Serra volta ao Senado em meio a negociações de petrolíferas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Serra e o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry
 
Jornal GGN – O então ministro de Relações Exteriores José Serra (PSDB-SP) pediu demissão, nesta quarta-feira (22), em carta ao presidente Michel Temer. Alegando problemas de saúde, Serra disse estar impedido “de manter o ritmo de viagens internacionais inerentes à função de Chanceler”.
 
Justificou ao Planalto que “segundo os médicos, o tempo para restabelecimento adequado é de pelo menos quatro meses”. No fim de dezembro, Serra foi submetido a uma cirurgia de descompressão e artrodese da coluna cervical.
 
Apesar da recuperação, boletim médico do Sírio Libanês, hospital em São Paulo onde foi realizada a cirurgia, não destacava gravidade no procedimento. Ao contrário, a nota divulgada no dia 19 de dezembro informava que a cirurgia era, na verdade, uma “técnica minimamente invasiva”.
 
Detalhava, ainda, que o procedimento teve êxito. “A cirurgia transcorreu sem intercorrências e o paciente encontra-se internado na Unidade de Terapia Semi-Intensiva com boa recuperação”, divulgava o boletim do Sírio Libanês.
 
“Faço-o com tristeza, mas em razão de problemas de saúde que são do conhecimento de Vossa Excelência, os quais me impedem de manter o ritmo de viagens internacionais inerentes à função de Chanceler. Isto sem mencionar as dificuldades para o trabalho do dia a dia”, escreveu, por outro lado, o agora ex-ministro.
 
Na carta entregue a Temer, contudo, Serra narrou dificuldades “para o trabalho do dia a dia”. Por outro lado, mostrando que contraditoriamente existe empenho para voltar a cumprir as atividades legislativas, prometeu honrar seu mandato como senador, “trabalhando pela aprovação de projetos que visem à recuperação da economia, ao desenvolvimento social e à consolidação democrática do Brasil”. 
 
Um dos temas de maior interesse de Serra, foi aprovado no ano passado o projeto de Lei que retira a obrigatoriedade da Petrobras de participar do modelo de partilha da produção de petróleo, na exploração do pré-sal. De autoria do senador tucano, tramitou em regime de urgência no último ano. 
 
 
Antes, a estatal brasileira era responsável por ser a única operadora a ter, pelo menos, 30% de participação nos campos do pré-sal. Além disso, cabia à Petrobras a condução e execução de todas as atividades, sejam elas as de exploração, avaliação, desenvolvimento e produção.
 
O projeto de Serra retirou essa responsabilidade. Agora, um novo projeto tramita no Senado. Trata-se de sugestão do parlamentar Cristovam Buarque (PPS-DF), que determina que 1% da receita bruta de poços de petróleo e gás seja destinada à pesquisa, desenvolvimento e inovação no setor energético.
 
Outro item do projeto é que 50% desse total deve ser direcionado a fontes eólica, solar, biomassa, pequenas centrais hidrelétricas, cogeração qualificada e maremotriz.
 
Se o anterior projeto de Serra já foi liberado da pauta de intenções, este outro de Cristovam pode ir na contramão do que pretende o senador tucano, ao direcionar os lucros do petróleo à pesquisa e inovação para o Brasil. 
 
Ainda, documentos recentes liberados pela CIA, Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, mostraram o interesse incessante do país na abertura do setor do petróleo brasileiro a empresas estrangeiras, atentos à oportunidade de os EUA obterem lucros no país.
 
Se as análises e monitoramento da CIA datam de, pelo menos, desde 1950, antes do golpe da ditadura de 1964 no Brasil, os relatórios dão conta de fiscalizar o andamento do mercado brasileiro de petróleo até o ano passado, 2016.
 
O assunto não é novidade, desde que o analista Edward Snowden vazou documentos, em 2013, provando que não apenas a CIA, como também a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) espionou a Petrobras e a então presidente da República, Dilma Rousseff.
 
Os interesses, à época, estavam em possíveis vantagens de petrolíferas estadunidenses no leilão do Campo de Libra, na Bacia de Santos, a maior reserva do pré-sal. Entre as informações divulgadas pelo Wikileaks, ainda em 2010, a de que gigantes norte-americanas como Exxon Mobil e Chevron faziam lobby junto ao Congresso para flexibilizar o regime de exploração do pré-sal, estando envolvidos diplomatas dos EUA e o senador José Serra.
 
A última novidade para o mercado petrolífero mundial no Brasil é o leilão de 21 campos de óleo e gás da Petrobras, a partir de 2018, e a licitação para obra no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. Enquanto empresas do setor brasileiras estão impedidas de participar, pelo avanço da Operação Lava Jato contra as nacionais, o governo resolve abrir a contratação para 30 empresas estrangeiras. Nenhuma brasileira integra o consórcio.
 
