Ouro Preto, final de agosto, 2015.
(algumas horas no ateliê de Carlos Scliar)
Quanto de ouro e pedra há em mim, num verso que nunca vi, que nunca o soube palpitar em mim.
Nesta eterna negação, o inferno monta-remonta suas chamas brasas acolhidas a trepidar nesse fino traçado de minhas estirpes, e algo se faz vivo na palavra que nunca deverá ser esquecida, no quadro retratado verde laranja presenteado, na seiva na relva na enchente que é o cada dia, nas coisas objetos que amam seu lugar moribundo, nisso faz-se pronta viva e trêmula cada chama, de um escuro, oh clamante escuro de nós!
Para medir quanto de ouro e pedra há em mim, volto às cinzas daquilo que nunca soube pertencer a esta mulher a mim desconhecida, na face dura de uma realidade impingida vista lida e sabida por outros, se versos poetas e relíquias expõem o que talvez seja meu brilho e fosco modo de pertencer ao estar aqui tão viva.
Para dizer quanto carrego de ouro e pedra, quanto há em mim! num peso sôfrego e andarilho, secular, por que não?, ao deparar-me com este assombro de vida, faço agora esta fina sinfonia, acalanto ecôo o sono de um jovem guerreado poeta. Que está no quarto ao lado, e o quarto ao lado é este o verso de uma realidade.
Não sei por que estou na casa destes rabiscados e pintados poetas, levo-trago comigo este pano traçado enviesado de curvas e cores em chamas advindas das vidas pra sempre merecidas na lembrança deste mundo. E mesmo sem saber por que estou Eu! aqui, brilho ouro pedra fosca, faço-me presente pela ausência daqueles que não devem ser esquecidos no puro ar que às vezes tanto pesa, pesa e se afunila nas costas de algum pequeno corpo mundo, isto que parece inferno de poeta, mas é a flâmula arcanja dourada de duas faces, duas exatas medidas que clamam renovar suas estadias no tempo-espaço.
Esta casa rangida de versos cores ouro e pedra, quanto desta casa haverá em mim!, ofuscada na poeira do tempo luminosa, esta casa que ainda não sei, mas saberei da infundada razão abstrata que me faz caminhar e ser atraída até aqui. Fazendo-me saber a certeza de que voltarei.
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