Bia e Val, por Rui Daher

Bia e Val

por Rui Daher

Durante certa fase do desenvolvimento do capitalismo brasileiro, tivemos grandes personalidades, mulheres (menos) e homens (mais), discussão sociológica e antropológica que não cabe, no momento, neste texto. Até porque, atualmente, muito em moda e em mutação.

Hoje, porém, venho com uma nova lição, completamente oposta à que Geraldo Vandré escreveu na canção Para não dizer que não falei de flores (1968): “nos quartéis lhes ensinam antigas lições, de viver pela Pátria e morrer sem razão”.

Depois de tantos anos de leituras, cursos, palestras, percursos em trilhas brasileiras, onde notei e lamentei o que se queria dizer sobre pessoas, mulheres, homens e crianças vivendo abaixo da linha de extrema pobreza, sem qualquer direito cidadão, como os triviais morar, comer, ter água para beber e lavar, socialmente assistidos pelo Estado, em saúde e educação, pude entender minhas tantas décadas de equívocos.

Afinal, nada disso importou, importa ou parece que em algum dia importará.

Basicamente, criado e educado sob conceitos cristãos-católicos, naquele ir e vir de as passagens etárias mais revoltadas ou não, a fé nas ciência e verdades tecnológicas, o que me faz desacreditar em ser superior invisível, que venha interferir nas lambanças provocados por nós, terráqueos, deu numa certeza: sou um humanista e dedico meu amor às Natureza e Arte. Ponto. Isto é certo e cada vez mais acelerado pela finitude.

Mas agora aprendi uma lição, não a de Geraldo Vandré, citada acima. Mas de duas senhoras da sociedade paulistana, prováveis filósofas, que me ensinaram uma “nova lição”. Seguida, ter-me-ia evitado tantas dúvidas, lágrimas, apreensões, medos, fugas, ameaças de prisão, enfim, torturas, se não físicas, da alma. Pior: tudo isso está voltando com irracionalidade ainda maior através do Regente Insano Primeiro (RIP).

Conversavam:

“Não é correto chegar na rua e dar marmita [para moradores de rua], porque a pessoa tem que se conscientizar que ela tem que sair da rua. A rua é um atrativo, a pessoa gosta de ficar na rua”, declarou Bia no vídeo, gerando revolta entre os internautas.

“Eles não querem ir para o abrigo, porque eles têm horário para entrar, responsabilidades e eles não querem”, completou Val, concordando com a primeira-dama”.

Não poderei ir tão forte como o foi, neste GGN, em excelente artigo, Rômulo Moreira. Não seria prudente de minha parte, e o jornal digital de todos os Brasis sabe disso. Vontade tenho, mas genericamente assinaria embaixo.

Estamos em um País desalinhado com a boa educação dos que mais puderam estudar e de se projetar na vida de aparências e dinheiro, mesmo que de forma pequena.

Para nossos fariseus é fácil. Basta que, no dia seguinte, digam que o conversado “estava em desacordo com o contexto”. E se alguns não entenderem o que seria contexto, basta uma prova fática, fotografada e filmada, como distribuir pães nas escadarias da igreja de Santo Antônio.

Não condeno as duas senhoras. Reconheço-as, iguais a outros milhões de brasileiros, defensores do Acordo Secular de Elites, dos próprios tesouros, em busca de egos inflados ou perdidos (seus psicoterapeutas podem ajudar), fazem o Brasil um dos países mais desigual do planeta.

Agora, uma particularidade a que não posso resistir. A este ponto de covardia não chegarei. “Fora do contexto”, alegam. Por que, então, tanto esforço para colocarem minhas palavras “Dentro do contexto”, se também elas estavam fora dele?

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

View Comments

  • Se não houvesse miséria, de que outra forma pessoas como essas senhoras poderiam humanizar-se. Só experimentando a miséria para conhece-la.
    E pensando assim a gente se compadece ou perpetua a miséria?
    A gente se compadece porque ninguém merece passar miséria, nem mesmo essas duas miseráveis de quem compadecer-se é exercer perdão.
    Dito isso, devo confessar minha surpresa com o comentário da sra. bia dória, de quem nunca tinha ouvido a voz. Pensei que ela não falasse, e dela me recordo quando pousou diante de uma grande mesa, junto com outras "socialaites" caridosas e fervorosas católicas , oferecendo grandes potes de ração com a efígie da nossa senhora, se não me engano, para ser distribuido à população pobre do estado de são paulo, como complemento alimentar àqueles que "não têm hábitos alimentares". Aquela senhora sem rosto e de grande corpo, maior que o seu maridinho de pullover ralf lauren, me pareceu apenas figurativa.
    Sobre a Val, ninguém a definiu melhor que a Ludmila, graaande Ludmila!
    Disse ela à Val Escarlate: - "Melhor ter valores do que preço".

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