Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
[email protected]

Entrevistas Clube dos Garotos 12 – Marcelo Freixo, por Rui Daher

Os textos de ‘fricção’, confeccionados em organdi pelos jornalistas Rui Daher, Nestor Gruppo e Regularte Pestana, são patrocinados pelos Cigarros Vanda, “tragando a saúde desanda”. Ao saber quem iríamos entrevistar, a presidente da MBRL, Mulheres Belas, Recatadas, Livres e do Lar nos enviou comunicado lacônico: “Querem ser crianças felizes? Peçam apoio à Marisa”.

por Rui Daher

Andava eu pelos sertões paulistanos em atividades rurais que trouxessem algum caixa para o blog-boteco, quando recebi mensagem de nosso enviado especial ao Rio, repórter Nestor Gruppo.

“Furou a entrevista com o candidato a prefeito, Marcelo Freixo”.

“Por quê”?

“Quando liguei para marcar, disse-me que o procurasse em Campo Grande ou Bangu, onde estaria em campanha. No momento, diria aonde me dirigir, Ítalo del Cima ou Moça Bonita.

“E você ligou? ”

“O pré-pago ficou sem crédito. Entrei num boteco e a recarga demorou muito. Quando pude ligar só dava caixa-postal. Bem, se o tal Ítalo deu em cima de uma moça bonita, o Freixo só poderia estar em Ipanema. Fui pra lá e comecei a perguntar dele. Só ouvi de volta um misto de aleluias e palavrões. Estranhos esses cariocas”.

“Volta, Nestor, sei muito bem o que você recarregou no boteco”.

A notícia chegou em hora imprópria. Quase uma da madrugada. Na recepção do hotel me perguntam “mais uma, senhor”? O que seria essa mais uma? A Heineken, o Jack, primo do Daniel, a poesia agrária do Manoel de Barros que encerrou a palestra sobre a química tóxica que irá acabar com a nossa lavoura pretensamente moderna, mas arcaica como a descrita por Raduan Nassar?

Quem sabe, Natalie Wood, no apartamento, em uma de suas maravilhosas aparições cinematográficas?

Na falta da entrevista, decido-me por um editorial de apoio a Marcelo Freixo e de repúdio ao golpe, urdido desde 2003, claudicante e canalha por 13 anos, finalmente, progride em acabar com mais um curto período de democracia no País.

Editorial

O to(l)do político, econômico e social que está sendo armado no Brasil, deposta a presidente eleita Dilma Rousseff por um golpe que reanimou o acordo secular de elites, é uma representação circense que serve apenas aos riso, chacota e galhofa do amigo Pires, o raso. Somente o perceberemos sério quando, em poucos anos (não precisa 20), tiver nos trazido fome, miséria e perda de soberania.

Por enquanto, além de rir, podemos mostrar que, pelo menos, uma cidade pode ir contra a maré conservadora, pois é de sua alma. O Rio de Janeiro tem beleza, consciência e cultura. É a cidade mais linda e importante do Brasil. Assim é vista de fora, assim a fez a história.

Por séculos, capital de fato e direito, líder política, comandou o pensamento brasileiro para que os demais estados o desenvolvessem. Sintetizou a cultura em todas as áreas e exportou nossos encantos. Não o reconhecer, faria de quem nasceu em outros estados párocos enfurnados em sacristias.

Desde o mineiro Francisco Negrão de Lima (1901-1981), que governou o estado da Guanabara no período mais duro da repressão, de 1965 até 1970. Foi eleito pelo PSD de forma direta, o que fez nascer o AI-2 e o fim do pluripartidarismo no País. Negrão, mesmo sem vestir o gorro do Flamengo, se opunha ao governo militar. Não resistiu, e digno se retirou da política.

O estado do Rio de Janeiro manteve a tradição “não faço como Brasília quer”. E elegeu Leonel Brizola governador por duas vezes. História, ideário, verve, Darcy Ribeiro, resistência à sanha da Rede Globo, CIEP, Linha Vermelha, Sambódromo, Universidade Federal do Norte Fluminense. Vocês sabem melhor do que eu, pois “Rio, o meu samba é só por quê, Rio eu gosto de você”.

Até 2002, em eleições estaduais e municipais, os cariocas pensaram, lutaram, e negaram o conservadorismo recôndito, e fizeram valer explícitas posições progressistas. Mesmo depois, na prefeitura, com os razoáveis Marcello Alencar e César Maia, o pai do Bolinha ou Luluzinha (nunca acerto).

Daí em diante, vagalhões de cocô têm chegado às praias do balneário carioca e a seus governos e prefeituras.

Os emissores submarinos vazaram excrecências no estado e na capital, emporcalhando rosinhas, garotinhos, pezinhos, pezões e paizinhos.

Não irá o Rio de Janeiro, no momento de recuperar sua tradição progressista e dar ao País uma demonstração de que é possível ser de esquerda em praias lindas, areias brancas, amigos negros, mulheres bonitas ‘jandiras’, verdes mares, Globo só os biscoitos, chope numa calçada, água de coco em outra, perder a oportunidade de ter Marcelo Freixo administrando suas maravilhas em luz, noite e povo. 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. entrevista….

    Caro sr. Rui, em Sorocaba/SP, o Crivella daqui que tem um codinome Crespo, Ranso, Tosco vai tomar uma virada do Psol de Raul, que não é Seixas, mas Marcelo: “Prefiro ser….Esta metamorfose ambulante. Do que ter aquela opinião “enlameada” sobre tudo….abs. 

    1. Ô, caro Zé Sérgio,

      não sabia disso. Vivo por esses lados. Um dia, vamos nos conhecer. Abração. Gostaria de ter lido um comentário seu sobre o Aquífero Guarani, mas não “subiu”.

      1. Ô….

        Caro sr. Rui, li a matéria e gostaria de ter comentado, até porque não aceito muito bem esta hipocrisia do politicamente correto que trata de meio ambiente, sem explicitar veementemente que o protagonista, principal e maior beneficiário deve ser o CIDADÃO BRASILEIRO. Não é somente o Guarani. Também aquele amazônico e o nordestino, que jorra milhões de litros de água há meio século no PI. enquanto as pessoas morrem de sede. E o país segue fingindo ser este um problema sem solução.  O Brasil é inacreditável. Quanto a vir para região de Sorocaba, nunca é demais lembrar de muito cuidado na estrada para Piedade. E um dia tenha a curiosidade de voltar pela SP 270 Raposo Tavares e veja o resultado da privataria tucana à espera de duplicação há quase 20 anos. A nova Rodovia da Morte. Muito cuidado. No lançamento do seu livro, quem sabe terei a chance de comprar um exemplar autografado. abs. 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador