Eu quero, Serrano
por Rui Daher
(dedicado ao nosso amigo Zé Portela Aguiar)
No Carnaval de 1986, um ano após termos saído da ditadura civil-miliar, a Escola de Samba Império Serrano, desfilou com o samba-enredo “Eu quero”. Representava um País já de saco cheio:
“Quero, a bem da verdade/A felicidade em sua extensão/Encontrar o gênio em sua fonte/E atravessar a ponte/Dessa doce ilusão/Quero que meu amanhã, meu amanhã/Seja um hoje bem melhor, bem melhor/Uma juventude sã/Com ar puro ao redor”.
O que pensamos teríamos: Povo bem nutrido/O país desenvolvido/Quero paz e moradia/Chega de ganhar tão pouco/Chega de sufoco e de covardia”.
Esperançosos, teríamos mais do que o singelo pedido da Império Serrano?
Sim, talvez nos 15 anos primeiros anos do novo século. Depois, a volta da desgraça, ainda pior do que os 21 anos após o golpe civil-militar de 1964.
Na época, conhecíamos suas armas, ideais nacionalistas, propósitos desenvolvimentistas. Também, o inimigo cruel e implacável nas torturas e prontos a nos assassinar. Revidamos e perdemos. Nos faltavam recursos de violência e apoio popular, este sempre ausente “no que aquilo que vier será desígnio de Deus, e nos salvará”.
Sim, neste setembro de 2020, percebemo-nos salvos. De quem? Do RIP, Regente Insano Primeiro, clã, acólitos, apoiadores? O mesmo que me confortam as obras cinematográficas de Jerry Lewis (1926-2017), gênio contra farrapos de pés incidentais da história cultural.
Rir, gargalhar, quando no outro lado está a plateia de imbecis. Confesso: não me preocupa ser um marginal (Zeca Baleiro e Zé Ramalho).
***
Muitos de vocês o conheceram em um sarau do Nassif. Dediquei-lhe um “Dominó de Botequim”, meio a um forró, me devolveu com um saco de farinha sertaneja. Foram muitos anos de amizade. Alguém me avisa que o sertanejo faleceu. Tantos para irem, vocês sabem, por que Zé Portela? Todos nós o abençoamos.
E, hoje em dia, paro? Zé Portela não gostaria e pediria que fosse em frente e os abençoássemos. Eu, com estes pobres textos, ele e suas referências sertanejas. Zé, precisamos de você lá no Dominó Celestial no “Dominó de Botequim”. Serafa te adorava.
Nunca saberei se o GGN o percebeu. Eu, sim.
Continuarei a ver suas cabras e vacas sertanejas e aproveitar sua maravilhosa farinha. Cânticos religiosos, folclóricos, culturais, regionais, vaqueiros, agrestes. Glauberianos!
Vá, Zé Portela, logo estarei ao seu lado, em forrós, cabras, agrestes, secas e lutas. Espere-me, pois!
Inté!
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