Dona Zelite rasga o verbo e sugere uma limpeza ‘ética’ dos shoppings

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Enviado por Webster Franklin

da Carta Maior

Exclusiva: Dona Zelite abre o verbo contra os rolezinhos

Entrevistamos Dona Zelite, a socialaite mais afamada de Higienópolis. O assunto não poderia ser outro: os rolezinhos que estão tirando a Zelite do sério.

Estanislau Castelo
Maringoni

 

Entrevistei, com exclusividade, Dona Zelite, a socialaite mais afamada de Higienópolis. O assunto não poderia ser outro: os rolezinhos que estão tirando a Zelite do sério.

Estanislau: Dona Zelite, tudo bem?

Zelite: Essa já é a primeira pergunta, ou você está só me cumprimentando?

Estanislau: Já é a primeira pergunta.

Zelite: Então quero logo dizer que só estou dando essa entrevista, quer dizer, dando não porque rico não dá nada, vende, oferece ou aluga; mas, enfim, só estou oferecendo essa entrevista por uma causa pedagógica. Temos que superar este momento antes que seja tarde. Antes que as pessoas de bem, aquelas que são as cabeças pensantes e reinantes do PIB, prefiram mudar de país. Voltando à sua pergunta, não, meu caro, não está nada bem. As pessoas de bem estão com medo. Eu estou com medo.
 
O país vai de mal a pior, pois se uma pessoa não tem garantido o seu direito constitucional de ir ao Shopping tranquilamente com uma Louis Vuitton sem sentir medo, sem ser incomodada, sem correr o risco de esbarrar em um rolezento vestindo um boné escrito “Funk You”… não, definitivamente, nada vai bem. Me dá aí seu caderninho pra ver se você escreveu Louis Vuitton direitinho, se não pega mal pra mim… tá ok.

Estanislau: a senhora viveu a experiência de participar de um rolezinho?

 
Zelite: sim, infelizmente, eu vi, com esses olhos que o cirurgião plástico remodelou. Vi aquela horda de bárbaros invadindo o meu sossego e atropelando o aroma do meu Chanel. Eu me senti vítima de um tsunami de testosterona e progesterona que me assustou muito. Eram jovens tão mal vestidos que fariam Glória Kalil ter um enfarte. Por sorte eu desconhecia a maior parte dos palavrões que eles falavam. Uma em cada três vezes que eles abrem a boca é para dizer um palavrão. Um horror. 

Estanislau: Qual foi sua reação?

 
Zelite: Eu me refugiei em uma loja, que fechou as portas, e aguardei pacientemente sentada em um provador, com as cortinas bem fechadas.

 
Estanislau: a senhora pensou em tomar alguma atitude por conta própria?

Zelite: Pensei e tomei. Imediatamente liguei para um ministro amigo meu, do Supremo, para pedir providências realmente supremas, pois o assunto é grave. É caso de segurança nacional. Descobri que esse meu amigo está em férias – eles vivem em férias. Tive que me contentar em travar um debate com o gerente do shopping. Cobrei providências urgentes e lembrei que sou sócia-proprietária do shopping. Mandei que ele impedisse aquela bagunça imediatamente. Que ponham portas com senhas individualizadas; detectores de aromas, para impedir gente com desodorante; portas giratórias com câmeras que identifiquem se a pessoa tem um padrão mais caucasiano, o que seja. A tecnologia está aí é pra nos ajudar a separar o joio do trigo.

EC: Então a senhora foi quem deu a ideia de barrar pessoas na entrada dos shoppings?

Zelite: Eu ofereci minha contribuição. Se for pra ajudar o Brasil, pode contar comigo, sempre. Meu amigo do Supremo retornou minha ligação ontem e disse que falaria com o pessoal dos tribunais de justiça. Parece que eles entenderam a gravidade da situação.

