Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
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À blusa amarela, por Maíra Vasconcelos

O amarelo é uma arma de proteção e ataque. Atenção. Possuir o amarelo é uma abstração poética de ressonância incalculável

Imagem: Reprodução/Internet
À blusa amarela
por Maíra Vasconcelos
Da minha alma
se pode fazer também
saias muito elegantes.
Maiakóvsk

Quem vestisse a blusa amarela estaria tomado pelo sol ou por mil sóis que podem terminar com um balaço em si mesmo: o amarelo estridente do futurismo. O futurismo estratégico como forma de se tomar distância do presente e poder imprimir a luta diária do corpo: todas as roupas e sapatos usados para questionar. Mas quantos poetas a isso ainda entregam seus versos: sempre que há versos. Buscar palavras que não sejam pálidas: lembrar de se renovar o circo e pintar o rosto.  

Quem vestisse a blusa amarela estaria tomado pelo sol ou por mil sóis. Sinto-me enormemente afetada pelo amarelo, desde sempre, a começar por como os pintores enxergam o amarelo, pergunto: poetas, vocês não têm esse mesmo apreço pelo amarelo? Por isso, falo tanto sobre o sol e sua incidência em todos nós. Afinal, como emitir e trabalhar as luzes que tanto nos importam? As luzes no palco eram exatas acompanhando as expressões corporais do ator, reparem. Como não pensar na luz e no poder do amarelo?

O amarelo é uma arma de proteção e ataque. Atenção. Possuir o amarelo é uma abstração poética de ressonância incalculável. Eis o teatro.

Eis o teatro e a sua pressão natural sobre os corpos que o assistem. Amarelo amarelo, foi um chamamento e hoje ainda deverá sê-lo. Perguntem aos novos pintores e desenhistas a importância do amarelo. Ele é naturalmente constante. “Um homem sem cabeça” e “A mulher da lágrima pequena”, alguns dos personagens escritos por aquele que, evidentemente, vestia blusas amarelas. Falamos de Maiakóvski.

Os pobres estavam em volta dele, do amarelo raivoso e generoso em excesso: transformar lágrimas em sapatos, até isso ele desejou. Eis o teatro e a sua pressão natural sobre os corpos que o assistem. Qual o seu sapato? Ou quantos são os seus sapatos? Estamos a revistar roupas e sapatos, desculpem os transtornos. Este é um trabalho poético-teatral pensado com vistas ao futurismo.

Há chegado o futurismo e os sapatos e as roupas continuam escassas para muitos. Talvez, nada tenha chegado ao lugar desejado e a perspectiva de alcançar cai justamente no fracasso. Mais uma vez, o fracasso que toda arte é capaz de amar para ter esperança e prosseguir, apenas. E o amarelo continua a reluzir fortemente, porque sua intenção talvez não seja a de chegar a lugar nenhum, mas simplesmente permanecer, estar e continuar sempre presente. Como acontece ainda hoje. Presente.

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

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