Cordialidade à Paulista, por Mestre Yoda

 

                – Eu não sou obrigado a sorrir! Meu contrato de trabalho não me obriga a isso e, aliás, reservo meu sorriso para quem o faz por merecer e, desculpe a sinceridade, cidadão, não é o seu caso.

                – Cidadão uma ova, pra você é senhor, SENHOR!! Está entendendo? Além do mais, seu grosso, você nunca ouviu falar que o cliente sempre tem razão?

                – Não fui grosso com você, não sou obrigado a tratá-lo por senhor e quanto a esta frase burguesa de muito mal gosto, é claro que conheço, não vivo em Marte. Não só conheço esta sentença esdrúxula, como discordo profundamente.

                – Ah! Logo vi, é um destes esquerdistazinhos metidos a besta! Ô rapaz, vá lá chamar o gerente, vai, que eu não tenho tempo a perder e não vou ficar de lenga-lenga com um reles garçom.

                – Apesar de sua arrogância de direitoso coxinha, confesso que esta conversa também não me apraz, prefiro mesmo chamar o Seu Nelson.

                E na sala da gerência, regando as orquídeas, está Nelson, com sua tradicional bermuda jeans e seu chinelo de couro surrado, quando entra o garçom:

                – Oi, Nelson, não queria te estragar o dia, mas é mais um daqueles sujeitos que vem lá da Paulista, pra comer uma comidinha caseira e criar problema aqui.

                – Afonso, manda esse cara catar coquinho, eu já te disse. Você trabalha comigo desde jovem e tem carta branca pra mandar sujeitinhos dessa laia pro quinto dos infernos, né?

                – Eu sei, Nelson, mas sabe como é, ele quer que eu chame o gerente, então, veja, não seria legal que ele ouvisse também da tua boca?

                – Hum, entendi, Afonso, xá comigo!

                Dirigem-se ambos à mesa, onde espera, impaciente, o cliente:

                – Você queria falar comigo?

                – O senhor é o gerente? – fala meio incrédulo.

                – Sim, porque? – responde Nelson, desafiador.

                – Vestido desse jeito? – sentencia com ar superior.

                – Você é estilista ou algo assim? Bem… isso não importa, vamos ao que interessa.

                – Amigo, vou lhe dizer, o senhor está mal de garçom. O sujeitinho aí é grosseiro, não dá um sorriso, um bom dia, trata mal os clientes e tem o desplante de ficar retrucando e contestando os clientes.

                – Não sou seu amigo, mas… perdão, seu nome é…

                – Melo, Doutor Melo!

                – Doutor? Fizeste doutorado em que área?

                – Doutorado? Não fiz, sou advogado.

                – Então não és doutor, Melo. Outra coisa, não concordo com seu julgamento sobre o Afonso porque trabalho com ele há décadas e o conheço bem melhor do que você. De fato, ele não é de sorrir muito e, principalmente, hoje, que acordou com dor de ouvido. Nunca foi obrigado por mim a sorrir pra ninguém, mas é um bom sujeito, honesto, pacato e solidário. Por isso, nunca permito que cliente nenhum seja grosseiro com ele. Creio que você lhe deve desculpas.

                – Mas… isso é um absurdo! Que desrespeito! Você sabe que eu poderia processar esta espelunca? – diz Melo furioso.

                Nelson, que conhecia tipos como Melo, sabia como um zen budista, como não perder a compostura.

                – Claro, és advogado, sabes bem manejar a lei a seu favor, então, sem bravatas, por favor, apenas vá, pois você está tornando carregado o ar deste nosso pedacinho de paraíso. Melo, sendo franco, é melhor para ambos que continues a almoçar naqueles restaurantes da Paulista, freqüentados por gente como você. Ou, como dirias, “do seu nível”.

                – É isso mesmo! Não vou perder nem mais um segundo aqui neste lugarzinho desclassificado! – e saiu esbravejando uma porção de impropérios.