EC: Em sua opinião, essa questão não tem um fundo sociológico que…

Zelite: Ah, não me venha com sociologias. Esse pessoal que faz rolezinho nem sabe o que é isso. Eu, que sou vizinha de FHC, sei bem que tipo de sociologia esse pessoal merece. É o seguinte: mais uma vez, estamos vendo que a raiz do problema é a educação. Essa turba faltou à aula de Inglês que ensina que “shopping” é uma palavra que quer dizer “comprar”, “ir às compras”. Ou seja, os seguranças têm que perguntar aos rolezentos: vai comprar alguma coisa? Onde? Quanto custa o que você vai comprar? Deixa eu ver o dinheiro ou o seu cartão de crédito. Se não tiver, não entra. Simples. Não tem nada a ver com limpeza étnica. É o que eu chamo de limpeza ética, faz parte do espírito do capitalismo. País desenvolvido é país limpinho e cheiroso, qual o problema?

EC: a senhora acha que o fenômeno reflete a situação do país, ou é uma nova tendência?

Zelite: O que eu acho mesmo é que é muito triste ver as manchetes de jornal tomadas por esse assunto, quando, em pleno verão, poderíamos estar discutindo temas mais elevados, como a importância da combinação do uso de terno e gravata com bermudas chiquérrimas em escritórios, a atualidade das mechas californianas e questões de utilidade pública, como dicas de produtos básicos para se colocar na “nécessaire”. Deixa eu ver no seu caderninho como você escreveu “nécessaire”… não se esqueça do acento no primeiro “e”. Obrigada.
 

Créditos da foto: Maringoni

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

19 Comentários

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  1. Isso é uma obra de ficcão .

    Isso é uma obra de ficcão . Qualquer semelhanca com fatos e pessoas da vida real é mera coincidência. 

    25/11/2012 – 03h00

    Ser especial

    Danuza Leão 

    Afinal, qual a graça de ter muito dinheiro? Quanto mais coisas se tem, mais se quer ter e os desejos e anseios vão mudando –e aumentando– a cada dia, só que a coisa não é assim tão simples. Bom mesmo é possuir coisas exclusivas, a que só nós temos acesso; se todo mundo fosse rico, a vida seria um tédio.

    Um homem que começa do nada, por exemplo: no início de sua vida, ter um apartamento era uma ambição quase impossível de alcançar; mas, agora, cheio de sucesso, se você falar que está pensando em comprar um com menos de 800 metros quadrados, piscina, sauna e churrasqueira, ele vai olhar para você com o maior desprezo –isso se olhar.

    Vai longe o tempo do primeiro fusquinha comprado com o maior sacrifício; agora, se não for um importado, com televisão, bar e computador, não interessa –e só tem graça se for o único a ter o brinquedinho. Somos todos verdadeiras crianças, e só queremos ser únicos, especiais e raros; simples, não?

    Queremos todas as brincadeirinhas eletrônicas, que acabaram de ser lançadas, mas qual a graça, se até o vizinho tiver as mesmas? O problema é: como se diferenciar do resto da humanidade, se todos têm acesso a absolutamente tudo, pagando módicas prestações mensais?

    As viagens, por exemplo: já se foi o tempo em que ir a Paris era só para alguns; hoje, ninguém quer ouvir o relato da subida do Nilo, do passeio de balão pelo deserto ou ver as fotos da viagem –e se for o vídeo, pior ainda– de quem foi às muralhas da China. Ir a Nova York ver os musicais da Broadway já teve sua graça, mas, por R$ 50 mensais, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça? Enfrentar 12 horas de avião para chegar a Paris, entrar nas perfumarias que dão 40% de desconto, com vendedoras falando português e onde você só encontra brasileiros –não é melhor ficar por aqui mesmo?

    Viajar ficou banal e a pergunta é: o que se pode fazer de diferente, original, para deslumbrar os amigos e mostrar que se é um ser raro, com imaginação e criatividade, diferente do resto da humanidade?

    Até outro dia causava um certo frisson ter um jatinho para viagens mais longas e um helicóptero para chegar a Petrópolis ou Angra sem passar pelo desconforto dos congestionamentos.

    Mas hoje esses pequenos objetos de desejo ficaram tão banais que só podem deslumbrar uma menina modesta que ainda não passou dos 18. A não ser, talvez, que o interior do jatinho seja feito de couro de cobra –talvez.

