Urariano Mota
Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".
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Viva à cultura, por Urariano Mota

É sintomático que dois dos melhores críticos do Brasil tenham que escrever um "acuso" fora dos ensaios e avaliações da cultura, dos romances e da poesia

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Viva à cultura

por Urariano Mota

A Folha de São Paulo publica hoje o artigo “Procuradores de faz de conta”, escrito pelos professores Alcir Pécora e Francisco Foot Hardman. É um texto corajoso e necessário que fala de perseguição contra a liberdade de pensamento no Brasil, ferida pela perseguição à dignidade salarial dos professores universitários.

Os autores, Francisco Foot e Alcir Pécora, são dois dos melhores críticos do Brasil, que saem no momento das suas contribuições à cultura e literatura nacionais para um alerta em brilhante defesa da universidade pública. 

Destaco alguns trechos:

“No dia 7 de fevereiro, fomos surpreendidos pela notícia de que o Ministério Público pediu devolução imediata de salários acima do teto na USP, Unesp e Unicamp. A reportagem requenta a ideia de supostas irregularidades nos pagamentos dos docentes das universidades públicas paulistas, desta vez denunciadas pelos procuradores de Contas Thiago Pinheiro Lima e João Paulo G. Fontes…

Enquanto o reitor da Unicamp, que tem o maior cargo administrativo e o posto acadêmico mais alto da carreira (professor titular), tem como vencimentos líquidos R$ 15.502,08, os jovens denunciantes receberam, no mês passado, segundo o Portal da Transparência, vencimentos líquidos de R$ 72.006,46 e R$ 71.954,33!

Como é possível? Simples: sobre o salário base de mais de R$ 20 mil, que ambos recebem, foram aplicadas verbas indenizatórias que burlam o teto. Isso, sim, uma obscenidade!

Independentemente de saber-se a quem servem, uma coisa é certa: esses jovens togados novos ricos são cúmplices ativos do obscurantismo, do anti-intelectualismo e da operação de cerco à universidade pública que tem dominado a cena nos tempos sinistros em que vivemos.

Mas o mais incrível não é isso. O disparate é que o teto salarial das universidades paulistas é o mais baixo do país! Alguns estados que se igualaram ao teto federal têm cerca de 70% a mais do que o teto paulista. E a maioria absoluta dos estados, que adotou o subteto previsto constitucionalmente (90,25% do teto federal), paga cerca de 54% a mais do que o teto paulista, algo equivalente a R$ 12 mil.

Esse denuncismo imoral quer fomentar somente o escândalo. Sabe-se que essa fórmula está no centro das ações contra a educação e a ciência. Nada disso vai demover a teimosia e resistência dos que ainda acreditam na universidade como lugar decisivo para a riqueza espiritual e material do país”.

É sintomático que dois dos melhores críticos do Brasil tenham que escrever um “acuso” fora dos ensaios e avaliações da cultura, dos romances e da poesia. Mas pensando melhor, eles continuam na prática pela qualidade do texto da sua denúncia, pela superior  compreensão de que a literatura é tudo que fala da nossa dor.

A batalha dos mestres das universidades também é nossa. É de todos que acreditamos nas conquistas da civilização, no momento tão ameaçada por juízes e procuradores, quero dizer, procuradores de perseguição a mestres e artistas.

Urariano Mota

Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".

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