                Ao perceber o sujeito saindo porta afora, quase simultaneamente, Nelson e Afonso suspiram, aliviados. Colocando a mão no ombro do garçom, Nelson diz:

                – Se ele pudesse, hem, Afonso, mandava que eu te chicoteasse. – disse, gargalhando.

                – É, pois é… depois dessa só o Rei pra salvar o dia, som na caixa – diz Afonso, que sai cantarolando:

                – “Garçom eu sei que estou enchendo o saco, mas todo bebum fica chato, valente e tem toda razão…”

Redação

26 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Muito bom prá sexta-feira!

    Gostei demais! Um bom mote prá sexta-feira!

    Vou rememorar com meus botões na hora sagrada da cervejinha!

    O pior é que tem gente chata que fica tentando azucrinar a vida dos outros, prá difundir as suas frustrações!

    1. Legal, Mário, boa cervejinha

      Legal, Mário, boa cervejinha pra ti! Como trabalho como professor tenho um pouco mais de paciência com “os chatos”, já que a retórica é uma das minhas ferramentas profissionais. Muitas pessoas, sobretudo da chamada “elite econômica”, são ignorantes por falta de oportunidades para uma boa educação, já que estudam em colégios conteudistas, vem de famílias ricas, mas com formação intelectual questionável, ascendendo profissionalmente por vias que valorizaram mais a ganância do que mesmo a inteligência.

      Algumas destas pessoas, com paciência, podem tornar-se menos egoístas e mesquinhas. O trabalho é duro, mas a esperança é maior.

      Abraços

  2. Inutil

    Um texto totalmente sem sentido, parecendo mais dialogo de novela mexicana ou pior de camera escondida para tentar tirar algo engraçado das pessoal.

    É um texto para se divertir mais na vida real isto não acontece.

    Um garçom deve se apresentar bem aos clientes e tem sim que sorrir, pois esta é sua função, fazer os clientes gastarem o maximo possivel no estabelecimento.

    Um gerente é o representente do dono do estabelecimento comercial, então deve se apresentar da melhor forma possivel, e conversar de forma educada com os clientes, mesmo aqueles que sejam mau educados. Pois se um gerente agir desta forma ele vai perder todos os clientes e o bar sera fechado.

    E esse cara pode ser “doutor”, mais que tambem é uma mau educado isto tambem é.

    1. Que coisa mais antiga. Eu

      Que coisa mais antiga. Eu dispenso os sorrisos treinados e nada genuínos que as pessoas são obrigadas por seus chefes a oferecer aos clientes. Não me sinto mais à vontade, nem mais bem vinda, nem mais tentada a voltar por recebê-los.

      1. pois é, Carolina, no Brasil

        pois é, Carolina, no Brasil conheço muitos “bares de Portuga”, nos quais os proprietários expressam a sinceridade e falta de cortesia típica dos irmãos lusitanos bem expressa na canção “Fado Tropical”, do Chico. Em geral, são bares de muito sucesso exatamente por serem genuínos, como você diz.

    2. Em que podemos servi-lo?

      Doutor Fabio GM Melo, o senhor por aqui, neste humilde blog?

      Um pergunta pessoal, se o senhor me permite a intimidade, o GM do seu nome tem a ver com Ministro do Supremo ou com montadora de americana de automóveis?

      Muito obrigado, desculpe por qualquer coisa e volte sempre.

      1. Verdade

        A verdade parece incomodar as pessoas, por isso preferem a fantasia de que todos devem ser superiores ou inferiores a alguem, então parece que a vida real assusta e machuca as pessoas.

        Ja fui garçom, tive que sorrir para agradar as pessaos e trata-las bem mesmo não querendo.

        fui gerente e tive que demitir pessoas que simplismente agiram como a pessoa sitada acima.