    É claro que ficar rico deve ser muito bom, mas algumas coisas os ricos perdem quando chegam lá. Maracanã nunca mais, Carnaval também não, e ver os fogos do dia 31 na praia de Copacabana, nem pensar. Se todos têm acesso a esses prazeres, eles passam a não ter mais graça.

    Seguindo esse raciocínio, subir o Champs Elysées numa linda tarde de primavera, junto a milhares de turistas tendo as mesmas visões de beleza, é de uma banalidade insuportável. Não importa estar no lugar mais bonito do mundo; o que interessa é saber que só poucos, como você, podem desfrutar do mesmo encantamento.

    Quando se chega a esse ponto, a vida fica difícil. Ir para o Caribe não dá, porque as praias estão infestadas de turistas –assim como Nova York, Londres e Paris; e como no Nordeste só tem alemães e japoneses, chega-se à conclusão de que o mundo está ficando pequeno.

    Para os muito exigentes, passa a existir uma única solução: trancar-se em casa com um livro, uma enorme caixa de chocolates –sem medo de engordar–, o ar-condicionado ligado, a televisão desligada, e sozinha.

    E quer saber? Se o livro for mesmo bom, não tem nada melhor na vida.
    Quase nada, digamos.

    danuza leão

    Danuza Leão, jornalista e escritora, aborda temas ligados às relações entre pais e filhos, homens e mulheres, crianças, adolescentes, além de outros assuntos do dia-a-dia. Publicou seu primeiro livro em 1992. Escreve aos domingos na versão impressa do caderno “Cotidiano”.

     

  2. Ótimo termos quem capta o espírito da coisa

     

    Ótimo termos quem capta o espirito da coisa com tão ferino humor.

    Portanto, dez para o genial autor.

    No mais, espero que o Edmar apareça para poetisar esse novo momento role que estamos vivendo

    1. Passo para outro canal!

      Depois desta ( no vídeo), quando ele aparece, vez ou outra, para apresentar o jornal, imediatamente passo para outro canal.

      Não posso esquecer o que revelou este vídeo. E causa mal estar ouvir este senhor, já idoso,  com toda a experiência de uma vida no jornalismo, mesmo que deixe de repetir seu velho bordão: ” Isto é uma vergonhas”!

      Há que se ter respeito ao ser humano e humildade para entender que todos nós somos iguais, mesmo que tenhamos mais condições financeiras, estudos, cultura e vivamos, por vezes,no País das Maravilhas..

      Não reclamo  para que certas pessoas digam que tem dó, que tem piedade, pois estes sentimentos só Deus o pode ter. É que somos iguais. Temos que nos ombrear, ter compaixão, solidariedade.Nosso próximo é nosso irmão.

      Em sociedade somo interdependentes, todos temos nosso valor e nossa função. Essa compreensão falta em muita gente. Precisamos poder olhar de frente, falar de frente, nunca às escondidas e dizer palavras lindas, com o coração limpo e a  alma feliz que Deus lhes concedeu, como estas que proferiram estes maravilhosos lixeiros::

      “Feliz Ano Novo, muita paz, muita saúde, muita felicidades!” Não é divino dizer estas palavras, saindo lá do fundo do coração, com ternura e muita sinceridade!

      Agora, o que ele diria sobre os rolezinhos?

       

       

  3. Só lamento Dona Zelite

    Mas de agora em diante vocês terão que conviver com mais melanina no seu dia a dia, e não será uma relação serviçal.

    Dona, o Brasil está mudando, acostume -se ou vaza, vá morar num  país nórdico.

    1. Telhado de vidro

      Hehehe… Olha aí o cidadão praticando exatamente o que critica. Por isso que as verdadeiras mudanças devem começar por nós … Telhado de vidro, todos nós temos…

      1. Por que praticando o que critica ?

        Apenas estou dizendo à dona zelite, que ela terá daqui prá frente conviver com negros e brancos pobres, sem relação serviçal.

        Por causa das ações sociais do governo, como Prouni, Enem, Sisu, os pobres cada vez mais buscarão os seus espaços na sociedade.

        Agora, se a dona zelite ficar irredutível, não tem outra opção, vaza ! Quem sabe na Filândia ele se sinta melhor pela ausência da melanina.

