Valsa brasileira – do boom ao caos econômico, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Quem me acompanha no GGN já deve ter percebido que costumo resenhar livros dos mais diversos assuntos. Faço isso por prazer, para estimular a leitura e para prestigiar autores que nem sempre entram no foco de interesse da grande imprensa. Também faço isso porque gosto de desafiar minha própria capacidade de compreender fenômenos diferentes daqueles que fazem parte do meu universo profissional.

Há quase duas semanas estou sambando com o “Valsa brasileira”, de autoria da jovem economista Laura de Carvalho. Apesar de ser vertida numa linguagem acessível e elegante, a obra vinha se recusando a fornecer uma chave que me permitisse iniciar minha resenha. Isso porque o livro é extremamente profundo, se abrindo em leque para diversos assuntos: economia (teoria e prática), política, história recente brasileira, fake news econômicas e até questões jurídicas referentes ao Impedimento de Dilma Rousseff.

Encontrei um ponto onde ancorar minha resenha na questão explorada de maneira detalhada e recorrente na obra: a importância da FIESP para o que ocorreu antes e depois do golpe de 2016. Diz a autora:

“Desde 2011, a desaceleração econômica trouxe de volta um acirramento dos conflitos distributivos sobre a renda e o Orçamento público. A inflação de serviços, que crescia com os salários dos trabalhadores menos qualificados, deixou de ser compensada pelo menor custo dos produtos e insumos importados – que era fruto da valorização cambial – e passou a causar maior descontentamento.

As sucessivas tentativas de resolver tais conflitos priorizando o lado mais influente da barganha, ora pela via da concessão cada vez mais ampla de desonerações fiscais e subsídios às margens de lucro dos empresários, entre 2012 e 2014, ora pela via da elevação do desemprego, redução de salários e ameaça aos direitos constitucionais, desde 2015, não tiveram efeito na estabilização da economia.

A experiência brasileira durante o Milagrinho, quando a redução das desigualdades salariais e o crescimento econômico retroalimentaram-se em um círculo virtuoso – que beneficiou não apenas os mais pobres como também os mais ricos -, não parece ter sido suficiente para convencer boa parte da elite econômica do país de que a democracia e a inclusão social rendem bons frutos.

Pior. Das desonerações e subsídios do primeiro mandato ao ajuste fiscal do segundo, o governo Dilma cumpriu a risca a lista de exigências das elites empresariais e financeiras, que só fazia aumentar. Nem o desemprego galopante e a queda rápida dos salários dos trabalhadores menos qualificados ajudaram a resgatar o país dos seus captores. Os patos, ao contrário, continuaram multiplicando-se na avenida Paulista.

Considerando o fracasso dessa agenda em elevar os lucros e vendas, a pergunta que não quer calar é: por que o empresariado nacional apoiou essas políticas dando um tiro no próprio pé?” (Valsa brasileira – do boom ao caos econômico, Laura Carvalho, editora Todavia, São Paulo, 2018, p. 149/150)

Para entender a conclusão da autora e a resposta que ela deu a questão formulada é preciso voltar ao momento exato em que o governo foi capturado pela FIESP.

“No dia 26 de maio de 2011, um artigo publicado no jornal Folha de São Paulo e assinado pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique, e o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (o Paulinho), anunciava a realização de um seminário reunindo representantes de trabalhadores e empresários, que inauguraria um pacto em torno de um projeto industrializante do país.” (Valsa brasileira – do boom ao caos econômico, Laura Carvalho, editora Todavia, São Paulo, 2018, p. 57)

Após esclarecer quais eram os “produtos econômicos” vendidos ao governo e à sociedade pela FIESP, Laura de Carvalho passa a explicar de maneira detalhada como e porque eles resultaram na tragédia em que o país mergulhou.

“Essa agenda envolveu a redução dos juros, a desvalorização do real, a contenção de gastos e investimentos públicos e uma política de desonerações tributárias cada vez mais ampla, além da expansão do crédito do BNDES e o represamento das tarifas de energia. Pode-se dizer com segurança que os resultados de sua adoção foram desastrosos. A desaceleração da economia e a deterioração fiscal que se seguiram acabaram criando as condições para uma segunda mudança de modelo a partir de 2015, desta vez levando ao abandono do pouco que havia sobrado dos pilares do crescimento do Milagrinho.” (Valsa brasileira – do boom ao caos econômico, Laura Carvalho, editora Todavia, São Paulo, 2018, p. 59)

O Milagrinho a que a autora se refere é o crescimento sustentável do Brasil durante os dois mandatos de Lula, fenômeno que foi estudado de maneira detalhada no primeiro capítulo de “Valsa brasileira”. Além de contar com um cenário internacional favorável, o ex-presidente petista fez o que era necessário para alavancar o crescimento econômico. Lula investiu em obras públicas sem comprometer a estabilidade fiscal do país. Em razão da crise de 2008, que começou nos EUA e se espalhou pelo planeta, Lula concedeu temporária e excepcionalmente algumas desonerações fiscais para impedir a desaceleração da produção industrial, do consumo e do emprego. A escassez dos produtos desonerados, suponho eu, poderia acarretar uma elevação nos seus preços causando um impacto negativo na inflação.

O aumento das desonerações fiscais exigidas pela FIESP e concedidas tanto por Dilma Rousseff não foram capazes de reequilibrar a economia. Muito pelo contrário. Elas deterioraram as contas públicas obrigando o Estado a reduzir investimentos o que produziu uma espiral de retração econômica, redução de arrecadação tributária e mais cortes nas obras públicas (o que em algum momento comprometeu o apoio político do governo no Parlamento, pois centenas de Deputados e Senadores somente apoiavam o governo em troca das obras que foram canceladas, interrompidas ou paralisadas).

Apesar arrecadação continuar caindo, Michel Temer não reviu a política fiscal da antecessora. O que ele fez foi exatamente o que Dilma Rousseff vinha se recusando a fazer: obrigar os trabalhadores a pagar a conta do pato estragado da FIESP que foi enfiado goela abaixo dos brasileiros.

“O programa Uma Ponte para o Futuro apresentado pelo vice-presidente Michel Temer e empresários paulistas ainda em dezembro de 2015 já soava como um túnel para o passado. As propostas partiam do diagnóstico de que o ajuste fiscal conjuntural era insuficiente, pois os direitos adquiridos pela sociedade brasileira no período de redemocratização já não cabiam no Orçamento público. Em vez de imaginar estratégias para sanar os problemas fiscais pela via do crescimento econômico, da preservação de empregos e da redução da conta de juros, o programa do PMDB, que, como se verá, foi seguido à risca, começava com a flexibilização das leis trabalhistas, o fim da obrigatoriedade com saúde e educação e a desindexação dos benefícios previdenciários ao salário mínimo. O texto também afastava a hipótese da elevação de impostos como caminho para o ajuste de contas.” (Valsa brasileira – do boom ao caos econômico, Laura Carvalho, editora Todavia, São Paulo, 2018, p. 109)

Após conseguirem de Dilma Rousseff as desonerações fiscais que desejavam, os empresários da FIESP apoiaram o golpe de 2016. Como o país não crescia eles resolveram garantir seus lucros à custa da brutal redução dos direitos trabalhistas, previdenciários e sociais dos trabalhadores. Há dois anos a FIESP tem dado apoio quase incondicional ao usurpador Michel Temer e ao programa neoliberal da terra arrasada que ele impôs ao país. Laura de Carvalho explica de maneira detalhada como e porque a FIESP conseguiu o que queria, mas também o que não queria.

As falácias econômicas da agenda da FIESP e os equívocos cometidos pelo governo Michel Temer, sempre com apoio dos empresários que continuam amargando prejuízos e falindo, são explicitadas no capítulo 4 de Valsa brasileira. Numa síntese lapidar, Laura Carvalho afirma que “…falta a boa parte do empresariado nacional perceber que nada adianta ter uma fatia maior de um bolo menor.” (Valsa brasileira – do boom ao caos econômico, Laura Carvalho, editora Todavia, São Paulo, 2018, p. 151)

Eu poderia encerrar minha resenha por aqui. Mas vou me alongar um pouco porque o livro instigante da jovem economista – que além de bem estruturado, coeso e apoiado em dados estatísticos confiáveis e farta bibliografia – nos coloca frente a frente com um problema que nasceu com a própria democracia representativa. Numa democracia o fundamento do poder político é a soberania popular expressada através das eleições, portanto, é justo perguntar quem deve governar: a vontade de um punhado de empresários ou a vontade geral?

Desde que foi abduzido pela FIESP o Estado brasileiro tem sido governado em detrimento da vontade geral. A mim parece evidente que os desempregados e sub-empregados, cuja capacidade de consumir foi e continua sendo sendo reduzida, bem como os comerciante e empresários, que amargam prejuízos crescentes em razão da retração do consumo, gostariam que as coisas fossem bem diferentes. Elas não são e não serão enquanto a vontade geral não for capaz de governar nosso país.

O problema se torna mais dramático quando colocamos na equação outro fato importante. A ambição dos articuladores do golpe de 2016 (dentre os quais se destaca a própria FIESP, como menciona Laura Carvalho) de impedir que Lula seja candidato a presidente. O ex-presidente do Milagrinho contar com apoio de uma grande parcela da população brasileira. Se ele ficar fora da eleição a vontade eleitoral que emergirá das urnas não irá representar fielmente a vontade geral da nação brasileira.

A autora de “Valsa brasileira” identificou de maneira precisa a origem da tragédia brasileira quando disse que a crise e seu aprofundamento “…não parece ter sido suficiente para convencer boa parte da elite econômica do país de que a democracia e a inclusão social rendem bons frutos.” (Valsa brasileira – do boom ao caos econômico, Laura Carvalho, editora Todavia, São Paulo, 2018, p. 150).

Enquanto o Brasil não foi resgatado dos seus captores (ou seja, da FIESP e dos patos que ela colocou na rua e no poder) o caminho para o crescimento econômico continuará interditado. O que ocorreu e está ocorrendo deve servir de lição para os sindicalistas da CUT e da Força Sindical que cometeram o erro de apoiar a agenda da FIESP em maio de 2011. Eles foram vítimas de um “boa noite cinderela” para que o Brasil inteiro fosse levado a se tornar vítima de uma armadilha terrível. Essa armadilha também foi mencionada por Laura Carvalho:

“…sem uma revisão da PEC do teto de gastos, é seguro afirmar que os investimentos públicos em infraestrutura não atuarão como motor de crescimento na próxima década. A progressiva extinção dos mecanismos de financiamento de longo prazo a juros subsidiados também deve dificultar que o setor privado assuma esse papel. Para evitar outra década perdida, não basta parar de cavar o fundo do poço. É preciso parar de destruir as cordas que nos permitem sair dele.” (Valsa brasileira – do boom ao caos econômico, Laura Carvalho, editora Todavia, São Paulo, 2018, p. 147)

A autora do livro resenhado explica como e porque as cordas econômicas que tirariam o Brasil do fundo do poço estão sendo destruídas. Mas o livro dela também nos faz pensar nas cordas democráticas que foram sendo rompidas nos últimos anos e que e serão definitivamente cortadas se Lula não puder ser candidato à presidente. O livro Valsa brasileira vale muito mais do que pesa. Ele certamente se tornará uma referência nacional e até mundial, pois trata-se de um estudo de caso detalhado, profundo, importante e, sobretudo, oportuno. Boa leitura.

 
Fábio de Oliveira Ribeiro

5 Comentários

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  1. Não faltou algo a esclarecer:

    Não faltou algo a esclarecer: como explicar que a Fiesp, que representa os interesses da indústria, ajudou a colocar no centro do poder, na área econômica, representantes diretos do sistema financeiro ?

    1. Cheguei à conclusão que a
      Cheguei à conclusão que a FIESP só faz teatrinho.

      Eles estão se lixando para o pequeno e médio empresário.

      Já os grandes, conseguem se defender com o rentismo financeiro.

    2. Compre o livro e você

      Compre o livro e você descobrirá por si mesmo. A função de uma resenha é despertar perguntas interessantes (como a que você fez) para instigar a leitura da obra.

       

  2. Boa resenha de livro de excelente economista

     

    Fábio de Oliveira Ribeiro,

    Muito a propósito a sua resenha do livro de Laura Carvalho “Valsa brasileira – do boom ao caos econômico”. Como você, sou leigo em economia, mas, ao contrário de você, venho desde há muito discordando de Laura Carvalho ainda que a admire muito.

    É bem verdade que a minha discordância é minúscula. Aliás semana passada, eu procurei o e-mail dela na internet e ia repassar para ela a dúvida que eu tenho e que acredito ser tarefa de economistas resolvê-la e que é a razão da queda do PIB no terceiro trimestre de 2013.

    Venho lançando reptos aos professores de economia para que eles passem para os seus alunos a tarefa de analisar os investimentos na economia brasileira durante o governo da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff.

    Gostaria de ver um detalhamento mais minucioso do que ocorreu com os investimentos mediante o estudo do PIB trimestral a partir do quarto trimestre de 2012, incluindo ainda o primeiro e o segundo de 2013 e deste estudo elaborar a decomposição dos investimentos para explicar as elevadas taxas de crescimento dos investimentos nos três aludidos trimestres e a queda brusca no terceiro trimestre de 2013.