É nesse emaranhado de negociações envolvendo petrolíferas e interesses norte-americanos no Brasil, que Serra conclui a sua atividade como Chanceler para voltar a atuação no Senado. A justificativa de saúde parece que não incluir a jornada, não menos exaustiva, que um parlamentar necessita para se dedicar ao Senado.
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

17 Comentários

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    1. É por aí mesmo

      Sr. Fábio Oliveira Ribeiro,

      Pensei exatamente o mesmo. O Nosferatu já apresentou a conta ao Tio Sam. A propina será paga no exterior, em algum paraíso fiscal, em nome de uma empresa de fachada, que por sua vez controla outra, com endereço noutro paraíso fiscal. 

      Voltando para o Senado, o tarja-preta dá outras contribuições, propondo mais leis entreguistas. O vampiro sabe que são remotas as chances dele chegar à presidência da república; mas ele não precisa disso para receber muio dinheiro de propina e se tornar um dos homens mais ricos do País.

      Como escreveu o  Fernando Brito: o problema de JS-Tarja-Preta é a 5ª coluna

  1. Este é uma das bizarrices do serviço público…

    O cara é eleito Senador aí sai para ocupar o cargo de Ministro mas sustenta a vaga de Senador. 

    Deveria mudar urgentemente isto aí.

    Ocupar o cargo no qual foi eleito, se for convidado para ocupar cargo em outro lugar deve antes renunciar a sua ocupação. 

     

  2. CPRREÇÂO:
    o projeto não

    CPRREÇÂO:

    o projeto não ‘retira obrigatoriedade da petorbras’.

    retira a ‘exclusividade dela em ser operadora e participar em 30% de todos blocos’.

     

    exlusividade é uma coisa diferent de obrigatoriedade. pois como peradora ela q ‘se obrigaria’.

    ninguem obrigava a petrobras a nada. a lei deve ser corrigida e voltar como estava.

  3. UAI…

    Ninguém, nenhuma dondoca dos Jardins foi insultá-lo por estar se tratando no Sírio-Libanês? Ninguém foi encher o saco dêle com “Vá para o SUS”? E a Folha: não vazou o prontuário do Vampiro? Estranho, não?

  4. Do que sabemos, nada d

    Do que sabemos, nada d novidade quanto ao pedido de exoneração do Zoiúdo. A história de fuga de mandatos parece ter tido iníciio quando, vendo em apuros, abandonou a direção da UNE. Sempre, por algum motivo político, o homi larga o governo e a prefeitura, decepsiconando seus eleitores, porque seu sonho maior de ser Presidente não morre. 

    Visto estarmos no ano chave, pelo qual já se tem pesquisas sobre as eleições de 2018, a probabilidade, sim, de Serra querer voltar ao Senado, mas para pensar melhor sobre sua candidatura, quiçá até mesmo de se afastar dos tucanos, se no PSDB o nome dele não será aventado. Já se tem Alkmin, Aécio, e até o nome de Dória anda meio badalado. 

    E o que dizer da inabilidade de Serra numa pasta de tal importância, se ele só provou em tão pouco tempo estar longe de vir a ser um bom articulador junto às autoridades estrangeiras? 

    Agora, como disse um comentador, vamos ver o que Trump acha disso.

  5. Como sempre, mentiroso e

    Como sempre, mentiroso e venal.

    Concordo com comentário anterior, resta saber quem o Trump nomeará como o novo chanceler (chanceler?).

  6. No ranking dos golpistas,

    No ranking dos golpistas, serra ocupa a 2ª colocação, abaixo apenas do chefão fhc clinton. Como todos nós sabemos, serra tem compromissos assumidos com os norte americanos, notadamente com a chevron, e enquanto prepara-se para as eleições de 2018 para presidente, foi destacado para agir onde tem mais utilidade para seus parceiros gringos, o senado.

  7. Talvez o Serra esteja saindo

    Talvez o Serra esteja saindo apenas para blindar alguém com sua vaga no MRE (prerrogativa de foro). O governo agora fica aí oferecendo a vaga para um e outro, como quem não quer nada, sabendo previamente da rejeição, mas já deve ter o candidato escolhido antes do pedido de exoneração. Aguarde e confirme que o nomeado será alguém envolvido na lava jato ou que tenha o rabo preso em alguma encrenca. Quem sabe o Príncipe da Privataria?

     

  8. Traição aos eleitores

    Não votei em Serra, mas se tivesse votado nele para senador, teria me sentido traído com a sua mudança para o Ministério de relações exteriores – Essa história de obter votos e depois dar uma banana nos eleitores já encheu. Marta Suplicy, em que eu votei, fez isso. Pouca vergonha. E Serra tem um agravante nessa traição movida pela vaidade: ele não tem a menor afinidade com a diplomacia, não é diplomata e, aos 74 anos deveria saber que aceitou um cargo que exige saúde, energia física. Desde a bolota de papel, sabemos que a saúde do idoso político é frágil. Ele não sabia? Agora, volta ao senado para fazedr …nada. Mas de maneira mais comoda

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