraticamente. Nós os apoiamos. Nós, parlamentares, esperamos que a Corte Suprema Federal, que ainda não se pronunciou sobre o mérito, condenará o abuso do processo de impeachment. Nós parlamentares franceses, pedimos ao governo de François Hollande de se pronunciar e de condenar este golpe contra a democracia. Nós parlamentares denunciamos, após a destituição dos presidentes eleitos em Honduras e no Paraguai, este terceiro golpe institucional e afirmamos nosso compromisso e respeito ao voto popular como única forma de acesso à direção de um país. Nós pedimos a comunidade internacional condenar este golpe de Estado. Seria muito grave para todos que o maior pais da América Latina se afunde num impasse político, econômico e social.

Assinado:

Patrick Abate, sénateur de Moselle (CRC), Aline Archimbaud, sénatrice de Seine-Saint-Denis (Les Verts), Eliane Assassi, sénatrice de Seine-Saint-Denis et Présidente CRC, Marie-France Beaufils, sénatrice d’Indre-et-Loire (CRC), Esther Benbassa, sénatrice du Val-de-Marne (EELV), Michel Billout, sénateur de Seine-et-Marne (CRC), Marie Blandin, sénatrice du Nord (groupe écologiste), Eric Bocquet, sénateur du Nord (CRC), Jean-Pierre Bosino, sénateur de l’Oise (CRC), Corinne Bouchoux, sénatrice de Maine-et-Loire (groupe écologiste), Laurence Cohen, sénatrice du Val-de-Marne (CRC), Cécile Cukierman, sénatrice de la Loire (CRC), Ronan Dantec, sénateur de Loire-Atlantique (EELV), Annie David, sénatrice de l’Isère (CRC), Karima Delli, députée européenne (EELV), Michelle Demessine, sénatrice du Nord (CRC), Evelyne Didier, sénatrice de la Meurthe-et-Moselle (CRC), Christian Favier, sénateur du Val-de-Marne (CRC), Thierry Foucaud, sénateur de Seine-Maritime (CRC), Brigitte Gonthier-Maurin, sénatrice des Hauts-de-Seine (CRC), Pierre Laurent, secrétaire national du PCF et sénateur de Paris (CRC), Michel Le Scouarnec, sénateur du Morbihan (CRC), Noël Mamère, député de la Gironde (groupe écologiste), Christine Prunaud, sénatrice des Côtes-d’Armor (CRC), Jean-Louis Roumégas, député de l’Hérault (groupe écologiste), Bernard Vera, sénateur de l’Essone (CRC), Paul Vergès, sénateur de la Réunion (CRC), Dominique Watrin, sénateur du Pas-de-Calais (CRC).

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. O Serra e a Folha de SP vão

    O Serra e a Folha de SP vão dizer que os senadores franceses são petistas de carteirinha.

    Os golpistas não têm senso de ridículo. Até o New York Times foi acusado de ser petista…

  2. A TRAMÓIA DO JABURU

    1º ATO – Temer recebe Gilmar Mendes

    2º ATO – Temer abre a casa para Eduardo Cunha

    3º ATO – Cunha renuncia a presidência da Câmara

    4º ATO – Gilmar Mendes julgará/aliviará ações contra Cunha

    QUEM PAGA O PATO: “Quem tem Cunha, tem que Temer”

  3. Outra forma de noticiar

         Menos de 10% dos senadores franceses* ( são 348 cadeiras ), assinam moção de repudio ao “golpe” no Brasil, apenas assinam o manifesto, a ser encaminhado a Hollande, senadores dos blocos: Comunista (CRC) e dos Ecologistas.(EELV)

          Nenhum senador dos grandes blocos, incluido os socialistas, assinaram o documento.

          * o senado da França é eleito indiretamente.

          Infelizmente a esquerda contenta-se com migalhas.

    1. Se 20% tivesse assinado, não

      Se 20% tivesse assinado, não seria uma moção de repúdio e sim uma declaração de corte nas relações França / Brasil.

      Você há de convir que não é comum ou corriqueiro 10% dos senadores de um determinado país assinarem uma moção de repúdio contra um determinado governo de outro país.

      Não veio da Venezuela ou da Bolívia o repúdio ao golpe. Veio da França, berço da civilização moderna.

      Serve pra chamar a atenção de outros países quanto a “legitimidade” desse governo golpista.

  4. Padrão latitude de Paris!

    Foi emocionante a democracia brasileira receber a solidariedade dos descendentes “institucionais” daqueles que fizeram a revolução francesa, tão inspiradora das nossas instituições as quais os golpistas querem reduzidas a simulacros legitimadores da mentira.

  5. Golpe # Impeachment

    UPS!

    Os políticos do mundo inteiro, inclusive, os brasileiros, sabem a diferença entre GOOOOOOLPE e IMPEACHMENT!

    O povo desinformado é que fica a titubear, por causa da grande mídia desonesta, manipuladora, insensata!

    Os demais, que defendem o golpe, certamente, são mal intencionados, por razões escusas!

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