    Para não adentrar muito em explicações e justificativas não só aos elogios que faço a Laura de Carvalho como também sobre o meu questionamento aos textos dela, eu vou transcrever a seguir o comentário enviado quinta-feira, 28/04/2016, às 20:45, para ML junto ao comentário dele de quinta-feira, 28/04/2016, às 15:40, lá no post “Recessão alimenta a criação de monstros da intolerância, por Laura Carvalho” de quinta-feira, 28/04/2016 às 14:39, aqui no blog de Luis Nassif, contendo após apresentação de João Paulo Caldeira, o artigo dela no jornal Folha de S. Paulo, “O mar está para monstros”. O endereço do post “Recessão alimenta a criação de monstros da intolerância, por Laura Carvalho” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/recessao-alimenta-a-criacao-de-monstros-da-intolerancia-por-laura-carvalho

    E o meu comentário foi o seguinte:

    -x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

    “ML (quinta-feira, 28/04/2016 às 15:40),

    Não vou discordar de você, ainda mais tendo como referencial um artigo muito bom e bem escrito e trazendo um assunto que deveria ter sido mais divulgado ou que deveria ter sido percebido há mais tempo.

    Agora há dois pontos em que eu considero que ficou a desejar. Primeiro ela deixa por nossa conta descobrir o artigo de Markus Brückner e Hans Peter Grüner a que ela se refere. Trata-se do texto “Economic growth and the rise of political extremism: theory and evidence” e que pode ser visto no seguinte endereço em pdf:

    https://www.uni-kassel.de/fb07/fileadmin/datas/fb07/5-Institute/IVWL/Forschungskolloquium/WS10/growth-extremism.pdf

    Bem, o texto é de abril de 2010. E fico surpreso porque um texto assim já deveria ser de conhecimento de todos. Parece que a direita escondeu este texto para que ele não revelasse a natureza em que ela é formada. E a esquerda resistiu a divulgar com o temor de que isso desse força a direita para invadir a nossa praia. Eu não conhecia o texto. Até pensei que Laura Carvalho se referia a texto do final do ano passado e, portanto, bem mais recente.

    Contrariamente a Luis Nassif eu fui muito crítico das manifestações de junho de 2013 por ver ali muita manifestação fascista de direita. Durante um bom tempo eu dizia que as manifestações não traziam nada de novo exceto o uso das redes sociais e nada de bom exceto a manifestação em si que é prova de democracia. Não se pode esquecer que no terceiro e quarto trimestre de 2011 e no primeiro e no segundo trimestre de 2012, a taxa de crescimento do trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior foi de 0,1% que dariam só 0,4% ao ano. E o segundo semestre de 2012 foi enriquecido com o julgamento da Ação Penal 470. Em junho de 2013, o caldo de revolta popular acumulada destruiu tudo aquilo que a presidenta Dilma Rousseff, às duras penas, construiu nos dois primeiros anos do primeiro mandato dela.

    Eu vinha detectando de modo mais instintivo a relação da crise econômica com o crescimento da direita. Mencionava que diante de crise econômica as pessoas ficam com medo e o medo é o fermento da direita. E então comecei a fazer a relação da crise de 1930 com o surgimento do Fascismo e do Nazismo. Agora quando a direita começou a ganhar força, a minha percepção amadureceu. E no final do ano passado o que eu tinha como dado subjetivo adquiriu contornos objetivos com o artigo de Howard Davies “As consequências políticas das crises” publicado terça-feira, 29/12/2015, e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www.valor.com.br/opiniao/4372636/consequencias-politicas-das-crises

    Infelizmente o acesso ao artigo completo só está disponível para assinantes do Valor Econômico. Assim eu deixo o link para o artigo no original em inglês no site do PROJECT SYNDICATE, publicado em 22/12/2015 e cujo título é “The Political Consequences of Financial Crises”, que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://www.project-syndicate.org/commentary/financial-crises-political-consequences-by-howard-davies-2015-12

    E mais importante do que o artigo “The Political Consequences of Financial Crises” é o link que ele fornece para o artigo “The political aftermath of financial crises: Going to extremes” de autoria de Manuel Funke, Moritz Schularick e Christoph Trebesch, e publicado em 21/11/2015, no site do VOX – CEPR’s Policy Portal e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://voxeu.org/article/political-aftermath-financial-crises-going-extremes