        Hoje sou engenheiro e não me considero melhor que ninguem, mais sei que muitas pessoas agem como esse doutor citado acima.

        Mais eu devo dizer ao senhor que esse texto é uma fantasia, e a realidade é dura.

        E meu caro, GM é meu sobre nome. Fabio Gon…… Morei…..

         

        1. Ao dizer que é “portador da

          Ao dizer que é “portador da verdade” isso não lhe soa meio arrogante? Quanto á afirmação de que “teve que sorrir para agradar as pessoas”, digo que,  mais do que obrigação, foi uma escolha sua, então você não “teve”, mas optou, ao dizer que “teve que demitir”, idem. Quanto à fantasia e realidade, lembro que Picasso diz que “a arte é uma mentira que nos ensina a compreender a realidade”.

    3. que bom que percebeste o “sem

      que bom que percebeste o “sem sentido” do texto, embora não compreenda ainda o “sem sentido” da vida, o “sem sentido” da arte. Felizmente não tenho preconceito contra dramalhões mexicanos, como os que inspiram a incrível dupla de diretores Alejandro Iñarritu (ganhador do Oscar de melhor diretor) e Guillermo Arriaga e que compreenderam que a desqualificação, por parte da crítica (europeia e cartesiana) da emotividade latina, expressa nos roteiros de novelas mexicanas (e brasileiras também) são repletas, ainda que contenham elementos importantes, de preconceito.

      Um garçom, acima de tudo, é uma pessoa como as outras, com direito de sorrir, mas sem esta obrigação. A função de comerciante não é sua, mas dos donos do estabelecimento. Quanto ao gerente, é óbvio que “apresentar-se da melhor forma possível” é algo bastante subjetivo e, para alguns, significa “terno e gravata” e para outros, pode significar até mesmo estar nu. Quanto à “educação”, você o está usando com o sentido de “cortesia”, “cordialidade”. Educação é muito mais do que isso e, para muitas culturas, sorrisos e gentilezas são menos importantes do que para outras.

      Quanto à sua afirmação de que o bar será fechado por causa do modo de agir do gerente, felizmente conheço muitos bares, como o Edmar, leitor que também comentou o texto, que fazem muito sucesso exatamente porque tem gerentes ou proprietários que agem assim e clientes que comungam com esse modo de agir.

  3. Só um idiota discute com garçom e continua no restaurante.

    A comida que será servida passará antes pelas mãos do garçom.

    Pelas mãos, na melhor das hipóteses.

    1. mas há muitos destes idiotas

      mas há muitos destes idiotas prepotentes, Sergio, que parecem ter saído da Casa Grande. Vi cenas no youtube de cozinheiros e garçons cuspindo em sanduiches e mesmo inserindo outras secreções.

  4. em minas


    em pacata cidade do sul mineiro, que anda “bombando”, o pessoal de lá, simples e tranquilo, está de saco cheio dessas “coisas” de são paulo que aparecem para encher o saco.

  5. Bons botecos

    Só quem não conhece esse Brasil imenso acha que este tipo de situação é inverossímel. Em qualquer cidade, grande ou pequena, os melhores botecos são aqueles em seus donos e funcionários conhecem os clientes pelo nome, e não fazem questão de esconder quando estão irritados, nem ser simpáticos quando algo os incomoda. E mesmo assim a clientela respeita, volta e gosta do lugar, porque sabe que ali lida com pessoas, com suas qualidades e defeitos, com a sinceridade de amigos.

    Lembro de um local em minha cidadezinha, interior da Bahia, onde íamos(amigos, irmãos, pais e agregados) e bebíamos aquela cerveja gelada, e o dono, um indivíduo grande e forte, vindo de uma cidade menor ainda para ganhar a vida ali, quando cansava de atender sentava-se conosco e acaso aguém tivesse o desplante de lhe pedir uma cerveja, ele respondia irritado: “você sabe o caminho do freezer, é só levantar e ir lá pegar!” rsrsrs

    1. verdade, Edmar, pena que este

      verdade, Edmar, pena que este tipo de ambiente não esteja presente em certos espaços, sobretudo da classe media, onde impera uma hierarquia tão rígida e uma desumanização tão grande que não há espaços para afetos verdadeiros.

