Faz de conta que ainda é cedo

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Gilberto Marques

Domingo pede cachimbo. O feriado me acorda cedo, desde menino. Mais tempo pro nada, é ótimo. Hoje sem papai, sem piquenique, sem passeio no jipe. Na hora da missa queria, morrer, disse um dia. Virar beato na hora da morte, pelo menos na poesia.

Acordei cedo. Hoje é domingo. E, eu nem fumo mais. Fui cumprir o ritual da caminhada. Na frente de casa, quase esbarra em mim, trôpego, embriagado, machucado um adolescente – maior de 18. Olho fechado em decorrência de um soco. Nariz sangrando vivo.  Vinha cá, ia lá. O tráfego miúdo, é domingo. As entregas de gelo, coco, cerveja, guaraná se enfeixam na avenida. É cedo, bem cedo. Muitos, como eu, enchem o calçadão da praia de Boa Viagem. Dormi ao som de cantorias na beira mar. Janela aberta. Vez por outra, rugia um motoqueiro ou a sirene das viaturas. Recife não dorme mais. Eu durmo.

O “bebinho” me convocara. O caso típico da contravenção: “art.62 – Apresentar-se publicamente em estado de embriaguez, de modo que cause escândalo ou ponha em perigo a segurança própria ou alheia”. O  risco era iminente. Meia visão, o tropeço dos passos, a bermuda e o celular na mão, os salvados do “luau”. Seus pertences, por certo, foram comidos, ao leite de coco, como a Taioba do prato havaiano. Ficou alá Caetano: sem lenço; sem documento; nada no bolso e nas mãos ( o celular que não se pode largar). Continuei a caminhada profilática de todas as manhãs. Mas parei logo. Lembrei-me de Pedro, o aniversariante da semana, Henrique, Vinícius, Giba, Mariana.

Voltei atrás. Bom dia rapaz, o que foi isso? Sou professor de “Muay Thai”… Fiquei na mesma. Resolvi socorrê-lo. Levei-o pra casa. No térreo do prédio os porteiros, o zelador, ajudaram. Areia pelo corpo todo. No chuveirão sugeri: tira essa areia. O copo d’água com açúcar sorveu com sofreguidão. Soro gelado e gaze, por alguns segundos, enquanto a cabeça não pendia. Soro vez por outra no olho ferido. No celular havia nome da mãe: mainha, da avó: voinha.   Argemiro, o porteiro, ligou e nada. A mãe nem aí. Vovó não, suplicou o ferido.

Lembrei-me do SAMU. Passaram pro médico. A Dra. solícita ouviu e garantiu o socorro. Demorou pouco. Duas motos chegaram. Uma do SAMU, outra dos Bombeiros. Os socorristas, da triagem, concordaram comigo. A ambulância dos bombeiros estava perto. Antes de fecharem-se as portas do socorro, um carro de polícia completa o evento.

Dia desses uma moça foi à UPA da Caxangá – Crise renal, vômito, urina com sangue… “necas de pitibiriba”! Hospital Getúlio Vargas? Entrada por trás; lotação esgotada; gente pelo corredor; no chão. Um caos, Dr. Domingos, um amigo, a salvação.

Agora, ali a presença do Estado a renovar esperanças. Todos, cada um dos homens: cabo, soldado, bombeiro, socorrista, motorista tiveram uma presteza fina. Eficaz. Bom dia Brasil. Vamos Salvar a PETROBRAS!

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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