    Eu até pensei que o texto indicado por Laura Carvalho fosse o mesmo do de autoria de Manuel Funke, Moritz Schularick e Christoph Trebesch. E foi muito difícil de encontrar o artigo quando lembrei dele recentemente porque eu havia ficado um bom tempo sem o mencionar. Por sorte eu vi motivo para fazer o link para o artigo “The Political Consequences of Financial Crises” logo após o ter lido, em uma longa crítica que eu fiz a Luis Nassif junto ao post “A opinião de Paes de Barros sobre Dilma” de quarta-feira, 30/12/2015 às 18:31, e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/a-opiniao-de-paes-de-barros-sobre-dilma

    Enviei meu longo comentário para Luis Nassif na quarta-feira, 30/12/2015 às 20:44, e no domingo, 03/01/2016 às 17:02, eu ainda acrescentei mais algumas refutações que eu fazia a textos antigos dele com críticas a presidenta Dilma Rousseff que só ali, já iniciando os estertores dela, Luis Nassif fazia uma espécie de mea-culpa.

    Mais recentemente voltei a mencionar os dois artigos. Primeiro junto ao post “Porque o STF precisa apreciar o impeachment, por Romulus” de terça-feira, 12/04/2016 às 07:20, aqui no blog de Luis Nassif e de autoria de Romulus, e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/porque-o-stf-precisa-apreciar-o-impeachment-por-romulus

    E ontem voltei a mencionar os dois artigos junto ao post “Senador Paulo Paim fala sobre a proposta de novas eleições” de quarta-feira, 27/04/2016 às 08:10, também aqui no blog de Luis Nassif e trazendo, por sugestão de Jus Ad Rem a opinião de Paulo Paim em defesa de eleições já. O post “Senador Paulo Paim fala sobre a proposta de novas eleições” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/senador-paulo-paim-fala-sobre-a-proposta-de-novas-eleicoes

    Eu envie meu comentário na quarta-feira, 27/04/2016 às 13: 38, para Jaide e o meu comentário deveria ter sido enviado para junto do comentário dele de quarta-feira, 27/04/2016 às 11:03, mas por problemas no computador saiu direto na página de comentários e com erros de redação e com um final um tanto truncado, o que me levou a o reenviar corrigindo e acrescentando alguma coisa aqui e ali. De todo modo, em meu comentário em que rapidamente faço crítica a proposta de eleições gerais, pois por não haver previsão constitucional não passa de um golpe, semelhantemente ao impeachment sem crime de responsabilização, há os links aos dois artigos.

    E o segundo ponto que deixa a desejar no artigo de Laura Carvalho é que ela o termina assim:

    “Ainda que hipóteses históricas nunca sejam universais, como apontou o historiador Alexandre Gerschenkron, a opção por não realizar uma reforma tributária e por abandonar os investimentos públicos em prol da implementação de políticas recessivas e excludentes –no governo Dilma Rousseff e, mais ainda, em um eventual governo Temer sem legitimidade– parece, no caso brasileiro, nos tirar do caminho da exceção e nos colocar na espiral descendente do agravamento da crise econômica, do aumento da intolerância e do enfraquecimento da democracia”.

    Ora, é como se o que ocorreu agora no revigoramento da direita que encontrou guarida no Congresso Nacional ao ponto de levar adiante um impeachment ridículo fosse fruto da recessão consequência das próprias políticas do segundo governo da presidenta Dilma Rousseff. É claro que a recessão atual foi fundamental para a direita ficar dona da situação. Só que o Congresso Nacional tornou-se um parlamento assumidamente de direita na eleição de outubro de 2014 e não depois da recessão. Aliás, como eu venho repetindo há bom tempo: Eduardo Cunha teve 267 votos na eleição para presidente da Câmara dos Deputados e ganhou a eleição em primeiro turno sem os 100 votos alcançados pela candidatura da oposição (Júlio Delgado) na Câmara de Deputados eleita em outubro de 2014.

    E ademais, a Laura Carvalho jogou a culpa toda na presidenta Dilma Rousseff pela recessão econômica, esquecendo que foi o estrago ocorrido na economia no terceiro trimestre de 2013 que deixou o governo sem alternativa senão fazer a recessão em 2015, para que o país pudesse enfrentar sem desgoverno a desvalorização do real que era previsível, necessária e inadiável diante de um dólar que se fortalecia com a lenta retomada americana. Desvalorização previsível porque ocorre sempre que a economia americana antecipa a sua recuperação econômica em relação aos outros países.”

    -x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

    Então a minha crítica a ela continua sendo válida. Em meu entender, Laura Carvalho parte do princípio de que a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff foi derrubada porque ela deu benefícios em demasia aos empresários que fortalecidos puderam a derrubar.

    Eu tenho defendido tanto o primeiro como o segundo governo da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff desde sempre. Às vezes consolido os meus argumentos. Um esforço maior dessa consolidação pode ser visto junto ao post “Xadrez do fator é a economia, estúpido!, por Luís Nassif” de quarta-feira, 30/08/2017, às 00:32, de autoria de Luis Nassif e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-do-fator-e-a-economia-estupido-por-luis-nassif

    Enviei quinta-feira, 07/09/2017, às 15:26, para Junior 5 Estrelas junto ao comentário dele enviado quinta-feira, 31/08/2017, às 10:29, lá no post “Xadrez do fator é a economia, estúpido!, por Luís Nassif” um extenso comentário mais voltado para explicar a atuação do STF e mostrando que outra não podia ser a reação do STF dada a fragilidade que a esquerda tinha mostrado no parlamento.

    Dada a situação econômica e a força natural da direita no Brasil, o STF sozinho não podia segurar o impeachment da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff. E então procurei mostrar que o fracasso econômico do governo dela não foi pela política econômica que ela adotou, mas sim por fatores circunstanciais.

    No primeiro governo o fator circunstancial foi a queda absurda dos investimentos no terceiro trimestre de 2013 na sequência das manifestações de junho de 2013. Manifestações que reduziram a popularidade dela de quase 70% para menos de 40% em um mês. Nunca no mundo ocorreu uma queda de popularidade dessa ordem em tempos de paz sem um escândalo de corrupção em vista.

    E no segundo governo, além das sequelas da reversão da retomada dos investimentos que ocorreu no terceiro trimestre de 2013, a desvalorização do real não se deu de uma só tacada como das outras vezes. O problema não foi só no Brasil. Ele se deu no mundo todo.

    Já em fevereiro de 2014, houve uma primeira pressão contra as moedas dos países da periferia, tendo em vista que o Fed (O Banco Central Americano) tinha acabado com a política do QE. Vale aqui fazer referência ao post saído no Blog Beyond Brics do jornal Financial Times que com o título “EM central bankers: guiders, reactors and Mavericks” de segunda-feira, 03/02/2014 e de autoria de Jonathan Wheatley e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://www.ft.com/content/c307888e-ce52-3e3c-9936-b0a7ae8e7b55

    No post o Banco Central brasileiro é tratado como um dos três bancos líderes junto com o Banco Central da Índia e com o Banco Central da Indonésia. Outros bancos centrais apenas tomavam decisões em reação aos acontecimentos e alguns tomavam decisões intempestivas e sem muita fundamentação.

    Na sequência da primeira pressão de desvalorização das moedas de periferia, e tendo em vista que havia a previsão de que ainda em 2014, o Fed iria iniciar o aumento de juros, houve a forte queda dos preços das commodities no transcorrer do terceiro para o quarto trimestre de 2014.

    Uma nova realidade que afetou bastante as contas públicas na medida que houve redução dos lucros do setor exportador, principalmente petróleo, dentro de um quadro desfavorável, pois a economia em 2014 não crescera como se imaginara que ele cresceria.

    A previsão de razoável taxa de crescimento do PIB em 2014 e que afetou a elaboração do orçamento elaborado ainda em 2013 resultava de fortes indícios apontados pela taxas elevadas de crescimento dos investimentos e do PIB trimestral nos dois primeiros trimestres de 2013.

    E diferentemente das outras crises de câmbio no Brasil essa perdurou, pois ouve nova rodada de queda no preço das commodities no transcorrer do primeiro para o segundo semestre de 2015 que fez nova pressão sobre as moedas de periferia o que foi reforçado com a primeira elevação de juros pelo Fed em dezembro de 2015 associada à promessa de três a quatro elevações no transcorrer de 2016. Daí que houve desvalorização das moedas de periferia de dezembro de 2015 até março de 2016.

    Na verdade, a recuperação americana dessa vez tem sido muito lenta e assim a previsão de aumento de juro dos Estados Unidos não se concretiza no ritmo imaginado e as moedas dos países de periferia, no período de 2014 até o início de 2016, não conseguiram a estabilização do câmbio necessária para assegurar um crescimento econômico mais sustentável.

    A perspectiva de recuperação foi retomada desde março de 2016 a partir de quando começou-se a perceber que a recuperação americana seria mais lenta e, por consequência, os aumentos de juros pelo Fed seriam mais espaçados.

    No entanto, com o aumento dos gastos dos Estados Unidos com as forças armadas e a redução da receita com o corte de impostos prometidos por Donald Trump sendo implementados, além da queda da taxa de desemprego para 3,9% do PIB, houve a percepção de que os aumentos de juros pelo Fed de agora em diante seriam mais frequentes.

    No ano passado, um economista americano fazendo previsão sobre o crescimento da economia dos Estados Unidos avaliou que talvez o atual período de crescimento possa se tornar o mais longo da história, indo até 2020. Assim, não se é de estranhar que se tenha iniciado nos países de periferia nova rodada de desvalorização das moedas.

    No caso brasileiro, a atual rodada de desvalorização do real trouxe a nossa moeda para o mesmo patamar em que ela se encontrava em março de 2016. E pensar que tudo isso se reproduz no mundo inteiro de forma muito semelhante ocorrendo apenas variações de meses, mas a maioria dos analistas tratam o problema como se fosse uma exclusividade brasileira.

    Mencionei recentemente as circunstâncias particulares que levaram aos péssimos resultados econômicos nos governos da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff em comentário que enviei há cerca de 3 dias para o economista Gustavo Galvão no post “Guerra e paz pós-eleição: Alckmin é Peru, Ciro é México. Lula será o quê?” de 15/05/2018, lá no blog Duplo Expresso e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://duploexpresso.com/?p=93700

    Em meu comentário para Gustavo Galvão, um dos posts a que faço referência é exatamente o que eu mencionei acima “Recessão alimenta a criação de monstros da intolerância, por Laura Carvalho”. Vale salientar que tenho indicado este post com frequência mais pelo fato de o artigo de Laura Carvalho ter feito referência ao artigo de Markus Brückner e Hans Peter Grüner intitulado “Economic growth and the rise of political extremism: theory and evidence”.

    E nesses tempos tenebrosos a indicação do artigo de Laura Carvalho se torna exigência em muito em virtude da referência ao artigo de Markus Brückner e Hans Peter Grüner. Vale mencionar aqui que o indiquei em comentário que enviei sexta-feira, 11/11/2016, às 13:26, para você junto ao seu post “Será preciso Galeanizar o mundo de Trump, por Fábio de Oliveira Ribeiro” de sexta-feira, 11/11/2016, às 06:50, aqui no blog de Luis Nassif e de sua autoria e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/sera-preciso-galeanizar-o-mundo-de-trump-por-fabio-de-oliveira-ribeiro

    No post você comenta como, de certo modo, Eduardo Galeano no livro de “De pernas pro Ar – A escola do mundo ao avesso”, na página 83 que você reproduz, contendo o texto intitulado “O medo global”, previra o surgimento de Donald Trump.

    Aquele seu post é de muito boa qualidade com um achado que merece bastante divulgação e, pelo menos de minha parte tem sido frequente a indicação que eu faço dele. Embora o título do texto de Eduardo Galeano que foi reproduzido no seu post – “O medo global” – dê a ideia de um caráter mundial, você se apegou um tanto ao problema americano com o advento do Donald Trump.

    Um dos poucos textos com essa visão global do problema do ressurgimento das forças da direita em muito com caráter fascista foi o de Diogo Costa expresso no post “O Grande Mal Estar, por Diogo Costa” de quarta-feira, 25/10/2017, às 06:58, aqui no blog de Luis Nassif e de autoria de Diogo Costa e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/blog/diogo-costa/o-grande-mal-estar-por-diogo-costa

    Sem mencionar fontes e assim tendo por base apenas os dados econômicos de diversos países, Diogo Costa intuitivamente atribui o fortalecimento da direita no mundo ao que ele chama de grande mal estar causado pela crise econômica e relembra a crise econômica da década de 30 do século passado com o surgimento do fascismo.

    Há comentário meu enviado sexta-feira, 27/10/2017, às 13:17, para Diogo Costa junto ao post “O Grande Mal Estar, por Diogo Costa” , em que eu faço menção ao post “Recessão alimenta a criação de monstros da intolerância, por Laura Carvalho” com o artigo “O mar está para monstros” de Laura Carvalho, além de mencionar outros artigos que tratam da questão do fascismo inclusive os dois artigos que mostram com dados estatístico o crescimento da direita em períodos de crise econômica.