        Entendeu ou quer que eu faça um desenho em 3D bem bacaninha para você enxergar melhor ?

        1. Concordo

          Concordo com você. Falando sobre o ENEM, ontem eu vi uma propaganda que fala do enem, pronatec etc. É uma proganadamto boit e critiva. Com certeza uma das melhores propagandas que o Governo Federal já fez.Parabéns Presidenta Dilma.  

        2. Vc é a D. Zelite

          Vc e a D. Zelite são a mesma pessoa. 

          Ela confina jovens do rolezinho nas periferias. Vc a expulsa do “seu” país. Vc e os rolezinhos têm mais direitos do que a pobre reacionária da D. Zelite.

          Qto aos meus sonhos e ao teu Senhor, agradeço. Fique com o “Teu” que fico com os meus.

          Telhado de vidro, todos temos. Mudanças de verdade começam na gente.

           

           

  4. bagunça

    Ironias a parte, não se discute as eventuais consequências negativas do rollé.  Tumulto é tumulto, e em nome da luta contra os preconceitos sociais e as diferenças de classes, não se pode dizer amém  a grupos (veja bem, grupos) que fazem barulho capaz de assustar pessoas e crianças, capaz de atrapalhar a sessão de um teatro ou cinema dentro de um shopping. Já não bastam os protestos de 200 e 300 pessoas que faziam questgão (bem egoista) de fechar toda a avenida Paulista em u m sentindo,  prejudicando o direito de ir e vir dos trabalhadores. Esses protestos, raramente ocorriam onde deveriam : assembléia legislativa, palácio do governo do estado, etc. Ocorriam na avenida Paulista  ou Rebouças, prejudicando o transito ,o comércio,  quebrando vidraças. Quem é que vai levar os filhos ou avós à um shopping da zona norte ou leste de SP para compras ou refeição, temendo a possibilidade de encontar grupos agitados, aos gritos . OU mais de 100 não é grupo?  Não se pode impedir a entrada de pessoas, individualmente ou em pequenos grupos (dez no máximo), Mas em grupos grandes, de forma que possam causar tumultos, sim. O direito de um acaba onde começa o do outro. Menos bagunça , gente. Paz . Respeito.

    1. concordo em parte

      Concordo com você. Já me manifestei nesta mesma direção.

      Todavia não posso aceitar e anuir às palavras de dona Zelite, onde o preconceito é latente, pululante, gritante

      Parece que a tal Zelite sequer existe, seja apenas uma personagem de uma história de humor negro, mas seus pensamentos, com certeza, povoam e muito boa parte da elite brasileira.

    2. Concordo plenamente. E faço

      Concordo plenamente. E faço uma indagação saudável: Se fosse numa igreja, num Tribunal, ou em algum shopping Center de um país de primeiro mundo. Será que nestes lugares, se algumas centenas de jovens se reunissem e praticassem correrias, gritarias, falassem palavrões, seriam bem vistos pela sociedade? Será que seria bonito, ou seriam repreendidos?

      O grande problema do Brasil, é que se confunde pobreza, com falta de educação, e principalmente de respeito. Conheço muita gente de classes sociais humildes, que são extremamente educadas e respeitosas. Eu aposto que se estes jovens do movimento “rolezinho”, chegassem em silêncio, respeitosamente, e com atitude educada nos shoppings, nenhuma polícia teria sido acionada e teriam até passado despercebidos. 

  5. GO HOME

    Dona Zelite, não perca tempo. O Brasil não dá mais para quem tem pensamentos como o seu. O liberalismo já foi. Está morto e sepultado. Hoje o estado busca o interesse do coletivo, da população, do povo. Não há lugar só paragente cheirosa.

    Ah, convide o seu amigo, lá do STF, e Go Home.

    Quem sabe lá pelos lados do Tio Sam, pois a Europa está virando terra de vira latas – pelo menos em um destes países, o povo está tão sem dinheiro que está abandonando todo os seus cães de estimação nas ruas.

    Ah, e leve seu shopping center para lá. Certamente, não haverá rolezinhos.

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