  6. O texto, por si só, já seria

    O texto, por si só, já seria bem fraquinho.

    Pior, o título generaliza e estigmatiza o “paulista”, querendo dizer que todos os habitantes do estado de SP são assim.

    Ridículo.

    Aliás, ridículo e sintomático: esse neo-PT e essa neo-militância é tão preconceituosa e ignorante quanto a turma da direita.

    1. Quando se diz “esse texto é

      Quando se diz “esse texto é bem fraquinho”, sem argumentar, já se evidencia que a própria crítica não é digno de crédito. Quanto à generalizações, poucos adjetivos em nosso vocabulário não possuem tal característica. Além do mais, a ficção, ao criar personagens, trata de situações específicas. Vale lembrar, em relação a isso, que o estado de São Paulo foi bastante comentado durante as eleições presidenciais exatamente porque inúmeros cidadãos deste estado (no qual nasci e onde vive grande parte da minha família) pronunciaram-se publicamente, com generalizações desta natureza contra nordestinos.

      Quanto a este “neo-PT” a que você se refere, ou à neo-militância, não me diz respeito, sou crítico do PT e dos petistas, embora, diferente de você, não seja preconceituoso.

      O estado de São Paulo, como qualquer outro, tem virtudes e defeitos, portanto, não está acima do bem e do mal e não pode ficar isento de críticas.

      Por fim, esse papo me lembrou do Quintana quando um dia foi interpelado por um leitor que disse a ele: “Adorei o seu poeminha”, ao que retrucou: “Obrigado por sua opiniãozinha!”

  7. Sou partidário de que a educação às vezes atrapalha.

    Na Rodoviária, quando temos que embarcar num ônibus ouvimos um grito sem cerimônias:

    – SÃO PAULO 23:50 !!!!

    E só. Volta-se ao precioso silêncio.

    No Aeroporto, quando do embarque:

    – ATENÇÃO SENHORES PASSAGEIROS. A COMPANHIA AÉREA TAM INFORMA AOS SENHORES PASSAGEIROS DO VÔO 1462 COM DESTINO A SÃO PAULO QUE O EMBARQUE ESTÁ SENDO REALIZADO NO PORTÃO 4. PASSAGEIROS SENTADOS NAS FILEIRAS DE EMERGÊNCIA POR FAVOR DIRIJAM-SE AO PORTÃO. PASSAGEIROS SENTADOS NAS FILEIRAS 17 A 35 DIRIJAM-SE À FILEIRA DA ESQUERDA DO PORTÃO, PASSAGEIROS SENTADOS NAS FILEIRAS 1 A 16 DIRIJAM-SE À FILEIRA DA DIREITA, ETC, ETC, ETC, ETC, ETC.

    Ufa!!! Alguns segundos de precioso silêncio e… o chamamento de novo embarque começa a ser gritado nos ouvidos da gente.

     

     

    1. Não pior é o vendedor que se apresenta e pergunta o teu nome.

      Eu me irrito de cara, tu vais comprar uma bugiganga qualquer e vem aquele vendedor com um sorriso de pateta, aprendido no seu curso de vendas e diz:

      – Meu nome é Pedro, o seu nome?

      Eu já corto de imediato:

      – Meu caro senhor, vim aqui para comprar xxxxxx, não para namorar. O senhor poderia me ajudar.

      É um saco, ninguém precisa estar bem humorado todos os dias.

      1. verdade, até porque não é um

        verdade, até porque não é um interesse legítimo, é puramente comercial, como se desse uma aura “pessoal” ao tratamento. Fica uma forçada de barra horrível

         

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador