Um ghost writer para William Waack, por Sergio Saraiva

Lendo o artigo de William Waack para a Folha de 14 e janeiro de 2018, me veio a sensação de que ele não o ajudará muito a se reposicionar diante do seu público, após as acusações de racismo que recebeu. Como gosto sinceramente de Waack, tento aqui obter resultados mais favoráveis acrescentando apenas um pouco de humildade ao mesmo texto.

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Um ghost writer para William Waack, por Sergio Saraiva

Não sou racista, minha busca

Em 2016, eu falei uma coisa idiota. Uma piada para mim inconsequente e que permaneceu também inconsequente, por cerca de um ano. Até que viesse a público e ofendesse muitas pessoas.

Isso me custou muito caro. Custou um emprego de décadas e o respeito de muitas pessoas a quem eu quero bem. Um preço que eu devo pagar, mas não sem questionar. Questionar a mim mesmo, em primeiro lugar, mas também ao mundo em que eu estou inserido.

Revendo as imagens daquele momento que, se não era íntimo, era particular, não há como não perceber uma conotação racista no que foi dito. E, no entanto, eu não me considero um racista.

Tenho plena consciência de que, sim, existe racismo no Brasil, ao contrário do que alguns pretendem. E de que, sim, em razão da cor da pele, pessoas sofrem discriminações, têm menos oportunidades, são maltratadas e têm de suportar humilhações e perseguições. E sempre me vi como alguém que, durante toda a vida, combateu a intolerância de qualquer tipo – racial, inclusive.

Por que, então, não percebi o quanto pesavam aquelas palavras? Por que as considerei apenas um gracejo circunstanciado, ainda que infeliz, se sei também que piadas podem ser a manifestação irrefletida de um histórico de discriminação e exclusão? E que, muitas vezes, pensamentos verdadeiramente racistas são expressos como piada?

Não tenho, neste momento, as respostas.

Poderia, em minha defesa, citar os meus amigos negros e o apoio que deles recebi, após o acontecido. Poderia citar acontecimentos similares envolvendo personagens ímpares do nosso establishment – a presidente da STF, Ministra Cármen Lúcia, inclusive. E a quem agradeço as palavras, quando, em aula na PUC de Belo Horizonte, se referiu ao meu episódio. Poderia buscar apoio nos conceitos filosóficos de Luiz Felipe Pondé a respeito dos “canalhas do linchamento”.

Não seria difícil fazer alguma analogia dos acontecimentos em que me vi envolvido como a expressão de um fenômeno mais abrangente e mundial. O do desafio permanentemente de grupos organizados no interior das redes sociais, parte deles alinhada com o que “donos” de outras agendas políticas definem como “correto”, e que se mobilizam para contestar o papel até aqui inquestionável dos guardiães dos “fatos objetivos” e da “verdade dos fatos” – tais como o grupo de comunicação ao qual eu pertencia. Em nenhum caso, tais contestações são isentas de interesses – legítimos ou não.

Poderia relacionar o episódio que me envolve e o momento de radicalismo obtuso e primitivo que hoje é característica inegável do ambiente virtual, que contribui para exacerbar o clima de intolerância e cerceamento às liberdades e do qual a imensa maioria dos brasileiros está cansada.

Por último, poderia lembrar que tenho 48 anos de profissão e toda uma obra que é necessário que seja considerada. Um homem se conhece por sua obra, assim como se conhece a árvore por seu fruto. Tenho como prova a minha obra, os meus frutos. Eles são a minha verdade e a verdade do que produzi até aqui.

Poderia tudo isso e mais. Mas, talvez não modificasse a interpretação que os acontecimentos tiveram.

E assim, como não está em mim cobrar dos ofendidos a responsabilidade pela ofensa, resta-me o dever da reflexão sobre mim e o mundo em que formei as minhas convicções em relação ao mundo em que vivo hoje. Não são os mesmos e não sou o mesmo também. Nessas diferenças julgo que estarão as repostas e o caminho a seguir. Os buscarei.

Porém, desde já, há algo sobre o que eu não gostaria que restasse dúvida: “não era minha intenção ofender qualquer pessoa. Desculpem-me as que ofendi e aqui estendo sinceramente minha mão.”

 

PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia – não aceitamos encomendas para festas e casamentos.

Redação

28 Comentários

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  1. O Maradona cheira pó há 45 anos mas não é viciado

    O Hildebrando Paschoal matou gente com serra elétrica mas ele não era assassino, era deputado.

  2. Contradiçoes

    Li o texto dele e ele ja começa se contradizendo chamando os rapazes que publicaram ´´a coisa do waak´´ de ladroes diz que nao chamara seus amigos brancos e negros para defenderem sua reputaçao mas cita Gloria Maria e uma ministra do supremo !

