Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
[email protected]

Construímos lugares para que pássaros deixem de voar, por Maíra Vasconcelos

Dentro do saco pássaros não estão, sequer, ofegantes. Reparem. Uma hora, se sufocam. Quantos pássaros ainda serão colocados dentro de uma armadilha bem pensada?

Construímos lugares para que pássaros deixem de voar

por Maíra Vasconcelos

Existem sacos cheios de pássaros. Quantos pássaros cabem em um saco? Um saco cheio de pássaros significa que os pássaros assim não respiram. E nos dias atuais intuímos que isso seja um comportamento absolutamente normal: encher um saco de pássaros para vê-los sem vida. Então, aclara-se: o saco não será jamais aberto para que eles possam voar.

Haverá sempre mãos dispostas a colocar pássaros em sacos e, logo, fechá-los aí. E bem fechados. No entanto, neste caso, em que falamos de pássaros, não sabemos o número de mortos. A contabilidade séria para animais é quase inexistente. A nossa disposição aos números exatos também depende para quem. Além do mais, não se faz enterro de pássaros e de suas penas já imóveis. Esse ritual, quase sagrado, acontece apenas na infância.

Dentro do saco pássaros não estão, sequer, ofegantes. Reparem. Uma hora, se sufocam. Quantos pássaros ainda serão colocados dentro de uma armadilha bem pensada? Não sabemos. Não mensuramos o valor de ossos tão pequenos. São muito pequenos e fáceis de serem quebrados. Quebramos. Muitas mãos usam seus esforços para encher sacos de pássaros e de outros animais também, claro. Mas agora vamos nos ater apenas aos pássaros. Há ainda aqueles que sobrevivem muito estropiados antes de serem colocados em sacos e, a partir daí, desaparecem de vez.

Ninguém sabe o que um pássaro sonha. Ter um problema ambiental é como ver a interrupção dos sonhos da natureza que não conhecemos, que julgamos conhecer, e com a qual não dialogamos porque se deseja ter o poder de. Assim vão embora os sonhos de pássaros que ninguém conhece. Possuímos cada vez mais condições perfeitas para interromper sonhos e vidas que desconhecemos. A desconfiança é mais comum que o amor.

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador