Um roteiro provável da tragédia

Infelizmente Bolsonaro foi eleito. Portanto, se tornou inevitável imaginar como será breve governo do próximo presidente.

Eleito e empossado, Bolsonaro edita várias Medidas Provisórias e envia um conjunto de projetos para o Congresso Nacional (Emendas à Constituição, Projetos de Lei). A janela temporal de tranquilidade à uma nova presidência é curta (geralmente 100 dias), o tempo da atividade parlamentar é outro (especialmente quando há grande renovação na Câmara dos Deputados e no Senado).

As Medidas Provisórias bolsonarianos irão travar a pauta do Congresso. Enquanto elas forem debatidas nada mais poderá ser votado. Quando a normalidade da atividade parlamentar for retomada, os Projetos de Lei e Emendas Constitucionais de Bolsonaro entrarão na longa fila. Várias questões terão que ser debatidas antes. A demora começará a ser usada como prova da incompetência do presidente pela oposição. Os pequenos partidos que apoiam o presidente exigirão compensações maiores em troca do esforço redobrado. 

Se não ceder, Bolsonaro ficará às voltas com uma maioria instável num Congresso rebelde. Se ceder será visto como frouxo e nunca mais poderá se impor como o protagonista de seu próprio governo. Antes de ceder, portanto, o presidente será obrigado a partir para o ataque. Ele usará a imprensa para acuar o Congresso e para começar a sugerir que o país seria melhor governado sem os entraves criados por deputados e senadores corruptos e que fazem oposição sistemática a um governo de salvação nacional.

Na arena internacional o isolamento do Brasil tende a aumentar. Jair Bolsonaro se sentirá compelido a cumprir sua promessa antiga de retirar o Brasil do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Desconfiados, os argentinos serão obrigados a reativar seu programa nuclear militar. Ameaçada com uma guerra pelo filho do presidente brasileiro, a Venezuela também irá tentar entrar no seleto clube de países que detém armas atômicas. Em pouco tempo a imprensa internacional começará a retratar Bolsonaro como um perigo para a estabilidade regional e mundial. A pressão sobre o governo dele será economicamente irresistível.

Uma parcela da imprensa dará apoio incondicional a Bolsonaro, a outra ficará assustada com a ambição ditatorial de Bolsonaro (e lembrará que ele já prometeu fechar o Congresso Nacional). A imprensa brasileira costuma agir unida. As grandes empresas de comunicação apoiaram incondicionalmente FHC e fizeram oposição sistemática a Lula e a Dilma Rousseff. A divisão da imprensa em dois campos será uma novidade interessante.

O problema é que o novo presidente não é nada tolerante. Bolsonaro não conseguirá encarar com normalidade as críticas que seu governo receber. Quando as grandes empresas de comunicação elevarem o tom, ele fará o que sabe fazer bem: ameaçar com retaliações econômicas e políticas. Se os barões da mídia rebeldes não capitularem, o novo presidente sentirá a inevitável necessidade de calar a imprensa para poder assim demonstrar a todos (inclusive aos parlamentares que não será chantageado por ninguém).

Bolsonaro deve sua existência e sucesso à realidade política anormal instaurada no país pela oposição ferrenha, feroz, persistente e permanente da imprensa aos governos do PT. A normalidade da atividade governamental é incompatível com seus hábitos mentais.  Lula e Dilma fizeram de conta que a partidarização da imprensa não era um problema e isso permitiu que, mal ou bem, a atividade governamental não fosse totalmente prejudicada. O fato de Bolsonaro não tolerar a liberdade de imprensa é um complicador.

Em algum momento, o novo presidente tentará reintroduzir a censura através de Medida Provisória ou de um Ato Institucional. Quando a proposta dele for rejeitada pelo Congresso Nacional ou aprovada pelos parlamentares e derrubada no Judiciário, o resultado será devastador. Com o governo paralisado por causa da guerra em duas frentes (contra a imprensa e contra a oposição), Bolsonaro será forçado a abrir uma nova frente de batalha (contra os juízes).

O segundo governo de Dilma Rousseff fracassou por causa da intensa oposição que ela sofreu da imprensa, do presidente da Câmara dos Deputados e do Judiciário. Para não ver seu mandato fulminado, Bolsonaro apelará para os militares canalhas que o apoiam. A crise política se tornará militar: os generais, brigadeiros e almirantes terão que decidir se ficam com Bolsonaro contra as instituições ou se defendem as instituições contra o presidente.

A crise militar se tornará mais grave se os oficiais subalternos se rebelarem contra seus comandantes. Bolsonaro disse que fará um governo de capitães. Portanto, podemos serenamente concluir que o futuro presidente já está imaginando uma maneira de contornar a autoridade dos generais que quiserem se opor às ambições ditatoriais dele.

É impossível dizer como os militares irão reagir durante a grave crise que se aproxima do Brasil em razão da eleição e posse de Bolsonaro. Enquanto o presidente ficar criando conflitos cada vez maiores para tentar adquirir poder absoluto e não conseguir o que deseja, o Brasil seguirá afundando economicamente por causa de um detalhe importante: a personalidade de Bolsonaro. Impossibilitado de se impor, ele não conseguirá ceder.

Se o “dispositivo militar alternativo” que Bolsonaro pretende criar para conquistar o poder absoluto funcionar, apertem os cintos: quem não partir ou não capitular terá que lutar até as últimas lágrimas e gotas de sangue. Mas se todos os esquemas do novo presidente forem frustrados, Bolsonaro ficará inevitavelmente acuado. Só então nós teremos a oportunidade de saber quem ele realmente é. Isso ocorrerá quando Bolsonaro tiver que escolher entre renunciar como Jango, se matar como Getúlio, sofrer um impedimento como Collor e Dilma Rousseff ou ceder tudo a todos como Sarney para apenas continuar na presidência.

A presidência revelou a incompetência de FHC, a capacidade administrativa invejável de Lula, a resiliência de Dilma Rousseff e a irrelevância de Michel Temer. Agora a presidência irá revelar as fraquezas do Coiso que atende pelo nome de Jair Bolsonaro.

 

PS: Caso Bolsonaro decida se suicidar espero que ele dê um tiro no ânus e não na cabeça, assim o cadáver dele ficará bonitinho o suficiente para não ser enterrado num caixão lacrado.

 

 
Fábio de Oliveira Ribeiro

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