    Penso que o ressurgimento do fascismo no mundo deve ser analisado dentro do quadro econômico mundial da forte crise de 2008 e a fraca recuperação econômica. E o impeachment da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff, embora tenha sido agravado sobremaneira com esse ressurgimento do fascismo em escala mundial, é fruto de três fatores que nos são bem próximos.

    O impeachment não teria ocorrido se a economia e as finanças brasileira não fossem tão concentradas espacialmente no Brasil que se possibilite que de São Paulo se possa fazer todos os golpes.

    O impeachment também não teria ocorrido se a concentração social da renda no Brasil não fosse tão grande que se possibilite que a direita se faça representar no Congresso Nacional de forma desproporcional ao seu real tamanho.

    E o impeachment também não teria ocorrido se a crise econômica não fosse tão acentuada a ponto de permitir que a classe média pudesse estar unida e se arregimentar em grandes passeatas para combater o governo da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff.

    São três as causas imprescindíveis para que o golpe possa ter ocorrido. A crise econômica, em meu entendimento, foi de origem ou causa desconhecida. É claro que cabe a esquerda estudar bastante as razões de cada uma das causas terem acontecido para evitar que em oportunidade semelhante elas possam repetir-se. Enquanto as causas não forem conhecidas, responsabilizar a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff me parece injustificável.

    Já as duas primeiras causas não são evidentemente de responsabilidade da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff. São causar que vão perduram por muitos e muitos anos, mas que a esquerda cabe combatê-las sem trégua.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 19/05/2018/

    1. Vale uma referência à continuidade de sua resenha em outro post

       

      Fábio de Oliveira Ribeiro,

      Sua resenha muito boa ainda foi completada com as referências que você faz a textos importantes sobre a história do desenvolvimento econômico brasileiro junto ao post “Laura Carvalho e a história das ideias econômicas de Gasparian à Juca Chaves, por Fábio de Oliveira Ribeiro” de segunda-feira, 21/05/2018, às 09:21, de sua autoria e aqui no blog de Luis Nassif e que pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/laura-carvalho-e-a-historia-das-ideias-economicas-de-gasparian-a-juca-chaves-por-fabio-de-oliveira

      No post “Laura Carvalho e a história das ideias econômicas de Gasparian à Juca Chaves, por Fábio de Oliveira Ribeiro” você faz referência a outra passagem do livro de Laura Carvalho e procura mostrar como o trecho transcrito é um deja vu que faz recordar de outros textos clássicos da história econômica brasileira. A esse respeito você menciona “Em defesa da economia nacional” de Fernando Gasparian, publicado pela Editora Saga, Rio de Janeiro, 1966, p. 258/259, e retirado do “Discurso aos formandos da turma de 1965 da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da USP” proferido em 21/03/1966.

      Depois você transcreve trecho do livro “Desenvolvimento e Crise no Brasil entre 1930 e 1967” de Luis Carlos Bresser Pereira, publicado pela editora Zahar, Rio de Janeiro, 1968, p. 208/209.

      A seguir você transcreve texto de Paul Singer, “Desenvolvimento e crise”, publicado pela Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1977, p. 160/161. E logo após vem o texto “O senhor e o unicórnio”, Luiz Gonzaga de Mello Beluzzo, editora brasiliense, São Paulo 1984, p. 185/186.

      E você ainda que rapidamente, você volta ao livro “Valsa brasileira – do boom ao caos econômico” de Laura Carvalho, editora Todavia, São Paulo, 2018, p. 52/53 e faz rápida referência a Paul Singer e a Luis Carlos Bresser Pereira. E ainda menciona a música de Juca Chaves “A culpa é do governo”, e conclui fazendo referência ao livro de Luis Nassif “Os Cabeças de Planilha”.

      Continuo considerando válida a minha crítica aos trechos que você transcreve do livro de Laura Carvalho. É possível elaborar uma política alternativa a política do PT, mas é difícil ela ser executada.

      Dentro de um sistema capitalista e de mercado e em um país democrático com a disparidade espacial e social de renda como a do Brasil, eu considero praticamente impossível se desenhar alternativa viável à política que se tentou implantar nos governos doo PT que não só conseguissem aumentar o crescimento econômico como produzir mais desenvolvimento social.

      Os textos que são mencionados parecem mais construir uma crítica ao modelo existente sem nem mesmo preocupar em conseguir apresentar um modelo factível alternativo. É claro que estou analisando pelos trechos transcritos, não tendo lido, salvo “Cabeças de Planilha”, nenhum dos livros mencionados.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 22/05/2018

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