    Vadabordo William Waak que seu barco ja afundou !

    1. Waack é um poço

      de arrogância cheio de rancor.

      Assim, 48 anos de profissão como jornalista não lhe serviram para escrever um texto conciso e ponderado. Sequer percbeu que nessa trama coube a ele o panel de vilão. Bastava ter assistido ao personagem atual do Tony Ramos para saber como sair da enrrascada em que se meteu com sua piada racista.

      Interessante, não lhe serviram para nada a idade, a experiência e a malandragem global.

  3. Eu gosto de Waack

    “Como gosto sinceramente de Waack,.”

    Eu também Sérgio, gosto muito dele, e se ele não suportar a vida aqui fora, sem poder mais se esconder debaixo da saia dos marinhos – ouvi dizer que eles adoram os escoceses – ele pode contar comigo. Tenho uma vaga no canil – me desculpe mas é o que tenho – onde sirvo a ração do Dória.

  4. Não foi piada

    A frase auto destruidora proferida por Waack foi em um momento de raiva e nessa raiva, generalizou. “Coisa de preto”. Ou seja, no seu viés, os afro descendentes costumam fazer baderna, buzinar. Não foi uma piada, foi uma afirmação e, de forma latente ou não, expressou racismo. Perdeu reputação e perdeu o espaço. Paciência, ninguém é insubstítuivel e ele, a frente do Jornal da Globo  com a sua postura  arrogante des seletividade irônica (em especial com Lula e jamais com gente tucana) já estava cansando. Mais um em meio a centena de jornalistas quje eprderam emprego e espaço em 2017. E acredite, citar Carmen Lucia, não o recomenda. Que artigo pífio e sem humildade o que publicou na Folha. Além disso, tarde demais,

  5. Para a autora: Aceita um desafio?

    Simule uma resposta da segunda pessoa na cena em que se sucedeu o fato.
    O sujeito a quem ele entrevistaria logo após proferir as ofensas.
    Esta pessoa também é muito importante para todo o contexto pois ao mesmo tempo em que ele não alimenta os comentários, ele diz um “sim” muito contundente.

  6. Comentário.

    Pelos serviços prestados aos estertores marinhos – que, em breve, estarão em algum refúgio no exterior, talvez algum paraíso fiscal com belos coqueiros de chocolate prestígio -, ele deveria ser perdoado.

    Ele era um bom lambe-botas. 

  7. William Waack teve a sorte de

    William Waack teve a sorte de ter nascido no Brasil. Em um país civilizado, já estaria mofando atrás das grades.

    1. Nos EUA não seria punido por

      Nos EUA não seria punido por expressar uma opinião, a Primeira Emenda garante total liberdade de expressão.

      Racismo lá é PRATICAR ATO que contribua para a segregação racial, por exemplo, negar um emprego por causa de raça.

      1. grande b

        Por isso que a situação lá não está preta.

        Está White, Anglo-Saxon and Protestant.

        Por quê USA esse exemplo, se a provocação falava sobre países civilizados?

      2. Verdade  ..não entendo como

        Verdade  ..não entendo como neste quesito, RACISMO, tem brasileiro IGNORANTE que acha que países como Africa do Sul, Australia e EUA (pra ficar nos mais contemporâneos) poderiam dar lições e ensinamentos a nós BRASILEIROS

        ..a ultima que adotaram nos fizeram INSTITUCIONALMENTE um deles  ..um país que DISCRIMINA pela cor  ..pelas cotas racistas por exemplo (aprovadas por estes ÇTF de nababos vitalícios)

        Doutra feita lembro a vc que AQUi tem a figura da ofensa racial  ..da propagação do ódio e do preconceito  ..da injuria e da difamação

        ahh  ..tem razão  ..ele proferiu aquele monte de BOBAGENS em outras terras  ..e já ia esquecendo  ..aqui a JUSTIÇA também não funciona pra pessoas como ele

      3. Quer dizer que se eu fosse empresário e morasse nos EUA

        Qur dizer que se eu fosse empresário e morasse nos EUA, eu poderia empregar um negro e todo os dias de trabalho eu poderia depreciá-lo sem que isso constituisse em ato de racismo?

        Pobres Negros dos EUA!

        Ku Klux Klan

  8. Waack
    Não entendi o motivo da reescrita da artigo. Waack se mostra vítima de um contexto que ele ajudou a construir. Não pertencia à Globo? Se opôs a veicular áudios e imagens ilegítimos de Lula e Dilma? Quando TVs da Europa não veiculam imagens de invasores de compos de futebol, fazem-no porque querem evitar a prática equivocada, mesmo com o apelo popular que teriam. O jornalismo profissional deveria seguir a lei. Se Waack fosse um guardião do direito de resposta, se combateste o que acusou ser vítima(linchamento da mídia, redes sociais…) teria talvez direito a um julgamento justo. Colheu o que plantou. É tempo de melhorar. Peça espaço na mídia honesta, como GGN.

