Um brinquedo perigoso, por Fábio de Oliveira Ribeiro

O Exército brasileiro não é um brinquedo. Mas ele tem sido usado como se fosse um por políticos de direita que preferem provocar uma guerra interna a minimizar os problemas sociais e econômicos

Há algum tempo um analista russo fez uma afirmação surpreendente que provou irritação nos meios militares brasileiros. Disse ele:

“O Brasil não corre ameaça nenhuma de fora, a sério. Lá, o exército é uma espécie de brinquedo. Às vezes é caro, às vezes não. Olhe para o mapa — parece uma ilha. Quem vai ameaçar eles, Uruguai ou Paraguai? Tem selva em todo o redor.”
https://br.sputniknews.com/economia/2018052611316046-spief-russia-exercito-brasil-armas-comercio/

O isolamento geográfico do Brasil é inquestionável, mas isso não impediu a invasão parcial da colônia pelos holandeses no século XVII https://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%B5es_holandesas_no_Brasil. Antes do Brasil entrar na guerra ao lado dos Aliados os EUA planejavam desembarcar tropas no nordeste https://istoe.com.br/40070_INVASAO+PELO+NORDESTE/.

Em razão das tensões diplomáticas provocadas pelo acordo nuclear entre o Brasil e a Alemanha, o presidente Ernesto Geisel

“…denunciou o Acordo Militar com os Estados Unidos, firmado em 15 de março de 1952 e que estava a completar, em 1977, 25 anos de vigência. Posteriormente, como desdobramento daquela atitude, extinguiu também a Comissão Militar Mista, a Missão Naval, cujas atividades reais, no Amazonas, o governo brasileiro ignorava e o Acordo Cartográfico.” (Brasil-Estados Unidos: a rivalidade emergente [1950-1988], Luiz Alberto Moniz Bandeira, editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2011, p. 200/201)

No auge das tensões, se não estou enganado, Ernesto Geisel mandou os militares realizarem estudos sobre nossa capacidade para resistir a agressão oriunda de uma potência do Norte. Numa entrevista dada em 1995, o general-presidente negou que o Brasil pretendesse construir bombas atômicas https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/5/14/brasil/25.html. Mas quem jogou uma pá de cal nesse projeto brasileiro foi Fernando Collor ao mandar aterrar o poço de teste da bomba atômica brasileira que havia sido perfurado na Serra do Cachimbo https://www.ipen.br/portal_por/portal/interna.php?secao_id=40&campo=9705.

O Brasil subscreveu o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Entretanto, nosso país adquiriu capacidade tecnológica para construir bombas atômicas https://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u65048.shtml. Se for ameaçado por uma potência naval, o Brasil pode e deve adquirir os meios dissuasórios que forem necessários. Nesse aspecto, não podemos deixar de dar razão para o analista russo. Apesar dele ter sido grosseiro, o Brasil realmente não tem inimigos.

De fato, isso ficou bem claro no dia de 08/04/2019 https://www.revistaforum.com.br/militares-do-exercito-que-fuzilaram-carro-de-familia-com-80-tiros-no-rj-teriam-se-enganado-diz-delegado/. A cobertura jornalística do episódio resultou em ameaças para o jornalista https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2019/04/5632655-jornalista-carlos-de-lannoy-e-ameacado-por-cobertura-de-carro-fuzilado-pelo-exercito.html#foto=1.

O Exército brasileiro não é um brinquedo. Mas ele tem sido usado como se fosse um por políticos de direita que preferem provocar uma guerra interna a minimizar os problemas sociais e econômicos que fomentam a violência urbana. Se continuarem sendo usados para realizar atividades policiais, os soldados brasileiros certamente matarão muitas pessoas inocentes. Isso transformará o Exército num inimigo do povo brasileiro, numa tropa de ocupação territorial. A quem ela prestará contas?

Fábio de Oliveira Ribeiro

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