      1. Companheiro,peço-lhe a devida
        Companheiro,peço-lhe a devida permissão para me informar qual foi o poeta que inspirou você a colocar esse verdadeiro atentado as frases feitas de Carmen Lúcia no rodapé dos seus comentários?Se o poeta foi Ayres de Brito,tenha a absoluta certeza que no céu você não vai entrar.Nem Geraldinho Alckmin,o culto segundo AA,seria capaz de criar uma infelicidade desta.

      2. “Ouso pensar porque ouso
        “Ouso pensar porque ouso pensar que ouso pensar que de tanto pensar morreu um burro”.Manoel Mastro,poeta sertanejo.

  9. Aonde esta a Vania pra nos

    Aonde esta a Vania pra nos oferecer em uma bandeja de prata o ultimo video da Jout Jout mesmo????

    Eh que o assunto de Jout Jout eh o “DireitoBranco”.

    Pertinente ou nao, Vania?

    1. Ninguém,absolutamente ninguém
      Ninguém,absolutamente ninguém pode elogiar um comentário seu.Tenho para mim que motivo aparente seria sua proximidade com Donald Trump.

  10. É Nassifão amigo é para essas
    É Nassifão amigo é para essas coisas.Essa eu fico lhe devendo.Na primeira oportunidade vou tomar os 100 mangos do Pai Uzeda e lhe devolver.Uma mão lava a outra e uma lava as duas.

  11. Humildade e coragem: apenas para os fortes

    Gozado esse moço falar em “canalhas do linchamento”.

    Ok, ou ele linchava Lula, Dilma e o PT ou a firma que lhe pagava o pão – e um pouco mais – punha outro em seu lugar.

    É, William, você é um dos poucos que está tendo a oportunidade de saber, na própria pele, o que é ser linchado publicamente depois de ter sido linchador. Poderá sair dessa acrescentado em alguma sabedoria – se é que você já não se acha perfeito – se tiver coragem suficiente para refletir sinceramente sobre o significado de “canalhas do linchamento”.

    Humildade e coragem, atributos apenas dos mais fortes…

    1. pensei isso
      Esse cara teve

      pensei isso

      Esse cara teve DECADAS pra fazer analises sérias, propor, acrescer com dialogo, pensamentod positivos, construtivos

      Ao invés disso, perdi a conta das oportunidades que o vi desmerecer, insuflar, tentar destruir, MANIPULAR e forçar idéias que não resisitiriam a menor análise crítiica

      Infelizmente, do que até hoje vi, BICHO assim não tem salvação não

  12. Para Waack, sinceramente

    Lendo o artigo, senti um certo corporativismo jornalístico.

    Não solto foguetes pela desgraça alheia, mesmo que seja Maluf, Serra, Cunha ou Aécio. Só peço justiça para eles.

    Waack errou feio. Teve a oportunidade de reverter sua postura, mas não teve a grandeza da humildade. Apresenta explicitamente uma arrogância.

    Se tivéssemos uma imprensa mais democrática, ele teria sido punido antes.

    O Waack, assim como Villa, Joice, Mainard, Augusto Nunes, …. Usam seus ofícios para linchar o Lula e o PT. Apresentam um Ódio fundamentalista inacreditável.

    Rejeitam informações oficiais dos grandes avanços gerados na gestão de Lula, reconhecidos mundialmente. Talvez, façam questão de não vê-las.

    Destilam seu ódio sem embasamento científico.

    Se esforçam para garimpar dados desconexos muitas vezes duvidosos que desfavorecem o petista, para dar holofote.

    Teríamos uma sociedade perfeita se fossemos inseridos aleatoriamente num lugar desse país e fossemos capazes de uma adaptação rápida.

    Um conselho que dou a Waack e amigos listados, que façam o exercício de se imaginar, talvez, com cinco anos, sendo inserido uma família de retirantes da seca nordestina, famintos e com sede, sobrevivendo dia a dia com um calor infernal sem banho, sem casa, sem um destino certo, sem futuro…

    Ou um menino dentro de uma família desestruturada numa favela carioca, que vive nas ruelas, sem presença dos familiares e que tem como ídolos os traficantes armados.

    Na maioria das vezes, vejo vocês incitando o ódio, buscando holofotes com alguma agressão pessoal contra seus desafetos. Falta uma visão social.  Falta visão política.

    Ainda há tempo para mudar!

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